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O Balanço do Milênio: Nova Era

O Balanço do Milênio: Nova Era

O final do ano constitui no mundo dos negócios, o momento crucial de avaliar os resultados das organizações, mediante a elaboração de demonstrativos contábeis, bem como de formular os projetos de realizações para o ano vindouro.

No plano individual, para as pessoas que têm consciência mínima das razões de sua existência, não deve ser muito diferente. Sabemos que as demarcações de tempo, como o calendário gregoriano que seguimos, são convenções humanas. Não obstante, dezembro nos convida a reflexões mais profundas sobre nossas conquistas no ano que se finda. Cada um respeitando seus anseios íntimos, para a imensa maioria restritos ainda ao caráter essencialmente materialista, mas para um número cada vez maior de pessoas voltadas a um plano superior – o da alma ou do espírito.

André Luiz nos exorta à prática de balanços periódicos para averiguar os resultados que os princípios da Doutrina Espírita como restauração dos fundamentos cristãos, têm operado em nosso caráter, em nossa forma de agir e de nos relacionarmos com nossos companheiros de jornada.

Se reconhecemos a importância dessas avaliações e planejamentos ao virar dos anos, que diremos do escoar das horas finais de um milênio. Os mais fiéis ao calendário lembram que o segundo milênio encerra-se apenas ao final do ano 2000, e sendo assim, quando a “folhinha” passar de 2000 para 2001, estaremos todos adentrando o século XXI.

Podemos também argumentar: ora, mas o que há de tão extraordinário, pois temos claro hoje que somos espíritos milenares e este que se encerra seria tão somente mais um milênio em nossas vidas. Ah! Mas temos que refletir: … O que temos realizado? Sim, pois assim como há dias ociosos também há milênios que pouco realizamos.

Se considerarmos o conjunto da humanidade temos que concluir que foi um período rico. A julgar pela primeira metade, não nos animaríamos muito: o segundo milênio rompeu à meia noite da grande treva da humanidade conhecida como Idade Média, em que o pensamento e todas as formas de expressão humana feneceram sob o jugo da igreja, caracterizando esse período, como alguns historiadores denominam, de cristão-bárbaro. Seguindo o raciocínio dialético, a uma ideia (tese) opõe-se lhe outra criando a contradição, a negação. E assim, não foi diferente com o Iluminismo. Através de cérebros brilhantes, o homem reage a todas as formas de repressão à liberdade de pensar. Os expoentes desse movimento fazem coroar em Paris uma bailarina como a “deusa–razão” e dispensam a presença de Deus, agradecendo pelos serviços prestados à humanidade.

O homem passa então a ver-se só no mundo e já que este é o “seu” mundo apressa-se em torná-lo mais confortável, obviamente sob o enfoque materialista, pois esta é a sua perspectiva. Há que se notar que o planeta, graças às grandes descobertas, tornou-se mais conhecido seu. Quer agora investir em si, na sua comodidade, no seu bem estar. O conhecimento humano se amplia, o debate favorece o crescimento intelectual. As condições materiais de vida no planeta melhoram exponencialmente, num movimento que vem culminar no nosso século, revelando-se sobretudo no aprimoramento dos meios de transporte e de comunicações. O mundo se torna efetivamente pequeno – o homem é capaz de contorná-lo em algumas horas a bordo de cápsulas espaciais ou sentado em frente a um computador e transmite vozes e imagens instantaneamente a todos os seus quadrantes.

Analisemos: …o de que precisa hoje o homem (entendido aqui como humanidade) em termos de recursos materiais que ainda não tenha alcançado? Nada. A dificuldade surge quando enfocamos o homem (indivíduo) e constatamos que a grande massa humana não tem acesso a todas as facilidades que a vida contemporânea faculta. A bem da verdade, a maioria não têm satisfeitas suas necessidades básicas. Buscando a raiz da desigualdade encontramos a questão moral – a grande lacuna com que se depara o homem contemporâneo.

