É muito comum escutar que estamos aqui na Terra de passagem e que a vida verdadeira é no mundo dos Espíritos.
Lá, alguns dizem, é nossa verdadeira pátria. Lá, sim, a vida é de verdade, repleta dos melhores amigos e sentimentos. Aqui é apenas um ensaio…
Entretanto, não é bem assim.
No atual estágio evolutivo ainda estamos sujeitos às rodas da reencarnação, ou seja, voltaremos à matéria incontáveis vezes, de modo que, ainda viajantes, não podemos afirmar que lá, no mundo dos Espíritos é nossa morada verdadeira.
Será um dia, mas ainda não é.
Por que abordo esta questão?
Pela razão de que tenho percebido muita gente ignorando a importância da vida material para o progresso do Espírito, a tratar a matéria como algo que, a grosso modo expressando, não é lá uma coisa muito boa, num dualismo injustificado, do tipo: Espírito x Matéria.
Ora, imaginam:
Se a vida verdadeira é lá, esta aqui, então, é mera ilusão. Por qual razão devo dar-lhe importância, já que o que ocorre de real está tudo do lado de lá?
Para Deus, porém, não há diferenças. Somos todos, indubitavelmente, seus filhos, portanto, para a Inteligência
Suprema tanto faz estarmos encarnados ou desencarnados.
Tudo é vida; para Deus, tudo pulsa, vibra, vive…
A vida material é fundamental à ascensão do Espírito. Há, na literatura espírita, vasto material que comprova isto.
Vejamos o diálogo que Kardec estabelece com o Espírito de Verdade em Obras Póstumas:
Kardec indaga:
– Disseste que serás para mim um guia, que me ajudará e protegerá. Compreendo essa proteção e o seu objetivo, dentro de certa ordem de coisas; mas, poderias dizer-me se essa proteção também alcança as coisas materiais da vida?
Eis a resposta
R – Nesse mundo, a vida material é muito de ter-se em conta; não te ajudar a viver seria não te amar.
Percebam a preocupação do codificador em saber sobre a vida material, e a resposta do benfeitor é clara no que tange à existência física.
O diálogo prossegue e é muito interessante, deixo, pois, a critério do leitor a pesquisa.
Mas não paramos por aqui.
Na questão de número 132 de O livro dos Espíritos, Allan Kardec assim ensina:
“A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na Sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar Dele. Deste modo, por uma admirável lei da
Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.”
Perceba que o codificador coloca a ação do ser encarnado como necessária para que a marcha do Universo se cumpra.
Ou seja, a vida aqui na matéria é, sim, fundamental à evolução do Espírito, portanto, repleta de importância e valor.
O que faz o codificador é convidar-nos a viver bem onde estivermos. Estou reencarnado, viverei bem, produzirei, trabalharei para que tudo transcorra em harmonia, arregaçarei as mangas e colaborarei para que as coisas aconteçam. Não serei um peso, mas alguém que, definitivamente, colabora com Deus.
Caso esteja desencarnado a mesma situação, trabalharei, produzirei, estudarei, enfim, acenderei em mim a luz da
Verdade, porquanto, conforme assinala Jesus, ela é libertadora.
Seja aqui, seja no além, que façamos de nossa vida uma verdade; que transformemos este exato momento em um instante verdadeiro e sem grandes preocupações de onde está a nossa verdadeira vida, nossa real morada, porque ela, em suma, reside em nosso coração.
Enfim, a verdadeira vida não está no local geográfico em que nos encontramos, mas no mundo íntimo.
E como diz o poeta:
Que seja, nossa vida, eterna enquanto dure…
Que seja verdadeira, intensa e, sobretudo, permeada por reflexões e ações no campo do bem.
Pensemos nisto.