Diz o eminente Léon Denis em seu livro O Porquê da Vida (capítulo 6,
páginas 61 a 76 da edição CELD): “(…) Sendo o objetivo da vida o
aperfeiçoamento intelectual e moral do ser, que condição, que meio melhor nos
convém para realizar esse objetivo? O homem pode trabalhar para esse
aperfeiçoamento em todas as condições, todos os meios sociais; entretanto, ele
terá êxito mais facilmente em certas condições determinadas. A riqueza
proporciona ao homem poderosos meios de estudo; permite-lhe dar ao seu espírito
uma cultura mais desenvolvida e mais perfeita; coloca em suas mãos facilidades
maiores de aliviar seus irmãos infelizes, de participar, tendo em vista o
melhoramento de sua sorte, de fundações úteis. Mas são raros aqueles que
consideram como um dever trabalhar pelo alívio da miséria, pela instrução e pelo
melhoramento dos seus semelhantes. A riqueza muito freqüentemente resseca o
coração humano; apaga essa chama interior, esse amor do progresso e dos
melhoramentos sociais que reaquecem toda alma generosa; ela eleva uma barreira
entre os poderosos e os humildes; faz viver num meio em que os deserdados desse
mundo não atingem e onde, por conseguinte, as necessidades, os males destes são,
quase sempre, ignorados, desconhecidos. A miséria também tem seus assustadores
perigos: a degradação dos caracteres, o desespero, o suicídio. Mas, enquanto a
riqueza nos torna indiferentes, egoístas, a pobreza, aproximando-nos dos
humildes, nos faz compartilhar de suas dores. É preciso ter sofrido em si mesmo
para apreciar os sofrimentos de outrem. Enquanto os poderosos, no seio das
honras, invejam-se entre si e procuram rivalizar em esplendor, os pequenos,
reaproximados pela necessidade, vivem, às vezes, numa comovedora fraternidade.
Vejam os pássaros dos nossos climas durante os meses de inverno, quando o céu
está sombrio, e a terra está coberta com um branco manto de neve; aconchegados
uns aos outros, à beira de um telhado, eles se aquecem, mutuamente, em silêncio.
A necessidade os une. Porém, voltam os belos dias, o Sol resplandecente, a
provisão de alimentos abundante, eles gritam cada um mais do que o outro,
perseguem-se, batem-se, despedaçam-se. Assim é o homem. Doce, afetuoso para com
seus semelhantes nos dias de tristeza, a posse dos bens materiais torna-o, muito
freqüentemente, esquecido e rude. (…) Esclarecido sobre o objetivo da vida e o
porquê das coisas, permanecerá firme, resignado diante da dor, saberá fazê-la
servir para sua depuração, para o seu adiantamento. Enfrentará a prova com
coragem, sabendo que ela é salutar, que ela é o choque que rasga nossas almas, e
que, unicamente através desse despedaçamento, pode se extravasar o fel que está
em nós (…)”.
E podemos concluir com palavras do mesmo autor: “(…) Que fizeste de tua
vida? (…)” Ideal que a resposta fosse: “(…) Lutei, sofri, amei, ensinei o
bem, a verdade, a justiça; dei aos meus irmãos o exemplo da retidão, da doçura;
aliviei os que sofrem, consolei os que choram (…)”
Eis uma bela reflexão para os difíceis dias do presente e sem dúvida, um
verdadeiro roteiro para os anos que “voam” e em breves dias nos colocará frente
a frente com a própria consciência.