Moral – está aí a palavra chave. Se materialmente falando, a humanidade se realizou, pois foi nessas conquistas que investiu primordialmente seus recursos ao longo dos últimos 500 anos, o mesmo não se pode dizer quanto à integridade dos valores e a forma dos seres humanos se relacionarem uns com os outros. Trazendo os atavismos dos períodos em que estagiou nos reinos anteriores da natureza, o homem age ou melhor, reage, ainda movido quase que exclusivamente pelo egoísmo e a vaidade.

O ensejo que esperávamos para a mudança apresenta-se hoje por diversos motivos: o homem após o êxito material encontra dentro de si o grande vazio, que somente se preenche entendendo a sua dimensão espiritual. O momento é este em que ele tenta fazer a síntese dialética, reencontrando-se com Deus. Procura uma forma de viver no mundo, mas com os olhos voltados para o céu. É natural que a busca da espiritualidade propicie o surgimento dos falsos profetas negociando a salvação. Não olvidemos que todo esse quadro foi previsto por Jesus. E é justamente nesse ponto que cresce a nossa responsabilidade, que não se restringe a de atores coadjuvantes nessa epopéia bendita, mas cabendo-nos o papel de agentes de mudança – a da construção da sociedade da Nova Era, levando esclarecimento a todos aqueles que o buscam.

A importância do momento atual não pode ser esquecida: nessa mudança de estágio pelo qual passa o planeta Terra, somos seres dotados de razão e vontade – faculdade essa soberana da alma como nos asseverou Léon Denis . Assim, somos deuses, como dito por Jesus, capazes de realizar prodígios. Para tanto, temos hoje, dando-nos suporte, a doutrina espírita, a convicção da imortalidade da alma, que ela nos prova. Sabemos também que somos seres vocacionados à perfeição, e que reencarnamos com essa finalidade, para buscarmos a felicidade.

Devemos também ter consciência que mudar de vida não se faz unicamente através de outra encarnação. Podemos fazê-lo em qualquer ponto da nossa trajetória, basta que para tanto mobilizemos os recursos do autoconhecimento e dos projetos de melhoria. Por tudo isso, não podemos esperar oportunidade melhor. Com propostas claras, factíveis, cada um consigo mesmo, ou compartilhando com aqueles que possam comungá-las. Com sinceridade, fé e firme disposição. Não esperar que o mundo mude e nos leve junto, mas participando ativamente da construção da Nova Era.

Kardec, inquirindo acerca da felicidade que se pode alcançar na Terra, obteve da espiritualidade superior a questão 922 de O Livro dos Espíritos o esclarecimento de que ela se constitui para a vida material da posse do necessário; e para a vida moral da consciência pura e a fé no futuro. Como humanidade já alcançamos o primeiro ponto, mas para que cada irmão encarnado desfrute da posse do necessário, precisamos avançar moralmente, domando nossos instintos viciosos, edificando em cada um de nós as virtudes que possibilitarão uma nova forma de convivência social – a tão almejada fraternidade exemplificada por Jesus. Para tanto, precisamos no momento essencialmente daquele terceiro item: a fé no futuro.

Para aqueles nostálgicos que gostam de dizer que o melhor tempo já passou, lembramos as palavras de um sociólogo contemporâneo, quando diz que o homem desde que conquistou sensibilidade sofria de dores físicas e não havia remédio, os analgésicos são conquistas modernas. Por outro lado, vivia em média 35/40 anos; quando a expectativa de vida supera hoje os 70 e nos garante a ciência que para as novas gerações irá dobrar. O pensador conclui então: não vivemos no melhor dos mundos, mas vivemos no melhor mundo que já tivemos até hoje.

Que nesse momento de virada, crucial na reforma moral do mundo, como nos asseveram todas as comunicações superiores, possamos guardar esse sentimento íntimo de fé no futuro, de esperança e de alegria cristã. E teremos todos com certeza um ótimo milênio. Este é o nosso desejo. Muita paz.

Marco Antônio de Melo Breves

de Uberlândia, MG

(Jornal Verdade e Luz Nº 180 de Janeiro de 2001)