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O sentido da vida

“Prossigo para o alvo” – Paulo (Filipenses, 3:4)

A revista VEJA publicou, na última semana de setembro/99, matéria sobre uma pesquisa
feita nos Estados unidos. Nessa pesquisa foi perguntado o seguinte: Se a pessoa
estivesse na presença de Deus, e se ela pudesse Lhe fazer apenas uma pergunta, o
que indagaria. Quarenta e seis por cento dos entrevistados responderam que perguntariam:
“Qual o sentido da vida”. Isto mostra como há muitas pessoas que não sabem qual
a finalidade da vida; não sabem porque vivem. A vida para elas não tem significado.
As conseqüências disso são fáceis deduzir. A vida fica vazia; a pessoa não se auto-realiza,
não se sente feliz, podendo até chegar a distúrbios psicológicos e mesmo comportamentais.

Entretanto, Jesus nos ensinou claramente qual é o sentido da vida, informando-nos
que somos seres imortais, e que vivemos para realizar a nossa própria evolução espiritual.
que ele chamou de edificar o reino dos céus no nosso íntimo. O Espiritismo recorda
e explica os ensinos do Mestre, esclarecendo-nos que a vida terrena não é um fim
em si mesma, mas um meio, cujo fim é desenvolver a potencialidade do Espírito. Para
isto, o Criador nos dá tarefas compatíveis com a nossa capacidade, ou seja, de acordo
com o nosso grau evolutivo. Ao realizarmos essas tarefas, trabalhamos para nossa
evolução espiritual. Todos possuímos um papel a desempenhar, nesse grande palco
que é a Terra. Qualquer que seja o grau evolutivo, desde o menos evoluído, até o
mais adiantado dos espíritos aqui reencarnados, todos possuímos um trabalho, uma
tarefa, pequena ou grande, sempre adequada a nossa capacidade, e de acordo com nossas
necessidades evolutivas. Descobrir a nossa missão, e realizá-la bem, constitui fator
importante para nos auto-realizarmos e nos sentirmos felizes – a felicidade que
o nosso estágio evolutivo comporta.

Pestalozzi ensinava que o ser humano possui três aspectos: o natural, o social,
e o ético, ou espiritual. Não basta educar o indivíduo para atender suas necessidades
no plano natural (biológico, próprio de todos os animais), nem prepará-lo para a
vida social somente, embora seja um ser gregário. Não basta atender suas necessidades
de cidadão, os chamados direitos da cidadania. Importa atender também o aspecto
ético, espiritual. A doutrina Espírita estabelece que somos Espíritos, animando
temporariamente uma carne. Temos anseios, ideais que transcendem a matéria, pois
há em nós qualidades a serem desenvolvidas. Nossa meta é a perfeição relativa. Para
isto e para a felicidade fomos criados, cabendo a cada um o trabalho de realizar
esse evolver, o desabrochamento de nossas potencialidades.

Há pessoas que julgam ter encontrado o sentido da vida na conquista dos valores
transitórios da existência física. Porém, mais cedo ou mais tarde vão percebendo
que esses valores (dinheiro, poder, saúde, fama, prestígio) não guardam a importância
que julgavam. E como não temos controle sobre esses valores, cedo ou tarde sofremos
a perda deles, por várias maneiras. E há muitas pessoas que experimentam tantas
dificuldades, não conseguem amealhar os valores materiais e se consideram injustiçadas,
infelizes. Entretanto, se nos interessarmos em nos informar acerca dos ensinos de
Jesus e da Doutrina Espírita, e não ficarmos só na teoria, buscando aplicá-los na
vida diária, iremos compreendendo quem somos, e qual o sentido da vida. Não importa
se o indivíduo é rico ou pobre, culto ou de poucos conhecimentos sobre as coisas
materiais; se é sadio ou doente, desta ou daquela raça, todos somos filhos de Deus
criados iguais, subordinados às mesmas leis, e destinados a uma só meta: a perfeição
relativa e a felicidade.

Quando Paulo escreveu aos filipenses a frase citada de início possuía grande
experiência do apostolado. Doutor da lei, autoridade de prestígio, renunciou a tudo
para seguir os ensinos de Jesus. Enfrentou dificuldades imensas, como o abandono
dos próprios familiares, o insulto dos ex-amigos, sendo banido do meio social onde
vivera até então. Passou a se dedicar ao trabalho duro, vivendo com extrema simplicidade;
dava tudo de si em favor do ideal que abraçara. Apesar de todas as dificuldades,
prosseguia, firme, para o alvo, ou seja, para Jesus, realizando sua evolução espiritual,
através do serviço ao próximo.

Reflitamos o que se passa conosco. Recebemos os ensinos através dos livros, dos
irmãos mais evoluídos, dizemos aceitar, mas geralmente ficamos nas palavras. Procedemos
como o operário que foge ao trabalho. Como árvores que só produzem folhas, ou, quando
muito, flores, mas não chegam aos frutos. Não fazemos aquilo em que dizemos acreditar.
Porém, somos o que fazemos, e não o que falamos. Alguém afirmou, com propriedade,
que perdemos o endereço de Deus. Para encontramos esse endereço, devemos buscar
a nossa tarefa, encontrar o lugar em que podemos ser úteis, participar, e não ficarmos
na posição de choramingas, só querendo receber. Alguns procuram sua missão, mas
parece que procuram para não achar. A pessoa não quer se envolver, assumir compromissos,
“vestir a camisa” das boas causas. Cabe a cada um de nós buscar sua missão, e encontrará
o sentido da vida, sua auto-realização, a felicidade que tanto almeja.

(Jornal Verdade e Luz Nº 167 Dezembro de 1999)