“Afluindo uma grande multidão, e vindo ter com ele gente de todas as cidades,
disse-lhes Jesus, por semelhança: -Saiu o que semeia, a semear a sua semente. E,
ao semeá-la, uma parte caiu junto ao caminho, foi pisada e as aves do céu a comeram.
Outra caiu sobre pedregulho, onde não havia muita terra; nasceu depressa; mas, logo
que saiu o sol, entrou a queimar-se, e, como não tinha raiz, secou. Outra caiu entre
espinhos, e logo os espinhos que nasceram com ela a afogaram. Outra, finalmente,
caiu em boa terra, vingou, cresceu, e alguns grãos deram fruto a trinta, outros
a sessenta, e outros a cento por um. Dito isto, começou a dizer em alta voz: – O
que tem ouvidos de ouvir, ouça. Então os seus discípulos lhe perguntaram que queria
dizer essa parábola, e ele, explicando-a, lhes respondeu: – A semente é a palavra
de Deus. A que cai à beira do caminho, são aqueles que a ouvem; mas, depois, vem
o mau e tira a palavra de seus corações, para que não suceda que, crendo, sejam
salvos. A que cai no pedregulho, significa os que recebem com gosto a palavra, quando
a ouvem; mas, não tendo raízes, em sobrevindo a tribulação e a perseguição por causa
da palavra, logo se escandalizam e voltam atrás. Quanto a que caiu entre espinhos
são os que ouvem a palavra; mas, os cuidados deste mundo, a ilusão das riquezas
e as outras paixões a que dão entrada, afogam a palavra, e assim fica infrutuosa.
Mas a que caiu em boa terra, são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom,
a retêm e dão fruto com perseverança” (Mateus, 13:1-23; Marcos, 4:1-20; Lucas,
8:4-15).
Nesta interessante parábola, Jesus retrata magistralmente o feitio moral de cada
um daqueles aos quais o Evangelho é anunciado.
Conforme a, sua má ou boa vontade na aceitação da palavra de Deus, e a maneira
como procedem após tê-la ouvido, os homens podem ser classificados como “beira de
caminho”, “pedregal”, “espinheiro” ou “terra boa” .
A primeira classificação refere-se aos indiferentes, isto é, aos indivíduos ainda
imaturos, não preparados para tal semeadura, indivíduos que se expressam mais pelo
estômago e pelo sexo e cujos corações se mostram insensíveis a qualquer apelo de
ordem mais elevada.
A segunda diz respeito a. uma classe de pessoas de entusiasmo fácil, que, ao
se lhes falar do Evangelho, aceitam-no prontamente, com júbilo; mas, não encontrando,
dentro de si mesmas, forças suficientes para vencerem o comodismo, os vícios arraigados,
os maus desejos, etc., sentem-se incapazes de empreender a reforma de seus hábitos,
a melhora de seus sentimentos, e, se acontece surgirem incompreensões e dificuldades
por causa da doutrina, então esfriam de uma vez, voltando, presto, ao ramerrão de
vida que levavam.
Os da terceira espécie são aqueles que, embora já tenham tido “notícias” dos
ensinamentos evangélicos, e os admirem, e os louvem até, sentem-se, todavia, demasiadamente
presos às coisas materiais, que consideram mais importantes que a formação de uma
consciência espiritual. Os medos do futuro, a luta pela conquista de garantias pessoais,
vantagens e luxuosidades, sufocam, no nascedouro, os sentimentos altruísticos ou
qualquer movimento de alma que implique a renúncia aos seus queridos tesouros terrestres.
Os definidos por último personificam os adeptos sinceros, nos quais as lições
do Mestre Divino encontram magníficas condições de receptividade. Abraçam o ideal
cristão de corpo e alma, e se esforçam no sentido de pô-lo em prática. Embora sofram
tropeços e fracassem algumas vezes, perseveram, animosos, resultando de seu trabalho
abençoados frutos de benemerência e de amor ao próximo.
“Quem tenha ouvidos de ouvir, ouça”.