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O Libertador

O Libertador

Antigamente quase todas as pequenas cidades do interior, invariavelmente,
tinham um cinema. Pois àquela época era o único meio de diversão do povo. Hoje o
cinema foi substituído pela TV. Antes, saíamos sempre para ir ao cinema, hoje
ficamos em casa defronte à máquina de fazer doidos, horas e horas a fio.

Foi neste tempo, que tivemos a oportunidade de assistir ao fel que contava a
história de Moisés. Ficamos deveras impressionados com este personagem, pois ao
que tudo parecia, tinha parte com Deus, tantos os prodígios que fazia em nome
Dele. Filme épico, que mostrava a história do povo hebreu, escravo no Egito,
sendo libertado por esse nosso personagem.

Criado no palácio real, teve uma formação cultural comum somente à nobreza.
Devia ter conhecimento de todos os segredos ocultos de sua época.

Mas, sempre ficamos a questionar se foi realmente verdadeira a história, que
assistíamos boquiabertos. Hoje, querendo descobrir algo sobre este nosso herói,
fomos pesquisar, na Bíblia, a sua história, para responder alguns
questionamentos que nos saltaram à mente.

A história de Moisés é lenda?

Em Ex 2, 1-4, lemos: “Um homem da família de Levi casou-se com uma mulher
de seu clã. A mulher concebeu e deu à luz um filho. Vendo que era um lindo bebê,
guardou-o escondido durante três meses. Não podendo escondê-lo por mais tempo,
pegou uma cestinha de papiro, calafetou com betume e piche, pôs nela a criança e
deixou-a entre os juncos na margem do rio. A irmã do menino postou-se a pouca
distância para ver o que lhe aconteceria”.

Encontramos a seguinte explicação para esta passagem: “O relato do
nascimento e salvamento
de Moisés se assemelha à lenda contada a respeito
de Sargão,
o conquistador da Mesopotâmia (3º milênio AC). Nascido de pai
desconhecido e de uma mãe que o abandonou nas águas do Eufrates numa cesta de
vime calafetada com betume, foi salvo e criado por um jardineiro real. Depois,
amado pela deusa Istar, se tornou rei durante 56 anos. Lendas semelhantes
contam-se sobre a origem de Ciro, rei da Pérsia, e de Rômulo e Remo, fundadores
de Roma. Com recurso a um tal clichê literário Moisés é colocado entre os
grandes personagens da história”.

Veja bem, se o relato do nascimento e salvamento de Moisés se assemelha a uma
lenda e que lendas semelhantes contam-se a respeito de outras pessoas, podemos
concluir que, por esse pensamento, a história de Moisés é uma lenda.

Quem lhe apareceu na sarça?

Para responder esta questão teremos que recorrer ao que consta narrado em Ex
3, 1-6: “Moisés …chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe o anjo
do Senhor
numa chama de fogo no meio de uma sarça. …Moisés se
aproximava para observar e Deus o chamou do meio da sarça: …Moisés
cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus”.

Ora, as passagens abaixo não dizem a mesma coisa:

Atos 7, 30: “Passados quarenta anos, um anjo apareceu a Moisés no
deserto do Monte Sinai, entre as chamas da sarça ardente”.

Atos 7, 35-36: “…Moisés …Mas Deus é que o enviou como guia e
libertador, por meio do anjo que lhe apareceu na sarça. Então, o anjo
conduziu o povo para fora, realizando milagres e prodígios no Egito, no Mar
Vermelho e no deserto, durante quarenta anos’”.

Atos 7, 38: “Foi ele quem …foi mediador entre o anjo que lhe falava
no Monte Sinai…
”.

Afinal quem apareceu a Moisés, foi o próprio Deus ou foi um dos seus anjos?

Falava face a face ou não?

Vejamos em Ex 33, 11: “O Senhor se entretinha com Moisés face a face,
como um homem fala com o seu amigo”.

Mas, em outra passagem se diz que ninguém poderá ver a face de Deus e
continuar vivo, conforme consta em Ex 33, 20.: “Mas, ajuntou o Senhor, não
poderás ver a minha face
: pois o homem não me poderia ver e continuar a
viver”.

E, mais importante ainda, o próprio Jesus afirma que “ninguém jamais viu a
Deus”
(Jo 1, 18).

Então, o que será que realmente aconteceu? Pressupomos que, talvez tenha sido
um dos anjos quem conversou face a face com Moisés, que o confundiu como sendo o
próprio Deus.

Era um mago ou um profeta?

Os prodígios que Moisés fez, nos colocaram essa dúvida, vejamos as
narrativas:

Ex 7, 10-12: “…Moisés e Arão …fizeram assim como o SENHOR
ordenara
; e lançou Arão a sua vara diante de Faraó, e diante dos seus
servos, e tornou-se em serpente. E Faraó também chamou os sábios e
encantadores; e os magos
do Egito fizeram também o mesmo com os seus
encantamentos. …”.

Ex 7, 19-22: “Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão: Toma tua vara, e
estende a tua mão sobre as águas do Egito,… E Moisés e Arão fizeram assim como
o SENHOR tinha mandado; e Arão levantou a vara, e feriu as águas
…e todas as águas do rio se tornaram em sangue, …Porém os magos do
Egito também fizeram o mesmo com os seus encantamentos
;…”.

Ex 8, 5-7: Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão:… E
Arão estendeu a sua mão sobre as águas do Egito, e subiram rãs,
e cobriram a terra do Egito. Então os magos fizeram o mesmo com os seus
encantamentos
, e fizeram subir rãs sobre a terra do Egito.

