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Parábola dos Dois Filhos

Parábola dos Dois Filhos

Um dia em que Jesus, tendo ido ao templo de Jerusalém, ensinava ao povo, anunciando-lhe
o Evangelho, chegaram-se a ele os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciães,
e o interpelaram com que autoridade fazia tais coisas. O Mestre redargüiu com outra
pergunta, a que não souberam responder, e, porque ficasse evidente a hipocrisia
deles, lhes propôs, em seguida, esta parábola: “Que vos parece? Um homem tinha dois
filhos, e, chegando ao primeiro, lhe disse: Filho vai trabalhar hoje na minha vinha.
Ele respondeu: Não quero. Mas depois, tocado de arrependimento, foi. Falou do mesmo
modo ao outro, que, respondendo, disse: Irei, senhor. Mas não foi. Dito isto, indagou:
Qual dos dois fez a vontade do pai? Responderam eles: o primeiro. Jesus então os
censurou com estas palavras: Na verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes
entrarão primeiro que vós no reino de Deus”. (Mateus, 21:28-31).

Os dois filhos, nessa imaginosa e interessante parábola, constituem modelos das
duas espécies de personalidade predominantes entre os terrícolas.

O filho que disse: não vou; mas depois, arrependido, foi, representa aqueles
que, indiferentes aos ideais superiores, levam uma vida puramente mundana, deixando-se
dominar pelos vícios e paixões que constituem o deleite de toda carne ainda não
sujeita ao espírito.

Chega um dia, porém, em que, saturando-se das misérias dessa vida e enojados
dos falsos prazeres, “caem em si”, descobrem os gozos e delícias que a alma pode
sentir na virtude e na prática do Bem, e então, sinceramente arrependidos, se regeneram,
transformando-se em obreiros da “vinha do Senhor”.

O filho que disse: irei, Senhor; mas não foi, personifica, a seu turno, os devotos
sem obras, os que atravessam toda a existência procurando manter uma aparência de
respeito e de religiosidade, que se mostram muito cuidadosos no tocante às “obrigações”
estatuídas pelo culto tradicional, como se isso fosse “tudo”, e, nessa enganosa
suposição, não cogitam de vencer suas fraquezas e imperfeições, nem se preocupam
em realizar algo a benefício da coletividade.

Esses tais geralmente gozam de bom conceito, são tidos e havidos como pessoas
inatacáveis, sentem-se orgulhosos e satisfeitos por isso; entretanto, não estão
correspondendo ao chamado para o bom trabalho.

Incluem-se neste número os mentores religiosos de todos os credos, que deveriam
guiar os membros de suas igrejas ao conhecimento da verdade e, com seus exemplos,
edificá-los na observância às Leis de Deus, mas que, ou por desídia, ou porque se
achem absorvidos em questões de interesse material, não cumprem a elevada missão
de que estão investidos.

Por isso é que Jesus, dirigindo-se aos sacerdotes, escribas e anciães, cujos
deveres eram precisamente esses, lhes disse, sem rebuços, que “os publicanos e as
meretrizes lhes levariam a dianteira para o reino de Deus”.

Publicanos e meretrizes simbolizam, aqui, os grandes pecadores, aos quais a sociedade
tem como réprobos desprezíveis e indignos de qualquer auxílio divino.

Não obstante, o Mestre declara que eles entrarão no reino dos céus antes daqueles
que contam com a aprovação social e já se consideram “salvos”.

E’ que esses pecadores, porque muito vêm a sofrer, adquirem sensibilidade, tornam-se
acessíveis, e, quando tocados pelo amor, mudam de vida. Aproveitando, então, a experiência
adquirida através de duras provas, alguns há que se tornam santos até, legando ao
mundo exemplos admiráveis de verdadeiro renascimento espiritual.