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O Espiritismo Ontem

O Espiritismo Ontem

Neste fato um novo meio de comunicação. Bastava nomear as letras do alfabeto,
para que o móvel indicasse, por uma pancada, aquelas que entravam na composição
da palavra que o Espírito queria ditar.

A mania de fazer girar as mesas propagou-se rapidamente. Dificilmente se
pode, hoje, figurar a predileção de que essas experiências foram objeto durante
os anos de 1850 e 1851. Todas essas investigações conduziram à nova crença
homens de reconhecida autoridade moral e intelectual.

Escritores, oradores, magistrados, prelados ilustres aceitaram o fato e a
causa da doutrina escarnecida; missionários eloqüentes puseram-se em viagem;
escritores fundaram jornais, editaram brochuras que, espalhadas em profusão,
impressionaram a opinião pública e abalaram as prevenções.

O movimento acelerou-se tanto que, em 1854, uma petição, apoiada por quinze
mil assinaturas, foi dirigida ao congresso legislativo de Washington; seu escopo
era fazer que esse congresso nomeasse uma Comissão encarregada de estudar os
novos fenômenos e descobrir-lhes as leis.

Essa petição foi posta de lado, mas o impulso não foi obstado, porque os
fatos tornaram-se mais numerosos e variados à medida que o estudo prosseguia com
perseverança.

O fenômeno das mesas girantes foi logo conhecido em todas as suas
particularidades. O modo de conversação, por meio de pancadas e movimentos da
mesa, era longo e incômodo. Apesar da habilidade dos assistentes, era necessário
muito tempo, muita paciência para obter-se uma comunicação de importância.

A própria mesa ensinou um processo mais rápido. Conforme suas indicações,
adaptou-se a uma prancheta triangular três pernas munidas de rodinhas, e a uma
delas prendeu-se um lápis; em seguida, colocou-se o aparelho sobre uma folha de
papel; o médium colocou as mãos sobre o centro dessa pequena mesa. Viu-se,
então, o lápis traçar letras, depois frases, e, daí a pouco, essa prancheta
escrevia com rapidez e dava mensagens.

Mais tarde, percebeu-se que a prancheta era completamente inútil, e que
bastava o médium colocar a mão, munida de um lápis, sobre uma folha de papel,
para o Espírito movê-la automaticamente. Essa espécie de comunicação foi chamada
escrita mecânica ou automática, porque o indivíduo, neste estado, não tinha
consciência daquilo que a mão traçava no papel.

Outros médiuns obtiveram por esse meio desenhos curiosos, música, ditados
acima do alcance da sua inteligência e, às vezes mesmo, comunicações em línguas
estrangeiras que lhes eram absolutamente desconhecidas.

O estudo cada vez mais aprofundado dessas manifestações novas conduziu os
investigadores a exames ainda mais rigorosos e a resultados mais inesperados
para os cépticos.

O raciocínio levara os primeiros investigadores a dizer de si para si que,
desde que os Espíritos podiam atuar sobre as mesas, sobre os médiuns, não lhes
devia ser impossível fazerem mover diretamente um lápis e escreverem sem o
auxílio de aparelhos. Foi o que se realizou. Folhas de papel em branco,
encerradas em caixa hermeticamente seladas, foram encontradas, em seguida,
cobertas de caracteres. Ardósias, entre as quais se achava um pequeno pedaço de
lápis, continham, após a aposição das mãos, comunicações inteligentes, desenhos,
etc.

O fenômeno reservava ainda outras surpresas; luzes de formas e cores variadas
e em diversos graus de intensidade, apareciam em aposentos sombrios, onde não
existia nenhuma substância capaz de desenvolver ação fosforescente, e isso na
ausência de todos os instrumentos por intermédio dos quais a eletricidade e a
combustão podem ser produzidas.

Esses clarões tomavam , às vezes, a aparência de mãos humanas, de figuras
envolvidas por uma névoa luminosa. Paulatinamente, as aparições adquiriram maior
consistência, tornando-se possível não somente ver, mas também tocar fantasmas
que apareciam em tão singulares circunstâncias.

Fez-se melhor: pôde-se fotografá-los, como veremos mais adiante.

As narrações dessas experiências eram acolhidas com grande incredulidade;
porém, como os fatos se produzissem em avultado número e os espíritas não
recuassem diante de nenhum meio de propagar a sua fé, a atenção do público sábio
e letrado era atraída para esse estudo e, em pouco tempo, conduzia a uma adesão
pública homens altamente colocados e muito competentes.

Negligenciamos, voluntariamente, mencionar as inumeráveis declarações feitas
por publicistas, médicos, advogados a fim de reservarmos todo o apelo à atenção
do leitor para os testemunhos autênticos dos homens notáveis de ciência que se
têm ocupado com esta questão.

 

Os sábios

 

Em primeiro lugar, podemos citar uma das personagens mais célebres da
magistratura, o juiz Edmonds, primeiro magistrado do Supremo Tribunal do
Distrito de New York, onde foi eleito membro do corpo legislativo e nomeado
presidente do Senado. Sua conversão ao novo espiritualismo fez grande rumor na
União, e atraiu contra si uma multidão de invectivas das folhas evangélicas e
dos jornais profanos. O juiz Edmonds respondeu-lhes com um livro intitulado:
“Spirit Manifestation”, que produziu nos Estados Unidos profunda sensação, e,
graças ao auxílio de alguns homens de ciência, cujas experiências vieram
confirmar suas asserções, os quinze mil signatários da petição dirigida ao
Congresso viram o seu número elevar-se a alguns milhões.

Eis como a convicção nasceu na alma do grande jurista americano:

“Em 23 de abril de 1851, diz ele, eu era uma das nove pessoas que se
assentavam em torno de uma mesa colocada no meio de um aposento, e sobre a qual
estava uma lâmpada acesa.

“Uma outra lâmpada tinha sido colocada na chaminé. Em pouco tempo, à vista de
todos, a mesa foi elevada cerca de um pé acima do soalho e sacudida para diante
ou para trás, tão facilmente como eu poderia agitar uma laranja em minhas mãos.
Alguns de nós tentaram fazê-la parar, empregando todas as nossas forças, mas
isso foi inútil. Então, retiramo-nos todos para longe da mesa e, à luz das duas
lâmpadas, vimos esse pesado móvel de mogno suspenso no ar.

“Resolvi prosseguir essas experiências, julgando tratar-se de uma fraude, e
decidido esclarecer o público; porém, minhas pesquisas conduziram-me a conclusão
oposta.”

O que cumpre observar nos testemunhos concedidos pelos sábios é que todos os
que empreenderam investigações sobre o Modern Spiritualism (nome norte-americano
do Espiritismo) fizeram-no com a firme convicção de que se tratava de uma fraude
e com o desejo de salvarem os seus contemporâneos dessa loucura contagiosa.

“Eu havia, a princípio, repelido desdenhosamente essas coisas – diz o
professor Mapes (que ensinava Química na Academia Nacional dos Estados Unidos)
-, mas, quando vi que alguns de meus amigos estavam empolgadíssimos pela magia
moderna, resolvi aplicar minha atenção a essa matéria, para salvar homens que,
respeitáveis e esclarecidos sob tantos outros pontos, neste, corriam
vertiginosamente para um abismo.”

O resultado das investigações do professor Mapes foi, como para o juiz
Edmonds, uma imersão completa nas águas do Espiritismo.

Aconteceu exatamente o mesmo com um dos sábios mais eminentes da América, o
célebre Robert Hare, professor na Universidade da Pennsylvania. Ele começou suas
pesquisas em 1853, época em que, como por um dever para com seus semelhantes,
resolveu empregar o que possuía de sua influência para embargar a carreira da
onda crescente de demência popular, que, a despeito da ciência e da razão, se
pronunciava tão obstinadamente a favor daquela grosseira ilusão chamada
Espiritismo.

Robert Hare teve conhecimento dos trabalhos de Faraday sobre as mesas
girantes (pesquisas que assinalaremos mais adiante) e acreditou que o sábio
químico localizara a verdadeira explicação; mas, repetindo suas experiências,
reconheceu que elas eram insuficientes e mandou fabricar, para completá-las,
aparelhos novos.

Tomou esferas de cobre, colocou-as sobre uma chapa de zinco e fez o médium
pôr as mãos sobre as esferas; com grande espanto, observou que a mesa moveu-se.
Em seguida, mergulhou as mãos do médium em água, de modo que ele não tivesse
comunicação alguma com a prancha sobre a qual estava colocado o vaso que
continha o líquido; com grande surpresa sua, uma pressão de dezoito libras foi
exercida sobre a prancha. Não convencido ainda, ensaiou um outro processo: a
extremidade de uma grande alavanca foi colocada numa balança de espiral, com um
indicador móvel e o peso marcado. A mão do médium era colocada na outra
extremidade da alavanca, de modo que não lhe fosse possível fazer pressão para
baixo e que, muito ao contrário, sua pressão, se fosse exercida, produzisse
efeito oposto, isto é, a suspensão a outra extremidade. Qual não foi o espanto
do célebre professor quando verificou, pela balança, que o peso havia aumentado
de algumas libras!

Veremos, mais adiante, como em semelhante conjetura William Crookes, para se
pôr ao abrigo de uma ilusão dos sentidos, construiu um aparelho que registrava
automaticamente todas as variações do peso na balança.

Robert Hare, convencido da existência de uma nova força física exercendo-se
em condições ainda pouco conhecidas, quis certificar-se da hipótese de que uma
inteligência dirigia a manifestação.

Adaptou à mesa um disco em que se viam as letras do alfabeto e o dispôs de
forma que o médium não pudesse ver as letras; o quadrante em que elas estavam
gravadas mostrava a face aos espectadores instalados a alguma distância da mesa;
na outra extremidade desta, mantinha-se o médium, que só podia ver o disco por
detrás.

Uma agulha móvel, fixada no centro do quadrante, devia, sucessivamente,
indicar as letras das palavras ditadas, completamente ignoradas do médium.

Todos estes pormenores encontram-se no livro publicado, em 1856, pelo Dr.
Hare, sob o título – “Experimental Investigation of the Spirit Manifestation”, o
qual obteve ruidoso êxito e cujo efeito foi mais considerável ainda que o do
juiz Edmonds. Não mais se tratava aí de algumas jovens obscuras ou de charlatães
tentando explorar a boa-fé pública; era a ciência oficial que se pronunciava
pela boca de um dos seus mais autorizados membros. Desde esse momento, a
polêmica empenhou-se furiosa. Houve lutas apaixonadas.

Sábios movimentaram-se contra a feitiçaria moderna, mas nenhuma prova
apresentavam de que as experiências tivessem sido malfeitas; a vitória coube,
portanto, aos espíritas.

Em suma, vê-se que os mais importantes recrutas do Espiritismo foram forjados
entre os homens que tencionavam combatê-lo. Não temos necessidade de insistir
neste ponto, porque o mesmo sucedeu na Inglaterra.

1.2 – Na Inglaterra

É sobretudo na Inglaterra que encontramos uma plêiade de grandes homens
entregues a esses estudos. Queremos citar, em primeiro lugar, um testemunho
eminente, o de William Crookes. Acreditamos ser inútil recordar ao leitor os
títulos pelos quais esse sábio tornou-se merecedor da gratidão pública. É-nos
suficiente dizer que a ele se deve a descoberta do tálio e a demonstração
experimental da existência da matéria radiante entrevista por Faraday. Esta nova
estrada, aberta às investigações científicas, rasgou imenso e grandioso
horizonte à Ciência contemporânea, e pode-se dizer que é uma das maiores
descobertas do século passado.

Um espírito tão eminente não se aventura em terreno desconhecido sem tomar
todas as precauções imagináveis contra o erro ou contra a fraude.

Escutemos o que ele diz sobre o Espiritismo, em um artigo publicado em julho
de 1870, no “Quartely Review”, órgão da Academia de Ciências da Inglaterra:

“O espiritualista fala de corpos pesando 50 ou 100 libras que são elevados no
ar, sem intervenção de forças conhecidas; mas o químico está acostumado a fazer
uso de uma balança sensível a um peso tão diminuto que seriam necessários dez
mil deles par pesar um grão(1). É, por conseguinte,

 

(1) Um grão corresponde, mais ou menos, a cinco centigramas.

 

bem fundado pedir-se que esse poder, que se diz guiado por uma inteligência e
eleva até ao teto um corpo pesado, faça mover, em condições determinadas, sua
balança tão delicadamente equilibrada.

“O espiritualista fala de pancadas em diferentes partes de um aposento,
enquanto duas ou mais pessoas estão tranqüilamente sentadas em volta de uma
mesa. O experimentador científico tem o direito de pedir que essas pancadas
sejam produzidas no tubo do seu fonógrafo.

“O espiritualista fala de aposentos e casas atormentados e, mesmo,
danificados por um poder sobre-humano. O homem de ciência pede, simplesmente,
que um pêndulo, colocado sob uma campânula de vidro e repousando em sólida
alvenaria, seja posto em oscilação.

“O espiritualista fala de objetos de mobília a se moverem de um aposento para
outro, sem a ação do homem; mas o sábio constrói instrumentos que dividem uma
polegada em um milhão

de partes, e lhe é lícito duvidar da exatidão das observações efetuadas, se a
mesma força for impotente para fazer mover de um simples grau o indicador do
instrumento.

“O espiritualista fala de flores salpicadas com um fresco rocio, de frutos e,
mesmo, de seres viventes transportados através de sólidas muralhas de tijolo. O
investigador científico pede, simplesmente, que um peso adicional (que fosse a
milésima parte de um grão) seja depositado em uma das conchas de sua balança,
quando ela está no mostrador fechado a chave; e o químico pede que se introduza
a milésima parte de um grão de arsênico através de um tubo de vidro no qual se
encontra água pura, hermeticamente encerrada.

“O espiritualista fala de manifestações de um poder equivalente a milhares de
libras, que se produz sem causa conhecida. O homem de ciência, que crê
firmemente na conservação da força e que pensa que ela jamais se produz sem o
esgotamento de alguma coisa para substituí-la, pede que as ditas manifestações
sejam produzidas em seu laboratório, onde ele poderá pesá-las, medi-las,
submetê-las às suas experiências.” (2)

 

(2) Para ser justo a este respeito, devo dizer que, expondo estes intuitos a
vários espiritualistas eminentes e aos médicos mais dignos de confiança na
Inglaterra, eles exprimiram a sua perfeita confiança no êxito do inquérito, se
ele fosse lealmente prosseguido segundo acima indiquei.

Ofereceram-se para assistir-me, com todos os seus poderes, pondo à minha
disposição as suas faculdades particulares. E, até o ponto que atingi, posso
acrescentar que as experiências preliminares têm sido satisfatórias. (Nota de
William Crookes.)

 

Vê-se com que desconfiança, com que precaução o sábio químico começa as suas
experiências. Ele não quer conceder a sua confiança senão com a condição
expressa de que o fenômeno se produza em seu laboratório, de alguma sorte sob
seu controle, a fim de estar bem certo de que nenhuma fraude, nenhuma ilusão
influiria nos resultados que pudessem produzir-se: eis a verdadeira sabedoria.
Quantos de nossos sábios, que negam a priori, estão longe de
seguir-lhe o exemplo! As linhas que acima citamos foram escritas em 1870, mas,
em 1876, após quatro anos de perseverantes investigações, o grande físico
escreveu: “Não digo que isso seja possível, mas sim que isso é real.”

