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O Vôo da Liberdade e O Vôo de uma alma – drogas

Luiz Carlos D. Formiga

“Que Deus está conosco, em todas as circunstâncias, é verdade indiscutível. Todavia, se você não estiver com Deus, ninguém pode prever até onde descerá seu espírito, nos domínios da intranqüilidade e da sombra”.

André Luiz, Agenda Cristã, pelo médium Francisco Cândido Xavier.

“As Drogas e a Dependência Química”(1) é o título de um vídeo produzido no Leon Denis Vídeo Produções. Este é um tema que sempre nos aguçou a curiosidade, pela extensão mundial da epidemia (admite-se que 2,5% da população mundial usa drogas) e pela necessidade da visão multidimensional do tema.

O Centro Espírita Irmão Samaritano (C.E.I.S.), situado no Rio de Janeiro, reuniu ex-usuários de drogas, seus familiares, profissionais de saúde espíritas e produziu um documentário sobre a dependência química, com enfoque multidisciplinar, dinâmico em alto nível técnico e com excelente qualidade de vídeo. É um esforço louvável. Acreditamos que todas as casas espíritas deveriam assisti-lo. Além do benefício do esclarecimento, da necessária conscientização, do urgente desafio da prevenção o documentário oferece, ainda , uma exata idéia da complexidade do tratamento destes pacientes.

Todos perceberão a questão das drogas como mais um fenômeno biopsicossocial e espiritual.

Os compêndios de psiquiatria afirmam que para o estudo deste fenômeno não podem ser esquecidos três pontos fundamentais: o encontro de uma personalidade com uma droga psicotrópica, dentro de um certo grupo ou contexto socio-cultural.

No livro Dores, Valores, Tabus e Preconceitos(4) , na advertência que fizemos ao leitor introduzimos a frase que ouvimos de um adolescente: “La na escola todo mundo fuma maconha”. A generalização é inadequada, mas dos 200 milhões de pessoas que usam drogas no mundo( , a maioria prefere a maconha ou o haxixe (130 milhões).

O saudosismo vai dizer que sou um velho professor “inativo” da Faculdade de Ciências Médicas, da UERJ, onde o trote era integração. Quando cheguei à Universidade os veteranos me avisaram: “o trote é doação de sangue, como você não tem peso nem altura não vai doar”. Fiquei muito feliz pois assim escapava do trote. Mas, um outro atlético veterano com voz de “Zé Grosso” falou-me: “mas, quem não doa vai tirar”. Foi a primeira aula prática de punção venosa. Com que alegria observamos o líquido vermelho aprovar a minha técnica.

Uma de minhas filhas não teve a mesma sorte. Fui encontrá-la em um sinal de trânsito, com as roupas trocadas, pedindo esmola, para os veteranos gastarem no bar. Nossos valores estão em baixa. O mal é audacioso e os homens de bem continuam muito tímidos. No entanto, outros alunos entregaram o que arrecadaram em mantimentos ao orfanato que indiquei o endereço. Precisamos agir ou teremos problemas não resistindo ao trote violento, puro sadismo, apenas para humilhar, sem a finalidade integradora-pedagógica. Calouros humilhados e apavorados podem oferecer reações inesperadas e conseqüências graves precisam ser evitadas. Essas coisas acontecem quando o “caldo de cultura” oferece condições ótimas de crescimento do micróbio veterano patogênico por excelência. Muitos deles poderão ser eleitos no futuro sem o voto consciente.

Um aluno veterano nos confidenciou, na universidade: “ os dólares arrecadados na temporada de caça ao calouro são, em alguns casos, gastos em álcool e maconha”.

A atuação da polícia na repressão ao tráfico não consegue apreender nem 20% das drogas comercializadas em todo o mundo. Por isso a visão destorcida do menino: “lá na escola todo mundo fuma maconha!”

