Movimento Juvenil: Objetivo?
«Revista de Espiritismo» nr. 26, 1995
É indispensável clarificar primeiramente os objectivos de um movimento juvenil no Espiritismo, pois poderíamos ser levados a pensar, visto o espírito não ter idade, que não faz sentido a constituição de um movimento deste género, dentro deste contexto. Assim sendo, reportando-nos ao «Livro dos Espíritos», ficamos elucidados ao constatar que o espírito encarnado passa por diversas fases biológicas e psicológicas, reagindo de modo diferente de acordo com a idade.
Posto isto, é agora fulcral que tracemos as metas básicas que pretendemos atingir com o movimento juvenil, de forma a sabermos aonde queremos ir, a menos que queiramos correr o risco de nunca chegar a parte alguma. Qual seria então o objectivo do movimento juvenil no espiritismo? Formar dirigentes para o movimento, renovando os quadros de directores, médiuns, doutrinadores? Ou simplesmente libertar o jovem dos erros e desvios da vida, mostrando o caminho correcto, oferecendo assim uma opção diferente? Poderia ainda ser a promoção de actividades sadias, cultivando-se os valores positivos do carácter. Ou motivar a juventude para a prática do bem através de obras e campanhas de assistência. Ou, por fim, ensinar o espiritismo, dando formação adequada sobre os fundamentos filosóficos, científicos e religiosos da doutrina espírita, estabeleceria um novo conceito de vida?
Evidentemente que todas estas metas podem e devem ser atingidas e trabalhadas. No entanto, deve-se principalmente desenvolver entre os jovens uma ideologia espírita, criando uma visão global, ampla em todos os aspectos, gerando um novo tipo de mentalidade, um completo conceito existencial.
Se conseguirmos desenvolver na juventude uma ideologia espírita, se os jovens apreenderem os objectivos, a tarefa e a globalidade da concepção espírita, então estaremos a contribuir para o aparecimento de um novo homem no futuro de amanhã.
Análise geral do movimento juvenil português: resultados do inquérito elaborado junto das associações espíritas
Após uma breve análise do actual estado do movimento juvenil português, podemos observar que estamos ainda um pouco longe de atingir os requisitos mínimos do nosso objectivo principal. De facto, das 37 associações federadas na FEP apenas 9 responderam ao inquérito elaborado com a finalidade de «medir» o estado actual do movimento infanto-juvenil e consequentes necessidades. Destas 9 associações, 2 não têm grupo, quer infanto-juvenil quer juvenil; 5 têm simultaneamente grupo infantil e juvenil; 1 apenas tem grupo infantil; e 1 só tem grupo juvenil.
Das razões apresentadas para a inexistência de grupos, tanto infantis como juvenis, destacamos os seguintes: a) falta de número de elementos jovens; b) pouca participação dos jovens no centro; c) falta de motivação dos jovens.
O jovem e o centro espírita
De uma forma muito clara e objectiva, afirmamos que a integração do jovem no movimento espírita, passa primeiramente pela sua integração na casa espírita. É evidente que o meio espírita ainda não oferece ao jovem um ambiente apropriado ao seu temperamento; ainda não estabeleceu uma atmosfera dinâmica com recursos de entendimento e ideologia, capazes de desenvolver nos seus participantes prioritariamente uma consciência segura da missão do espiritismo na Terra.
A maioria das casas espíritas debate-se com a questão de como integrar o jovem.
Efectivamente deve partir da casa espírita, dos seus dirigentes todo o trabalho de integração do jovem na vida do centro, dizemos mais, o jovem deve ser convidado a participar das várias actividades, da mais simples à mais complexa, respeitando-se e levando-se em conta a relatividade das suas limitações. É necessário que lhe seja dado estimulo, que os jovens se sintam responsáveis perante a doutrina. Aliada à motivação deve estar a confiança no seu trabalho. Paralelamente, parece-nos claro que o fundamento de qualquer trabalho efectivo no campo da ideologia espírita, seja o estudo sério, contínuo e crescente da doutrina espírita. O estímulo ao estudo doutrinário decorre da abertura que se permita, no entendimento, pesquisa e participação dos problemas humanos. Uma outra atitude favorável é a criação de um ambiente aberto, de forma a que as reuniões sejam alegres e divertidas, atraentes e arejadas, motivando uma hora de prazer e entendimento ao jovem que delas participe, sem contudo deixar de ser um ambiente disciplinado.
A presença permanente e o apoio incondicional dos dirigentes dos centros são indispensáveis para a organização de grupos juvenis, voltamos a frisar.
A juventude do século XX possui informações abundantes, é submetida a ideias conflitantes e tem diante de si opções extremas.
Perante as inúmeras solicitações e pressões da actualidade, somente a abertura espiritual, em termos compatíveis com o estágio social, científico e humano de nossos princípios. Por isso, se não conseguirmos estruturar um movimento juvenil à altura dos nossos problemas, teremos falhado, pelo que se torna imperativo trabalhar neste contexto.
O DIJ-Sector da Juventude da FEP, deste modo lança a campanha «Criação Jovem – quem és e o que podes fazer?», com o objectivo de sensibilizar o jovem para a sua participação nos grupos de juventude espírita e consciencializá-lo da sua importância dentro e fora do centro espírita.
Está nas nossas mãos garantir o avanço evolutivo da sociedade do amanhã a partir do passo que hoje tomamos.
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* Directora do Departamento de Infância e Juventude (DIJ) da FEP.