Veremos adiante as experiências que serviram para fortalecer a opinião do
sábio inglês.

A Sociedade Dialética de Londres, fundada em 1867 sob a presidência de Sir
John Lubbock, e contando entre os seus vice-presidentes Thomas-Henry Huxley, um
dos professores mais sábios da Inglaterra, o Sr. Georges-Henry Lewes,
fisiologista eminente, decidiu, em sua sessão de 6 de janeiro de 1869, que uma
Comissão seria nomeada para estudar os pretendidos fenômenos espíritas, dando
conta deles à Sociedade.

O debate suscitado por essa decisão mostrou que a maior parte dos seus
membros não acreditava no Espiritismo, e os jornais ingleses acolheram, com
júbilo, a nomeação dessa Comissão que, pensava-se, cortaria pela raiz o Modern
Spiritualism.

Com profunda surpresa do público inglês, a Comissão, depois de dezoito meses
de estudo, concluiu a favor da realidade das manifestações. Daremos o texto do
seu relatório no momento em que expusermos as experiências espíritas.

Entre os membros que tomaram parte nesse inquérito, estava o grande
naturalista inglês Alfred Russel Wallace, êmulo e colaborador de Darwin, já
convencido da realidade dos fenômenos.

Como Mapes, como Hare e tantos outros, o Sr. Wallace, vencido pela evidência,
fez corajosamente a sua profissão de fé, em um livro: “Miracles and Modern
Spiritualism”, que apaixona ainda os espíritos na Inglaterra.

No número das testemunhas ouvidas pela Comissão da Sociedade Dialética de
Londres, figuravam o professor Auguste de Morgan, presidente da Sociedade
Matemática de Londres, secretário da Sociedade Real Astronômica, e o Sr. Varley,
engenheiro-chefe das companhias de telegrafia internacional e transatlântica,
inventor do condensador elétrico, que resolveu definitivamente o problema da
telegrafia submarina.

O Sr. de Morgan afirmou alto e bom som a realidade dos fenômenos, pelo seu
livro: “From Matter to Spirit”, e, mais adiante, veremos uma carta onde o Sr.
Varley rende, publicamente, homenagem aos espíritos.

Semelhante concurso de nomes eminentes poderia parecer suficiente para
estabelecer solidamente a teoria espírita, mas, em assuntos tão debatidos,
convém não deixar de apresentar as afirmações autorizadas. Eis ainda outros
testemunhos:

O Sr. Oxon, professor da Universidade Oxford, estudou durante cinco anos o
fenômeno da escrita direta, isto é, da escrita produzida sem a intervenção de
pessoa vivente. Publicou um livro intitulado “Spirit Teachings”, que terá a sua
utilidade na discussão que adiante vamos apresentar.

Somos assaz escrupulosos para não deixar passar em silêncio o testemunho de
outro homem eminente, Sergent Cox, jurisconsulto filósofo, escritor que também
se convenceu pelo exame.

Igualmente, lembramos que o Sr. Barkas, membro da Sociedade de Geologia de
Newcastle narrou suas experiências em um livro muito interessante, intitulado
“Outlines of Investigation into Modern Spiritualism”. Convidamos as pessoas que
se queiram convencer a lerem esta obra.

A luta na Inglaterra não foi menos vivaz que nos Estados Unidos; os
adversários do Espiritismo deviam, aí também, fazer todos os esforços para
destruir a verdade nascente; mas, nesses países de livre discussão, onde o
receio do ridículo é menos vivo que entre nós, os convertidos não recearam dar
afirmação nítida e franca de sua mudança de idéias.

Entre os cépticos mais tenazes, achava-se o Dr. Georges Sexton, célebre
conferencista que fizera grande campanha contra a nova doutrina. O estudo dos
fatos conduziu-se depois de quinze anos de investigações, à convicção.

“Obtive, diz ele, em minha própria casa, na ausência de todos os médiuns
públicos, mas no seio dos membros de minha família e dos meus amigos
particulares e íntimos, nos quais o poder mediúnico tinha sido desenvolvido, a
prova irrefutável, de natureza a impressionar a fria razão, de que as
comunicações recebidas vinham de parentes e amigos falecidos.”(3)

Um outro sábio, o Dr. Chambers, durante muito tempo adversário declarado do
Espiritismo, foi obrigado a render-se à evidência, e, lealmente, confessou o seu
passado erro, no “Spiritual Magazine”.

Citamos também, terminando, entre os espíritas ilustres, o Dr. James Gully,
autor da “Névropathie et Névrose” e da “Hygiene dans les maladies chroniques”,
acatada autoridade na Inglaterra.

Como se observa, o Espiritismo tem recrutado seus adeptos entre os homens de
ciência. O lado fenomenal foi estudado com todo o rigor de que são capazes os
sábios, e ele saiu triunfante das provas múltiplas a que foi submetido.

Há dez anos, uma agremiação foi intitulada “Society for Psychical Research”,
abriu um grande inquérito sobre as aparições. Publicou regularmente o relatório
de seus trabalhos, nos “Proceedings”, e fez editar um livro: “Phantasms of the
Living” (“Fantasmas dos Vivos”) que relata mais de duzentos casos de aparições
bem averiguadas. Os Srs. Myers, Gurney e Podmore, os autores, atribuem esses
fenômenos ao que eles chamam Telepatia, isto é, ação a distância de um
espírito humano sobre outro; a aparição chama-se, então alucinação verídica. Eis
aí uma tentativa científica para fazer o fenômeno entrar no quadro das leis
conhecidas. Essa investigação teve como conseqüência dar ao Espiritismo uma
feição de atualidade, e vemos sábios como Lodge, cognominado o Darwin da Física,
conjugar, na Academmia Britânica para o adiantamento das ciências, seus colegas
a caminhar para diante e a verificar resolutamente esses estudos tão cativantes
e ainda tão novos. Mencionaremos, entre os numerosos jornais ingleses, o
“Light”, fundado pelo Sr. Oxon, e “The Mediun anda Daybreak”. Vejamos agora o
que se passa na França.

1.3 – Na França

A notícia dos fenômenos misteriosos que se produziam na América, suscitou na
França viva curiosidade e, em pouco tempo, a experiência das mesas girantes
atingiu grau extraordinário.

 

(3) Wallace – “Les miracles et le moderne Spiritualisme”.pág.240.

 

Nos salões, a moda era interrogá-las sobre as mais fúteis questões. Era um
passatempo de nova espécie e que fez furor.

Durante os anos de 1851 e 1852, ninguém viu nessas práticas senão um
agradável divertimento; não se tomava o fenômeno a sério, e, como fossem
ignorados os notáveis trabalhos dos quais esse estudo era objeto do outro lado
do Oceano, não se tardou a abandonar as mesas girantes, que só tinham tido para
as massas o atrativo da novidade e a singularidade dos processos.

Todavia, literatos como Eugéne Nus, homens do mundo diplomático, como o Conde
d’Ourches e o Barão de Guldenstubbé, tinham sido impressionados pelo caráter
inteligente que revestia o movimento da mesa, e esse último publicou, em 1857,
um livro intitulado “La Réalité des Esprits”. Encontram-se nesse livro relatadas
as primeiras experiências da escrita direta que foram obtidas na França.

Esta publicação não fez rumor de importância. A imprensa, segundo o seu
antigo costume, ridicularizou livremente alguns fiéis que tinham preservado
nesses interessantes estudos, e tudo parecia ter sido esquecido, quando surgiu,
em 1857, “O livro dos Espíritos”, por Allan Kardec. Essa publicação atiçou a
guerra. O público soube, com espanto, que aquilo que tinha sido considerado até
então como distração encerrava as mais profundas deduções filosóficas;
admirou-se de que, do movimento das mesas girantes, se deduzisse a prova da
imortalidade do ser presente, e achava-se em face de uma nova teoria sobre o
futuro da alma depois da morte.

Semelhantes afirmações não podiam ser aceitas sem contestações. De todas as
partes elevou-se uma gritaria contra o desventurado autor. Os jornais, as
revistas, as academias protestaram, mas, honra seja feita à França, não se viram
aí reproduzidas as cenas de violência que tinham acolhido o Espiritismo na
América.

Retomou-se o estudo sobre o fenômeno das mesas girantes e duas correntes de
opiniões desenharam-se nitidamente. Para uns, o fenômeno não tinha nenhuma
realidade; as pancadas, os movimentos das mesas, eram produzidos pela fraude,
ou, para outros, os deslocamentos da mesa e suas respostas eram devidas a uma
ação magnética, exercendo-se de modo ainda indeterminado. Pode-se contar entre
os partidários desta doutrina o Conde Agenor de Gasparin, que fez numerosas
pesquisas sobre o assunto e publicou um volume sob o título “Des tables
tournantes, du Surnaturei en géneral et des Espirits”.

Tal interpretação foi adotada por um certo número de escritores, como o Sr.
Chevillard. O professor Thury, de Genebra, deu como causa do fenômeno um agente
especial, que ele chama psicode, fluido que atravessa os nervos e todas as
substâncias orgânicas e inorgânicas, como o éter luminoso dos sábios. Um
escritor americano, o Sr. Roggers(4), admitira, desde a origem, as
manifestações, mas explicava-as pela ação automática dos centros nervosos: o
cérebro, a matéria ativa da medula alongada, o cordão espinhal e as inúmeras
glândulas dos nervos espalhados no abdômen; esses centros diversos agiriam por
meio do fluido universal e imponderável, descoberto por Reichenbach, que o
denominou od ou odilo.

Todas essas pesquisas, todas essas controvérsias conduziram grande número
daqueles que se ocupavam do assunto a concluir que, nos movimentos das mesas
girantes, havia alguma coisa mais que pura ação física.

Admitiu-se a existência de forças psíquicas que poderiam agir sobre a
matéria, em certas condições; mas, ainda dois horizontes se descortinaram. Os
filósofos espiritualistas concluíram a favor das comunicações das almas de
pessoas falecidas, enquanto os escritores religiosos se esforçavam por
demonstrar que esses fatos eram produzidos pelo espírito do mal, denominado
Satanás. pode-se classificar nesta última classe o Marquês de Mirville, que, em
seu livro “Des Espirits et de leurs manifestations fluidiques”, cita grande
número de observações, atribuindo-as ao demônio. Na mesma ordem de idéias
acha-se o Sr. Gougenot des Mousseaux, que intitula o Espiritismo de magia
moderna
, e, como o padre Ventura, arrisca-se, com os textos na mão, a
demonstrar que as manifestações dos anjos maus estão assinaladas no evangelhos e
pelos padres da Igreja.

Enfim, citaremos também os livros do Sr. Abade Pussin, de Nice, e do Abade
Marousseau, que concluem no mesmo sentido.

A diversidade das opiniões que acabamos de assinalar nada tem de singular.

Em face de um fenômeno ainda mal conhecido, é natural a divergência em sua
explicação conforme a escola à qual se pertence, mas estamos bem certos de que
ninguém jamais se lembrará, como a Academia de Medicina de Paris, em 1859, de
atribuir o fenômeno a um certo músculo rangedor da perna.

 

(4) O Sr. Roggers tornou-se, posteriormente, adepto da teoria espírita, e foi
o redator-chefe do “Light”, jornal espírita de Londres.

 

Essa Academia “descobriu que as pancadas produzidas na mesa eram devidas a um
músculo rangedor da perna, que, de tempos e tempos, se entregava a facécias,
sendo que as pessoas ingênuas tomavam isso por manifestações de Espíritos.

Certo dia, um Sr. Jobert de Lamballe foi “iluminado” por essa descoberta
genial, e a Academia apressou-se em louvar o perspicaz sábio que tinha
encontrado nos músculos humanos propriedades tão inesperadas.

O público não adotou, tão facilmente como essas sumidades médicas, a
explicação dos músculos sonoros, e podemos citar bom número de homens ilustres
que aderiram inteiramente ao Espiritismo.

Com o seu estilo nervoso e poético, Auguste Vacquerie conta, nas “Miettes de
l’Histoire”, as experiências que fez em companhia da Sr.a de
Girardin, em casa de Victor Hugo, em Jersey.

O maior dos nossos poetas modernos, Victor Hugo, diz:

“A mesa girante e falante foi muito ridicularizada. Essa zombaria é sem
alcance. – Estimaríamos que fosse um dever estrito da ciência sondar todos os
fenômenos. Negar a atenção a que tem direito o Espiritismo é desviar a atenção
da verdade.”

O Sr. Victorien Sardou converteu-se ao Espiritismo e tornou-se excelente
médium desenhista.

A “Revue Spirite”, de Paris, publicou desenhos mediúnicos obtidos por ele,
que são obras-primas, de execução delicada e de uma fantasia verdadeiramente
espiritual
.

O historiador Eugéne Bonnemére escreveu:

“Como todo o mundo, eu também me ri do Espiritismo, mas, o que pensava ser o
riso de Voltaire não era mais que o riso idiota, muito mais comum que o
primeiro.”

O ilustre astrônomo Camille Flammarion também, por muito tempo, estudou esses
fenômenos e popularizou, em seu estilo maravilhoso as doutrinas filosóficas do
Espiritismo.

Theóphile Gautier, o mavioso poeta, intitula “Espírita” uma de suas novelas
mais cativantes, e, em suas obras, encontram-se, a cada passo, traços de suas
crenças na nova doutrina.

Maurice Lachâtre, o autor do grande dicionário, é também partidário convicto
dessas idéias. O Dr. Paul Gibier, laureado pela Academia de Medicina,
encarregado de diversas missões científicas, reuniu suas experiências sobre o
Espiritismo em dois volumes: “Le Spiritisme ou Fakirisme occidental” e “Analyse
des Choses”.

Encontram-se, nesses livros, fatos bem observados e confirmações de trabalhos
anteriores sobre o mesmo assunto. Por instâncias da Sociedade de investigações
Psíquicas de Londres, formou-se em Paris uma Sociedade de Psicologia
Fisiológica, cujo fim é estudar os fenômenos telepáticos, isto é, de aparições.

Esta sociedade nomeou uma Comissão cujo papel é de analisar os fatos
apresentados. Eis os nomes dos comissionados: Srs. Sully Prudhomme (da Academia
Francesa), presidente; G. Ballet, professor adido à Academia de Medicina;
Beaunis, professor na Faculdade de Medicina de Nancy; Charles Richet, professor
na Faculdade de Medicina de Paris; Coronel de Rochas, diretor da Escola
Politécnica; Martillier, diretor de conferências na Escola de Altos Estudos,
este último como secretário.

Não podemos dar aqui uma bibliografia completa das obras espíritas; falta-nos
espaço para tal e, além disso, preferimos citar sábios notoriamente conhecidos,
a fim de dar, aos documentos que apresentamos toda a sua autoridade. Ser-nos-ía
muito fácil citar bastante nomes de médicos, advogados, engenheiros, homens de
letras, como prova incontestável de que o Espiritismo penetrou principalmente
nas classes instruídas da sociedade.

Vamos ver como o movimento espírita, começado nos Estados Unidos, espalhou-se
não somente na Europa, mas também por todas as partes do mundo.

1.4 – Na Alemanha

O Dr. Kerner, uma das celebridades da Alemanha, contemporânea, foi levado a
constatar fenômenos espíritas, em 1840, ao ministrar seus cuidados à Sr.a
Hauffe, mais conhecida sob o nome de Vidente de Prévorst, denominação de
uma aldeia de Wurtemberg, onde ela nasceu, no princípio do século XIX.

