O “Deus” Huracán
Suely Caldas Schubert
Em 1985 fui à Guatemala, e após fazer a conferência em Guatemala (DF), os confrades me disseram que a palestra do dia seguinte seria em Coatepec e que haviam feito uma larga propaganda para atrair umas seis mil pessoas.
— Mas, em Coatepec, seis mil pessoas? — indaguei.
— Sim, irmão Divaldo, há um mês estamos viajando pelos vales, pelas montanhas e o irmão vai falar ali no Palácio de Metal.
Eu comecei a imaginar a beleza do Palácio de Metal. Tenho a mente muito entusiasta e logo imaginei alguma coisa de belo como os palácios da Índia.
Quando chegou o dia, os confrades estavam entusiasmadíssimos com a minha palestra no Palácio de Metal.
— Irmão — disse-me um deles —, toda a província de Coatepec virá para assisti-lo.
Viajamos trezentos e vinte quilômetros e quando chegamos perto, disseram-me:
— Vamos esperar a comissão de recepção.
Veio a comissão e entramos, na cidade, em caravana. Eu imaginava a cidade de Coatepec, com o seu Palácio de Metal, imponente e grandioso. Quando entramos, porém, constatei que era um lugar mais simples e menor do que eu esperava.
O hotel, onde me hospedei, era quase todo de tábuas, ainda em construção.
Às quinze horas começou a chover, a relampejar, a trovejar. O presidente amigo me disse:
— Aqui chove muito; é chuva tropical, dá aquela pancada e logo passa.
Às dezessete horas a chuva prosseguia. Ele voltou a afirmar-me:
— Passará já.
Às dezoito e trinta a cena se repetiu e ele garantiu-me que a chuva logo passaria. Eu me aprontei, e, às dezenove horas, disse-lhe que já podíamos ir.
— Ainda não. Só iremos quando faltarem quinze minutos, pois preparamos uma entrada triunfal. O irmão já imaginou quase sete mil pessoas aplaudindo a sua entrada?
Tentei demovê-lo desse propósito, dizendo que preferia entrar por alguma porta lateral, pois fico constrangido, quando tenho que passar pelo meio do povo a me aplaudir.
— Não — respondeu-me. — Tudo está preparado; tem mestre-de-cerimônias, o salão mede setenta metros por dez.
Fiquei a imaginar um salão assim, devia ser quase uma quadra. Mas a chuva prosseguia, torrencialmente.
Às dezenove e quarenta, saímos de carro. Quando chegamos a uma certa distância, tudo estava interrompido. As enxurradas eram como rios. Carroças, carros, ônibus, caminhões, tudo interditado, O meu anfitrião olhou para mim e falou:
— O irmão trouxe guarda-chuva?
— Não, eu não sabia que ia chover.
— E se importa de se molhar? Porque não vamos conseguir ir até lá de carro.
— Não havendo outra alternativa…
— Então vamos correr.
Quando desci do carro a água me veio quase aos joelhos. Fomos andando pela rua, bem devagar, cercados de água e com a chuva caindo sobre nós. Então, chegamos ao local. Quando eu parei para olhar o Palácio de Metal…
Era enorme e estava superlotado. Era, porém, um barracão de meia parede e a chuva entrava por um lado quase saindo pelo outro. Em cima era de zinco, daí a razão do nome — Palácio de Metal. A chuva caindo sobre o zinco fazia um barulho de estremecer. O mestre-de-cerimônias falava ao microfone e o povo permanecia firme.
— E o irmão Divaldo! — anunciou.
Entrei e foram muitas as palmas. Fui sendo levado até o meu lugar. Sentei-me e olhei o público. E o que vi, me comoveu. Foi um dos dias mais belos da minha vida.
Ali estavam índios e mestiços guatemaltecos. Alguns haviam vindo desde mais de cem quilômetros de distância:
a cavalo, de caminhão, de carruagem, de carroça, de ônibus para ouvir a mensagem. Mães com filhinhos às costas e um xale, como é comum na região, ali estavam, de pé. Não tinha um assento, todos paradinhos…
Cheguei ao palco e exclamei intimamente: — Meu Deus! — Comovi-me, e fiquei envergonhado de mim próprio.
— O que vou dizer a eles, se não tenho o que dar. Se Jesus não vier, o que será de mim? — conjeturei.
Havia, na cidade, um problema, porque o senhor bispo, a véspera, atacara duramente o Espiritismo e ameaçou de excomunhão a quem fosse assistir a palestra espírita. Esta seria irradiada, Os intelectuais, o bispo e as autoridades iriam ouvi-la em casa, certamente, mas aquele povo ali era modesto, semi-alfabetizado, simples de discernimento. Eu teria que falar para os críticos que ficaram em casa, sem esquecer-me dos necessitados ali presentes.
Supliquei intimamente: — Meu Deus, tenha misericórdia de nós! Se eu iamais fui inspirado, meu Jesus, hoje, por caridade para com eles, inspire-me. Eu afirmo que, a partir de hoje, irei mudar para melhor, procederei bem, para o Senhor me inspirar sempre, sem eu o pedir. — Comecei a orar. As lágrimas me corriam pela face. Olhei o público
novamente. Havia próximo uma indiazinha, com imensa pureza me olhando como se eu fosse um totem.
