João Alberto Vendrani Donha
Com minhas desculpas pela generalização, mas existem dois tipos difíceis de agüentar: um é o intelectual quando se torna espírita, o outro, o espírita quando se torna intelectual.
Alguém deve estar se perguntando o quê, afinal, é um intelectual? Nós sabemos o que é. Houve um general-presidente, cujo nome esquecemos a pedido dele, que ao ser informado que os intelectuais queriam a abertura perguntou o que era um intelectual, e questionou porquê o Chico Buarque era chamado de intelectual e ele não, pois, se fosse porque o Chico sabia matemática, ele também sabia! Mas isto não vem ao caso, vamos voltar ao primeiro parágrafo.
O intelectual nunca se defrontou seriamente com o assunto Espiritismo. Não o encontrou nos tratados de filosofia, nos bancos acadêmicos nem pós-acadêmicos, nas tertúlias críticas ou artísticas, nas rodinhas do bar. Somente nas conversas escrachadas sobre bons e maus fluidos, espíritos que baixam, superstições e assombrações. Eis que numa esquina da vida, seja por que razão for, encontra-se e convence-se do Espiritismo. Descobre que o tal Kardec tinha razão, e o ingênuo padeiro de sua rua também: os espíritos existem, comunicam-se através dos médiuns, reencarnam, auxiliam, obsidiam, e outras coisas mais. Pronto, é o que basta! Toma-se de ansiedade, julga-se o primeiro intelectual a tomar consciência disso, já que em toda sua vida acadêmica não notou tal importante verdade, e se prepara para ser o Paulo de Tarso do Espiritismo. Daí que a nossa imperfeição torna difícil suportar sua natural ansiedade em fazer todo mundo aceitar o que ele acabou de aceitar, e em achar que tudo foi feito errado antes dele na divulgação do Espiritismo, Demora algum tempo até notar que já existe uma sólida filosofia estruturada sobre essas verdades elementares, competindo a ele estudá-la humildemente e acrescentar seus valiosos e bem-vindos tijolos à construção permanente.
O espírita de berço, crisma seus conhecimentos nas aulas dominicais e na mocidade, cresce adquirindo uma visão história onde Kardec se agiganta e o Espiritismo é uma importante etapa na evolução da humanidade. Ao entrar na faculdade e iniciar seu relacionamento com o mundo oficial do conhecimento não vê nada disso. Entre os professores, os veteranos, os doutorandos, os intelectuais ninguém o conhece e, quando alguém o conhece pede para que fale baixinho sobre ele, não vão os outros escutarem. Então ele se decepciona. Por um lado, sente-se traído pela família, pelo centro, pelos amigos, que até então lhe deram uma visão, ao que lhe parece agora, distorcida da realidade cultural. Por outro sente-se indignado porque a cultura oficial marginaliza algo que ele percebe ser importante. Daí que a nossa imperfeição torna, também nesse caso, difícil suportar sua natural ansiedade. Ele se divide entre, de um lado, achar que Kardec e o Espiritismo estão superados; que tudo, a linguagem, as formulações, etc., devem ser atualizados; que nós, espíritas mais antigos, não sabemos o que ele descobriu agora sobre física quântica, holismo, paradigmas, etc., pois se o soubéssemos não ficaríamos a falar em fluidos e revelações. E, por outro lado, o desejo quase intempestivo de fazer que a universidade aceite o Espiritismo como ciência.
O Espiritismo, na definição de Kardec, é a ciência que estuda os espíritos, sua vida, sua evolução e as relações entre os que estão nesta vida e os que estão na outra. O objeto da ciência espírita é, portanto, o espírito. Ora, ele não poderá ser aceito no rol das ciências oficiais, enquanto estas não aceitarem o seu objeto. As corporações científicas já assimilaram as ciências que têm como objeto a mediunidade, ainda que não com esta denominação, como por exemplo a parapsicologia. Mas, o que para a parapsicologia é objeto, para o Espíritismo é apenas instrumento para o estudo de seu verdadeiro objeto.
Curitiba, Paraná
Abril 2001
Centro Espírita Luz Eterna – CELE
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