O Dr. Sarinho, da Associação de Medicina e Espiritismo da Paraíba(7), diz que “o narcotráfico, nome pomposo para o tráfico de drogas, é um animal monstruoso de mil tentáculos e mil cabeças, espalhados pelo mundo”. Creio que a imagem surgiu quando Sarinho ouvindo uma notícia de TV, percebeu que os mil cérebros chegaram a conclusão de que deveriam investir na infância e na adolescência. A estratégia, difícil acreditar que seja verdade, seria utilizar “meninos de rua.” Com seu poder econômico iriam tirar das ruas as crianças, abandonadas pela sociedade atual, matriculá-las nos colégios particulares, dar-lhes uniformes, sapatos e livros , após instruí-las, dar-lhes drogas, para que elas se tornem seus intermediário. Isto parece um delírio, exemplo daquilo que os jovens se referem como: “viajou na maionese”. Outra viagem, ou delírio, semelhante é aquela que narra a expectativa do narcotráfico em relação a aprovação da Lei do aborto. Uma vez aprovado o genocídio eles comprariam e multiplicariam as “clínicas”, bom investimento, próspero negócio.

O Núcleo Universitário do Fundão sugeriu, ano passado, o voto consciente no seu opúsculo. O leitor interessado pode ver as questões na RIE, LXXIII(8): 360, setembro, 1998, com o título: “Antes de votar pergunte ao seu candidato sobre o aborto”. Se estes boatos tiverem um pingo de verdade, o Sarinho vai me perdoar, mas o monstro não tem apenas mil cabeças!

Nosso vídeo é espírita, mas a Codificação tem apenas 142 anos . O movimento espírita ainda é um embrião em termos do viver como espíritas, como referido por Luís de França, através da mediunidade de Ermance Dufax, na residência do Prof. Rivail, no dia do lançamento de O Livro dos Espíritos(2).

Se procurarmos orientações, na vasta coleção de obras de escritores espíritas, sobre a questão das drogas veremos que são escassos os títulos sobre este tema. Ainda estamos adentrando num tópico diversificado e controvertido e devemos levar em consideração que do tratamento à prevenção este é assunto que carece de verdade científica única.

Para leitores infanto-juvenis, com boa divulgação, vemos o livro “De Olhos Bem Abertos – A Realidade das Drogas”, da pedagoga Cléo de Albuquerque Mello(6). No seu prefácio encontramos o enfoque do livro: “Cléo sabe, que quando o problema é drogas, uma grama de prevenção pode valer mais do que uma tonelada de cura”. Isto nos lembrou um dos casos descritos pelo Dr. Andrade, no livro “As Drogas e Suas Conseqüências”(5). A jovem, proveniente de classe média-alta foi enviada para a Inglaterra. Seu pai queria afastá-la das areias da praia do Arpoador e da maconha. Mas na Inglaterra não era maconha, mas morfina mesmo. Quando o traficante constatou a dependência “mudou o tom da voz: – De agora em diante eu só darei a sua droga se você trabalhar para mim!”. O restante o leitor pode imaginar. Gostaria de sugerir a leitura de um artigo que publicamos na Revista Fraternidade (Lisboa), 419: 149-154, maio, 1998, e que pode ser encontrado, para cópia, no Boletim 294 do geae (Grupo de Estudos Avançados Espíritas), http://www.geae.org/, ou em artigos no NEU-RJ, http://zap.to/neurj. Seu título é “Sexo: Artigo de Compra e Venda”.

No video “O Vôo da Liberdade”(1) , falamos ligeiramente falamos sobre o que a Doutrina Espírita pode oferecer. O documentário discute diversas questões, destaquemos algumas: como explicar a vulnerabilidade de determinadas pessoas diante das drogas? As drogas podem trazer à tona instintos primitivos arquivados no inconsciente profundo? Que tipos de comportamentos poderiam ser explicados desta forma? Que tipo de educação recebida pela criança pode favorecer seu consumo no futuro? Um indivíduo já pode ser um “dependente” mesmo antes de usar a droga pela primeira vez? O tratamento é demorado? Qual o valor dos grupos de Alcoólicos Anônimos e Narcóticos anônimos? É difícil ajudar quem diz: “Eu não sou dependente. A hora que eu quiser deixar, eu deixo”? A quimiodependência pode ser provocada por espíritos desencarnados? Por que pessoas bem sucedidas na vida, executivos, artistas, consomem drogas? Como o Centro Espírita pode ajudar na prevenção? E a família como vai?