Deram-me a palavra. Levantei-me, o microfone com defeito de transmissão, um som descontrolado.
Fechei os olhos, para me concentrar, porque a zoada externa era terrível. Comecei a falar, a falar e a pedir intimamente: — Meus Deus, pare a chuva!
Falei sobre a imortalidade da alma, que é um tema universal.
De repente, ouviu-se um estrondo. Caiu um raio em algum lugar; faltou luz; pararam os sons e eu me sentei; não podia continuar, porque a sala era muito comprida, embora eu tenha a voz muito forte, não conseguiria fazer-me ouvir.
Eu fiquei sentado, mas ninguém saiu do recinto, nem mesmo a chuva. O silêncio era sepulcral. Vinte minutos depois voltou a luz fluorescente, voltou o rádio. Alguém disse alto: — Continue! (Mas eu me esquecera onde havia parado.)
O presidente, então, falou: — Irmão, estamos esperando.
Eu me aproximei do microfone e, nesta hora, lembrei-me da parte em que parara.
Continuei a falar, mas, com uma ternura diferente. Eu estava falando para as minhas necessidades espirituais. Descobri que me amava pela onda de amor que senti por aquele povo. Prossegui, e, quando me preparava para a pré-tarefa de terminar, vi aparecer, à porta de entrada, um ser luminescente, estóico, em corpo espiritual como nunca havia visto antes com tanta beleza. Parecia um deus da mitologia, mas era um deus asteca. Ele estava de torso nu, uma compleição robusta, parecendo ter dois metros de altura, uma perfeição; os olhos eram duas lâmpadas que me alcançavam. Sobre a cabeça havia um tipo de cocar especial, feito de plumas de quetzal, que é a ave nacional (de onde se originou a moeda) que dá uma pluma que chega a ter dois metros. E uma ave que só existe na Guatemala e só em Coatepec, porque só ali tem um fruto, que parece
grão de café, de que a ave se nutre. O macho é lindo, a fêmea é pequenina, não tem a mesma plumagem. Ele me apareceu com tal adorno.
Joanna, então, alertou-me: — Continue falando.
Ele veio andando, triunfalmente, se se pode falar, como se deslizasse. Comecei a ouvir uma música no ar. Uma melodia de ordem ritual, aquela melodia infinita, em muitas vozes, que balsamizava o ambiente.
Mas, esqueci-me de um detalhe. Quando entrei, do lado esquerdo, estava uma mulher deitada ao solo, visivelmente paralítica, no palco; e no lado direito estavam dois outros paralíticos, igualmente deficientes nas pernas e nos braços.
O Espírito veio vindo, chegou-se até mim e, naquela grandiosidade, disse-me:
— Chamam-me Huracán; eu sou tido como o deus que criou o povo asteca. Sou teu amigo e teu irmão. Venho para encerrarmos a nossa noite. Continua!
A mente dele, entretanto, era tal que a minha se inundou de inspiração e, dentro do tema da imortalidade, eu dizia, terminando:
— Para vós não é estranho o tema da imortalidade, porque quando Huracán desceu à Terra, tomou do lodo do riacho para formar a raça asteca, soprou-lhe a imortalidade da alma.., e comecei a contar a história do povo asteca, que não conhecia, mas que me chegava em clichês psíquicos transmitidos pelo Espírito.
Ele foi até a mulher paralítica e curvou-se. Foi até o outro lado, curvou-se e chegou a mim, envolveu-me por detrás e me senti flutuar. Ele atravessou-me o corpo e, chegando, naquele imenso corredor, eu já estava terminando o tema, ele abriu os braços (necessitei de muita imaginação para entender) e por ideoplastía eu o vi numa forma cerimonial do povo: sobre a cabeça estava uma moldura de águia, nos dois braços cresceu uma plumagem e ele, de repente, como uma seta voou, e, ao voar, naquela inclinada em direção ao infinito, deixou um rastro de luz, com os
braços abertos, ficando sobre o povo uma imensa cruz dourada, flutuando no ar, que gotejava uma luz violácea ou dourada-prateada.
Eu terminei a palestra e percebi que as pessoas choravam. Notei cair sobre a multidão flocos de luz e todos ficaram como que revestidos de um ectoplasma de luminescência invulgar. Sentei-me, fechei os olhos, e a chuva parou.
Nesse momento, eu disse à Joanna de Ângelis: — Que pena, se a chuva tivesse parado antes…
— Meu filho, porque recalcitras? Tu achas que deves dizer a Deus o que fazer? Se choveu, havia uma razão. Esta região está invadida por lutas camponesas, pela guerra civil que ronda a Guatemala, provinda de El Salvador, da Nicarágua, de Honduras. Estas almas estão sendo aliciadas pelos fomentadores das guerras pelas terras. Elas não sabem o que é “direito de terras”, mas estão sendo envenenadas para matar e morrer, e quando foi anunciada a palestra, o Mentor da comunidade pediu aos céus para que uma tempestade varresse o ar, retirasse os miasmas… (Eu me lembrei de Obreiros da Vida Eterna, de André Luiz, ao referir-se ao fogo purificador para limpar a psicosfera.) E agora — prosseguiu ela — que a mensagem terminou, esses vibriões mentais, essas construções pestíferas do ódio foram afastadas ou destruídas pelos raios, os trovões, a chuva, e a paz permanecerá neste ambiente. Nunca suponhas que o Senhor não sabe. Aprende a submeter-se sem sugerir.