O doutor conta que ela era, muitas vezes, atormentada por aparições de
fantasmas, as quais ele não podia considerar como alucinações, porque pessoas
que estavam presentes ouviam, tanto quanto ela, as pancadas produzidas pelos
Espíritos ou viam certos objetos, existentes no aposento, mudarem de lugar.

Seu nome de vidente vem do fato de ela pressentir os perigos que ameaçam os
seus; ela prevenia-os, então, e os acontecimentos justificavam sempre suas
previsões.

Em 1840, produziram-se manifestações em Mottlingen (Wurtemberg) e, desde essa
época, verificaram-se fenômenos de visão, de audição, de comunicação, provindos,
incontestavelmente, da ação dos Espíritos. Estes fatos, posto que
significativos, nenhum alcance tiveram, quando a notícia dos acontecimentos na
América produziu, na Alemanha, o mesmo ruído que na França e determinou um
grande movimento de opinião. Não podemos estudar minuciosamente os fatos;
bastar-nos-á assinalar os homens de ciência que foram convencidos e que
publicaram suas pesquisas.

O assunto foi trazido magnificamente ao tablado quando Slade fêz a sua
histórica visita em 1877. Depois de assistir e verificar as suas realizações,
obteve em Leipzig o endôsso de seis professores, que reconheciam o seu caráter
de autenticidade. Foram eles Zöllner, Fechner e Scheibner, de Leipzig; Weber, de
Göttigen; Fichte, de Stuttgard e Ulrici, de Halle. Como esses testemunhos tinham
sido reforçados por um depoimento de Bellachini, o maior mágico da Alemanha, de
que não havia possibilidade de fraude, produziu-se um efeito considerável sobre
a opinião pública, que foi engrossada pela subsequente adesão de dois russos
eminentes: Aksakof, homem de Estado e o Professor Butlerof, da Universidade de
São Petersburgo. Entretanto, parece que o culto não encontrou um terreno
adequado nesse país da burocracia e do militarismo. Executado o nome de Carl Du
Prel, nenhum outro se encontra associado com as mais altas fases do movimento.

O Barão Carl Du Prel, de Munich, começou a carreira de estudioso do
misticismo e, em seu primeiro trabalho(5), não trata do Espiritismo, mas antes
das forças latentes do homem, os fenômenos do sonho, do transe e do sono
hipnótico. Em outro tratado, entretanto, “Um Problema para Mágicos”, faz um
relato minucioso e raciocinado das etapas que o levaram à completa crença no
Espiritismo. Nesse livro, enquanto admite que os filósofos e os homens de
ciência não são os mais classificados para descobrir as fraudes, lembra ao
leitor que Bosco, Houdini e Bellachini e outros ilusionistas declararam que os
médiuns por eles examinados estavam

 

(5) “Philosophy of Mysticism”, 2 vols. (1889). Trans. C.C.Massey.

 

acima de qualquer suspeita de impostura. Du Prel não estava contente, como
muitos outros, de ter provas de segunda mão. Assim, fez um certo número de
sessões com Eglinton e, mais tarde, com Eusapia Palladino. Deu especial atenção
ao fenômeno da psicologia – escrita nas lousas, e assim se exprime:

“Uma coisa é clara – é que a psicologia deve ser aceita como de origem
transcendente. Verificaremos: (1) Que é inadmissível a hipótese de lousas
preparadas. (2) Que o lugar onde se encontra a escrita é inacessível às mãos do
médium. Nalguns casos a dupla lousa é seguramente trancada e deixa internamente
um pequeno espaço para um pedacinho de lápis. (3) Que a escrita é feita no
momento. (4) Que o médium não está escrevendo. (5) Que a escrita deve ser feita
no momento com um pedaço de lousa ou com um lápis comum. (6) A escrita é feita
por um ser inteligente, de vez que as respostas são exatamente concordes com as
perguntas. (7) Esse ser pode ler, escrever e entender a linguagem dos sêres
humanos, freqüentemente uma língua desconhecida do médium. (8) Êle se parece
muito com um ser humano, tanto no grau de inteligência quanto nos enganos que
comete. Assim, êsses são, embora invisíveis, de natureza ou espécie humana. É
inútil lutar contra essa proposição. (9) Se lhes pergunta quem são, respondem
que são seres que deixaram este mundo. (10) Quando essas aparências se tornam
visíveis parcialmente – talvez apenas as mãos – estas têm forma humana. (11)
Quando se tornam inteiramente visíveis mostram a forma e a atitude humanas… O
Espiritismo deve ser investigado como uma ciência. Eu me considerava um covarde
se não exprimisse abertamente as minhas convicções.”

 

Du Prel chama a atenção para o fato de que as suas convicções não se baseiam
em resultados conseguidos com médiuns profissionais. Declara que conhece três
médiuns particulares “em cuja presença não só se verifica a escrita no lado
interno de duas lousas, mas que é feita em lugares inacessíveis.”

“Nessas circunstâncias”, diz ele duramente, “a pergunta “Médium ou
Mágico?” ao que me parece, levanta mais poeira do que deve”
. Isto é uma
observação que os pesquisadores psíquicos deviam saber de cor.

Falando das materializações, diz ele:

“Quando essas coisas se tornam inteiramente visíveis na sala escura, caso
em que o médium se senta no meio do círculo formado pelos assistentes, mostram a
forma e a atitude humanas. Diz-se muito facilmente que neste caso é o próprio
médium que se disfarça. Mas quando o médium fala de seu lugar; quando os
vizinhos que o ladeiam declaram que seguraram as suas mãos e ao mesmo tempo eu
vejo a figura de pé junto a mim; quando essa figura ilumina o seu rosto na
lâmpada de vácuo que se acha sobre a mesa e cuja luz não é obstáculo aos
fenômenos, de modo que eu posso ver distintamente, então a prova coletiva dos
fatos que descrevi me impõe a necessidade da existência de um ser transcendente,
ainda quando todas as conclusões a que cheguei durante vinte anos de trabalho e
estudo tenham que ser derrubadas. Mas, por outro lado, desde que meus pontos de
vista, fixados na minha Filosofia do Misticismo, tomaram um outro rumo, e são
justificados por estas experiências, encontro pouca base subjetiva para combater
êstes fatos objetivos.”

 

E acrescenta:

“Tenho agora a experiência empírica da existência dêsses sêres
transcendentes, da qual estou convencido pela evidência de meus sentidos da
vista, do ouvido, do tato, tão bem quanto de suas próprias comunicações
inteligentes. Em tais circunstâncias, levado ao mesmo desfecho por dois métodos
diversos de investigação, eu devo ser abandonado pelos deuses se não reconhecer
o fato da imoralidade – ou, melhor dito, desde que as provas não vão mais longe
– a continuidade da existência após a morte”.

 

Carl Du Prel faleceu em 1899. Sua contribuição para o assunto é, talvez, a
maior oferecida na Alemanha. Por outro lado lá surgiu um formidável adversário –
Eduard Von Hartmann, autor da “Filosofia do Inconsciente, que em 1885 escreveu
uma brochura chamada “Espiritismo”.

Alexandre Aksakof respondeu a Von Hartmann na revista mensal Psychische
Studien
.

Aksakof mostra que Hartann não tinha nenhuma experiência, que prestou
insuficiente atenção aos fenômenos que não se adaptavam ao seu modo de
interpretar e que havia muitos fenômenos que lhe eram quase desconhecidos.

Por exemplo, Hartmann não acreditou na objetividade dos fenômenos de
materialização. Com muita habilidade Aksakof cita com muitos detalhes bom número
de casos que, decididamente, infirmam as conclusões de Hartmann.

Refere-se Aksakof ao Barão Lazar Hellenbach, que era espírita e foi o
primeiro investigador filosófico dos fenômenos na Alemanha e diz: “A afirmação
de Zöllner da realidade dos fenômenos mediúnicos produziu enorme sensação na
Alemanha”. De vários modos parecia que Von Hartmann tivesse escrito com um
imperfeito conhecimento do assunto.

A Alemanha produziu poucos grandes médiuns, a menos que Frau Anna Rothe, seja
como tal classificada. É possível que ela tivesse recorrido a fraude, quando lhe
faleciam as fôrças, mas que ela possuía tais fôrças em alto grau é claramente
mostrado pelas provas no processo conseqüente à sua suposta “fraude” em 1902.

Depois de doze meses e três semanas de prisão, antes de ser levada ao
tribunal, a médium foi condenada a oito meses de prisão e a uma multa de
quinhentos marcos. No processo, muita gente de posição depôs em seu favor; entre
estas pessoas se achavam Herr Stöcker, antigo Capelão da Côrte, e o juiz
Sulzers, presidente da Suprema Côrte de Apelação de Zürich. Sob juramento o juiz
declarou que Frau Rothe o havia pôsto em comunicação com os Espíritos de sua
espôsa e de seu pai que disseram coisas que à médium era impossível ter
inventado, porque diziam com assunto desconhecido de qualquer mortal. Também
declarou que tinham sido trazidas flôres de rara qualidade para um salão
inundado de luz. Seu depoimento causou sensação.

É claro que o resultado do processo era uma conclusão prévia. Foi uma
repetição da atitude do juiz Howers, no caso Slade.

1.5 – Na Itália

Sob determinados pontos a Itália foi superior a outros países europeus no
tratamento do Espiritismo – isto a despeito da constante oposição da Igreja
Católica Romana, que sem muita lógica estigmatizou como diabolismo os casos que
não receberam a marca especial de santidade. Os Acta Sanctorum constituem
um longa crônica de fenômenos psíquicos com levitações, transportes, profecias,
e todos os outros sinais de mediunidade. Entretanto essa Igreja sempre perseguiu
o Espiritismo. Poderosa como é, verificará, a seu tempo, que enfrentou algo
ainda mais forte que ela.

Dos modernos italianos o grande Mazzini foi um espírita, naqueles dias em que
o Espiritismo mal se esboçava e seu companheiro Garibaldi foi presidente de uma
sociedade psíquica. Em carta a um amigo em 1849, Mazzini esboça o seu sistema
filosófico-religioso, que curiosamente ampara o mais recente ponto de vista
espírita. Êle substitui um purgatótio temporário o inferno eterno, que passa a
ser uma triagem entre êste mundo e o outro, definiu uma hierarquia de sêres
espirituais, e anteviu um progresso contínuo para a suprema perfeição.

A Itália foi rica em médiuns, mas foi ainda mais afortunada com a posse de
homens de ciência bastante sábios para acompanhar os fatos, onde quer que êles
conduzissem. Entre êstes numerosos investigadores – todos êles convictos da
realidade dos fenômenos psíquicos, muito embora não se possa dizer que todos
aceitassem o ponto de vista do Espiritismo – encontram-se nomes como Ermacora,
Schiaparelli, Lombroso, Bozzano, Morselli, Chiaia, Pictet, Foa, Porro,
Brofferio, Bottazzi e muitos outros. Êles tiveram a vantagem de um maravilhoso
sensitivo em Eusapia Palladino, como já foi descrito, mas houve uma série de
outros médiuns poderosos, entre cujos nomes se podem citar Politi, Carancini,
Zuccarini, Lucia Sordi, e especialmente Linda Gazzera. Entretanto, aqui, como em
outros campos, o primeiro impulso veio de países de língua inglêsa. Foi a visita
de D. D. Home a Florença, em 1855 e a subseqüente visita de Mrs. Guppy em 1868
que abriu caminho. O Sr. Damiani foi o primeiro grande investigador e foi êle
quem, em 1872, descobriu os dons da Palladino.

O manto de Damiani caiu nos ombros do Dr. G. B. Ermacora, que foi o fundador
e coeditor, com o Dr. Finzi, da Rivista di Studi Psichici. Morreu em
Rovigo aos quarenta anos de idade, assassinado – uma grande perda para a causa.
Sua adesão e o seu entusiasmo provocaram os de outros do mesmo porte. Assim, em
seu necrológio, escreve Porro:

“Lombroso encontrou-se em Milão com três jovens físicos, inteiramente
libertos de preconceitos – Ermacora, Finzi e Gerosa – com dois pensadores
profundos, que havia esgotado o lado filosófico da questão – o alemão Du Prel e
o russo Aksakof – e com um outro filósofo de mente penetrante e de vasto saber,
Brofferio; e, finalmente, com o grande astrônomo Schiaparelli e com o
fisiologista Richet.”

 

E acrescenta:

“Seria difícil reunir um melhor grupo de homens de ciência, que oferecesse
as necessárias garantias de seriedade, de variada competência, de habilidade
técnica na experimentação, de sagacidade e prudência no desfecho das
conclusões.”

 

E continua:

“Enquanto Brofferio, com o seu livro de pêso “Per lo Spiritismo”,
Milão, (1892) destrói um a um os argumentos dos opositores, coligindo,
coordenando, e classificando com imcomparável habilidade dialética as provas em
favor de sua tese, Ermacora aplicou na sua demonstração todos os recursos de
cérebro robusto e treinado no emprêgo do método experimental; e sentiu tanto
prazer nesse estudo fértil e novo, que abandonou inteiramente as pesquisas sôbre
eletricidade, que já o tinham colocado entre os sucessores de Faraday e de
Maxwell.”

 

O Dr. Ercole Chiaia, que faleceu em 1905, era também um devotado trabalhador
e propagandista, a quem muitos homens notáveis da Europa devem seus primeiros
conhecimentos sôbre fenômenos psíquicos. Entre outros citam-se Lombroso, o
Professor Bianchi, da Universidade de Nápoles, Schiaparelli, Fournoy, o
Professor Porro, da Universidade de Gênova e o Coronel de Rochas. Dêle escreveu
Lombroso:

“Tendes razão para venerar profundamente a memória de Ercole Chiaia. Num
país onde há tamanho horror ao que é novo, é necessária uma grande coragem e uma
nobre alma para se tornar apóstolo de uma teoria que defronta o ridículo; e o
fazer com aquela tenacidade, aquela energia que sempre caracterizaram Chiaia. É
a êle que muitos devem – inclusive eu – o privilégio de ver um mundo novo,
aberto à investigação psíquica – e isto pelo único meio que existe para
convencer homens de cultura, isto é, pela observação direta.”

 

Sardou, Richet e Morselli renderam tributo ao trabalho de Chiaia (6).

 

(6) “Annais of Psychical Science”, Vol. II (1905), págs.261-262.

 

Chiaia fêz um importante trabalho orientando Lombroso, o eminente alienista,
na investigação do assunto. Depois de suas primeiras experiências com Eusapia
Palladino, em março de 1891, escreveu Lombroso:

“Sinto-me bastante envergonhado e pesaroso por me haver oposto com tanta
tenacidade à possibilidade dos chamados fatos espíritas.”

 

Inicialmente apenas aceitava os fatos e se opunha à teoria a êles associada.
Mas já essa aceitação parcial causou sensação na Itália em todo o mundo. Aksakof
escreveu ao Dr. Chiaia: “Glória a lombroso por suas nobres palavras! Glória a
você, por sua dedicação!”

Lombroso oferece um bom exemplo de conversão de um materialista decidido,
depois de longo e cuidadoso exame dos fatos. Em 1900 escreveu êle ao Professor
Falcomer:

“Sou como um pequeno seixo na praia. Ainda estou a descoberto; mas sinto que
cada maré me arrasta para mais perto do mar”.

