Mediunismo e Mediunidade
A organização psíquica, em sua trilha evolutiva, após deixar a fase animal de
característica fragmentária, adquire degrau mais avançado onde o processo de
conscientização define o seu atributo.
Na fase animal o psiquismo é fragmentário, não existe ainda um processo de
raciocínio, entretanto, pode mostrar, aqui e ali, condições de treinamento em
alguns parâmetros. É o que se observa em certas e determinadas atitudes animais,
às vezes, surpreendentes; algumas delas inatas e próprias da espécie, outras
tantas reveladas em adequados exercícios de intenso treinamento.
No reino hominal o psiquismo está como que reunido em todas suas já
adquiridas qualidades. A estrutura psíquica dessa fase é a mais avançada no
planeta, cujo processo de conscientização, aliada às experiências, se vai
alicerçando com o despertar de novos e importantes fatores, onde a
responsabilidade representa um dos seus mais seguros pilares. O homem, em seu
avanço intelectual, alargando os conceitos do amor, adquire maiores horizontes
dentro do processo evolutivo diante da responsabilidade dos seus atos.
Toda a organização psíquica, fragmentária ou já revestida do processo
consciencial e em suas múltiplas e variadas amostragens, participa de fenômenos
psicológicos comuns e de outros tantos, mais complexos, que transcendem às
sensações da zona consciente, por isso, denominados de paranormais.
Assim teríamos os fenômenos psicológicos e parapsicológicos. Os primeiros,
por pertencerem às percepções do nosso cotidiano, são perfeitamente conhecidos.
Os segundos, transcendendo aos sentidos comuns, de difícil avaliação, são
refutados pela maioria e considerados como anômalos ou patológicos.
A fenomenologia paranormal acompanha o psiquismo, mesmo em sua fase
fragmentária; sendo claro e lógico que nesta fase haverá limites perceptivos. É
o caso da percepção paranormal de certos animais, os de maior estrutura no campo
da evolução, que participam, como exemplo, de fenômenos de vidência. Como o
animal tem condições de perceber o encarnado, sob certas condições nota o
desencarnado, embora não possuindo o senso critico de avaliação. O animal
percebe dentro de seus componentes estruturais, dentro de suas possibilidades
sem qualquer critério de raciocínio; para ele a visão é uma só, registrando o
que vê sem maiores discernimentos. Pode acontecer, vez por outra, que a
percepção animal tenha, instintivamente, e sem precisões, possibilidades de
distinguir o acontecimento. Mesmo sem condições de avaliação do raciocínio, algo
lhe diz que está tendo uma visão: muitos fatos, em animais domésticos, comprovam
esta assertiva.
A fenomenologia paranormal torna-se mais bem compreendida na fase hominal,
mormente nas organizações psíquicas mais amadurecidas, isto é, os mais bem
lastreados pelas experiências que o processo reencarnatório propicia. Dentre os
muitos fenômenos dessa classe, o mais rico e expressivo é o fenômeno mediúnico
que, por exigir a tela psíquica consciente como palco de sua manifestação, será
o próprio do reino hominal. O fenômeno mediúnico, observado na multiplicidade de
mensagens que o mundo espiritual emite, não pode ser captado pela organização
psíquica dos animais, pela sua condição de fragmentação. A estrutura psíquica
animal não possui unificação de estruturas psicológicas; entretanto, os animais
podem ficar ativados pelo campo vibracional do mecanismo em pauta, porém, sem
condições de traduzi-lo. animais mais avançados na escala zoológica são tocados
pelo evento, e, pelo modo com que se dá a percepção, não pode o fenômeno ser
denominado de mediunidade, porquanto não existe o medianeiro específico, mas
sim, uma ” velada percepção” na dimensão espiritual. Nestes casos, o fenômeno
poderia ser classificado, de modo abrangente, de mediunismo, ficando o termo
mediunidade quando existe o mecanismo ideal do medianeiro próprio da espécie
animal.
Assim, os fenômenos de mediunismo e mediunidade acompanham as diversas
organizações psíquicas, animais e hominais, desde os seus albores, apresentando
variações de acordo com a evolução do psiquismo.
O homem dos nossos dias, devassando os céus com aprimorada aparelhagem,
decifrando com grande margem de acertos os infinitamente pequenos, tem, por
obrigação, neste século de definições, de buscar nas fontes do psiquismo a
multiplicidade dos fenômenos que aí se instalam. Os fenômenos mediúnicos, já
comprovados por inúmeras observações e experiências, tomaram, realmente, bons
impulsos após as bem catalogadas observações e experiências kardequianas que
lhes deram um valoroso sentido científico.
Os observadores e cientistas interessados, que vieram após Allan Kardec,
ampliaram as experimentações e relatos de tal modo que, nos dias de hoje,
podemos asseverar, sem receios de erros, que o fenômeno mediúnico, conduzido em
bases sadias, representa função desencadeadora de um especializado metabolismo a
refletir na ampliação do lastro espiritual dos seres. Quando a função é correta
e equilibrada, harmonioso será o resultado; quando incorreta e sem bases éticas
ajustadas às reações daí resultantes, serão desalinhadas e doentias.
Devemos ver no fenômeno mediúnico a mais alta expressão psicológica do
psiquismo e, como tal, somente exercitada após estudo, conhecimento e boa
orientação. A Doutrina Espírita, bem compreendida e vivenciada, oferece o campo
ideal de avaliações da referida fenomenologia; esta, por sua vez, contribui de
modo especial para os alicerces do Espírito.
É de bom alvitre esclarecer aos iniciantes sobre a importância psicológica do
processo, evitando sempre que a fenomenologia mediúnica se expresse em bases
levianas e por aqueles que se desmandam em interesses vulgares, egoísmos
desmedidos, desamor acentuado e, o que é mais grave, pelos que buscam posições
de destaque em efêmeras vaidades. Por esses caminhos tortuosos só chegaremos às
neuroses, compulsões e obsessões, cujas gradações serão proporcionais à
intensidade dos abusos.
Os fenômenos psicológicos representativos da mediunidade, pela delicadeza e
sensibilidade da sua estruturação, podem caminhar para posições negativas ou
positivas; tudo na dependência das atitudes de realizações. Se o processo
obedece aos parâmetros éticos desejados, é bem claro e justo que o mecanismo
propiciará elevações com reflexo nos impulsos evolutivos dos seres; se o
processo se efetua em práticas destoantes e desajustadas, compreende-se,
perfeitamente, o estacionamento do ser, onde as respostas cármicas, quase sempre
dolorosas, são o corretivo necessário antes de nova tomada de posição.
Tudo isto quer dizer que, diante de cada etapa reencarnatória, temos a nossa
frente um imenso horizonte de possibilidades, onde a fenomenologia mediúnica
representa excelente condição de aquisições evolutivas para as estruturas do
Espírito, quando as suas propostas são bem compreendidas e obedecidas. Todo
processo que pode determinar, com a prática do Bem, bons impulsos evolutivos,
pode propiciar as grandes quedas, quando ativado em posições negativas.
Revista “Presença Espírita”.