A solenidade foi encerrada. A cruz permanecia no ar como nunca vi nada igual antes, em quarenta anos de mediunidade consciente.
Fui saindo, e quando passei pela senhora paralítica, muito comovido, aproximei-me, passei-lhe a mão na cabeça e perguntei-lhe: — A senhora gostou?
Veio um rapaz, um indiozinho, correndo, e respondeu-me:
— Ela não fala espanhol, só o asteca e o maia.
Então, pensei: — Meu Deus, ela não entendeu nada.
Vendo o meu interesse, o jovem intérprete esclareceu:
— Esta senhora é minha mãe. O senhor quer saber alguma coisa?
— Pergunte-lhe se gostou da palestra.
Ele inquiriu-a e traduziu-me a resposta:
— Sim, ela gostou.
— Volte a perguntar-lhe — insisti — se me compreendeu.
Ele indagou e respondeu-me:
— Não, ela não compreendeu, ela entendeu, ela sentiu; não é necessário falar quando se pode penetrar a idéia.
Admirado ante tal resposta, prossegui:
— Indague-lhe o que ela veio fazer. (Mas não esperava a resposta). Ela falou através do intérprete:
— Eu vi o deus e ele me disse que eu trouxesse os doentes e os aleijados para escutar o “emissário do Senhor”.
— O “emissário do Senhor”?
Ela me olhou, profundamente, e completou:
— O senhor tem a “voz de Deus”. Eu vi chegar o deus Huracán e senti o rociar de suas asas abençoando-nos.
Ela falou qualquer outra coisa e o filho esclareceu-me:
— Mamãe o está abençoando. Ela é quem recebe as mensagens do nosso deus. Ele mandou que se espalhasse pelas aldeias que o “emissário do Senhor” viria a Coatepec, e que todo o mundo viesse assisti-lo.
Eu tomei aquela mão engelhada, olhei aquela mulher sofrida, encostei a minha na sua cabeça e ela sorriu. Quase não se podia mexer. O rapazinho então esclareceu-me:
— Nós moramos a quase trinta quilômetros daqui. Mamãe veio amarrada num cavalo e eu vim noutro, puxando-a.
Ouvindo-o, senti-me envergonhado. Fui levado pelo jovem aos outros dois paralíticos e um deles falou-me:
— Nosso deus mandou dizer que se nós viéssemos ficaríamos curados. Estamos esperando que o senhor dê a ordem.
Hesitei, emocionado, mas Joanna orientou-me:
— Mande-o levantar-se, meu filho.
Eu vi que não tinha a “fé que remove montanhas”, porque sendo um homem racional, naquela hora a primeira coisa que pensei foi: quem sou eu? Mas, num momento como aquele é o Cristo quem está em nós, naquela hora não somos nós.
Joanna me deu segurança e amparo. Ficou atrás de mim e tornou a dizer-me:
— Fale, meu filho.
Aproximei-me, e, olhando-o fixamente, disse-lhe:
— Você crê em Deus?
— Creio! — respondeu-me.
— Então, levante e ande, em nome de Deus e de Huracán! Venha!
Ele foi escorregando do palco como quem ia cair. Quiseram segurá-lo, porém, pedi que o deixassem. Ele caiu mais ou menos em pé e qual um pêndulo de relógio oscilou. Equilibrou-se e deu o primeiro passo.
O silêncio em todo o salão era total. Todos permaneciam numa postura de dignidade, como se já soubessem o que iria acontecer. Nenhum grito, nenhuma emoção. Fé! A fé que nos falta. E o amor!
Ele andou, segurou o meu braço. Fomos até ali, voltamos até acolá.
— E eu, e eu? — indagou o outro, afobadamente.
— Venha, o Senhor está mandando-o também. Venha, em nome de Deus!
Ele foi desentortando, como se estivesse obsidiado, padecendo de uma obsessão física. Não era um paralítico orgânico.
Recordei-me, imediatamente, de que Kardec narra, no capitulo 23, de O Livro dos Médiuns, o caso de um obsessor que atuava nos jarretes de um homem, fazendo-o cair de joelhos diante de uma moça, humilhando-o terrivelmente.
Mas, ele se foi retorcendo, e do seu corpo saiu um fluido, como um fumo, como que uma nuvem escura e ele começou a andar.
— Deus abençoe o “emissário do Senhor” — disseram repetidas vezes.
A minha emoção foi tão grande que eu não saberia descrevê-la. Vi que estava na hora de ir-me embora, porque não podia suportar mais tão intenso estado emocional —um sentimento intraduzível. Só sei dizer que meu coração parecia querer arrebentar-se dentro do peito.
Chamei o presidente e amigo anfitrião, que estava a regular distância, e pedi-lhe, quase sem voz:
— Vamos? Já que a chuva parou, vamo-nos embora.
Fomos atravessando o salão. Olhei o relógio, eram vinte e duas e trinta. Alguém veio e me abraçou. Veio outro e fez o mesmo. E veio outro, mais outro. Quando cheguei à porta, após atravessar o largo recinto, faltavam quinze minutos para a meia-noite.