Como se sabe, êle acabou se tornando um crente completo, um espírita convicto
e publicou um livro célebre “Morte… E depois?”.

Ernesto Bozzano, nascido em Gênova em 1862, devotou trinta anos a pesquisas
psíquicas, reunindo as suas conclusões em trinta extensas monografias. Será
lembrado por sua crítica incisiva (7) às referências inconscientes de Mr.
Podmore a Mr. Stainton Moses. Seu título é “Uma Defesa de William Stainton
Moses”. Bozzano, em companhia dos Professores Morselli e Porro, fêz uma longa
série de experiências com Eusapia Palladino. Depois a de analisar os fenômenos
objetivos e subjetivos, foi conduzido à “necessidade lógica” de aderir
completamente à hipótese espírita.

Eurico Morselli, Professor de Psiquiatria em Gênova, foi durante muitos anos,
como êle próprio o confessa, um duro céptico em relação à realidade objetiva dos
fenômenos psíquicos. De 1901 em diante fêz sessões com Eusapia Palladino, e
ficou inteiramente convencido dos fatos, senão da teoria espírita. Publicou as
suas observações num livro que o Professor Richet descreve como “um modêlo de
erudição
” – “Psicologia e Espiritismo”, 2 volumes, Turim, 1908. Numa análise
muito generosa dêste livro(8), Lombroso se refere ao cepticismo do autor, em
relação a certos fenômenos observados.

 

(7) “Annais of Psychical Science”. Vol. I (1905) págs. 75-129.

(8) “Annais of Psychical Science”. Vol. VII (1908), pág. 376.

 

Diz êle:

“Sim, Morselli comete o mesmo êrro de Flournoy e de Miss Smith(9), torturando
a sua própria e enorme ingenuidade para achar que não são verdades, nem críveis,
coisas que êle mesmo declara ter visto. Por exemplo, durante os primeiros dias
depois da aparição de sua própria mãe, admitia comigo que a tinha visto e tivera
um entendimento por gestos com ela, nos quais ela apontava quase que com
amargura para os seus óculos e a sua calva parcial e lhe lembrou como o havia
deixado ainda num belo rapaz.”

Quando Morselli pediu à sua mãe uma prova de identidade, ela tocou com a mão
em sua testa procurando um caroço; mas como tocasse primeiro no lado direito e
depois no lado esquerdo, onde realmente estava o lobinho, Morselli não queria
aceitar isto como prova da presença de sua mãe. Com mais experiência, Lombroso
lhe mostra a dificuldade dos Espíritos em usar a instrumentalidade de um médium
pela primeira vez. A verdade é que Morselli tinha, por estranho que pareça, a
maior repugnância pelo aparecimento de sua mãe através de uma médium contra a
sua vontade. Lombroso não pôde compreender êste sentimento. E diz:

“Confesso que não só não concordo, mas que, ao contrário, quando novamente vi
minha mãe, senti uma das mais agradáveis sensações íntimas de minha vida, um
prazer que era quase um espasmo, que despertou uma sensação, não de
ressentimento, mas de gratidão à médium que novamente lançou minha mãe em meus
braços depois de tantos anos. E êsse acontecimento me fêz esquecer não uma vez,
mas muitas vêzes, a humilde postura de Eusápia, que tinha feito para mim, ainda
que de maneira puramente automática, aquilo que nenhum gigante em força ou em
pensamento jamais teria podido fazer”.

Em muitas coisas a posição de Morselli é a mesma do Professor Richet no que
diz respeito à pesquisa psíquica, mas, como êste último distinto cientista, foi
êle o instrumento de influenciação da opinião para um maior esclarecimento do
assunto.

Morselli fala com veemência do desprêzo da ciência. Em 1907 escreve o
seguinte:

“A questão do Espiritimo foi discutida por mais de cinqüenta anos; e,
conquanto atualmente ninguém possa prever quando ela será resolvida, agora todos
concordam em lhe conceder grande importância entre

 

(9) Helene Smith, médium, no livro de Fournoy “Da índia ao Planeta Marte”.

 

os problemas que ficaram como uma herança do século dezenove ao nosso século.
Entretanto ninguém pode deixar de reconhecer que o Espiritismo é uma forte
corrente ou tendência do pensamento contemporâneo. Se, durante muitos anos, a
ciência acadêmica desprezou o conjunto dos fatos que, por bem ou por mal, certo
ou errado, o Espiritismo absorveu e assimilou, considerando-os elementos
formadores de seu sistema doutrinário, tanto pior para a ciência! E pior ainda
para os cientistas que ficaram surdos e mudos diante de tôdos as afirmações, não
de sectários crédulos, mas de sérios e dignos observadores como Crookes, Lodge e
Richet. Não me envergonho de dizer que eu mesmo, até onde minhas modestas fôrças
chegavam, contribui para êsse obstinado cepticismo, até o dia em que fui capaz
de romper as cadeias nos quais as minhas percepções absolutistas tinham
acorrentado o meu raciocínio”.(10)

É de notar-se que a maioria dos professores italianos, enquanto aderiam aos
fatos psíquicos, declinavam das conclusões daqueles a quem chamavam de
espíritas.

Houve, entretanto, uma forte minoria que viu o inteiro significado da
revelação.

 

(10) “Annais of Psychical Science”, Vol. V (1907), pág. 322.

 

1.6 – O Livro dos Espíritos

Em 1850, quando as manifestações espíritas americanas chamavam a atenção da
Europa. Allan Kardec investigou o assunto através da mediunidade de duas filhas
de um amigo.

Nas comunicações obtidas foi informado de que “Espíritos de uma categoria
mais elevada do que os que habitualmente se comunicavam através dos jovens
médiuns, tinham vindo especialmente para êle, e queriam continuar a vir, a fim
de lhe permitir desempenhar uma importante missão religiosa”.

Êle controlou isto escrevendo uma série de perguntas relativas aos problemas
humanos e, submetendo-as às supostas inteligências operantes, por meio de
batidas e da escrita com a prancheta recebeu respostas sôbre as quais baseava o
seu sistema, o qual denominava Espiritismo.

Depois de dois anos de comunicações verificou que suas idéias e convicções
tinham mudado completamente. E disse:

 

“As instruções assim transmitidas constituem uma teoria inteiramente nova da
vida humana, do dever e do destino, que se me afigura perfeitamente racional e
coerente, admiravelmente lúcida e consoladora e intensamente interessante”.
Veio-lhe a idéia de publicar o que havia recebido e submetendo-a às
inteligências comunicantes, foi-lhe dito que os ensinamentos lhe haviam sido
dados expressamente para os transmitir ao mundo e que êle tinha uma missão que
lhe fora confiada pela Providência. E lhe disseram que denominasse a obra “O
Livro dos Espíritos”.

O livro, publicado em 1857, teve um grande sucesso. Mais de vinte edições
foram publicadas e a “Edição Revista” publicada em 1860 tornou-se o livro básico
da filosofia espírita.

Kardec achava que os vocábulos espiritual e espiritualista, como
espiritualismo já possuiam uma significação definida. Assim os substituiu por
espiritismo e espírita ou espiritista.

A filosofia espírita se distingue por sue crença em nosso progresso
espiritual, que é realizado através de uma série de reencarnações.

“Devendo o Espírito passar por várias encarnações, resulta que todos nós
temos tido várias existências e teremos ainda outras, mais ou menos
aperfeiçoadas, na Terra ou em outros mundos”.

“A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana. Seria êrro
pensar que a alma ou Espírito possa reencarnar no corpo de um animal”.

“As várias existências, corporais do Espírito são sempre progressivas e nunca
retrógradas; mas a velocidade de progresso depende dos nossos esforços por
atingirmos à perfeição”.

“As qualidades da alma são as do espírito em nós encarnado: assim, o homem de
bem é encarnação de um bom Espírito, como o perverso a de um impuro”.

“Tinha a alma a sua individualidade antes da encarnação e a conserva depois
de separar-se do corpo.

“Voltando ao mundo dos Espíritos,a alma aí reencontra aquêles que conheceu na
Terra e tôdas as suas anteriores existências se avivam em sua memória, com a
lembrança de todo o bem e de todo o mal que haja feito”.

“Encarnado, o Espírito se acha sob influência da matéria; o homem que supera
essa influência pela elevação e pela depuração de sua alma aproxima-se dos bons
Espíritos, com os quais estará um dia. Aquêle que se deixa empolgar pelas
paixões inferiores e põe tôdas as alegrias na satisfação dos apetites à natureza
animal”.

“Os Espíritos encarnados habitam os vários globos do universo”.

Kardec conduziu as suas investigações comunicando-se com Inteligências por
meio de perguntas e respostas, assim obtendo o material para os seus livros.
Muitas informações foram fornecidas a respeito da reecarnação. À pergunta “Para
que fim reencarnam os Espíritos?” davam a seguinte resposta:

 

“É uma necessidade que lhes é imposta por Deus, como meio de atingir à
perfeição. Para alguns é uma expiação; para outros, uma missão. A fim de atingir
a perfeição é-lhes necessário suportar tôdas as vicissitudes da vida corpórea. É
a experiência adquirida pela expiação que constitui a sua utilidade. A
encarnação tem ainda outra finalidade, qual a de preparar o Espírito para
desempenhar a sua tarefa na obra da criação. Para tanto devê êle tomar um corpo
físico, em harmonia com o estado do mundo físico para onde é enviado, e por meio
do qual é capaz de realizar um trabalho especial, em conexão com aquêle mundo,
que lhe foi designado pela sabedoria divina. Assim, é ele levado a dar a sua
contribuição para o progresso geral, ao mesmo tempo que trabalha pelo seu
adiantamento”.

 

O Livro dos Espíritas é uma brilhante resposta aos grandes enigmas do
Universo. Sua divisão organizada em sequência gradativa de conhecimento,
apresentado em didática impecável, leva o aprendiz ao mundo da lógica, onde todo
habitante, reconhece e concorda com os modelos científicos e filosóficos
propostos, posto que todos nós temos no íntimo uma tendência para a harmonia.

Quando em 1857 Allan Kardec, sugerindo a técnica da investigação para
constatar a vida extra-física apresentou “O Livro dos Espíritos”, ao abade
Leçanu, censor de livros franceses e responsável pela “Imprimatur”, recebeu
deste o seguinte elogio a sua obra. “Este livro possui o indispensável para
levar qualquer alma ao reino dos céus”. O abade, ao aprofundar-se na obra,
percebeu ser a mesma um tratado de filosofia imortalista dos mais relevantes,
pois apresentada pelos espíritos, era toda vasada na ética transcedente da
filosofia greco-romana-cristã; baseada na moral de Sócrates, de Platão e de
Jesus, mediante o amor a Deus e ao próximo. Todavia, no Vaticano, houve
divergências de opinião, acabando por prevalecer a condenação do livro. A Igreja
perdeu, nessa ocasião, uma preciosa oportunidade de evitar o seu declínio que
viria a ocorrer no século seguinte. No lugar de adotar a opinião do abade,
passou, ao contrário, a perseguir o Espiritismo.

Na Espanha, no dia 9 de outubro de 1861, foram incinerados, em praça pública,
às 10h30m, trezentos volumes espíritas provenientes da França, que foram
confiscados na alfândega pelo Santo Ofício, por ordem do bispo de Barcelona,
Antonio Palau y Termens. Entre os volumes encontravam-se o “Livro dos Espíritas”
e outras publicações de Kardec, coleções da “Revue Spirite”, por ele dirigida e
da “Reuve Spiritualiste”, redigida por Piêrart: “Fragmento de sonata” ditado
pelo espírito de Mozart ao médium Bryon-Dorgeval: “Carta de um católico sobre o
Espiritismo”, pelo o Dr. Grand, antigo vice-consul de França; “Histórias de
Joana D’arc”, ditada por ela mesma à garota Romance Dufaux, de 14 anos de idade;
e, por fim, “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta” do barão
de Guldenstubbé.

O espetáculo, que ficou conhecido como “Auto-de-fé de Barcelona”, deu-se na
esplanada da antiga cidadela da cidade, construída pelo Rei Felipe V, em 1716.
Assistido por grande multidão presidiu àquele espetáculo um padre vestido com os
trajes sacerdotais próprios para o ato, tendo numa das mãos uma cruz e na outra
uma tocha. Acompanhavam-no um notário, dois funcionários da Alfândega e três
serventes incumbidos de atiçar o fogo.

O comandante do vapor “El Monarca”, capitão Lagier, teve oportunidade de
presenciar aquele auto-de-fé e viu muitas pessoas se acercarem da fogueira
extinta e recolherem parte das cinzas e algumas folhas não inteiramente
destruídas, com o objetivo de conservá-las como lembrança ou curiosidade. Chegou
a prometer, a alguns interessados, trazer aqueles livros na próxima viagem de
Marselha. E dessa forma, através dos navios que frequentemente aportavam em
Marselha, muitos exemplares do livro entravam na Espanha, vendidos ou
distribuídos gratuitamente pelos comandantes e marinheiros.

Kardec disse ter recebido um punhado daquelas cinzas históricas, nas quais
ainda se via um fragmento de “O Livro dos Espíritos” havendo sido presenteado
com uma aquarela feita “in loco” por um distinto artista, representando a cena
do auto-da-fé. As cinzas e os restos de folhas queimadas, ele as conservou numa
urna de cristal, que foi destruída pelos nazistas durante a Segunda Grande
Guerra.

Com a gravidade, a clareza e a concisão que lhe eram peculiares, o insigne
codificador escreveu um artigo ponderando, muito sensatamente:

“Se examinarmos esse processo sob o ponto de vista de suas conseqüências,
desde logo vemos que todos são unânimes em dizer que nada podia ter sido mais
útil para o Espiritismo. A perseguição foi sempre vantajosa à idéia que se quis
proscrever; por esse meio exalta-se a importância da idéia, chama-se a atenção
para ela, e faz-se que seja conhecida daqueles que a ignoravam. Graças a esse
zelo imprudente, todos na Espanha ouvirão falar de Espiritismo e quererão saber
o que ele é, e isto é o que desejamos”.

Isso realmente sucedeu. A atenção de muita gente, que nunca ouvira falar de
Espiritismo, convergiu para o “fruto proibido”, sobretudo pela importância mesma
que a Igreja lhe dispensava. “Que podiam conter esses livros, dignos das
solenidades da fogueira?” E a curiosidade abriu, assim, para inúmeras mentes, um
mundo até então delas desconhecido.

O “Livro dos Espíritos” alcançou êxito surpreendente na França e no resto da
Europa, com repercussão pelas Américas. Sancionou-o a universalidade dos ensinos
de Espíritos superiores sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e
suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o
porvir da humanidade.

CAPÍTULO 2

 

 

EXPERIÊNCIAS FAMOSAS

 

Está chegando o tempo em que os homens estarão certos da imortalidade do
espírito, e deixando de lado as dissensões, tomarão a Ciência como espada, a
Filosofia como armadura e a moral como batalha, vencendo, afinal, as densas
trevas que separam o mundo material do mundo espiritual.

Por largos séculos o obscurantismo, o fanatismo religioso, o dogmatismo
incoerente, o interesse material mesquinho e a prepotência de pseudos religiosos
colocaram máscaras e rédeas no pensamento de muitos pesquisadores acomodados,
sem contudo tolher correntes que fluiam espontâneas das mentes superiores para
aqueles que, dedicados à pesquisa séria e a defesa da verdade, não se
intimidavam frente a tortura e fogueiras, símbolo do atraso moral daqueles que
as promoviam.

