Na bigorna do tempo, sob o malho do magistral ferreiro, sr. Hábitos e
Costumes da Época, forja-se o caráter da personalidade humana.
Ao final da longa jornada de ferro e fogo, fica esculpida a marca do artista.
Artista que representa o conjunto dos artesões de uma vida, iniciando pela
primeira artesã, que afaga amorosa e exultante o ventre, que germina uma vida
nova, a mãe.
Da multiplicidade e complexidade da oficina familiar passa-se a forjar o
caráter nos ateliês do mundo exterior, onde cada artesão está representado pelos
grupos de relacionamentos interdisciplinares, que compreendem as comunidades do
bairro, da escola, do trabalho, do templo e da sociedade em geral. Inclui-se
nesse processo de escultura da personalidade a própria cadeia de descendência,
onde o malho do ferreiro bate firme, tendo por base sólida a bigorna do tempo. O
caráter terá o registro do aprendizado dos novos relacionamentos, agora de pai e
mãe, de avô e avó, de tio e tia, de cunhado e cunhada, de companheiro e
companheira, e outros, em complemento à forja já vivenciada de filho e filha, de
neta e neta, de sobrinho e sobrinha, etc.
Assim, a marcha do tempo vai consolidando os valores que cada artesão foi
capaz de moldar. O resultado dessa moldagem sintetiza nossa personalidade num
determinado tempo.
Para uns dizem : ” este é um bom caráter”; para outros dizem: “este é um mau
caráter”.
O julgamento que se faz está sempre baseado no modelo que o ferreiro, sr.
Hábitos e Costumes da Época, adotou.
Quando esse velho ferreiro estiver já aposentado, e na bigorna do tempo
estiver malhando, quem sabe o seu neto, o que o velho artesão forjou como mau
caráter possa ter outro significado, da mesma forma que os costumes e hábitos
das sociedades primitivas e de práticas antropofágicas, em relação aos costumes
e hábitos do que se denomina sociedade civilizada.
O modelos utilizados pelos artistas do renascimento, seguramente, não são os
modelos ideais do artista atual. Os hábitos e costumes da comunidade muçulmana
oriental não são os hábitos e costumes da comunidade liberal ocidental.
Por essa diversidade, não se pode, em definitivo, querer rotular o ser humano
sem conhecer a sua história. História que pode ter começado num harmonioso lar,
ou em abandono nas frias ruas urbanas.
A história que se recomenda conhecer é relativa à vida presente. Mas, é sem
dúvida alguma, a personalidade de cada um forjada nas muitas vivências
anteriores. Dessas ficam, na vida presente, traços, que caracterizam tendências
de comportamento manifestadas desde a mais tenra infância. Sobre esse esboço é
que se retempera o caráter, malhado na bigorna do tempo, para formar uma nova
personalidade, de preferência melhorada em relação às anteriores.
Assim, a marcha do tempo vai consolidando os valores que cada
artesão foi capaz de moldar. O resultado dessa moldagem sintetiza nossa
personalidade num determinado tempo.
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1998)