Se Moisés já havia transformado as águas do rio em sangue, como é que
os magos do faraó fizeram o mesmo?É o que queremos saber e ainda não encontramos
uma resposta lógica para isso.

Estas passagens descrevem o cumprimento da determinação de Deus por Moisés e
seu irmão Arão, para convencer o Faraó a deixar o povo hebreu partir, liberto da
escravidão, em busca da Terra Prometida.

Ao analisá-las, ficamos numa dúvida cruel. Ora, se os magos do Faraó também
conseguiram fazer essas proezas que Moisés e Arão fizeram, de duas uma: ou
teremos que admitir que o deus do Faraó era tão prodigioso, que conseguia fazer
tudo quanto o Deus de Moisés fez, ou deveremos entender que Moisés e Arão eram,
na verdade, magos, iguais aos que acompanhavam o Faraó, já que todos eles
conseguiram produzir esses mesmos fenômenos.

A primeira hipótese é absurda, pois há um só Deus. Assim, teremos que,
inevitavelmente, ficar com a segunda, ou seja, somos constrangidos a admitir que
Moisés e Arão eram magos, isso se não formos daqueles que o fanatismo cega. Se
bem que pelos textos, quem produziu os fenômenos foi somente Arão, Moisés era
apenas um espectador. Admitindo isso, estas passagens se conflitam com a
determinação contida em Dt 18, 9-12, que, entre várias coisas, Deus proibia a
magia. E aí, quem consegue sair desse dilema, sem usar qualquer tipo de
apelação?

Você, meu caro leitor, poderá até ponderar que essa determinação é posterior
aos acontecimentos narrados. É um fato, e não temos como contestar, entretanto
também não temos como admitir Deus mudando de opinião, pois, para nós, Ele é
imutável, e todas as Suas determinações são para todos os tempos e povos, a
exemplo de: Não matarás, Honrar pai e mãe, não furtarás, ou o não adulterarás!

Realizou milagres?

Mas e os tais milagres realizados por Moisés que tanto se fala, ocorreram ou
não? Para buscar a resposta vamos ver a narrativa de Ex 14, 21-22: “Moisés
estendeu a mão sobre o mar, e durante a noite inteira o Senhor fez soprar sobre
o mar um vento oriental muito forte, fazendo recuar o mar e transformando-o em
terra seca. As águas se dividiram, e os israelitas entraram pelo meio do mar em
seco, enquanto as águas formavam uma muralha à direta e outra à esquerda”.

A explicação para essa passagem está da seguinte forma: “A descrição da
passagem pelo mar Vermelho
corresponde a um fenômeno de ordem natural,
como o sugere a menção do ‘vento forte’ que põe o mar, isto é, uma região
pantanosa, em seco. Tal fenômeno foi providencial para salvar os israelitas e
fazer perecer os egípcios: de madrugada as condições climáticas foram favoráveis
à passagem segura dos israelitas; de manhã mudaram bruscamente e os egípcios
pereceram. Nisto Israel viu a mão providencial de Deus, expressa pela nuvem e
pelo fogo, pelas águas que formaram alas para os israelitas passarem e pela vara
milagrosa de Moisés”.

Assim, podemos concluir, que na realidade a passagem do Mar Vermelho, quando
o mar abriu-se em duas muralhas, é, nada mais nada menos, que um fenômeno de
ordem natural. Mas, por que ainda continuam a afirmar que se trata de um
milagre?

Vejamos agora a narrativa de Ex 16, 13: “De tarde, realmente veio um bando
de codornizes e cobriu o acampamento; …”.

A explicação dada a essa passagem foi: “As codornizes são aves
migratórias que, duas vezes por ano, aparecem em abundância na península do
Sinai, tanto no Golfo arábico como na costa mediterrânea. Exaustas do longo
vôo, podem ser facilmente apanhadas”.

Nós aqui em Minas Gerais, diríamos: Uai!, então não foi milagre? Não
entendo porque ainda continuam dizendo que foi.

Outra passagem para análise é a de Ex 16, 14-15: “Quando o orvalho
evaporou, na superfície do deserto apareceram pequenos flocos, como cristais de
gelo sobre a terra. Ao verem, os israelitas perguntavam-se uns aos outros: ‘Que
é isto?’, pois não sabiam o que era”.

Explicam-nos que: “Da pergunta ‘que é isto?’, em hebraico man hú, a
etimologia popular fez derivar o nome de maná. O maná é o produto da secreção
de certos insetos
que se alimentam da seiva de uma variedade de tamareira do
deserto. Em forma de gotas de orvalho, o maná cai no chão donde é
ajuntado, peneirado e guardado para servir de alimento. Os árabes ainda hoje
chamam a essa substância açucarada, man”.

Noooossa! Então o maná também não foi um milagre.

Essa ocorrência, como as anteriores, são simples fenômenos de ordem natural.
Como explicar que os teólogos sempre disseram que todas elas são milagres?

Ficamos a pensar quantas outras coisas que estão na Bíblia podem ser apenas
fenômenos naturais, vistos, pelos conhecimentos da época, como milagres.

Desculpe-nos, caro leitor, se transferimos a você as nossas dúvidas.

Abril/2002.

Bibliografia:

  • Bíblia Sagrada, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1989, 8ª edição (de
    onde, também, retiramos todas as explicações que os tradutores deram para as
    passagens citadas neste estudo)
  • Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, São Paulo, SP, 1989, 68ª edição.

 

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