Eram o amor e a visão do deus Huracán, porquanto vivendo eles no contexto de uma crença totêmica, é óbvio que a resposta espiritual se apresentaria de igual forma. Huracán, seria, pois, o Mentor, o Guia Espiritual da comunidade, que se apresentava conforme a concepção deles: uma águia que habita as grandes alturas, nas montanhas mais elevadas.
A rua escoara, não havia mais água ou enxurrada.
Não pude dormir. Durante um largo tempo não consegui dormir, porque o deus Huracán havia vindo e a mensagem do amor tornara-se realidade em Coatepec.
A PREPARAÇÃO DO AMBIENTE — A CHUVA
A aparição do deus Huracán e toda essa experiência vivida por Divaldo, na cidade de Coatepec, é uma das mais belas e comoventes passagens que já encontramos no riquíssimo aceno de vivências que a mediunidade a serviço de Jesus proporciona àqueles que, como o médium baiano, a elegem como fanal de suas vidas.
Algumas horas antes da palestra começa a chover. Divaldo menciona a intensidade da chuva, os relâmpagos e trovões.
Segundo os confrades que o convidaram, a chuva seria passageira, tal como acontecia diariamente. Apenas uma chuva tropical. Entretanto, conforme elucida Joanna de Angelis, posteriormente, esta era uma chuva programada para um fim determinado.
Pelo menos um mês antes da vinda de Divaldo, os moradores de toda a região haviam sido alertados para a vinda do “emissário do Senhor”. Houve uma programação de ordem superior para aquela população, constituída de almas simples e humildes, que, no entanto, estavam sendo induzidas a participar de guerrilhas, de movimentos revolucionários. Para isso, não hesitavam, os fomentadores da guerra, em contagiá-los com o vírus do ódio, da revolta, da violência.
Gente de índole pacífica, apegada aos costumes locais, à terra e às tradições dos antepassados, vivia ali pelos vales e montanhas sem preocupações de posses e conquistas.
Coatepec! Uma cidade perdida nos montes guatemaltecos foi assim incluída no roteiro de palestras de Divaldo Franco.
Uma mulher desse povo generoso, paralítica, é avisada espiritualmente que seria aquele o dia da chegada. Médium natural, fizera-se respeitada e acatavam-lhe as orientações.
A mediunidade é parte integrante na vida de todos, na comunidade. Encarada com naturalidade, faz-se espontânea e autêntica, como parte de comunicação entre os dois planos da vida. Para o povo dessa região, constituído de índios e mestiços, a certeza na imortalidade da alma e na comunicabilidade dos Espíritos é, portanto, decorrente de fatos concretos, não de teorias ou de abstrações filosóficas, distantes do seu alcance.
A noticia se espalhou por todas as aldeias. Quase quatro mil pessoas acorreram ao Palácio de Metal. A médium paralítica veio amarrada ao cavalo, com a coragem da fé, de quem sabe e conhece.
A chuva fora programada pela Espiritualidade Maior.
Em O Livro dos Espíritos, no capítulo IX da 2a. parte, os Espíritos da Codificação respondem a Allan Kardec sobre a ação dos Espíritos nos fenômenos da Natureza. Vejamos o que dizem:
538 — «Formam categoria especial no mundo espírita os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza? Serão seres à parte, ou Espíritos que foram encarnados como nós?
Que foram ou que serão.
a) Pertencem esses Espíritos às ordens superiores ou às inferiores da hierarquia espírita?
«Isso é conforme seja mais ou menos material, mais ou menos inteligente o papel que desempenham. Uns mandam, outros executam. Os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior, assim entre os Espíritos, como entre os homens.”
539 — A produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é obra de um só Espírito, ou muitos se reúnem, formando grandes massas, para produzi-los?
«Reúnem-se em massas inumeráveis.»
É pois, perfeitamente possível e admissível que a chuva fosse solicitada pelo Espírito Protetor da região, com o fim de purificar a atmosfera.
Ao ouvir as explicações de sua Mentora, Divaldo recorda-se do “fogo purificador”, conforme descreve André Luiz em Obreiros da Vida Eterna.
Nesta obra o autor desencarnado relata a sua experiência na “Casa Transitória”, situada em região espiritual de densas trevas. Eis um trecho a respeito:
“Permanecíamos em região onde a matéria obedecia a outras leis, interpenetrada de princípios mentais extremamente viciados. Congregavam-se aí longos precipícios infernais e vastíssimas zonas de purgatório das almas culpadas e arrependidas.
Na verdade, muita vez viajara entre a nossa colônia feliz e o plano crostal do planeta, atravessando lugares semelhantes, mas nunca me demorara tanto em círculo desagradável e escuro como esse. A ausência de vegetação, aliada à neblina pesada e sufocante, infundia profunda sensação de deserto e tristeza.” (capítulo VI)
É nessa zona sombria que o fogo etérico, purificador, vai atuar, em meio a trovões e relâmpagos. Recomendamos ao leitor uma consulta ao livro mencionado.
A tempestade, no caso em pauta, teria assim, o mesmo efeito.