Homens notáveis, que deixaram as marcas do saber gravadas na história de
Ciência, narram, nesse capítulo, suas experiências. Todos eles, sem exceção,
duvidaram inicialmente dos fenômenos espíritas, cercando-se de todos os cuidados
para não se tornarem vítimas das ilusões. Isto posto, repetidas vezes, nas mais
diversas situações, acabaram por torná-los convictos de algo situado muito além
das suas concepções anteriores. Fenômenos como desagregação da matéria,
transportes, aparições luminosas, materializações, etc, saíram, graças a eles,
do campo da fantasia para ingressarem no campo da ciência.

Vamos assistir agora a experiências que estabelecem positivamente a
existência real objetiva dos Espíritos, demonstrando que, em certas
circustâncias, pode-se constatar a sua presença com tanto rigor e pelos mesmos
processos que vulgarmente são empregados quando se trata de uma pessoa viva.
Podemos vê-los, tocá-los, fotografá-los, ouví-los falar; em uma palavra, nos
certificamos por todos os meios possíveis de que, temporariamente, eles são tão
vivos como os observadores.

Apresentemos os fatos.

2.1 – Desagregação da matéria

Eis a narrativa de uma sessão em casa do Sr. Crookes:

“A Srta. Fox havia prometido dar uma sessão em minha casa. Enquanto eu a
esperava, uma das minhas parentas e meus dois filhos mais velhos, um de catorze
e outro de onze anos de idade, achava-se na sala de jantar, onde se efetuaram
sempre as sessões, ao passo que eu escrevia na minha biblioteca. Ouvindo soar a
campainha, abri a porta à Srta. Fox e conduzi-a logo à sala de jantar, porque
ela me disse que, não podendo demorar-se muito, não subiria. Depôs sobre uma
cadeira seu chapéu e seu xale. Dirigi-me, então, a meus filhos e disse-lhes que
fossem para a biblioteca estudar as suas lições; fechei sobre eles a porta a
chave e, segundo o meu costume durante as sessões, pus a chave em meu bolso.

“Assentamo-nos, ficando a Srta. Fox à minha direita e a minha parenta à
esquerda. Bem depressa, recebemos uma mensagem alfabética pedindo-nos que
apagássemos o gás; isso feito, ficamos em completa obscuridade, durante a qual
segurei com a minha mão as da Srta. Fox. Logo após, uma comunicação foi-nos
dada, nos seguintes termos: “Vamos produzir uma manifestação que vos provará o
nosso poder”. Imediatamente depois, ouvimos o tinir de uma campainha, não
estacionária, porém que ia e vinha por todos os pontos da sala, ora junto à
parede, ou num canto afastado, ora me tocando na cabeça e, depois batendo no
chão. Depois de assim se fazer ouvir, pelo menos durante cinco minutos, a
campanhia caiu sobre a mesa, perto das minhas mãos.

“Durante todo esse tempo nenhum de nós se moveu e as mãos da Srta. Fox
conservaram-se perfeitamente tranqüilas. Eu julgava que a campainha, que então
tocara, não podia ser a minha, visto eu tê-la deixado na biblioteca”.

“Pouco tempo antes da chegada da Srta. Fox, eu tinha precisado de um livro
que se achava colocado num aparador, na biblioteca, e, encontrando a campainha
sobre o livro, pu-la de lado; esse incidente assegurou-me que ela estava na
biblioteca”.

“O gás iluminava bastante o corredor para o qual dava a porta da sala de
jantar, de modo que não se podia abrir essa porta sem que a luz penetrasse na
sala em que nos achávamos.

“Demais, para abrí-la, só existia uma chave, e essa, eu a conservara em meu
bolso”.

“Acendi uma vela. Não podia haver dúvida de que diante de mim, na mesa,
estava uma campainha. Fui logo à biblioteca, e vi que a minha campainha não
estava onde eu a deixara. Perguntei a meu filho mais velho: – Sabes onde está a
minha campainha? – Sim. Papai, ei-la; e apontou para o lugar onde eu a pusera.
Pronunciando essas palavras, ergueu os olhos e continuou: – Não; não está mais
aí, porém ainda há pouco estava. – Como é isso? Alguém veio buscá-la? – Não,
disse ele, ninguém entrou aqui; e sei que ela aí se achava, porque, quando nos
fizeste vir para cá, J. (o menor dos meus filhos) começou a tocá-la com tanta
força que não pude estudar as minhas lições, e por isso lhe disse que parasse.
J. confirmou o fato, e acrescentou que havia posto a campainha no lugar onde a
achara”.

Vemos, pois, que os Espíritos precisaram fazer passar essa campainha através
da parede, a fim de levá-la da biblioteca para a sala de jantar. O fenômeno não
pode ser compreendido senão pela suposição de poder a matéria passar através da
matéria, o que não é impossível, quando vemos a água, sob uma pressão, violenta,
filtrar-se pelos poros de uma esfera de ouro, ou o hidrogênio passar pelas
paredes de um tubo de ferro sujeito a temperatura elevadíssima, e, mais
usualmente, o petróleo atravessar a porcelana. O que é estranho, no nosso caso,
é a desagregação e a reconstituição da campainha, sem que esta se avariasse. Eis
uma narrativa do mesmo ilustre químico, que de alguma sorte, põe em evidência o
fato da desagregação.

“O segundo caso que vou narrar realizou-se em plena luz, num domingo à tarde,
em presença do Sr. Home e de alguns membros da minha família. Minha mulher e eu
tinhamos passado o dia no campo e daí trazido algumas flores. Chegados a casa,
entregamo-ias a uma criada para que as pusesse dentro dágua. O Sr. Home chegou
pouco depois, e todos reunimo-nos na sala de jantar. Quando estávamos
assentados, a criada trouxe as flores que havia acomodado num vaso, coloquei-o
no centro da mesa, cuja coberta havia sido retirada. Era a primeira vez que o
Sr. Home via essas flores.

“Depois de termos obtido muitas manifestações, a conversação veio a cair
sobre certos fatos que só podiam ser explicados admitindo-se a passagem da
matéria através de uma substância sólida. A este respeito, veio alfabeticamente
a seguinte comunicação: É impossível a matéria passar através da matéria, mas
vamos mostrar-vos o que podemos fazer”.

“Esperamos em silêncio. Bem depressa descobrimos uma aparição luminosa
pairando sobre o ramalhete de flores; depois, à vista de todos, uma haste de
erva da China, de 15 polegadas de comprimento, que adornava o centro do
ramalhete, elevou-se lentamente do meio das outras e, depois, desceu até à mesa,
pela frente do vaso, entre este e o Sr. Home. Chegando à mesa, a haste não se
deteve aí, passando-lhe através, como foi observado por todos”.

“Depois da desaparição da erva, minha mulher, que estava assentada ao lado do
Sr. Home, viu entre ela e o médium, uma mão vinda debaixo da mesa e empunhando a
planta, com a qual lhe bateu no ombro, por duas vezes, fazendo um ruído que
todos ouviram, e, em seguida, depois de largá-la no chão, desapareceu. Só duas
pessoas viram essa mão, mas todos assistentes observaram o movimento da planta.
Enquanto isso sucedia, todos puderam ver as mãos do Sr. Home tranqüilamente
pousadas na mesa. O lugar onde a planta desapareceu, estava a dezoito polegadas
de suas mãos. A mesa era de dobradiça, deixando entre as duas partes uma
estreita fenda. Foi através dessa fenda que a planta passou. Tirei a medida, e
vi que ela tinha apenas a largura de um oitavo de polegada. A planta possuia um
diâmetro muito maior e não podia passar através dessa fenda sem se quebrar, e,
no entanto, todos a viram por aí se introduzir sem dificuldade e docemente.
Examinando-a depois, não encontramos nela o menor sinal de compressão”.

As experiências de Zöllner

Uma experiência verdadeiramente concludente foi a deste notável homem de
ciência. Em uma corda lisa, cujas extremidades estavam fixas, lacradas e
marcadas sobre a mesa, com o sinete do Sr. Zöllner, formaram-se alguns nós,
minutos depois da imposição das mãos de Slade, conservando-se intactos os selos.

Em seguida, duas tiras de couro, juntas somente pelas extremidades, e,
igualmente, lacradas, também se achavam ligadas uma à outra quando o Sr. Zöllner
daí retirou as mãos.

“Eu tinha as mãos pousadas nas tiras de couro, diz o Sr. Zöllner; Slade, que
se achava à minha esquerda, colocou sua mão direita sobre as minhas. Findos
alguns minutos, senti um movimento das tiras sob as minhas mãos. Três pancadas
fizeram-se ouvir na mesa e, quando retirei as minhas mãos, as duas tiras de
couro estavam amarradas uma à outra”.

O sábio alemão fez variar a experiência: tomou dois anéis de madeira,
torneados, feitos cada um de uma só peça, com um diâmetro de 74 milímetros,
prendeu-os nas extremidades de uma corda de violão, fixou o centro desta na
mesa, com lacre marcado com seu sinete, e deixou-as pender aos lados da mesa.
Seu desejo era ver se os anéis se entrelaçavam. Em seguida, assentou-se com
Slade, colocando suas mãos sobre a corda selada. Perto deles estava uma mesa
pequena, de uma só perna, terminada por três pés.

“Depois de alguns minutos de espera, escreve ele, ouvimos, na pequena mesa
redonda colocada diante de nós, um ruído semelhante ao que produziriam duas
peças de madeira batendo uma contra a outra. Levantamo-nos para nos
certificarmos do que era, e, com grande assombro, achamos os dois anéis de
madeira, que cerca de seis minutos antes estavam presos à corda de violão,
enfiados na perna da mesa e em perfeito estado. Assim, acrescenta o Sr.
Zöllner, a experiência que eu projetava não deu o resultado previsto; os anéis
não se entrelaçaram mas, em vez disso, foram transportados da corda de violão
para a perna da mesa”.

2.2 – Transportes

Vimos a campainha do Sr. Crookes ser transportada de uma sala para a outra.
Se essa campainha não lhe pertencesse, se ela tivesse vindo de um casa vizinha,
teríamos aí o que chamamos um fenômeno de transporte. Eis um fato
garantido pelo Sr. Wallace.

“O que há de mais notável na maturidade da Srta. Nicholl (hoje Sr.a
Guppy) é o transporte de flores e frutas para um quarto fechado. A primeira vez
que esse fato se deu foi em minha casa, na época em que suas faculdades estavam
ainda pouco desenvolvidas. Todos os assistentes eram meus amigos íntimos. A
médium tinha vindo para a ceia; estávamos em pleno inverno, e, antes que as
flores aparecessem, ela tinha ficado conosco durante quatro horas em um quarto
muito quente e iluminado a gás. O certo é que, sobre uma mesa nua, em pequeno
compartimento, fechado e escuro (a sala vizinha e o corredor estavam bem
iluminados), apareceu uma quantidade de flores que não se achavam aí quando
apagamos o gás, alguns minutos antes. Eram anêmonas, tulipas, crisântemos,
primaveras da China e muitas espécies de fetos. Todas pareciam ter sido colhidas
de fresco e estavam cobertas de fino orvalho. Nenhuma pétala estava quebrada ou
machucada, nenhuma das mais delicadas pontas dos fetos se achava afetada.

“Sequei e conservei tudo, juntamente com o atestado que obtive dos
assistentes, garantindo não haverem eles, de modo algum, contribuído, tanto
quanto podiam sabê-lo, para o aparecimento das flores. Acreditei, então, e ainda
acredito, que era absolutamente impossível à Srta. Nicholl conservá-las ocultas
por tanto tempo, tão perfeitas e, mais que tudo, tê-las coberto inteiramente de
tão bela camada de orvalho, igual à que se produz no exterior de um corpo,
quando, em um dia quente, ele está cheio de água gelada”.

A competência particular de Alfred Wallace torna essa observação uma das mais
preciosas, porque é difícil que uma jovem senhora, nas condições indicadas,
tenha podido iludir o sagaz e ilustre naturalista. Prossigamos: “Fenômenos
semelhantes operaram-se centenas de vezes, em muitas casas, e em
condições variadas. Quase sempre as flores amontoavam-se em quantidade sobre as
mesas; em outras ocasiões, foram trazidos os frutos e as flores especiais que
haviam sido pedidos. Um amigo meu solicitou uma vez um girassol, e uma dessas
flores, alta, de 6 pés, caiu sobre a mesa, com as raízes envoltas em sólida
massa de terra. Uma das provas mais importantes realizou-se em Florença, na
presença do Sr. F. Adolphus Trollope, da Srta. Blagder e do Coronel Harvey.

“A sala foi examinada pelos cavalheiros, a Sr.a Guppy foi despida
e de novo vestida pela Sr.a Trollope, que examinou cada uma das peças
do seu vestuário, e, em seguida, o Sr. e a Sr.a Guppy foram
solidamente amarrados em torno da mesa”.

“Depois de dez minutos, todos declararam que sentiam o aroma de flores, e,
quando se acendeu uma vela, viu-se que os braços da Sr.a Guppy e do
Sr. Trollope estavam cobertos dos junquilhos que inundavam a sala com o seu
perfume. Os Srs. Guppy e Trollope narram esse fato em termos substancialmente
idênticos. “Relatório da Sociedade Dialética de Londres, sobre o Espiritismo.

2.3 – Aparições luminosas

Estando confirmado o princípio de poderem os Espíritos manipular a matéria
viva sem destruí-la, mostremos o que eles podem fazer sobre si mesmos.

Voltamos ao Sr. Crookes, que assim resume as suas observações:

“Essas manifestações, por serem algo fracas, exigem, geralmente, que a sala
não esteja iluminada. Pouca necessidade tenho de lembrar aos meus leitores que,
em tais condições, adotei todas as precauções convenientes para evitar que me
iludissem, pois empreguei o óleo fosforado e outros meios. Ainda mais, muitas
dessas aparições luminosas eram de tal natureza que não consegui imitá-las por
meios artificiais”.

Ainda temos um testemunho importante vindo desse notável físico, a quem
devemos a descoberta da matéria radiante, pois que ele se entregou a longas e
rigorosas experiências sobre todos os gêneros de luzes devidas aos eflúvios
elétricos e à fosforescência:

“Nas condições próprias para o mais rigoroso exame, vi um corpo sólido,
luminoso por si mesmo, e mais ou menos da grandeza e da forma de um ovo de
perua, flutuar silenciosamente pela sala, elevar-se mais alto do que teria
podido fazê-lo qualquer dos assistentes colocando-se nas pontas dos pés, e,
depois, descer lentamente até o chão. Esse objeto conservou-se visível por mais
de dez minutos e, antes de desaparecer, deu três pancadas na mesa, com um ruído
semelhante ao que produziria um corpo sólido e duro.

“Durante esse tempo, o médium esteve assentado em uma espreguiçadeira e
parecia totalmente insensível.

