“O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.”
Jesus de Nazaré
Essa é, talvez, a segunda frase mais utilizada pela pessoas que insistem em dizer que a alimentação a base de corpos de animais não faz mal. Mas sempre questionamos, não faz mal à quem? Porque uma vida é tirada para que exista o bife e isso é um mal.Ou não?
Quando falamos em vegetarianismo essa frase, antes ou depois de ” A carne nutre a carne” logo surge como se Jesus dissesse: “Sim, mate o animal e o coma, só não fale mal de seu irmão”.
Ela é facilmente rebatida por algumas pessoas que logo dizem: “Se não é o que entra pela boca que faz mal, então tome veneno, pois isso não o contaminará. Use drogas, afinal não é o que entra pela boca que contamina o homem. Embriague-se de álcool. Coma em exagero, lembrando que foi isso que culminou com a morte/suicídio de André Luiz. Exagere em tudo, já que não é o que entra pela boca que te contamina, mas o que sai dela.”
Será que Jesus, o Cristo, falaria mesmo um absurdo deste ou será que nós é que entendemos conforme mais nos conforta?
O que contamina o homem são as mentiras que ele conta a si mesmo, que não entram pela sua boca, mas saem dela. O que contamina o homem é sua falsidade em pregar uma coisa e fazer outra. Sua preguiça em mudar . Sua deficiência moral e ética o contamina, todas ações que saem dele.
Quando Jesus disse que o que contamina o homem não é o que entra pela sua boca, ele dizia que somos inatingíveis quando desejamos – a sombra passa pela lama e não se suja com ela – mas que nossas palavras tem força para ferir o outro. Ele quis dizer que nós temos total controle sobre o que pode ou não nos atingir, o que pode ou não nos ferir. Jesus foi insultado, mesmo assim permaneceu em paz e de sua boca saíram apenas palavras de amor. Ele não deixou penetrar em suas carnes todo ódio, todo egoísmo e toda inveja daqueles inimigos que desejavam destruí-lo.
Não podemos, segundo Jesus, necessitar de coisas externas para sermos felizes, para pensarmos no amor, para vivermos em paz; temos que fazer isso internamente; o que Ele disse não justifica matar um ser vivo para se alimentar dele.
Se prezamos tanto o cuidado com nossas palavras, por que do mesmo modo não prezamos nossas ações?
Vamos reler a frase e pensar por um outro ângulo, temos certeza que muitos usuários habituais dela desistirão de usá-la nas próximas discussões:
“O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem”
Vamos supor que talvez comer carne não vá contaminar nosso corpo,talvez não seja a carne em si que faça mal, mas o que ela foi e como se tornou o que é. Só há um detalhe, quem para de comer carne o faz não pela saúde, quem para de comer carne o faz para evitar e para não participar da crueldade que é cometida com milhões de animais. Ou seja, “O que contamina o homem não é o que entra na boca”.
Mas o que sai da boca, isso que contamina o homem, isso que nos contamina:
Quando dizemos que queremos comer carne, estamos falando o seguinte : “Sim, quero que alguém mate um animal para que eu o coma”.
Cada pessoa que come carne ordena, de forma indireta ou até direta , a execução dos animais. É isso o que sai da boca do homem, é isso que o contamina.
Quando você deseja comer seu bifinho, você novamente diz: “Sim meu irmão, trabalhe matando animais dia após dia para que eu os devore.”
“O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem”
É isso que nos contamina, embora seja até possível que a carne em si possa não fazer mal ao nosso corpo, nossas palavras têm nos contaminado com a ação do matar, do ordenar a matança, das execuções em massa, das torturas nos cativeiros, da dessensibilização de milhares de trabalhadores que obrigamos diariamente a matar por nós.
Então, da próxima vez que for usar essa frase, pense bem em quem você está matando e em quem está obrigando a matar, pois é isso que te contamina.
” Cada pedaço de carne que comemos é uma bofetada na cara manchada de lágrimas de uma criança com fome”
Philip Wollen
Ps.: Os conceitos aqui emitidos não expressam necessariamente a filosofia FEAL, sendo de exclusiva responsabilidade de seus autores.