O próprio Divaldo tem psicografado várias páginas, que estão em seus livros, nas quais existem referências acerca da poluição da psicosfera, bem como da possibilidade de contágio. Uma dessas mensagens é assinada por João Cléofas, inserida no livro Depoimentos Vivos, intitulada “Reagentes Mentais”. O autor refere-se à assepsia da sala mediúnica, que, está perfeitamente de acordo com a necessidade de renovação da psicosfera em toda a região de Coatepec, a fim de que os miasmas produzidos pelos disseminadores do ódio desaparecessem, propiciando assim a chegada de Huracán. Foi realizada, então, a purificação da ambiência espiritual para que o Palácio de Metal se transformasse em gigantesca sala mediúnica com seis mil participantes.
Atentemos para o que assinala João Cléofas:
“(…) Utilizemo-nos dos componentes da reação moral elevada contra os invasores microbianos das regiões inferiores da vida…
Vibriões elaborados por mentes viciosas, corpos estranhos produzidos por Entidades perversas, ideoplastias formuladas por fixações negativas, constituem fantasmas perturbadores que invadem a esfera do serviço, muitas vezes impossibilitando as realizações nobilitantes do trabalho.
(…) Em qualquer ambiente em que se procedem a tais experiências vitais, o contágio desta ou daquela natureza, seja no campo da inoculação de formas vivas perniciosas à existência, seja da exteriorização deletéria de pensamentos destrutivos, consegue danificar os mais respeitáveis programas, desde que não nos encontremos devidamente forrados para investir nesse campo árduo, fomentando as produções relevantes.”
A explanação feita por Joanna de Angelis, ao término da palestra, é ainda uma lição primorosa para todos os que se habituaram a reclamar contra os fenômenos da Natureza.
Observa-se, também, o zelo, a vigilância dos Mentores Espirituais das nações, das cidades, das pessoas. Para atender àquela região, defendê-la da contaminação do ódio e da violência, o Espírito Huracán, deus e Mentor, estabelece, com base na programação de Divaldo, uma visita aos seus tutelados de maneira mais direta. Por certo, ele os atende por outros meios e vias, mas a palestra ofereceria o ambiente ideal para que se realizasse o fenômeno mediúnico, muito mais marcante e que impressionaria, indelevelmente, o seu povo.
O Palácio de Metal
O local não poderia ser mais surpreendente, dada a extravagância do nome, que faz supor uma edificação requintada.
A multidão atende ao chamado e vem de todas as formas, enfrentando a tempestade, as dificuldades de transporte e de acomodações.
O Palácio de Metal não tem nenhum conforto. Chove dentro e fora do recinto, mas o público se mantém numa disciplina incomparável, conquistada através dos próprios hábitos indígenas. Não há cadeiras. Todos estão de pé.
Interessante analisarmos essa postura do público. Estão de pé, em vigilância. O corpo não se acomoda, não se amolenta; a mente está alerta e todos estão expectantes.
Há no ar uma sensação diferente, que Divaldo sente ao chegar ao palco e contemplar, pela primeira vez, de frente, o imenso auditório. Uma emoção profunda o invade. Ele sente que as pessoas presentes aguardam algo. Era muito mais que um simples e habitual auditório. Não pelo número de pessoas (ele já falou para platéias maiores), mas pela especial vibração que capta no ambiente. Acostumado a todo tipo de público, habituado a transmitir emoções, a despertá-las, principalmente, através da palavra e da sua própria figura carismática, o médium sente, todavia, que lhe era pedido alguma coisa mais. No momento, sem poder precisar o que, eleva o pensamento a Jesus e roga inspiração. Observemos que ele diz, mentalmente: “Se Jesus não vier o que será de mim?”
O orador baiano inicia a palestra. Fala sobre a imortalidade da alma, enquanto a chuva continua a cair.
Algum tempo se passa quando um trovão mais forte, seguido de um raio, interrompe a energia elétrica. O Palácio de Metal mergulha na escuridão. Ninguém se mexe. As pessoas não se inquietam, como seria de se prever e como aconteceria com outro auditório qualquer. Há completo silêncio.
No escuro, o enorme pavilhão de zinco transforma-se em imensa câmara mediúnica.
Pode-se imaginar a azáfama das Entidades Espirituais coletando o ectoplasma, recolhendo energia mental dos encarnados e utilizando Divaldo como médium dos fenômenos que viriam a seguir.
Quando a luz se acende, o orador retoma a palavra. Mas está diferente, já não fala da mesma forma anterior. Inunda-se interiormente de um amor imenso por aquele povo simples que o ouvia, e extravasa este sentimento em vibrações e palavras. É neste estado que o vê chegar.
A Chegada de Huracán
A descrição que Divaldo faz de Huracán dá-nos uma idéia da sua beleza e espiritualidade.
eu vi aparecer, à porta de entrada, um ser luminescente, estóico, em corpo espiritual como eu nunca havia visto antes com tanta beleza. Parecia um deus da mitologia, mas era um deus asteca. Ele estava de torso nu, uma compleição robusta, parecendo ter dois metros de altura, uma perfeição; os olhos eram duas lâmpadas que me alcançavam. Ele veio andando, triunfalmente, como se deslizasse.”
Ao mesmo tempo, ouviu-se uma melodia no ar, enquanto a Entidade, aproximando-se de Divaldo, identifica-se, e, a partir daquele instante, inspira-lhe a palavra. A mente do médium, em sintonia com a de Huracán, inunda-se de clichês psíquicos, de idéias que vão sendo transmitidas para o auditório.
