Um político interessado em melhorar as condições do país e do povo, decide
candidatar-se a um cargo eletivo. Durante a campanha, faz promessas que sabe não
poder cumprir, compra votos, doa presentinhos, enfim faz coisas que, muitas
vezes contraria essa própria consciência e sua própria filosofia de vida.
Nas competições esportivas, ora-se a Deus, faz-se promessas aos santos da
devoção, deseja-se que os bons jogadores concorrentes sejam impedidos de jogar
por doença ou qualquer outro motivo. Os apaixonados pelo esporte fazem o que
podem e, muitas vezes, o que não devem para que seu time ganhe.
No último jogo de futebol Brasil e Uruguai, um grupo de pessoas, em um hotel,
assistia pela TV e muitos se revoltaram contra as agressões dos jogadores
uruguaios aos brasileiros. Num dado momento um brasileiro agrediu um uruguaio.
Quase todos aplaudiram. E, uma das senhoras, ao ver a cena reprisada, disse
alto: “— Não houve nada; ele pulou e caiu porque quis!”
Um jovem quer ganhar muito dinheiro, ficar rico. Joga-se no trabalho, usa
diversos recursos e meios, inclusive ilegais e antiético para atingir seu
objetivo.
Sociedades beneficentes, religiosas ou não, muitas vezes usam de meios
coercitivos para conseguirem doações, para que elas possa auxiliar o próximo.
O rapaz querendo conquistar a moça, capricha na sua aparência, nas maneiras
educadas de falar e agir, apresenta-se melhor do que é, aparenta viver com mais
dinheiro do que tem, para despertar o “amor” da moça.
Enfim, “na guerra como no amor, vale tudo” diz um ditado antigo, justificando
que para uma finalidade nobre ou útil, qualquer meio torna-se também, nobre e
útil. É o mesmo que “o fim justifica os meios”.
Será que tudo nos é permitido quando nossa intenção é boa, quando nossos
objetivos se tornam bons?
É normal que, na caminhada evolutiva, o homem. enquanto não entende idéias
mais abstratas como valores espirituais e morais, veja apenas o seu interesse
pessoal do momento. Age, então de acordo com seus instintos básicos. Mas, à
medida que percebe que existe uma relação entre ele e os outros; que as ações
suas e dos outros geram reações e que essas reações provocam situações outras,
diferentes, mais complexas muitas vezes, agradáveis ou desagradáveis de acordo
com o sentir, o pensar do outro, começa a controlar suas emoções, seus
sentimentos, para um dia, ser capaz de colocar-se no lugar do outro, em qualquer
momento ou situação e perceber o que o outro pode estar sentindo.
Não podemos viver isolados. O homem é um ser social, isto é, desenvolve-se no
viver em sociedade, no relacionar-se uns com os outros e, somente no
relacionamento simpático, agradável e solidário, encontra ele a paz interior, a
felicidade relativa à Terra.
Assim, meios e finalidades estão intimamente ligados. O homem que rouba,
usando meios violentos, está sendo coerente com o fim a que almeja: apropriar-se
do pertence do outro, visto que este não lhe daria de outro modo, O político que
usa meios ilegais ou antiéticos para eleger-se está demonstrando que seus
objetivos também não são éticos; talvez, vise apenas seus interesses pessoais.
O Espiritismo nos ensina que em tudo que faz, o homem tem a responsabilidade
e que existe uma lei divina, natural de causa e efeito, funcionando sempre,
independentemente do nosso querer ou da nossa aceitação. E essa lei, disseram os
Espíritos a Kardec, está inscrita na consciência de cada um.
Então, quando o homem, já mais esclarecido, percebe a inter-relação entre os
homens, ele já tem a condição interna de controlar-se, modificar-se,
auto-educar-se, aprendendo a ser melhor pessoa e a não provocar males maiores
com suas ações instintivas, com suas emoções desequilibradas.
Se, como pais, pretendemos que nossos filhos sejam pessoas de bem, úteis a
si, à família e à sociedade, temos de usar, no processo educativo, meios
correspondentes a essas metas.
Então, não se pode mais usar de rigidez, de meios agressivos de palavras ou
ações, porque esses meios não correspondem às aspirações que temos para nossos
filhos.
Mas, como um pai ou uma mãe, de natureza autoritária e agressiva,
características desenvolvidas em existências passadas, podem usar de energia
branda na educação dos seus filhos? Como conciliar os meios com as finalidades
nesse relacionamento?
Evidentemente, que esse pai ou essa mãe vai encontrar grande dificuldade para
agir coerentemente com seus objetivos. Vai errar muitas vezes, mas, se estiver
atento ao que realmente deseja e quer, vai esforçar-se para evitar situações
agressivas. Vai vigiar-se, orar muito a Deus pedindo a ajuda dos Espíritos
protetores de sua família, vai pegar-se muitas vezes em flagrante, e, quantas
vezes isso acontecer, vai continuar, perseverantemente, no esforço de educar-se.
Ao lado disso, vai procurar manter diálogo permanente com o cônjuge, com os
filhos, nos erros, nos acertos, sobre todo assunto e sobre toda e qualquer
situação.
Desse modo, os filhos vão percebê-lo não como pai ou mãe perfeitos, mas como
pessoa que se sabe imperfeita, que se esforça por acertar, por progredir sempre.
E essa constatação, mais que quaisquer palavras o engrandeça diante dos seus
filhos, se não no presente, com certeza, num futuro próximo.
A mesma estratégia de buscar sempre a coerência entre meios e fins, em
quaisquer relacionamentos no lar, na política, no trabalho, nas atividades das
sociedades beneficentes, etc., por certo trará, a quem assim o fizer, paz e
equilíbrio interior.
A aceitação de que é necessário vivermos em sociedade, participando de suas
atividades, de que dependemos uns dos outros, influenciando-nos mutuamente
independentemente do nosso querer, traz-nos a certeza de que somente no respeito
ao outro, ao seu entendimento, aos seus sentimentos e emoções, aos seus direitos
é que podemos colaborar com a paz e a felicidade de todos nós, tornando a nossa
sociedade justa e mais cristã.
(Jornal Verdade e Luz Nº 175 de Agosto de 2000)