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Novo Consolador

Novo Consolador

“Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu
nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho
dito.” – Jesus (João, 14:26).

O Pensamento Cristão, no decorrer dos séculos, vagou na incerteza,
acorrentado pôr religiões de homens que buscaram nos textos sagrados a “letra
que mata
” em lugar do “espírito da letra que vivifica“, criando,
assim, dogmas e rituais cansativos e desnecessários, desviando a mente humana da
comunhão direta em espírito às coisas Divinas, para o supérfluo da exterioridade
material.

Essa miopia espiritual, oriunda da falta de amadurecimento do homem para com
as coisas espirituais, mas se acentuou, em face do Mestre Nazareno não ter dito
tudo o que conhecia, ou quando o disse, ensinou através de parábolas (narrações
alegóricas) ocultamente, para não ofuscar com a luz intensa de seus
conhecimentos, aqueles que “não tinham olhos para ver”, pois mesmo vendo
não enxergavam….

Daí a promessa de Jesus sobre a vinda do Novo Consolador, o Espírito da
Verdade, enviado pelo Pai para: “ensinar todas as coisas e vos fará lembrar
tudo o que vos tenho dito.”
(João, 14:26).

Segundo F. Lichtenberger (1) : ” Durante perto de meio século depois da
morte de Jesus, a tradição Cristã, oral e viva, é qual água corrente em que
qualquer se pode saciar. Sua propaganda se fez pôr meio da prédica, pelo ensino
dos apóstolos, homens simples, iletrados (a exceção de Paulo, versado em letras)
mas iluminados pelo pensamento do Mestre…

Com Paulo e depois dele, novas correntes se formam e surgem doutrinas
confusas no seio das comunidades cristãs. Sucessivamente, a predestinação e a
graça, a queda e a redenção, a crença em Satanás e no inferno, serão lançados
nos espíritos e virão alterar a pureza e a simplicidade ao ensinamento do filho
de Maria…”.

Depois da morte de quase todos os apóstolos, com exceção de João e Felipe,
“o vínculo que unia os cristãos era bem fraco ainda. Formavam grupos isolados
entre si e que tomavam nome de igrejas, cada qual dirigido pôr um bispo
escolhido eletivamente… Cada igreja estava entregue às próprias inspirações;
apenas tinha para se dirigir uma tradição incerta, fixada em alguns manuscritos,
que resumiam mais ou menos fielmente os atos e palavras de Jesus, e que cada
bispo interpretava a seu talante.”.

Se a essas dificuldades acrescentarmos: fragilidade dos pergaminhos, falta de
inteligência dos copistas, etc., compreendemos melhor porque a unidade de crença
e de doutrina não tenham podido ser mantidos.

Segundo ainda F. Lichtenberger, citando A. Sabatier, decano da Faculdade de
Teologia Protestante de Paris: ” Os manuscritos originais dos Evangelhos
desapareceram, sem deixar nenhum vestígio certo na História. Foram provavelmente
destruídos pôr ocasião da proscrição geral dos livros cristãos, ordenada pelo
Imperador Deocleciano (edito imperial de 303). Os escritos sagrados que
escaparam à destruição não são, pôr conseguinte, senão cópias.

Primitivamente, não tinham pontuação esses escritos, mas, em tempo, foram
divididos em perícopes, para comodidade da leitura em público – divisões as
vezes arbitrárias e diferentes entre si. A divisão atual apareceu pela 1ª vez na
edição de 1551.”.

Entre essas arbitrariedades de pontuação forçadas para implantar determinados
dogmas da Igreja, apresentamos a colocação de Gilmar Farias, em seu artigo:
“Hoje estarás comigo no paraíso.”

“Os defensores da idéia de que as pessoas recebem a recompensa logo após
haverem expirado, citam, quase sempre, as palavras do Cristo na cruz ao lado do
ladrão arrependido.

Em Lucas 23:42, o ladrão roga a Jesus o seguinte: “Jesus , lembra-te de
mim quando entrares no teu reino”.

No verso 43, temos a resposta de Jesus: “Em verdade te digo que hoje
estarás comigo no paraíso”.

A cópia do Códice Vaticano nos comprova, que nos manuscritos primitivos
unciais não havia nenhum sinal de pontuação.

O livro “Arte de Pontuação” de Alexandre Passos, pág. 22, nos informa que
estudando a história da pontuação através dos séculos, vemos que no 5º ou 6º
séculos os textos dos Evangelhos não apresentavam nem ponto, nem vírgula. A
ausência da pontuação deixa os tradutores na possibilidade de colocarem a
pontuação de acordo com suas idéias preestabelecidas.

É evidente que a mudança de pontuação pode alterar totalmente o
significado de uma frase, como nos comprovam as afirmações de tempo quanto
bastará para se falsificar uma escritura. Bastará mudar um nome? Bastará mudar
uma cifra? Digo que muito menos basta. Não é necessário para falsificar uma
escritura mudar nomes, nem palavras, nem cifras, nem ainda letras, basta mudar o
ponto ou a vírgula…”

Humberto Rohden assim traduziu: “Em verdade te digo, ainda estarás no
paraíso.” Entretanto, o que outras autoridades de valor encontraram no original
foi o seguinte: “Em verdade te digo hoje, (vírgula) estarás comigo no
paraíso”.(Bíblia Trinitária- Edição Revista e Reformada, segundo o original
Hebraico e Grego, editada na Trinitarian Bible Society, 96 – Newgate Street
E.C.Londres). Todavia, esta ainda não é a verdadeira tradução. Porquanto, na
verdadeira e definitiva tradução seria dois pontos o lugar da vírgula: ” Em
verdade te digo: (dois pontos) estarás comigo no paraíso” porque esta expressão
não contraria os preceitos do Cristo, que sempre ensinou: “Quem empunha a espada
à espada morrerá” e “A cada um será dado, segundo as suas obras” e não segundo a
sua fé ou segundo o seu arrependimento. As obras do ladrão, dentro da Lei de
Justiça ensinada pelo Mestre, não lhe poderiam dar o direito de entrada no tão
cobiçado paraíso ainda hoje, isto é, naquele mesmo dia. O que ainda naquele
mesmo dia prometeu Jesus, foi: Que o ladrão, como todo mundo, entraria no
paraíso, não precisando o tempo, pois que “Todo o homem verá a salvação de Deus”
(Lucas, 3:6).”
Desta forma, o Espiritismo, “vem lembrar os ensinos de
Jesus
“, apresentando-os agora, sem o véu das parábolas ou as alterações
capciosas que deram margem a inúmeras interpretações errôneas, graças a chave
das revelações do mundo invisível que a Doutrina dos Espíritos entrega ao homem
para facultar-lhe a entrada nesse novo mundo até então desconhecido e “misterioso“,
possibilitando-lhe o conhecimento das Leis que regem a vida no mundo espiritual
e suas relações com o mundo material.

No seu papel de Novo Consolador, o Espiritismo veio, no dizer do próprio
Cristo, levantar o véu do mistério, revelando ao homem a sua natureza, sua
origem e seu destino.

“O Espiritismo vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da
Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as
dores”. (2)

Bibliografia:

  1. Denis, Léon – “Cristianismo e Espiritismo” – 5ª edição – FEB
  2. Kardec, Allan – “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – 104ª edição – FEB

Obs.

Artigo publicado em Manaus, em O Mensageiro (FEA) de Outubro e
Dezembro de 1984; Jornal do Comércio de 20.06.95 e no Rio de janeiro na
Revista Reformador da FEB de Dez 95.