Hermínio C. Miranda, o consagrado escritor espírita, escreveu em Reformador, de março de 1971, excelente artigo intitulado “Técnica da Comunicação Espírita”.* Vale a pena transcrevermos um trecho, na qual, o autor demonstra as etapas do processo da comunicação mediúnica.
“A decomposição do processo revela o seguinte: em todo sistema de comunicação — mediúnica ou não — o componente inicial é a idéia, concebida na mente daquele que deseja transmiti-la a alguém. É evidente que a clareza da comunicação dependerá fortemente da maior ou menor lucidez que existir na concepção da idéia original. (…)
(*) Este artigo foi, posteriormente, inserido no livro Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos — Edição FEB. (Nota da Autora)
O segundo componente do sistema é a expressão formal do pensamento. Aquele que deseja transmitir uma idéia, terá de traduzi-la de alguma forma, segundo o processo que tiver à sua disposição. Isso porque, nós não pensamos em palavras, e sim, em imagens ou impressões fugidias que passam pelo nosso consciente como “flashes” velozes que precisamos agarrar às pressas para que não se percam. O primeiro trabalho é, pois, o de converter pensamentos, idéias, sensações e impressões em um sistema de códigos, sinais ou imagens sensoriais que sejam comuns a uma grande quantidade de gente. Se o pensamento deve ser expresso em palavras há que fazer a escolha da língua; se for em imagens, é preciso decidir quanto à forma, à cor, ao tamanho e ao processo de divulgação. (…)
Com isto chegamos ao terceiro componente do processo de comunicação, que é a interpretação por parte daquele que a recebe. É evidente, portanto, que a mensagem não é recebida na sua forma original, tal como foi concebida na mente daquele que a enviou, e sim, já convertida num dos meios usuais empregados para torná-la comum, ou seja, para comunicá-la. Isso quer dizer que ela passou por um processo de codificação, ao ser transformada em sinais ou símbolos de idéias que surgem no plano do nosso entendimento como representações das próprias idéias. É que, na fase atual da nossa evolução espiritual, ainda não podemos transmitir o nosso pensamento na sua forma original, com a dispensa dos símbolos criados para comunicá-lo. Cabe, assim, àquele que recebe a mensagem, descodificá-la para reconvertê-la à forma original e ser, então, absorvida como pensamento puro.
Alcançamos o quarto componente do processo de comunicação quando a reação do recipiendário ao conteúdo da mensagem recebida é enviada de volta à fonte de onde proveio (“feedback”), provocando, por sua vez, eventual reação. (…)
Imaginemos o mecanismo em ação. O Espírito desencarnado deseja transmitir a idéia de que a clareza da mensagem depende da pureza daquele que a recebe, ou seja, da sua boa predisposição psíquica e moral. De muitas maneiras se poderia vestir essa imagem; transmiti-la em palavras — prosa e verso; em imagens — coloridas ou não, fixas ou móveis; e até em sons ou em combinações audiovisuais, tão ao gosto da técnica moderna.”
O artigo de Hermínio Miranda prossegue com outras elucidações e recomendamos a sua leitura. Nessas quatro etapas descritas por ele, encontramos a mecânica do processo utilizado nas comunicações mediúnicas.
Quanto mais evoluído for o Espírito comunicante, mais velozes serão as imagens concebidas e exteriorizadas pela sua mente, evidenciando uma freqüência vibratória de ondas curtíssimas. André Luiz afirma, em Mecanismos da Mediunidade, que as legiões angélicas se exprimem em “raios super-ultra-curtos – Se o Espírito tem um padrão espiritual muito elevado, há necessidade de uma intermediação do Guia Espiritual do médium. Isso aconteceu com Divaldo, quando da comunicação de Teresa de Jesus, na cidade de Lisieux (França). Joanna de Ângelis, captando-lhe o pensamento, transmitiu-o ao médium. A mensagem intitula-se “O amor e a alma” e está inserida no livro Seara do Bem.
Ao entrar em sintonia com Divaldo, Huracán inunda-lhe a mente de clichês psíquicos, transmitindo-lhe, assim, a história da raça asteca, de acordo com o processo descrito por Hermínio Miranda.
É oportuno observarmos que a maior parte das lendas e das tradições que integram o folclore de cada povo, traz um componente espiritual muito forte e verdadeiro, vestido, naturalmente, pelas formas e cores com que a imaginação popular o adorna.
Huracán é o deus do povo e tem a forma de uma grande águia. Ao se retirar, passa através do corpo do médium e se posta no início do extenso corredor. Na cabeça traz a moldura da águia e surge em toda a beleza do ritual do povo asteca. Abre os braços que se cobrem de uma plumagem, e alça vôo como uma seta, como uma ave, deixando um rastro de luz e, sobre o público, uma imensa cruz luminosa, flutuante, da qual escorria, como pingos, uma luz violácea, dourada.
Em O Livro dos Médiuns, capítulo VI, questão 12, Allan Kardec indaga:
“Os Espíritos que aparecem com asas têm-nas realmente, ou essas asas são apenas uma aparência simbólica?
