O Dualismo Existencial
Durante o período pré-científico, os primeiros estudiosos que apresentaram
hipóteses acerca da existência dos seres e das coisas tinham cornos certos que
os quatro ditos elementos fundamentais da existência eram o fogo, a água, a
terra e o ar a partir do que tudo mais derivava.
Na era clássica, as pesquisas, ainda incipientes, mostraram que a substância
era constituída de pequenas partículas denominadas molécula – diminutivo de
mole, termo latino que define massa inerme, grande volume (não confundir como
mole – macio) – tidas como indivisíveis c elementares, componentes das
substâncias, ou melhor, a menor porção dela, unitária.
Pois, ainda nessa época, Kardec, na pergunta 27 de “O Livro dos Espíritos”,
indaga: haveria, portanto, dois elementos essenciais tio universo, o espírito e
a matéria? Seus mentores espirituais explicam-lhe, com os recursos da época,
que, de fato, estes seriam os elementos fundamentais da existência do universo;
contudo, tinham que levar em conta a existência da energia cósmica que, à época,
se denominava FCU (fluido cósmico universal); e, acima disso tudo, Deus, como
criador.
Quatro décadas depois, a ciência descobre que a molécula se dividia em
elementos chamados átomos, nome derivado dos estudos de Demócrito que admitia um
princípio de causa a que ele denominou de átomos – termo grego, unidade – e que
permitiu a Epicuro desenvolver uma teoria chamada atomismo.
Com isso o dualismo matéria e espírito aparentemente ruíam, porque a matéria
em si não seria o fundamento existencial dos corpos e Kardec teria se equivocado
se as pesquisas científicas não tivessem continuidade para verificar que o
fundamento dos mundos materiais seria a energia cósmica, ou seja, o mesmo FCU de
antigamente.
Neste fim de século, em pouco menos de cem anos de vida. surgiu a física
nuclear, a mecânica quântica e, agora, a física transcendental que ainda não
mereceu nome específico, a cuidar da existência de agentes estruturadores sem os
quais a energia não seria condensada em partículas, agentes esses que não podem
pertencer ao mesmo domínio cósmico a fim de que tenham a propriedade de atuar
sobre ele.
Está, assim, confirmado o dualismo espírito-matéria.
Lembremos a quantas anda o estudo atual acerca deste tema, atualizando-nos
com o que se propõe para estudo:
A princípio, um AES – Agente Estruturador Supremo (Deus) – teria reunido toda
a energia cósmica cri um fulcro fundamental e dado partida à expansão sideral,
formando o Universo.
Essa energia fundamental em expansão, por si só, não poderia se alterar e
continuaria se dilatando e espargindo até perder sua “elasticidade” para voltar
à forma inicial, se, porventura, desprovida de seu agente ativador (Deus).
Sobre ela, um dos fundamentos essencial à existência material, teria que
atuar outros agentes de forma (espírito) que a modulariam dando origem às
sub-partículas mais elementares; sobre estas atuariam agentes superiores (ainda
espirituais) reunindo-as para agregar tudo em um átomo; pela lei de afinidade,
esses átomos se atraem e dão origem às moléculas, ou seja, a cada menor porção
da matéria.
Inicialmente, Niels Bôhr, com base em Marx Planck e inspirado no sistema
planetário, partindo da idéia de que tudo se faz por etapas e em escalonamentos
gradativos, idealizou o átomo ideal, como sendo um núcleo bárico contendo
elétrons (partícula atômica negativa), prótons (idem positiva) e neutrons,
representando á reunião de ambas. Estes elétrons abandonariam o núcleo e
passariam a gravitarem torno dele, formando o sistema planetário constituído de
nove camadas dentro das quais, como no caso dos asteróides, um certo grupo de
elétrons gravitaria.
Seu estudo satisfazia a todos os cálculos químicos, daí ter sido considerado
o mais próximo possível da realidade, ignorando-se o princípio fundamental para
sua existência. Era o materialismo puro imperando porque dispensava a existência
de qualquer outro agente para dar “viela” material ao átomo. Em resumo,
aceitava-se sua existência por ela própria.
Quando Enrico Fermi desenvolveu seu primeiro ciclotron atômico para observar
o interior do átomo, as primeiras observações não permitiram que se fizesse
nenhum reparo aos estudos existentes. É preciso, portanto, que se destaque o
caráter puramente materialista das pesquisas, partindo do pressuposto de que
toda a energia atômica, em si e por si, bastava para dar condição de existência
material à molécula.
Uma grande contribuição, neste sentido, foi dada pelo casal Curie, ao
descobrir as radiações atômicas de um elemento químico que, por esse motivo, foi
batizado de rádio. Então, a tese de que essa energia era a base de tudo teve um
grande apoio, confirmando a hipótese de que até a vida biológica partia desse
princípio.
Por outro lado, os preceitos religiosos vigentes entravam em terrível choque
com as descobertas feitas pelas pesquisas modernas e, com isso, a idéia da
existência de um espírito passou a ser considerada fantasiosa perante a ciência.
Fermi, engenheiro italiano nascido em Roma (1901) radicado nos EUA, falecido
em Chicago (1954), pesquisando outros elementos químicos que gozavam da mesma
propriedade do rádio, acabou descobrindo que, a partir do urânio, ele obtinha,
por precipitação, um outro elemento químico muito mais instável, o plutônio, e,
como tal, altamente radiativo, capaz de servir às suas experiências para estudo
da composição atômica. Surgiram, então, os betatrons, a segunda geração dos
ciclotrons.
Paralelamente a tais pesquisas, despontaram os estudos de Albert Einstein,
reformulando uma série de teses relativas à existência das coisas, contudo, a
mudança radical se efetuou depois que os engenheiros voltados à área dos LEP
(laboratório elétron-próton) conseguiram reunir num só aparelho o betatron com o
ciclotron, dando-lhe o nome de sincrotron cujo aperfeiçoamento permitiu que se
construíssem os túneis de aceleração de partícula conhecidos como
sincrociclotrons e que permitem que se realize uma série de colisões através das
quais essas partículas se desintegram em quarks e passam a ter comportamento
estranho, que sugeriu se desse ao primeiro deles descoberto, o nome de stranger.
A série dos livros do ano da Enciclopédia Britânica possui um bom acervo para
aqueles que, sem serem físicos, pretendam conhecer o assunto.
Para nós, a grande importância está em Murray Gell Mann que, como já foi
dito, além de provar que, de fato, a partícula era comandada por uma ação
externa capaz de dotá-la de predicados “personalísticos” como a tal “vontade
própria” sugerida por Heisenberg, mais ainda, não permite que os pesquisadores
ajam sobre ela dispondo-a a seu bel prazer.
Daí surgiu à hipótese de que ela teria, por trás de sua existência, uma outra
forma de vida distinta da biológica, mas que obedecia a um comando externo
(espiritual) estruturador, o mesmo que a teria formado, atuando sobre a energia
cósmica em expansão.
Estava definitivamente selada a tese dualista que Kardec já antecipara na
aludida resposta à pergunta 27.
Revista Internacional de Espiritismo – Maio de 1998