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À Mocidade de Minha Terra

À Mocidade de Minha Terra

Acordai, gente de minha terra, porque o dia se alevanta por sobre tudo, a
noite dos sonhos e das insônias se diluiu na luz; cortejos brancos de fulgores
venceram as trevas e sobre elas implantaram sua vitória…

Despertai para o trabalho; despertai para a vida… Vossas almas são capazes;
estirai vossos membros, distendi vossos nervos, firmai vossa vontade, cantai
vosso hino de alegria e entusiasmai-vos com o sol, com os pássaros, com as
flores…

A criação palpita; a natureza canta; os elementos rumorejam…

E vossos corações palpitam inutilmente, moços de minha terra? E vossos
espíritos não se expandem em vós? Vossos cérebros estacionam em vós? E vossos
raciocínios não evoluem em vós?

Sonhai sonhos de glórias, de altitudes e caminhai valentes para os vossos
ideais; parti como bandeirantes sobre o destino e mostrai ao mundo vossos
esforços…

Tende consciência de que sois homens; homens úteis; homens fortes; homens
sábios.

Odiai o tédio; odiai a inutilidade, odiai o pessimismo… Tudo que é humano
vos é possível.

Não sejais nunca fracos, parasitas e imprestáveis. Criai uma lei para o vosso
culto: o Dever. Uma sabedoria para o vosso exemplo: a Disciplina. Não vos
orgulheis de vossas vitórias, mas orgulhai-vos de vosso fito.

Envergonhai-vos de não serdes espiritualmente poderosos; o raciocínio, o
espírito, o engenho, o corpo evoluído sobre todos os irracionais, vos dizem que
não deveis ser pequenos; caminhai para o sol; para as luzes; procurai a Beleza,
embelezai vossas vidas; amai o Belo; impressionai-vos com a estética; o que é
feio não vos atraia; que o Feio vos horripile; que o Feio vos cause náuseas, e
porque não vos é possível desdenhar o corpo deformado, procurai a beleza do
espírito, muito mais impressionante que as deformidades da matéria.

Cantai a alegria, glorificai a vida; sede otimistas, porque sereis fortes,
sereis bons.

Não vos deixeis prender por preconceitos e por idéias alheias; convencei-vos
de que deveis ser os reformadores da civilização, os implantadores de um novo
mundo.

Nada vos detenha; sereis sábios, hércules, semi-deuses se quiserdes adotar
este princípio da teosofia: “os homens são deuses em evolução”.

Olhai na história antiga; porque não podeis ser mais sábios que Salomão,
quando Salomão era humano? Por que não podeis ser mais artistas que Praxíteles,
maiores que Júlio César, que Platão, que Horácio, que toda essa constelação
antiga de antias civilizações?

Vós, que nascestes num mundo mais propício por que não sois grandes, maiores
que os maiores?

Tendes asas; por que não voais? Tendes poder; por que não governais?

Que estranha sucuri vos tolhe os membros que não vos moveis, que não vos
agitais? Que houve de tão extraordinário que vossas vozes não retumbam?

Envergonhai-vos de não serdes… Levantai-vos e sede. Que a Morte não vos
desfaleça o ânimo; vossos filhos serão vossos continuadores; a posteridade
lembrar-se-á de vós.

Não temais a grandeza de vossos ideais. Se os não
realizardes todos, o amanhã terminará vossas obras.

Cantai a alegria de viver; não sejais “compassivos” para com os fracos e os
desiludidos; sede enérgicos para com eles; a energia desperta a energia.

Não vos embriagueis com os vossos feitos; se vencerdes um degrau, outro vos
estará esperando. Sede maiores que o momento, estai além de toda fama; que a
possibilidade não se extinga para vós.

Não estacioneis; caminhai sempre; em planícies ou ascenções, ide até o fim…
porque sois homens, homens para quem todos os projetos são realizáveis, porque
tudo o que o espírito vos oferta já foi trabalhado, como em um serviço
fotográfico: o espírito labora a prova; vós copiareis no papel próprio.

Não vos arreceeis de rugidos; as feras rugem, mas, podeis domá-las para não
serdes vencidos por elas.

Não vos desanimem os obstáculos; os obstáculo são fatais; convencei-vos de
que sois mais fortes que as barreiras e arredai-as.

Tende por obrigação realizar o melhor em cada dia; formai vossos métodos
diários e segui fiéis, a disciplina que houverdes adotado em vossos hábitos. Não
digais nunca que “não tendes tempo”; procurai dividir vossas horas de ocupações
e recreio e sempre tereis uma hora para outra qualquer coisa; cantarolai em
vossos descansos; fantasiai vossos momentos de folga; ride, ride de tudo e para
tudo; procurai a música; não vos é difícil encontrar essa grande amiga do
espírito, esse seio amigo onde vossos cérebros podem repousar, deliciosa e
confiantemente.

Procurai a arte; deleitai vossos olhos na harmonia das cores ou na pureza das
linhas; cercai-vos do Belo, criai-o em vós.

Deixai vossos corações evoluírem já com vossos cérebros; amai pois, amai a
vida, as crianças, as flores e as coisas; amai, que o amor espiritualiza a
matéria; o amor é a base sólida da fraternidade; o amor vos iluminará o mudo;
quanto mais amardes, menos maus sereis, quanto mais amardes mais bem terei
semeado. Mas, vede: amar não é desejar; amar é divino; desejar é humano e
grosseiro. E vós, deixai-vos progredir, não só por vós, mas para que sejais o
despontar de uma raça forte, de uma civilização mais firme.

Idealizando e realizando sereis homens superiores; amando, sereis espíritos
tocados da pureza do Nirvana.

Não permitais que vos enraiveçam; colocai-vos acima dos pequenos vermes e
répteis para que seu veneno não vos alcance; se vos quiserem ferir o bom humor,
cantai e sorri.

Assim sereis grandes, assim sereis fortes, assim tereis uma moral sem
hipocrisia… Sobretudo, não finjais humildade; nunca seríeis, antes, grutas
escuras onde se esconderiam víboras.

Caminhai, pois, mocidade de minha terra; caminhai liberta de idéias alheias;
firme no propósito de galgar as maiores altitudes; certa de que nada vos cortará
o vôo; caminhai moços de minha terra e fazei da mocidade campista a primeira
mocidade do mundo…

Segui; se a vaidade vos sussurrar que já alcançastes muito, perguntai a
vossos feitos e eles vos apontarão a ânsia que substitui cada descoberta vossa;
quanto mais caminhardes para a curva do infinito, tanto mais distante ele vos
seduzirá, de instante a instante mais belo, de novos cambiantes e de outros
mistérios.

Enchei vossos sonho de altitudes; enchei vossos olhos de sonhos e parti;
alcançareis vitórias, mas que elas não apaguem da vossa mente o ideal da última
vitória…

A última glória é a geração dinâmica que preparais… Avante!

Nota:

Texto escrito por Nina Arueira em 17.11.1931, quando contava apenas 15 anos
de idade.

É difícil conceber que uma quase menina possuísse tal profundidade de
conceitos a respeito da vida e demonstrasse tamanha grandeza de ideais, os quais
defendia com entusiasmo.

Viveu apenas 19 anos, mas a sua vida é um poema de exaltação aos ideais de
liberdade, conclamando sempre a mocidade de sua terra ao destemor e nunca à
acomodação.

A Revista Espírita de Campos homenageia a sua memória pelos 65 anos do seu
retorno glorioso à espiritualidade.

Revista Espírita de Campos – Janeiro e Fevereiro/2000