Os Espíritos não têm asas, nem de tal coisa precisam, visto que podem ir a toda parte como Espíritos. Aparecem da maneira por que precisam impressionar a pessoa a quem se mostram. Assim é que uns aparecerão em trajes comuns, outros envoltos em amplas roupagens, alguns com asas, como atributo da categoria espiritual a que pertencem.”
Todas essas transformações, na aparência dos Espíritos, são possíveis em razão das propriedades do perispírito, que obedece ao comando mental. Ainda no capítulo mencionado, o Codificador, referindo-se à aparição dos Espíritos, esclarece:
“Quando o Espírito nos aparece, é que pôs o seu perispírito no estado próprio a torná-lo visível. Mas, para isso, não basta a sua vontade, porquanto a modificação do perispirito se opera mediante sua combinação com o fluido peculiar ao médium. Ora, esta combinação nem sempre é possível, o que explica não ser generalizada a visibilidade dos Espíritos. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não basta, tampouco, que uma pessoa queira vê-lo; é
necessário que os dois fluidos possam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também, porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos.”
A caridade e abnegação com que a Espiritualidade Maior atende aos seres humanos é difícil de ser dimensionada. Huracán é um dos Benfeitores Espirituais dos povos. Espírito de alta envergadura, atende aos anseios daqueles que estão sob a sua tutela, revestindo-se com a forma característica da águia sagrada a fim de ser identificado por eles.
O deus asteca deixa no ar, sobre a multidão, uma cruz luminosa.
Na Espiritualidade Maior, onde não existem quaisquer barreiras do sectarismo religioso, a cruz é um símbolo universal. Os elementos de força desse símbolo não encontram equivalência em nenhum outro.
Em primeiro lugar, a cruz significa a presença do Cristo junto dos homens. Quando se quer evidenciar a Sua presença, trazê-Lo à nossa lembrança, é o símbolo mais utilizado.
Outros significados, todavia, somam-se a este primeiro e maior deles.
A cruz, pairando sobre as pessoas, ao mesmo tempo que evoca os erros humanos, traz uma mensagem de redenção.
Carregar a cruz é redimir-se. Para ir até Ele, conforme Suas próprias palavras, é imprescindível “tornar a cruz sobre os ombros e segui-Lo”. A cruz, não é, pois, uma evocação de sofrimentos, de grilhões que escravizam o ser humano, de penitências que o martirizem, porém, isto sim, o caminho da libertação. A cruz, agora, é uma mensagem de esperança. Assim como Ele, o Justo, alçou-se aos céus pelas traves da cruz, assim também os homens encontrarão nela a redenção final.
Jesus não permaneceu na cruz, embora os homens O queiram crucificar de todas as maneiras e atá-Lo ao madeiro de sofrimentos que, na verdade, foram engendrados por nós e são apenas nossos.
Bezerra de Menezes, pela psicografia de Divaldo, em bela mensagem incluída no livro Terapêutica de Emergência, intitulada “Cruz e Cristo”, afirma:
“O Cristo e a Cruz do amor são os termos sempre atuais da equação da vida verdadeira, sem os quais o homem não logrará a Liberdade.”
Huracán, Espírito Superior, deus criador da raça asteca, uma civilização pré-colombiana, usando o símbolo da cruz, transmite uma mensagem de amor e paz, como a significar que somente Jesus é, verdadeiramente, o Caminho, a Verdade e a Vida.
As Curas
Numa noite especial, num momento especial, Divaldo vive uma experiência extraordinária.
O público respirava fé. Uma fé natural, espontânea e simples. Nenhuma conotação de fanatismo, nada que significasse um estado emocional de histeria coletiva animava aquelas pessoas. Apenas uma certeza tranqüila e natural do amparo divino, do intercâmbio com os invisíveis e da proteção de Huracán. Estavam todos absolutamente certos de que Huracán viria — tal como fora anunciado pela médium paralítica — através do “emissário do Senhor”. Sabiam que o aviso da sua chegada, que ecoara pelos vales e montanhas da região, significava uma proteção direta a toda a gente. Por isso, acorreram em massa, desde cedo, carregando os filhos, vencendo distâncias e dificuldades, inabaláveis na certeza, e absolutamente seguros de que o deus Huracán os visitaria.
O conjunto vibratório dessas pessoas é, portanto, a imensa corrente mediúnica a envolver Divaldo. O circuito mediúnico está fechado, completo, e o ambiente propicio às atividades que o Plano Superior programara e que se desenvolvem num crescendo de emoções transcendentes.
Todo o episódio é como uma majestosa e sublime sinfonia, que está sendo executada em acordes grandiosos.
Joanna de Ângelis está ali, a reger o concerto das emoções e dos sentimentos. Cada componente destacado na narrativa teve importante desempenho, mas, foi a partir dela que tudo se tornou possível.
Divaldo teve ensejo de esclarecer, em algumas ocasiões, que Joanna entra em contato com os Mentores Espirituais dos países que são visitados e que as programações são feitas a partir dos acordos efetuados. Em Coatepec tudo estava delineado, conforme entendimentos prévios com o Espírito Mentor, conhecido na região pelo nome de Huracán.
No instante das curas dos dois paralíticos, grande parte dessa carga vibratória, portanto, fora canalizada para os enfermos. A cura é a mensagem de Huracán. É o sinete da sua presença para todo o povo. Aglutinam-se os elementos magnéticos e a essa força Divaldo dá a ordem de comando direcionando-a, impelindo-a. Joanna o assessora e participa do processo. Há um perfeito desencadear dessas forças e dos sentimentos de cada um. A corrente de amor é luz, é vida.