“Vi pontos luminosos saírem de lugares diferentes e pousarem sobre a cabeça
de diversas pessoas; obtive a pedido meu, relâmpagos de luz brilhante,
produzidos diante do meu rosto e no número de vezes por mim fixado. Vi faíscas
saltarem da mesa até o teto, e depois caírem na mesa com um ruído muito
distinto. Mantive uma conversação alfabética por meio de relâmpagos luminosos,
produzidos no ar diante de mim, e por entre os quais eu passava a minha mão. Vi
uma nuvem luminosa flutuar sobre um quadro. Sempre nas condições apropriadas
ao mais rigoroso exame,
aconteceu, por mais de uma vez, que um corpo sólido,
fosforescente, cristalino fosse colocado em minha mão por outra mão que não
pertencia a nenhum dos assistentes. Em plena luz, vi uma nuvem luminosa pairar
sobre uma heliotrópia colocada em uma mesa ao nosso lado, quebrar-lhe um raminho
e oferecê-lo a uma dama: e, em outras ocasiões, vi uma nuvem semelhante
condensar-se sob as nossas vistas, tomando a forma de mão, e transportar
pequenos objetos. Isso, porém, pertence à classe dos fenômenos seguintes:

 

Aparições de mãos luminosas por si mesmas,

ou visíveis à luz ordinária

 

“Muitas vezes sentimos contacto de mãos durante as sessões de escuridão ou em
condições de não se poder vê-las. Raramente tenho visto essas mãos. Não darei
exemplos dos casos em que o fenômeno se produziu na obscuridade, mas escolherei
simplesmente alguns dos casos numerosos em que essas mãos foram vistas em plena
luz.

“Uma pequena mão, de forma muito bela, elevou-se de uma mesa da sala de
jantar e deu-me uma flor; apareceu e desapareceu por três vezes, dando-me toda a
facilidade de convencer-me de que ela era tão real quanto a minha própria mão.
Isso se passou em plena luz, na minha própria sala, quando os pés e as mãos do
médium estavam seguros por mim.

“Em outra ocasião, mão e braço pequenos, semelhantes aos de uma criança,
apareceram movendo-se sobre uma dama que estava sentada perto de mim. Depois,
dirigindo-se para mim, bateram-me no ombro e, por muitas vezes, puxaram-me pela
sobrecasaca.

“Um dedo e um polegar foram vistos arrancando as pétalas de uma flor que se
achava no peito do Sr. Home, e depositando-as diante das muitas pessoas ali
presentes.

“Muitas vezes, eu e outras pessoas vimos certa mão calcando as teclas de um
harmonium, ao mesmo tempo que observáva-mos estarem as duas mãos do
médium seguras por aquelas que se achavam perto.

“As mãos e os dedos da aparição nem sempre me pareceram sólidos e vivos.
Algumas vezes, convém dizê-lo, guardavam, antes, a aparência de uma nuvem,
condensada parcialmente sob a forma de mão. Nem todos os presentes viam isso
igualmente bem. Por exemplo, move-se uma flor ou algum outro pequeno objeto: um
dos assistentes verá um vapor luminoso pairar acima, outro descobrirá a mão de
aparência nebulosa, ao passo que outros não notarão mais que o movimento do
objeto. Vi, por mais de uma vez, um objeto mover-se, depois, uma nuvem luminosa
envolvê-lo, e, finalmente, a nuvem condensar-se, tomar uma forma e
transformar-se em mão perfeita. Nesse momento, todas as pessoas presentes podiam
vê-la. Essa mão nem sempre é uma simples forma, pois, às vezes, parece
perfeitamente animada e muito graciosa; os dedos movem-se e a carne parece
ser tão humana quanto a das pessoas presentes.
No punho ou no braço,
torna-se vaporosa e perde-se em uma nuvem luminosa.

“Ao tato, essas mãos, em certas ocasiões, parecem frias como o gelo e mortas;
outras vezes, pareceram quentes e vivas, e apertaram a minha própria com a
firme pressão de um velho amigo.

 

“Conservei uma dessas mãos na minha, bem resolvido a não deixá-la escapar.
Nenhuma tentativa e nenhum esforço foram feitos para que eu a soltasse, mas, aos
poucos, ela pareceu dissolver-se em vapor e, assim, desembaraçou-se de mim.”

Verificaremos daqui a pouco que é desse mesmo modo que as mãos desapareceram
dos moldes de parafina, onde deixaram um testemunho da sua existência
momentânea.

Eis-nos longe das hipóteses do automatismo ou da segunda personalidade; aqui,
não há meio de negar os Espíritos. Mas os cépticos não se embaraçam com tão
pouco; não podendo contestar os fatos nem atribuí-los ao embuste, procuraram
explicá-los pela alucinação. O Sr. Crookes e os seus companheiros serão por isso
alucinados?

Sim, respondem imperturbavelmente aqueles que nada viram, nada
experimentaram, porém que, apesar da evidência, tudo negam. Sim, os que
pretendem ter visto isso são uns alucinados. Paciência; entretanto; vamos
mostrar-lhes que o fato é positivo, pois deixa traços materiais da sua
realidade. Enquanto não damos essa prova decisiva, eis algumas experiências
provando que os fantasmas não existem somente na imaginação das pessoas
crédulas:

Formas e figuras de fantasmas

 

“Esses fenômenos são os mais raros de todos os que testemunhei. As condições
necessárias para a sua apresentação parecem ser tão delicadas, e, para
contrariar a sua manifestação, é preciso tão pouca coisa que só tive raras
ocasiões de vê-los em condições de exame, satisfatórias. Mencionarei dois desses
casos:

“Ao declinar do dia, durante uma sessão do Sr. Home em minha casa, vi
agitarem-se as cortinas de uma janela, distante cerca de 8 pés do Sr. Home. Uma
forma sombria, obscura, semi-transparente, semelhante a uma forma humana, foi
observada por todos os assistentes perto da janela, em pé, e essa forma
agitava a cortina com a mão.

 

“Enquanto a examinávamos, ela esvaiu-se, e as cortinas cessaram de mover.”

O caso seguinte é ainda mais importante. Nele, como no precedente, o médium
foi o Sr. Home:

“Uma forma de fantasma avançou do fundo da sala, foi buscar um harmonium
e, depois, deslizou pela frente de todos, tocando o instrumento. Essa forma foi
visível para todas as pessoas presentes, ao mesmo tempo em que era visto o Sr.
Home. O fantasma aproximou-se de uma dama que se achava assentada a alguma
distância dos outros assistentes; esta deu um pequeno grito; depois, a sombra
desapareceu.”

Nessas duas narrativas, todos os assistentes vêem o Espírito, que está assaz
materializado para agitar cortinas, mover e tocar o harmonium. Se aí se
operou uma alucinação, é preciso confessar que esta é bem complicada. Se tais
fatos não se passassem no século décimo nono, no gabinete de um sábio,
crer-se-ia estar diante de uma lenda.

Os homens da época atual são poucos inclinados ao maravilhoso, e, por isso,
vamos ver as precauções que foram adotadas para se certificarem de que as
aparições não eram simples ilusões do espírito, e, sim, realidades objetivas,
autênticas e inegáveis.

2.4 – Materializações

Chamamos materialização ao fenômeno pelo qual um Espírito se mostra com um
corpo físico, tendo todas as aparências da vida normal. A seguinte narrativa foi
publicada pelo Sr. Crookes em diferentes jornais espiritualistas, em 1874.

Se transcrevemos constantemente os escritos do grande químico, não é por
falta de documentos, pois as revistas espíritas contém grande número de bons
testemunhos, e, sim, para que o leitor fique bem convencido de que os fatos
citados foram observados com todo o método e rigor que os sábios empregam em
suas investigações.

Em respostas às acusações de fraude feitas contra a médium, uma jovem de
quinze anos, chamada Florence Cook, o Sr. Crookes deu publicidade às suas
experiências, e por estas se vê que a tal respeito não pode haver a menor
suspeita. Damos, antes de tudo, uma idéia geral dessas sessões: Os assistentes,
assentados em círculo, formam uma cadeia, isto é, dão-se mutuamente as mãos. A
luz, muito fraca, não permite ler, mas é suficiente para que os experimentadores
se vejam uns aos outros. A médium, as mais das vezes, acha-se separada da sala
da reunião por um biombo ou por cortinas. Em outras ocasiões, a médium fica em
um canto da sala, separado apenas por uma cortina. Se o biombo é empregado, fica
entendido que não dispõe de outra saída senão pela sala, onde se achamos
assistentes. Quando a médium está em êxtase, no fim de um tempo mais ou
menos longo vê-se a cortina agitar-se e dar passagem a uma forma de homem ou de
mulher, que vem passear pela frente de todos, conversar com os assistentes,
fazer-se, muitas vezes, reconhecer por um deles, voltar, depois, para junto da
médium e, finalmente, desaparecer. É bem certo que esse compartimento especial
para a médium, essa semi-obscuridade são condições que se prestam perfeitamente
a uma legítima suspeita, visto a estranheza dos fatos produzidos, mas vamos ver
que um homem frio, metódico, como o Sr. Crookes, sabe, por experiência,
abrigar-se de toda fraude. Escutemos o que ele diz:

“O Local – As experiências realizaram-se em minha casa. A minha biblioteca,
que serviu de gabinete escuro, tinha duas meias portas dando para o laboratório;
uma dessas portas foi retirada dos gonzos e, em lugar, suspendeu-se uma cortina,
para permitir que Katie (O Espírito materializado) entrasse e saisse
facilmente… Preparei e dispus a minha biblioteca, assim como esse gabinete
escuro, e, segundo o costume, a Srta. Cook, depois de jantar e conversar conosco
por algum tempo, dirigia-se para o gabinete e, a seu pedido, eu fechava a
segunda porta a chave, guardando esta comigo durante a sessão; então,
abaixava-se o gás e deixava-se a Srta. Cook na obscuridade.

“Entrando no gabinete, ela estendia-se no chão, com a cabeça num travesseiro,
e caía bem depressa em letargia.

“A MÉDIUM – Durante estes seis últimos meses, a Srta. Cook fez-se numerosas
visitas, permanecendo, muitas vezes, uma semana inteira em minha casa. Não
trazia consigo senão um pequeno saco de viagem, sem chave; durante o dia, estava
constantemente em minha companhia, na de minha mulher ou na de algum outro
membro da minha família e, com não dormisse em quarto separado do de minha
mulher, faltava-lhe absolutamente a ocasião de preparar alguma coisa, mesmo de
caráter menos perfeito, que a habilitasse a desempenhar o papel de Katie King”.

A convicção do Sr. Crookes sobre a sinceridade da médium e sobre a
impossibilidade de a Srta. Cook simular alguma coisa do que foi por si
verificado mostra-se nas linhas seguintes:

“A médium aceitou e submeteu-se com a melhor boa-vontade a todas as provas
que propus; sua palavra é franca e vai direto ao fim a que se propõe; nunca lhe
notei coisa alguma que manifestasse a mais ligeira aparência do desejo de
enganar. Realmente, não creio que ela pudesse planejar uma fraude e levá-la ao
fim desejado, caso a tentasse; seria prontamente descoberta, porque tal modo de
proceder é inteiramente contrário à sua natureza. Quanto a imaginar-se que uma
inocente colegial de quinze anos fosse capaz de conceber e pôr em prática,
durante três anos
, tão gigantesca impostura, sujeitando-se, durante todo
esse tempo, às condições que exigiu, consentindo nas mais minuciosas inspeções,
em ser examinada a todo momento, antes e depois das sessões, e que obtivesse
ainda maior êxito na minha casa que na de seus pais, sabendo que aqui vinha
expressamente para sujeitar-se a rigorosos exames científicos; quanto a
imaginar-se, digo, que a Katie King aparecida nos três últimos anos foi
obra de uma impostura é violentar mais a razão e o bom senso do que acreditar
que ela seja, realmente, o que afirma ser”.

Como era esse Espírito que, durante três anos, se mostrou em inumeráveis
circustâncias?

“KATIE – A fotografia é tão impotente para pintar a beleza perfeita do rosto
de Katie como as palavras são para descrever o encanto das suas maneiras. A
fotografia pode,é certo, dar um desenho dos seus traços; mas, como poderia
reproduzir a pureza admirável de sua tez ou a expressão variada de suas feições,
ora veladas pela tristeza, quando contava algum acontecimento desagradável de
sua vida passada, ora sorrindo com toda a inocência de uma jovem, quando reunia
em torno de si meus filhos e divertia-se, contando-lhes episódios de suas
aventuras na Índia”.

Mas, essa Katie era uma aparência, uma sombra animada, um reflexo vivo e
pensante? Eis o que escreveu o Sr. Crookes no dia imediato ao de uma sessão
efetuada em Hackney:

“Jamais Katie se mostrou com tanta perfeição; durante cerca de duas horas,
ela passeou na sala, conversando familiarmente com as pessoas presentes. Muitas
vezes, tomou-me o braço, caminhando, e a impressão produzida em mim era a de
achar-se ao meu lado uma mulher viva, não uma visitante de outro mundo. Essa
impressão foi tão forte, que a tentação de repetir uma recente e curiosa
experiência tornou-se para mim quase irressível. Pensando, portanto, que, se na
minha presença não se achava um Espírito, pelo menos estava uma dama, pedi-lhe a
permissão de tomá-la em meus braços, a fim de fazer o exame que um audaz
experimentador tinha recentemente insinuado. Sendo essa permissão graciosamente
concedida, procedi convenientemente, como em tais ciscunstâncias o faria
qualquer homem de boa educação. O Sr. Volckman (esse experimentador) folgará em
saber que posso corroborar a sua asserção de que o fantasma (que, aliás, não fez
resistência alguma) era um ente tão material quanto a Srta. Cook. Essa Katie não
podia ser a Srta. Cook disfarçada, pelo seguinte motivo:

“Como Katie dissesse que era capaz de mostrar-se ao mesmo tempo que a Srta.
Cook, abaixei o gás e, depois, com a minha lâmpada de óleo fosforado, penetrei
no gabinete onde estava a médium. Previamente, porém, eu havia convidado um dos
meus amigos, taquígrafo hábil, para tomar nota de toda a observação que eu
fizesse enquanto me achasse no gabinete, pois, conhecendo eu o valor das
primeiras impressões, não queria confiá-las somente à minha memória. Suas notas
estão neste momento, diante de mim.

“Entrei no gabinete com precaução; estava escuro, e foi tateando que
encontrei a Srta. Cook. Ela estava encolhida no chão.

“Ajoelhando-me, deixei penetrar ar na minha lâmpada e, à sua claridade, vi
essa jovem, vestida de veludo negro, como se achava no começo da sessão, e com
toda a aparência de completa insensibilidade. Não se moveu quando lhe tomei a
mão, aproximando a lâmpada do seu rosto, e continuou a respirar calmamente.

“Erguendo eu a lâmpada, olhei em torno de mim, e vi Katie de pé, perto e por
trás da Srta. Cook. Suas roupas eram brancas e flutuantes, como tinhamos visto
durante a sessão. Segurando na minha uma das mãos da Srta. Cook, e ajoelhando-me
ainda, fiz subir e descer a lâmpada, tanto para clarear a figura inteira de
Katie como para convencer-me plenamente de que via realmente a verdadeira Katie,
que alguns minutos antes apertara-a em meus braços, e não a criação fantástica
de um cérebro enfermo. Ela não falou, mas moveu a cabeça para se fazer
reconhecer. Por três vezes, examinei cuidadosamente a Srta. Cook ali deitada,
para certificar-me de que a mão que eu segurava era a de uma mulher viva, e, por
outras tantas vezes, voltei a lâmpada para Katie a fim de examiná-la com firme
atenção, até perder qualquer dúvida a seu respeito. Afinal a Srta. Cook fez um
ligeiro movimento, e logo Katie, por um sinal, deu-me a entender que me
afastasse. Retirei-me para outra parte do gabinete e cessei, então, de ver
Katie, porém só fui embora quando a Srta. Cook despertou e depois que dois dos
assistentes aí penetraram com luzes”.