Na questão da droga os extremos sociais se tocam, os muito pobres e os muito ricos são irmanados. E o pior e que “nossas autoridades são impotentes, nossas polícias despreparadas e nossos governantes não tomam uma decisão política sobre tão grave situação” (7).

“Há quem argumente que a miséria é o principal responsável pelo estado caótico em que se encontra a humanidade. Mas se a riqueza fosse suficiente para manter o equilíbrio do homem, não teríamos suicídios e crimes entre as pessoas mais ricas”(8).

“As conquistas científicas e tecnológicas não foram capazes de, sozinhas, preencher o vazio criado na civilização ocidental”(7). “se aprendermos a racionalizar a nossa vida, constataremos que o carro de 30 mil ou o de 10 mil, nos levam ao mesmo lugar”. “A maior vantagem de quem vive sem artifícios é que é uma pessoa de verdade. Não precisa se preocupar em fazer tipos, tendo bolso de pobre e garganta de milionário”(8).

Com Celso Martins(5), na coordenação, surgiu o livro “As Drogas e Suas Conseqüências” e não esquecemos da interface com a Sindrome de Imunodeficiência Adquirida. “O grande investimento do momento não se faz na poupança, nem no CDB ou na Bolsa de Valores. O melhor lugar para investir é na família”(8). No capítulo sobre alcoolismo(5) comentamos que os estudos epidemiológicos, ao contrario da enfase experimental, orientam-se para a estrutura geradora do fenômeno e que, em linhas gerais, as taxas de consumo são mais elevadas nos países ricos, no subconjunto populacional em que as famílias não são coesas.

O Video “O Vôo da Liberdade”(1) e o livro “O Vôo de uma Alma”(3), onde Freitas, nos oferece um pequeno ensaio sobre um dos maiores valores literários e doutrinários do Espiritismo no Brasil, a médium Yvone do Amaral Pereira, surgem no Centro Espírita Leon Denis, no Rio de Janeiro, na mesma época e com títulos parecidos, mas qualquer semelhança foi mera coincidência. Através da médium Nilva Salata Silva, no C.E.I.S., do Além recebemos depoimentos (9) . Não temos dúvida, usar drogas é suicídio!

Referências:

  1. As Drogas e a Dependência Química. “O Vôo da Liberdade”. Léon Denis Vídeo Produções. C.E. Irmão Samaritano. Rua José Sardinha 247. Sulacap. Rio de Janeiro. RJ. CEP 21741-120. Tel. (021) 3357.5153. Projeto Cristo Consolador.;
  2. Carrara, O.P. No dia do lançamento. Revista. Internacional de Espiritismo, LXXIV (3): 128-129, abril, 1999;
  3. Freitas, A.M. Yvonne do Amaral Pereira. “O Vôo de Uma Alma”. Edições Centro Espírita Léon Denis (CELD). Rio de Janeiro. RJ. 1999;
  4. Formiga, L.C.D. Dores, Valores, Tabus e Preconceitos. Edições CELD, RJ. RJ. 1996;
  5. Martins, C.; Pastana, J.A.; Formiga, L.C.D; Andrade,O.M. & Silveira, R. As Drogas e Suas Conseqüências. Editora Fonte Viva, BH. MG. P. 167. 1993;
  6. Mello, C.A. De Olhos Bem Abertos. A Realidade das Drogas. Publicações Lachâtre. Niterói. RJ. 1998;
  7. Sarinho, G.T. Revista. Internacional de Espiritismo, LXXIV (3): 128-129, abril, 1999;
  8. Serrano,O.C. Onde Foi Que Eu Errei? Revista Internacional de Espiritismo, LXXIII(6): 261-262, julho, 1998;
  9. Silva, N.S. Depoimentos do Além, Editora Fonte Viva, BH. MG.

Luiz Carlos D. Formiga, Rio de Janeiro. ( [email protected])

Revista Internacional de Espiritismo, LXXIV(5): 213-215, junho, 1999.