Os dois paralíticos estão expectantes. Adredemente preparados sabem que algo diferente irá acontecer.
O primeiro recebe a ordem e a atende. Levanta-se, e, aos poucos, desempena-se, esticando o como, os membros, sob a ação fluídica que, penetrando os nervos, a medula, os tecidos, os ossos, as células, irriga-os com uma vitalidade nova que, à feição de um lubrificante desenrijece, tonifica, nutre.
Ele vacila sobre as próprias pernas, balança-se como um pêndulo e consegue enfim equilibrar-se, sob o comando dessa energia poderosa que o invade e plenifica interior-mente. Dá os primeiros passos e está curado.
O segundo enfermo, todavia, é um caso diferente. Trata-se de uma subjugação corporal, conforme explica Divaldo.
Vejamos como Allan Kardec esclarece a respeito das curas, em A Gênese, capítulo XIV, itens 31 a 34:
“Como se há visto, o fluido universal é o elemento primitivo do como carnal e do perispírito, os quais são simples transformações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer princípios reparadores ao corpo; o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções daquele que deseje realizar a cura, seja homem ou Espírito.” (grifos no original)
“É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio de exercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o seu grau máximo se deve considerar excepcional. No entanto, em épocas diversas e no seio de quase todos os povos, surgiram indivíduos que a possuíam em grau eminente. Nestes últimos tempos, apareceram muitos exemplos notáveis, cuja autenticidade não sofre contestação. Uma vez que as curas desse gênero assentam num princípio natural e que o poder de operá-las não constitui privilégio, o que se segue é que elas não se operam fora da Natureza e que só são miraculosas na aparência.”
Em relação à subjugação corporal, o Codificador informa, em O Livro dos Espíritos, capítulo 23, item 240:
“A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo.
A subjugação pode ser moral ou corporal. (…) No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal: pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão dos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era, porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente.”
O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, cuja contribuição no campo das obsessões tem sido notável, escreve em Nas Fronteiras da Loucura, através do próprio Divaldo, na parte inicial do livro, intitulada “Análise das obsessões”, a respeito da subjugação, o seguinte:
“Assim, a subjugação pode ser física, psíquica e simultaneamente físiopsíquica. A primeira não implica na perda da lucidez intelectual, porquanto a ação dá-se diretamente sobre os centros motores, obrigando o individuo, não obstante se negue à obediência, a ceder à violência que o oprime. Neste caso, podem irromper enfermidades orgânicas, por se criarem condições celulares próprias para a contaminação por vírus e bactérias, ou mesmo sob a vigorosa e contínua ação fluídica dilacerarem-se os tecidos fisiológicos ou perturbar-se o anabolismo como o catabolismo, incidindo em distúrbio no metabolismo geral, com singulares prejuízos físicos…”
As curas são realizadas. As bênçãos recaem a flux sobre o Palácio de Metal, na pequena Coatepec.
Espiritualmente, o grande pavilhão de zinco é um feérico palácio, engalanado de luzes e irradiando claridade para toda a região.
As emoções são superlativas e deixam Divaldo em um estado diferente. Como médium dessa carga vibratória de altíssima freqüência, ele irá direcioná-la, mas, para que isto se dê, todo o seu cosmo psicossomático atua como um dínamo.
No livro Mecanismos da Mediunidade, André Luiz afirma:
“O Espírito, encarnado ou desencarnado, na essência, pode ser comparado a um dínamo complexo, em que se verifica a transubstanciação do trabalho psicofísico em forças mento-eletromagnéticas, forças essas que guardam consigo, no laboratório das células em que circulam e se harmonizam, a propriedade de agentes emissores e receptores, conservadores e regeneradores de energia.
Para que nos façamos mais simplesmente compreendidos, imaginemo-lo como sendo um dínamo gerador, indutor, transformador e coletor, ao mesmo tempo, com capacidade de assimilar correntes continuas de força e exteriorizá-las simultaneamente.”
Mais adiante, neste mesmo capítulo, o autor compara o gerador mediúnico ao gerador elétrico, esclarecendo ainda, que, assim como dispomos, em toda a parte, de fontes de força eletromotriz, “temos igualmente variados mananciais de força mediúnica, mediante a permuta harmoniosa, consciente ou inconsciente, dos princípios ou correntes mentais, sendo possível observá-los, em nosso caminho, alimentando grandes iniciativas de socorro às necessidades humanas e de expansão cultural.”
* * *
Todo este comovente episódio leva-nos a reflexionar a respeito da infinita bondade de nosso Pai do Céu, que proporciona aos seres humanos, tal como prometeu Jesus, o ensejo sublime de crescerem espiritualmente, de tornarem-se o “sal da Terra”, de serem a “luz do mundo”, de serem, afinal, “deuses”.
Numa cidadezinha do planeta, pequena e simples, num dia qualquer, igual a todos os outros no calendário terrestre, num local insólito, junto ao povo humilde, Divaldo vivencia a experiência que Jesus promete àqueles que O amam e O seguem.
O SEMEADOR DE ESTRELAS – Suely Caldas Schubert