2.5 – Fotografias

Dirão ainda os obstinados incrédulos, eis uma alucinação de todos os
sentidos, experimentada pelo Sr. Crookes. Para destruir este último argumento, é
necessário falarmos da fotografia dessa aparição, pois ninguém suporá, como
cremos, que uma placa sensível possa ficar alucinada. É isso um testemunho
inteligente, mas irrecusável. Essa prova absoluta foi obtida grande número de
vezes.

“Tendo eu tomado parte muito ativa nas últimas sessões da Srta. Cook e obtido
numerosas fotografias de Katie King, à luz elétrica, julguei que a
publicação de alguns pormenores seria interessante para os espiritualistas.

“Durante a semana que precedeu a partida de Katie ( o Espírito havia
anunciado que sua missão estava terminada), ela deu sessões em minha casa quase
todas as noites, a fim de me permitir fotografá-la à luz artificial. Cinco
aparelhos completos de fotografia foram, portanto, preparados. Compunham-se de
cinco máquinas, sendo uma do tamanho de chapa inteira, uma de meia chapa, uma de
um quarto de chapa, e as outras duas eram estereoscópicas binoculares, devendo
todas ser dirigidas ao mesmo tempo para Katie, cada vez que ela tomasse posição
para ser fotografada. Cinco banhos sensibilizadores e fixadores foram
empregados, e muitas placas limpas e dispostas para servir, a fim de não haver
hesitação nem demora durante as operações fotográficas, que eu mesmo executei
com um ajudante.

“Estando os meus amigos assentados no laboratório, diante da cortina, as
objetivas foram colocadas um pouco atrás deles, prestes a fotografar Katie
quando ela saísse, e mesmo no interior do gabinete, cada vez que levantasse a
cortina. Em cada noite, houve quatro ou cinco posições de chapas nas cinco
câmaras, pelo que nos dava o máximo de quinze provas por sessão. Algumas se
inutilizaram na revelação, outras na regulagem da luz. Apesar de tudo, tenho
quarenta e quatro negativos: uns medíocres, alguns nem bons nem maus, outros,
porém, excelentes. Freqüentemente, levantei um pedaço da cortina, quando Katie
se achava perto dela; as sete ou oito pessoas que estavam no laboratório podiam
ver, ao mesmo tempo, a Srta. Cook e Katie, ao pleno brilho da luz elétrica. Não
podiamos, então, ver o rosto da médium, por causa do xale com que Katie cobria-o
a fim de impedir que a luz a incomodasse, mas, descobrindo suas mãos e seus pés,
vimos que a médium estorcia-se penosamente sob os raios dessa luz intensa, e, de
quando em vez, ouviamos suas queixas. Obtive uma prova de Katie e de sua médium
fotografadas juntamente, mas Katie está colocada diante da cabaçe da Srta. Cook.

Acreditamos não mais ser possível a dúvida: Katie e Cook são, positivamente,
duas personalidades distintas, e a objeção de embuste ou de alucinação coletiva,
atingindo o Sr. Crookes e os demais assistentes, deve ser reprimida. Existe
realmente um Espírito que aparece e desaparece, mas nada prova ainda, dizem os
cépticos, que ele seja um habitante do outro mundo. Com efeito, sabemos, agora,
de um modo quase certo, que o indivíduo humano pode desdobrar-se, e que,
enquanto seu corpo está em determinado lugar, pode-se constatar a presença do
seu duplo em outro lugar, às vezes muito distante do primeiro. As atas da
Society for Psychical Research
mencionam grande número de casos pelos quais
se vê que esses duplos de pessoas vivas falam, deslocam objetos materiais,
podendo-se masmo admitir que eles têm uma existência objetiva. Apliquemos essas
observações à Srta. Cook; quem nos diz que Katie King não seja simples
desdobramento da Srta. Cook? Deixemos ainda a palavra aos fatos; eles vão
destruir essa última objeção, supremo recurso dos negadores:

“Uma das fotografias mais interessantes é aquela em que me acho de pé, ao
lado de Katie; ela tem seu pé descalço pousado num ponto do soalho. Fiz depois a
Srta. Cook vestir-se como Katie; ela e eu nos colocamos exatamente na mesma
posição e fomos fotografados pelas mesmas objetivas, colocados como na anterior
experiência e iluminados pela mesma luz. Quando os dois retratos foram
comparados, as duas fotografias coincidiram exatamente quanto às dimensões, etc,
mas a de Katie excedia à da Srta. Cook, na altura da cabeça; junta desta. Katie
parece uma mulher gorda. Em muitas provas, o tamanho do seu rosto e a grossura
do seu corpo diferenciam-na da médium, fazendo também notar muitas outras
dessemelhanças…

“Vi Katie recentemente, de um modo tão nítido, quando era iluminada pela luz
elétrica, que se me torna possível acrescentar mais algumas notas quanto as
diferenças que, num precedente artigo, estabeleci como existentes entre ela e
sua médium. Tenho a mais absoluta certeza de que a Srta. Cook e Katie são duas
individualidades distintas, ao menos no que se refere aos seus corpos. Pequenos
sinais que existem no rosto da Srta. Cook não aparecem no de Katie. Os cabelos
da primeira são de um castanho-escuro, aproximando-se ao negro; uma mecha dos
cabelos de Katie, que eu tenho à vista, e que, com a sua permissão,
cortei de suas bastas tranças, depois de acompanhá-las com meus dedos até o alto
de sua cabeça, a fim de certificar-me de que aí tinham nascido, é de um belo
castanho-dourado. Certa noite, contei as pulsações de Katie: Seu pulso batia
regularmente 75 pulsações, ao passo que o da Srta. Cook, poucos instantes
depois, atingia 90, seu número habitual. Apoiando o meu ouvido no peito de
Katie, pude perceber-lhe pancadas do coração, mais regulares que as do da Srta.
Cook, como esta me permitiu observar depois da sessão. Experimentodos do mesmo
modo, os pulmões de Katie mostraram-se mais sãos que os da sua médium, que então
se estava tratando de forte defluxo”.

Verificou-se, em todos os casos de telepatia, que a aparição reproduz
absolutamente a forma do corpo e as feições daquele que produz esse fenômeno; é
esse um característico nunca desmentido de tais fatos. Entretanto, vemos que
Katie difere notavelmente da Srta. CooK, tanto no talhe, quanto no rosto e nos
caracteres fisiológicos; logo, Katie e Srta. Cook são duas personalidades
diferentes, tanto física como psiquicamente. Uma última citação vai estabelecer
sobre esse ponto uma convicção absoluta:

“Tenho terminado suas instruções, Katie convidou-me a entrar com ela no
gabinete, e permitiu que aí me conservasse até ao fim.

“Em seguida, tendo levantado a cortina, conversou comigo durante algum tempo
e, depois, atravessou a sala para ir ter com a Srta. Cook, que jazia inanimada
no chão. Inclinando-se sobre ela, tocou-a e disse-lhe: – Desperta, Florence;
desperta! É preciso que eu te deixe.

“A Srta. Cook acordou, banhada em lágrimas, e suplicou a Katie que se
demorasse ainda algum tempo: “Minha cara, não posso fazê-lo; minha missão está
cumprida; que Deus te abençoe!”, respondeu Katie, e continuou a falar com a
Srta. Cook. Durante alguns minutos, elas conversaram, até que as lágrimas da
Srta. Cook impediram-na de falar. Segundo as instruções de Katie, avancei para
amparar a Srta. Cook, que ia caindo no chão, soluçando convulsamente. Olhei,
então, ao redor de mim; mas Katie e o seu vestido branco haviam desaparecido.
Logo que a Srta. Cook se acalmou, trouxeram uma luz e eu a conduzi para fora do
gabinete”.

Não mais pode haver dúvida de que a Srta. Cook conversou, acordada com Katie
e o Sr. Crookes. São três personalidades bem distintas, em três corpos
diferentes. A existência dos Espíritos está irrefutavelmente estabelecida. É tão
real esse fato que os sábios que empreenderam explicar o fenômeno espírita, sem
recurso à intervenção dos desencarnados, nunca ousaram tocar nesses notáveis
trabalhos. Neles, é impossível negar-se a incomparável competência do
observador, sua lógica rigorosa, seu espírito frio e impancial. Nessas
experiências tão pormenorizadas, tão bem dirigidas, sente-se a mão de um homem
que vai em busca do desconhecido, sem hesitação, mas rodeando-se de todas as
precauções possíveis. É o mesmo investigador do começo ao fim, não entusiasta do
fenômeno maravilhoso, mas resolvido a fazer conhecer todas as suas fases, por
mais inverossímeis que pareçam aos seus doutos colegas. Seus trabalhos são para
nós, espíritas, um apoio inabalável, um refúgio seguro contra todos os sofismas
de que, não tendo experimentado por si mesmos e não conhecendo senão pequeno
número de fatos, pronunciam, ex cathedra, que o Espiritismo não é mais
que um disparate.

 

Observação do Sr. Aksakof

 

É necessário acrescentar que ninguém em Londres, com exceção dos imediatamente
interessados, sabia coisa alguma a respeito dessas fotografias, que foram
obtidas na casa do Sr. X. Essas sessões foram totalmente privadas, e nenhuma
notícia delas foi comunicada à imprensa inglesa. Quando fui admitido nesse
círculo, foi sob a condição de não publicar os nomes dos seus membros. Quando
terminamos as nossas sessões, o Sr. X. disse-me que, à vista dos magníficos
resultados obtidos, se eu julgasse necessário mencionar seu nome, ele dispensava
o seu incógnito por mais tempo. Respondi que, certamente, o nome do dono da casa
em que as nossas experiências se tinham efetuado será algo desejável para
completar a narrativa, mas que eu lhe dispensaria o sacrifício, pois que o era
no estado atual da questão, quando se via que Crookes e Wallace não tinham
atraído a crença pública para os fenômenos. Exprimi ao Sr. X. a minha profunda
convicção de que a publicação do seu nome e da sua morada não teria utilidade,
pois ninguém nisso acreditaria, a não ser aqueles que já eram crentes ou que o
conhecessem pessoalmente; e que, além disso, ele ia suspeitar-se às
importunações dos zombadores e dos curiosos de toda espécie. Contudo, sugeri que
talvez fosse melhor eu poder dizer, sem publicar-lhe o nome, que tinha a sua
autorização para comunica-lo em particular às pessoas interessadas na matéria e
que eu julgasse dignas de confiaça. Ficamos de acordo a este respeito. Quanto
aos incrédulos, é seu hábito suspeitar de fraude os médiuns profissionais, como
tendo no fato um interesse material. É claro que, nas minhas experiências,
Eglinton não podia fazer o que era necessário para pôr em prática uma fraude.
Pode alguém querer supor que ele estivesse de combinação com os membros do
círculo e mesmo com o negociante que vendeu as preparações para a fotografia;
mas, o Sr. X. é um homem muito rico, independente e da mesma posição que eu. A
possibilidade de uma fraude de sua parte, teria sido de dícifil execução e
arrastaria complicações, motivo bastante para fazê-lo descobrir. Não se podia aí
tratar de um interesse material. Que interesse, pois, podia ter ele em me
enganar? É díficil conhecê-lo. Por que quereria iludir-me? Era mais fácil e
lógico supor que o fraudulento fosse eu, e o motivo é evidente: tendo-me
devotado ao Espiritismo, eu deveria defendê-lo a todo custo. Havia ido Londres,
tinha obtido todas essas fotografias com Eglinton e agora publicava os nossos
trabalhos.

A incredulidade, todavia, nem me surpreendenem me confunde. Ela é
inteiramente natural e escusável. As convicções não são devidas ao acaso, e,
sim, ao resultado do trabalho de uma vida, de uma época inteira. A crença nos
fenômenos da natureza não se adquire com a razão e a lógica, mas pela força do
hábito, e a força desse hábito faz que o maravilhoso deixe de ser maravilha.

Devo, sobretudo, dizer que o meu objetivo imediato, empreendendo as
experiências que acabo de descrever, era responder a um homem que respeita o
testemunho dos outros, reconhece-lhes o valor e incita os que se interessam
pelos fenômenos mediúnicos a fazer experiências semelhantes. Recordarei as
palavras seguintes do Dr. Von Hartmann, no “Psychische Studien”, número de 1885,
pág. 50:

“É, certamente, uma questão do mais alto interesse teórico saber se um médium
é ou não capaz de exitar em outrem a alucinação de uma figura e bem assim
representar, de qualquer maneira que seja, uma materialização rarefeita, de um
modo objetivo, no espaço real de uma reunião comum a todos os assistentes,
projetando, para essa formação, a matéria do seu próprio organismo, depois
construindo a sua forma. Se a esfera máxima da ação de um médium tiver um limite
intransponível, a prova da realidade objetiva dos fenômenos de materialização
poderia ser fornecida pelas produções mecânicas de um efeito durável e colocadas
fora dos limites da ação do médium. Como este, porém, não é o caso, e como, além
disso nunca se vê os fenômenos de materialização produzirem-se além da esfera
física de ação, só a prova fotográfica poderá estabelecer o fato de que tal
fenômeno apresenta superfície capaz de refletir a luz num espaço objetivo.

“Uma vez que o material restrito do médium não nos oferece segurança, deve-se
procurar obter na fotografia as figuras reunidas do médium e do fantasma, antes
de se poder admitir a objetividade das aparições percebidas somente pela vista
dos espectadores”. (“Spiritisme”, pelo Dr. Von Hartmann.)

Era esse o propósito que eu tinha em vista e que, enfim, foi obtido nas
próprias condições impostas a nós pelo Dr. Von Hartmann. Acredito que ele
próprio, apreciando as condições físicas e morais que a prova fotográfica
reclama, e que foram fornecidas, acha-las-á suficientes para reconhecer a
realidade objetiva da materialização. Para evitar qualquer erro de
interpretação, citarei as suas palavras:

“Para essa prova fotográfica, entendo não se dever admitir que algum
fotógrafo de profissão ou algum médium trabalhe no aparelho com as chapas ou com
o caixilho, de modo que toda suspeita de uma preparação antecipadamente feita no
caixilho ou na chapa, antes de ser nesta estendido o colódio, ou de qualquer
outro artifício, não possa ser admitida. Essas precauções, ao que eu saiba,
ainda não foram tomadas: em todo caso, elas não têm sido mencionadas nos
relatórios aparecidos, nem a sua importância tem sido reconhecida pelos
escritores.

“Sem elas, porém, uma chapa negativa em que o médium e a aparição sejam
visíveis simultaneamente não guarda o menor valor. As cópias positivas de tais
placas, por mais que as multipliquem, não podem, naturalmente, ser aceitas como
evidência”.

“Essas condições, entretanto, como se vê, referem-se à fotografia
transcendental, que é a fotografia da materialização invisível para os
assistentes. Elas são supérfluas para a fotografia ordinária de uma
materialização visível para todos os espectadores da sessão. As narrativas a
respeito das fotografias transcendentais, nas quais o médium e as aparições
foram visíveis simultaneamente, são numerosas: mas, relativamente às da segunda
ordem, a minha narrativa parece ser a mais completa que até hoje apareceu”.

