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Que não tem medo de nada levante a mão – parte 5

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Enéas Canhadas

Quais atitudes podemos ou devemos ter quando sentimos medo? Quando estamos de frente para um perigo que podemos dominar, ou diante de obstáculos mais ou menos conhecidos, vamos saber reagir de maneira adequada e proporcional. A isto nós podemos classificar como coragem ou a nossa capacidade de enfrentamento.

O bombeiro que salva a vítima de um incêndio é um indivíduo corajoso. Porém o seu ato de salvamento não se confunde com o heroísmo, uma vez que ele foi devidamente preparado e treinado para situações de risco inerentes ao seu trabalho. Ele deve possuir características especiais de capacidade de enfrentamento de situações de risco, mas o faz com equipamentos e habilidades garantidas por treinamento, ferramentas e condições pré-concebidas de acerto em relação aos riscos vividos na situação.

A covardia é difícil ser julgada numa pessoa porque será sempre a covardia do outro. Quem de nós, em sã consciência, poderá apontar o dedo para alguém acusando-o de covarde, se somos impossibilitados de conhecer-lhe o íntimo, sentir o que lhe vai na alma para dizer se foi covarde ou apenas prudente quando julgou o perigo grande demais para enfrentar?  Outra atitude frente aos medos pode ser a nossa irresponsabilidade. Trata-se de um erro de percepção ou da nossa capacidade de julgamento. Sem medir as conseqüências do seu ato, seja qual for a razão, a pessoa enfrenta a ameaça e o perigo. É inconseqüente nos seus atos, não avalia a imprudência que comete. Exemplos comuns de imprudência, são as atitudes impulsivas ou exibicionistas praticadas por pessoas que parecem não pensar em riscos ou cuidados. A morte e a vida lhe são indiferentes.  Outra atitude chama-se prudência. Ao contrário da imprudência, quando o perigo traz em si uma ameaça de tamanho, urgência intensidade que podemos enfrentar adequadamente e com equilíbrio. A ponderação e a espera paciente serão melhores atitudes. O tempo concorrerá a favor. Pode ser o momento de recuar ou estrategicamente, aguardar uma hora mais propícia para agir. Quer seja por precaução, ou porque conhecemos bem as nossas reações futuras, ou porque já possuímos certa maturidade. Antes importa saber agir com serenidade e perseverança sem imediatismos e precipitações, como a paciência do ancião conquistada nos anos vividos da sua vida.  Comportamentos irracionais, incompatíveis com a ameaça percebida, dá às pessoas a impulsividade, que faz surgir o heroísmo.

O famoso herói da literatura espanhola, Dom Quixote de La Mancha é um exemplo de heroísmo sem consciência clara da ameaça. A poeira levantada na estrada pelo rebanho de cordeiros que percorria a região lhe pareceu exército de cruzados fortemente armados que vinham ao seu encontro para guerrear. Ele também lutou contra moinhos de vento como se fossem máquinas infernais de guerra. Tais exemplos confirmam existir certo grau de loucura no heroísmo.

O mito do herói pressupõe a imortalidade, característica absolutamente inexistente no ser humano. A condição de ser finito faz com que o homem jamais possa se auto atribuir a condição do herói. É uma figura mítica. El Cid inspira o seu exército a travar a batalha decisiva. Sai cavalgando a frente dos seus homens. Porém, tinha nas costas uma estaca para que seu corpo pudesse ficar sentado sobre o cavalo. Como homem jazia morto, tendo seu corpo sustentado por um pedaço de pau, sobre a cela do cavalo. Como herói estava vivo a frente dos seus comandados para derrotar o inimigo.