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Kardecismo, Um Conceito

Kardecismo, Um Conceito

Conceituar é indicar o sentido ou dizer o porquê de alguma coisa. Assim,
falar de Kardecismo é referir-se ao Espiritismo como Doutrina, uma
vez que esse conjunto de princípios foi passado a Kardec pelos Espíritos.

Allan Kardec, pseudônimo do Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail,
nascido em Lyon, França, a 3 de outubro de 1804, filho de pai juiz e mãe
professora, e que estudou em Yverdun, Suíça, com o educador Henri Pestalozzi, é
o codificador da Doutrina dos Espíritos – o Espiritismo.

Estudioso de filosofia e pesquisador incansável, escreveu várias obras no
campo da educação formal, tais como “Curso Prático e Teórico de Aritmética”,
“Gramática Francesa Clássica”, “Soluções Racionais das Questões e Problemas de
Aritmética e Geometria”, “Programa dos Cursos Usuais de Química, Física,
Astronomia e Fisiologia”, “Ditados Especiais sobre as Dificuldades
Ortográficas”, e tantas outras. Foi mestre no Liceu Polimático. Era, sem dúvida,
um espírito altamente qualificado, moral e intelectualmente, estando preparado
para a tarefa de registrar e provar a pluralidade das existências, quando
muitos ainda falavam de mistérios, fantasmas, e “fenômenos sobrenaturais”.

Depois de longo período triste da Idade Média, em que era proibido pensar e –
mais do que isso – externar o que não fosse ao agrado da Igreja de então, novas
luzes se acenderam para a humanidade, nos séculos XVIII e XIX, brilhando a
filosofia e expandindo-se a ciência. As ponderadas observações do Professor
Rivail
, com base em deduções lógicas e sustentação em princípios
científicos, o levariam a formular uma Doutrina sólida, alicerçada no tripé –
Filosofia
(trabalhando com o pensamento e as idéias), Ciência
(trabalhando com a experimentação e a prova) e Religião (desta,
extraindo, basicamente, os ensinamentos morais e a fé raciocinada). Dissecou as
leis de ação e reação, demonstrou que não há efeito sem causa e fez ver a
todos como se processam as relações entre o mundo visível (perceptível
pelo nossos pobres sentidos) e o mundo invisível. Os chamados “fenômenos
espíritas” deixaram de ser objeto de curiosidade, temor ou gracejo, passando a
ser estudados com seriedade e respondendo a todas as questões do ser humano.

Com as cinco obras básicas do Espiritismo – “O Livro dos Espíritos”
(filosofia), “O Livro dos Médiuns” (ciência), “O Evangelho Segundo o
Espiritismo” (moral evangélica), “O Céu e o Inferno” (sobre a justiça divina) e
“A Gênese” (analisando a Terra e o Universo, assim como os milagres e os
predições), – a que chamamos de pentateuco kardequiano, trabalhos que
foram escritos entre 1857 e 1865, além de inúmeros outros, Kardec estabeleceu a
Doutrina dos Espíritos ou o Espiritismo Cristão. Sucumbiram os
dogmas seculares que têm atrasado a caminhada da humanidade em busca da verdade,
da luz, do esclarecimento, porque, dotados por Deus – causa primária de tudo –
do livre arbítrio, somos todos capazes de fazer nosso destino,
ultrapassando os obstáculos e os sofrimentos, vida após vida, desde que
modifiquemos o nosso comportamento e persistamos na prática do bem.

O Espiritismo só poderia estruturar-se como Doutrina quando houvesse o
progresso da ciência e da filosofia, dissipando a ignorância e o medo. Não
bastava dizer: “não acredito”, ou : “isso é coisa do demônio”, ou, ainda: “é
invencionice de herege”. Era necessário estudo ou, no mínimo, vontade de
aprender, pois todos somos capazes de assimilar a nossa condição de espíritos
imortais, no campo de provas e expiações que é o planeta Terra: nascendo e
renascendo, ora como homem, ora como mulher; ora como negro, ora como branco ou
como amarelo; ora como rico, ora como pobre; ora com saúde perfeita, ora com
deficiências, até que, pelas inúmeras vidas físicas, possamos aperfeiçoar-nos e
fazer do amor ao semelhante a lei básica do progresso espiritual.

Por tudo isso e por muito mais, falar de Espiritismo como Doutrina que
mostra ao ser humano quem ele é, de onde vem e para onde vai, e qual é a sua
tarefa em cada existência na Terra, é ligar-se ao kardecismo, pois foi
Allan Kardec que teve a missão, passando por sarcasmos, ataques e descrenças de
seres menos esclarecidos, de registrar os ensinamentos dos Espíritos e legar à
humanidade o conhecimento dos dois planos da vida: o físico, passageiro e
de aprendizado, e o espiritual, eterno e libertador.

Falar bem ou mal da Doutrina Espírita, sem conhecer a obra de Allan Kardec,
requer ponderação, para evitar surpresas e por respeito ao grande codificador do
Espiritismo.