Essas experiências tão criteriosamente dirigidas, tão honestas e
demonstrativas estabelecem com a máxima evidência o fato da fotografia espírita.

Não só os trabalhos de Aksakof confirmam todas as investigações anteriores
sobre o assunto, mas também nos oferecem a prova absoluta da possibilidade de se
fotografar em plena obscuridade. Pois bem! Esses notáveis trabalhos passaram em
silêncio: nenhuma voz se ergueu na ciência oficial para discutir esses fatos ou
dar-lhes uma explicação plausível; todos os pontífices do saber recuaram diante
desses fenômenos imprevistos, que vinham destruir suas teorias materialistas,
esperando, sem dúvida, que jamais a opinião pública julgasse o seu procedimento.

Entretanto, chegou o dia em que é preciso que se expliquem. Ou todas as
narrativas precendentes são falsas, e todos os grandes homens citados não passam
de pobres iludidos, vítimas dos charlatães, ou esses homens de ciência viram e é
tempo de expelir esse torpor dos que estão satisfeitos com o seu saber, de
abandonar suas teorias caducas, substituindo-as por ensinos mais verdadeiros,
mais em harmonia com as descobertas contemporâneas.

Eis, agora, uma outra ordem de fenômenos que apoiam e confirmam toda a série
de manifestações espíritas que até aqui expusemos.

2.6 – Impressão e moldagem

Depois das numerosas fotografias de Espíritos obtidas em todos os países, não
é mais plausível a dúvida quanto à sua existência objetiva, resultando desses
fenômenos a certeza de que a alma, depois da morte do corpo, não é essa entidade
que as religiões e as filosofias nos tinham habituado a considerar.

O Espiritismo ensina, há muito tempo, que o eu consciente ou alma está
envolvido em um corpo sutil chamado perispírito.(11)

Esse perispírito é o molde fluídico no qual se incorpora a matéria durante a
vida; é ele que, sob o impulso da força vital mantém o tipo específico e
individual, porque é invariável no meio do fluxo incessante da matéria orgânica.
Esse perispírito não se destrói na morte, mas se conserva intacto em plena
desorganização da matéria; é nele que se acham gravadas as conquistas da alma,
de modo que esta possa recordar-se do passado.

O Espírito é capaz, em certas condições, de acumular em seu perispírito a
força vital suficiente para dar uma vida momentânea ao organismo fluídico, o
qual, com a matéria que retirado médium, adquire a tangibilidade de um corpo
qualquer; é uma criação verdadeira, mas que só tem uma duração efêmera, visto
ter sido executada fora dos processos habituais da natureza.(12)

Esse perispírito, concretando-se, pode deixar impressões em moldes de
parafina, na argila ou em folhas de papel enegrecido. Vamos apresentar exemplos
dessas diversas manifestações.

 

(11) Gabriel Delânne – “O Espiritismo perante a Ciência”.

(12) Akaakof – “Um Caso de Desmaterialização”.

 

Antes de obter moldes de formas materializadas, verificou-se que os Espíritos
podiam deixar impressões provando a sua tangibilidade. Eis o testemunho de
Zöllner.(13)

“Em um vaso cheio de farinha finíssima, achou-se a impressão de uma mão,com
todas as sinuosidades da epiderme distintamente visíveis; ao mesmo tempo, uma
porção da farinha, com os traços de uma grande e forte mão, foi deixada na calça
do Sr. Zöllner, na altura do joelho, onde ele se tinha sentido seguro um minuto
antes. As mãos de Slade estavam constantemente sobre a mesa e, examinadas, não
tinham traço algum de farinha. A impressão era a de uma mão maior que a de
Slade.

“Obteve-se uma impressão mais durável com o papel enegrecido à luz de uma
lâmpada de petróleo, pregado numa prancheta e sobre o qual apareceu o sinal de
um pé descalço; a pedido dos experimentadores, Slade levantou-se tirou seus
sapatos e mostrou seus pés, mas nenhum traço negro de fumo
ali se encontrou. Seu pé, que foi medido,

tinha quatro centímetros menos que a impressão. Slade e Zöllner repetiram a
experiência, empregando uma lousa em vez da prancheta, e a impressão recebida
foi fotografada e reproduzida.

“Zöllner chama a atenção para o fato de a impressão ser, evidentemente, a de
um pé que foi comprimido pelas botinas, estando um dedo tão coberto pelo outro
que se tornava indistinto. Essa impressão não podia ter sido produzida pelo pé
de Slade…

“Uma tentativa para obter impressões do pé foi bem sucedida sem o contacto de
Slade, ainda que ele tivesse declarado que a coisa parecia-lhe impossível; o Sr.
Zöllner colocou folhas enegrecidas com fumaça da lâmpada no interior de uma
lousa, e esta foi posta em seus joelhos, a fim de se ter à vista. Cinco minutos
depois, em uma sala bem clara, todas as mãos estando sobre a mesa, o Sr. Zöllner
notou que, por duas vezes, se fez uma pressão na lousa depositada em seus
joelhos. Após três pancadas na mesa, anunciando que tudo estava acabado,
abriu-se a lousa, e duas impressões, uma de pé direito e outra de um pé
esquerdo, foram encontradas no papel disposto de cada lado”.

 

(13) Eugêne Nus – Obra citada, págs. 340. 341 e 342.

 

Em Nápoles

 

Eis, agora, impressões deixadas em farinha e em argila. (14)

O professor Chiaia, de Nápoles, também obteve materializações de espíritos
por meio da médium Eusápia Paladino. Não satisfeito de fotografar Espíritos,
quis conservar uma lembrança ainda mais comprobativa: a própria forma da
aparição. Para isso, imaginou a disposição seguinte: Tomando um prato cheio de
farinha, pediu que o Espírito aí imprimisse o seu rosto, a sua mão: o resultado
foi conseguido, mas um tanto confuso por causa da friabilidade da substância
empregada. Então, teve ele a idéia de utilizar-se da argila dos escultores, e
perguntou se o Espírito poderia alí moldar uma cabeça. A vista da resposta
afirmativa, a argila foi posta numa mesa coberta com um véu. A sala achava-se em
obscuridade quase completa; mas, as cinco pessoas que assistiam à experiência
seguraram às mãos uma às outras e, por acréscimo de prudência, tocaram também
mutuamente os pés. Assinalando o Espírito a sua presença, pediu-se-lhe que
produzisse o efeito desejado, no que ele consentiu, e, depois de três minutos,
declarou que estava terminado.

Abriram-se as janelas e viu-se, então, a massa de argila cavada ou, melhor,
comprimida e prestes a receber gesso. A moldagem apresentou uma bela cabeça de
homem sem barba, com expressão de grande melancolia. Um escultor, a quem a
mostraram, declarou que lhe seria preciso um dia de trabalho para reproduzir em
relevo tal obra. A figura estava coberta por um véu, cujas malhas se viam
distintamente no gesso e que tinham grande analogia com um tecido de fio. Não
correspondia a nenhuma das fazendas que se achavam, então, na sala ou que
algumas das pessoas presentes trouxessem em seu vestuário.

Essas experiências reproduziram-se muitas vezes e a modulagem deu sempre
resultado análogo ao pedido feito, com maior ou menor grau de exatidão e
nitidez. Pedia-se ora a frente ou o perfil de um rosto, ora a mão de um homem ou
de uma criança, e, em quase todas as vezes, isso foi satisfeito. (15)

 

(14) Ver “Revue Spirite”, ano de 1887.

(15) Depois dessa época, fizeram-se novas experiências com a mesma médium, as
quais estão, consignadas no livro do Sr. de Rochas, intitulado:
“L’Extériorisation de la Motricité”.

 

Na América

 

Vamos fornecer provas de que o perispírito é bem o molde fluídico do corpo e
verificaremos que, no espaço, ele não perdeu nenhuma das suas propriedades
plásticas; basta fornecer-lhe a força vital e a matéria para que o corpo
material se reproduza total ou parcialmente. (16)

Recorreremos ainda ao Sr. Aksakof, que garante a autenticidade dos fenômenos
seguintes, assim como a perfeita honorabilidade e a capacidade científica dos
observadores. Veremos ainda uma vez que, como todos os outros fatos espíritas,
estes também se produziram em todos os países.

Eis o modo de operar, vulgarmente utilizado nessas circunstâncias;

Duas vasilhas, uma com água fria e outra com água quente, são colocadas na
sala onde se faz a experiência; na superfície da água quente flutua uma camada
de parafina fundida. Se se quiser obter, por exemplo, um molde de mão
materializada, pede-se ao Espírito que mergulhe a sua mão na parafina fluída e,
imediatamente após, na água fria, e que repita por muitas vezes essa operação.
Desse modo se forma na superfície da mão um a luva de parafina, de uma certa
espessura. Quando a mão do Espírito se desmaterializa, deixa um molde perfeito
que se enche de gesso. Basta, depois, mergulhar tudo em água fervendo para que,
fundindo-se a parafina, reste uma impressão exata e fiel do membro
materializado. Tal experiência, desenvolvida com as precauções necessárias,
dar-nos-á, de um modo absolutamente demonstrativo, a cópia durável e minuciosa
do fenômeno temporário de uma aparição tangível.

A idéia da obtenção desses moldes é devida ao Sr. Denton, professor de
geologia assaz conhecido na América. Foi em 1875 que esse experimentador obteve,
pela primeira vez, o molde de um dedo. Eis como ele descreveu o fenômeno em
carta dirigida ao “Banner of Light”, e reproduzida pelo periódico “The Medium”,
em 1875, pág. 17:

“Eu soube, há algum tempo, que quando o dedo é mergulhado na parafina
derretida, sendo esta em seguida resfriada, pode-se destacá-la e, no molde assim
formado, deitar gesso, obtendo-se, dessa maneira uma perfeita

 

(16) Ver a minha obra – “O Espiritismo perante a Ciência”, na qual o
perispírito é longamente estudado. As provas da sua existência durante a vida e
depois da morte aí são minuciosamente expostas.

 

reprodução do dedo. Dirigi ao Sr. J. Hardy uma carta, informando-o de que eu

conhecia um bom processo de obter moldes e pedindo-lhe autorização para
assistir às sessões da Sr.a Hardy, a fim de tentar obter o molde das
mãos do Espírito que alí, com tanta freqüência, se manifestava. Convidado,
compareci em sua residência, munido de parafina e gesso, e, tomadas as
convenientes disposições, começamos as experiências.”

Não sabendo o gênero de experiência que o professor Denton queria tentar, não
se pode acusar o médium de haver, com antecedência, preparado as coisas.

“Colou-se no centro da sala uma grande mesa, que foi coberta com um pano
acolchoado e com a capa do piano, de modo a evitar-lhe a luz tanto quanto
possível. Debaixo da mesa colocou-se um balde de água quente, em cuja superfície
flutuava a parafina derretida. O Sr. e a Sr.a Hardy e eu
assentamo-nos ao redor da mesa e, em plena luz, pousamos as mãos sobre ela;
ninguém mais se achava presente.

“No fim de pouco tempo, percebemos um movimento na água e, de conformidade
com uma comunicação recebida por pancadas, a Sr.a Hardy pôs suas mãos
a algumas polegadas da mesa, entre o pano acolchoado e a capa do piano; assim se
recebeu, com intervalos variados, moldes de quinze ou vinte dedos, cujas
dimensões variavam, desde as de uma criança até as de um gigante; mais da
metade desses dedos era de dimensões maiores que os da médium
.

“Foram reprroduzidos todos os traços da pele, os sulcos das falanges, de um
modo muito distinto. Disseram-nos que o maior era o polegar de Big Dick; este
apresentava justamente a dupla grossura do meu no começo da unha, ao passo que o
menor, com a unha perfeitamente, definida era um dedinho gordo que,
aparentemente só podia pertencer a uma criança de um ano de idade.

“Estou perfeitamente certo de que, enquanto esse moldes eram obtidos, a mão
da médium achava-se distante cerca de 2 pés da parafina. Muitos moldes estavam
ainda quentes no momento em que o Sr.a Hardy retirava-os das mãos que
se apresentavam; muitas vezes, a parafina tinha tão pouca consistência que o
molde ficava inutilizado.

“Desejo chamar a atenção dos Eddys, dos Allan Boy e de outros médiuns de
efeitos físicos para este processo pelo qual os cépticos quanto à realidade das
formas apresentadas podem convercer-se, visto ficar demonstrado que elas são
distintas das do médium. Se moldagens de mãos maiores que as de qualquer homem
podem ser assim obtidas, como acredito, podem também ser produzidas a distância,
fornecendo, desse modo, uma evidência irresistível.

Wellesley, Mass. William Denton.”

Operando do modo acima descrito, obtiveram-se moldes de mãos inteiras e de
pés, com a maior variedade de conformações, em grande número de sessões.

Resumo

 

Acabamos de ver, rapidamente, desenrolar-se diante de nós o encadeamento dos
fatos, desde as mesas giratórias até as aparições materializadas. Verificamos
que cada uma das fases do fenômeno foi estudada no mundo inteiro pelos sábios de
maior competência. Vimos em ação os incrédulos negando obstinadamente os fatos,
até que estes fossem mais bem demonstrados, e que alguns, sendo forçados a
admitir-lhes veracidade, encastelaram-se em teorias que julgaram inatacáveis.
Bem depressa, porém, essas teorias tornaram-se insuficientes, à vista do
desenvolvimento cada vez mais característico das experiências. À mesa girante, à
escrita automática seguiram-se os altos fenômenos do Espiritismo transcendental,
e vemos o cepticismo tentar seus esforços com as hipóteses do Dr. Von Hartmann e
do professor Lombroso.

A última palavra ficou para o espiritismo, que, mais forte, mais vivaz, mais
convinicente que nunca, dirige-se para a conquista do mundo.

No mundo inteiro, fenômenos, desde os mais simples até os mais complexos, são
reproduzidos em abundância diante de observadores, incrédulos, a princípio, e
que os estudaram com uma desconfiança quase injuriosa, até o momento em que
foram convencidos da sua realidade.

Entre essa inumerável quantidade de testemunhos, escolhemos, propositalmente,
aqueles cuja autoridade era maior, tanto pelo valor científico dos observadores
quanto pela honorabilidade de seus autores. Discutimos imparcialmente as teorias
opostas pelos negadores; vimos que os fatos desmentem por si mesmos essas
hipóteses e que não foi com argumentos lógicos, com artifícios de raciocínio que
a sua falsidade se demonstrou, mas, simplesmente, com outros fatos que
destruiram essas pretendidas explicações.

Todos aqueles que tem um nome no domínio das ciências foram chamados a se
pronuciarem; os mestres mais competentes, quando aplicaram tempo suficiente a
essas investigações, proclamaram a incontestável realidade das manifestações
espíritas. Os Espíritos, não se contentando em falar pela mesa e pela escrita,
não satisfeitos em se fazerem ver ou ouvir pelos médiuns, escrevem diretamente,
aparecem aos olhos de toda uma assembléia, deixam-se fotografar e, como
lembrança da sua passagem, legaram-nos reproduções de seus membros
materializados. São as mais cabais e as menos contestáveis provas da existência
da alma depois da morte do corpo; nenhuma negação, nenhum anátema será capaz de
destruir a sublime e inabalável certeza da imortalidade do ser pensante.