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O Perispírito

O Perispírito

“Há corpo animal e há corpo espiritual” diz São Paulo (1 Cor. 15:44). Com
efeito, esse corpo espiritual de São Paulo é o perispírito dos espíritas de
hoje. O perispírito, aliás, não é coisa nova.

No Antigo Egito os sacerdotes ensinavam que além do ka”, o Espírito, emanação
divina, havia uma forma imaterial “sahu”, o fantasma propriamente, que
reproduzia exatamente os traços do corpo físico e que se manifestava aos
encarnados.

Na Grécia antiga, a doutrina inspirada pelos hinos órficos ensinava: “Amai a
luz, e não as trevas. Lembrai-vos da finalidade da vossa viagem. Quando as almas
voltam ao mundo espiritual trazem marcadas sobre os seus corpos etéreos, em
manchas horrendas, todas as faltas da sua vida e, para as apagar, é necessário
voltar à Terra. Mas os puros e os fortes se vão para o sol de Dionísio”.

Na Índia se fala também desse corpo espiritual, porque ele próprio se impõe
como uma realidade incontestável.

Mas não desejamos deter-nos em detalhes nem em considerações dos antigos
filósofos. Preferimos abordar rapidamente as importantes funções do perispírito
no plano material, assim como as suas conseqüências no plano espiritual.

O corpo espiritual, isto é, o perispírito está em cada. um de nós intimamente
ligado ao corpo físico e é tanto mais sutil quanto mais elevado se acha o ser na
escala da perfectibilidade. Vaporoso para nós encarnados é, no entanto, bem
grosseiro ainda para os desencarnados; contudo, os Espíritos purificados podem
elevar-se com ele na atmosfera e transportar-se aonde queiram.

As suas funções no corpo físico são múltiplas e preside a todos os fenômenos
fisiológicos da respiração, da alimentação e assimilação dos alimentos,
extraindo toda a matéria aproveitável, afeiçoando-a a cada órgão e eliminando do
corpo todos os elementos que lhe sejam inúteis ou nocivos. Com efeito, o nosso
organismo é uma complicada máquina que funciona à nossa revelia, sem que, nem de
leve, suspeitemos da sua complexidade.

Um elevado Espírito, respondendo numa sessão a um jornalista inglês que lhe
perguntara sobre o perispírito, disse: “Tenho um corpo que é uma reprodução do
que tive na Terra: as mesmas mãos, pernas e pés, que se movem como o fazem os
vossos. Na Terra eu tinha o corpo físico interpenetrado do corpo etéreo que ora
tenho. O etéreo é o corpo real e é cópia perfeita do corpo terreno. Por ocasião
da morte, emergimos de nossa cobertura de carne e continuamos a nossa vida no
mundo etéreo, funcionando aqui por meio do corpo etéreo, exatamente como
funcionávamos na Terra, metidos no corpo físico. O corpo etéreo é aqui tão
substancial para nós como o era o corpo físico quando vivíamos na Terra. Temos
as mesmas sensações. Sentimos e vemos como na Terra. Embora não sejam materiais,
conforme entendeis esta palavra, os nossos corpos têm forma, aspecto e
expressão”.

É ainda no perispírito que ficam registradas as nossas ações e os nossos
atos, bons ou maus. De fato, todos os acontecimentos da nossa vida são
maravilhosamente registrados em nosso perispírito, nos seus mínimos detalhes;
nada se perde.

Segundo recente declaração do Dr. Wilder Penfield, diretor do Instituto de
Neurologia de1 Montreal, Canadá, o nosso perispírito grava, como num filme,
todos os acontecimentos da nossa vida. A recordação é de tal modo viva que é
como se o indivíduo voltasse a reviver as mesmas cenas, os mesmos fatos.

Pelos fatos registrados nas obras espíritas já sabíamos que em momentos
críticos, como nos acidentes graves, nas quedas perigosas, na asfixia por
afogamento, etc., o indivíduo pode rever, com incrível nitidez, a sua vida até
aquele momento, como se assistisse a um filme no qual ele próprio tomasse parte.

Naturalmente os seus atos bons são motivos de satisfação para o seu Espírito,
enquanto os atos maus são motivo de tristeza e arrependimento. Por aí se pode
avaliar a situação dolorosa de certos Espíritos libertos da carne, tendo diante
de si, permanentemente, os acontecimentos deploráveis que desejariam esquecer.

Eis um fato significativo que comprova as afirmações do Dr. Penfield. O
almirante Beaufort, quando ainda jovem, caiu de um navio à água do porto de
Portsmouth. Antes que fosse possível ir em seu socorro, desapareceu; ia morrer
afogado.

Depois de algumas considerações sobre a angústia do primeiro momento, diz
ele:

“Com o enfraquecimento dos sentidos coincidiu uma superexcitação
extraordinária da atividade intelectual; as idéias sucediam-se com rapidez
prodigiosa. O acidente que acabara de dar-se, o descuido que o motivara, o
tumulto que se lhe deveria ter seguido, a dor que iria alcançar meu pai e outras
circunstâncias intimamente ligadas ao lar doméstico, foram o objeto das minhas
primeiras reflexões. Depois, veio-me à memória o último cruzeiro, viagem
acidentada por um naufrágio; a seguir, a escola, os progressos que nela fizera e
também o tempo perdido, finalmente, as minhas ocupações e aventuras de criança.
Em suma, a subida de todo o rio da vida, e quão pormenorizada e precisa”! E
acrescenta: “Cada incidente da minha vida atravessava-me sucessivamente a
memória, não como simples esboço, mas com as particularidades e acessórios de um
quadro completo! Por outras palavras, toda a minha existência desfilava diante
de mim numa espécie de vista panorâmica, cada fato com a sua apreciação moral ou
reflexões sobre suas causas e efeitos. Pequenos acontecimentos sem
conseqüências, há muito tempo esquecidos, se acumulavam em minha imaginação como
se tivessem passado na véspera. E tudo isso sucedeu em dois minutos”

(Léon Denis, “O Problema do Ser”, pág. 173)

Com efeito, todos os atos da nossa vida e são maravilhosamente registrados em
nosso perispírito. Os menores detalhes são cuidadosamente guardados para, no
momento preciso, na aflorarem nítidos, inconfundíveis – Eis porque Jesus,
estabelecendo a nossa responsabilidade diante da vida, diz: “Até os cabelos da
vossa da cabeça estão contados.”

Reformador – julho/1970 – pg. 161