Tamanho
do Texto

A Parábola do Filho Pródigo – A Lei dos Ciclos

A Parábola do Filho Pródigo – A Lei dos Ciclos

Maximino Paulo Vanin

 

O Espiritismo será a Religião do futuro? Não. O Espiritismo será o futuro das
religiões. EMMANUEL.

Deixemos que o evangelista nos conte, mais uma vez, sua linda mensagem de
esperança para todos nós, peregrinos há muito desgarrados e humilhados em terra
distante, que ansiamos voltar à Casa do Pai:

“Um homem tinha dois filhos. O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte
da herança que me cabe.’ E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois,
ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem partiu para uma região
longínqua a ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou tudo. Sobreveio
àquela região uma grande fome, e ele começou a passar privações. Foi, então,
empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus campos
cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas (cascas) que os porcos
comiam, mas ninguém lhas dava. E caindo em si, disse: ‘Quantos servos de meu pai
têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu
pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou mais digno de
ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados.’ Partiu, então, e
foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda longe, quando o seu pai o viu,
encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
O filho, então. Disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus servos; ‘Ide depressa,
trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, pode-lhe um anel no dedo e sandálias
nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e festejamos, pois este meu
filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi reencontrado!’ E
começaram a festa. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já
perto da casa ouviu músicas e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que
estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É teu irmão que voltou e teu pai matou o
novilho cevado, porque o recuperou com saúde.’ Então ele ficou com muita raiva e
não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe. Ele porém, respondeu a seu
pai: ‘Há tantos anos eu te sirvo, e jamais transgredi um só dos teus
mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Contudo,
veio esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o
novilho cevado!’ Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o
que é meu é teu. Mas era preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois este
teu irmão estava morto e tornou a viver, ele estava perdido e foi reencontrado.”
JESUS, em Lucas, 15:11 a 32.

Para a maior parte dos cristãos, que por diversas vezes ouviram referências a
essa parábola em sermões dominicais, a história significa pouco mais do que a
infinita generosidade do Pai, que recebe de braços abertos o filho pródigo que
saiu de sua casa para entregar-se à devassidão, dissipando sua herança. É mais
uma lembrança de que o erro não compensa, mas que, em última análise, se
tivermos a desgraça de cair no pecado (e quem não caiu incontáveis vezes?)
podemos, por meio da verdadeira contrição, ser perdoados e recebidos de novo
pelo Pai.

Essa interpretação singela tem seus méritos e satisfaz a grande massa dos
fiéis. Mas existe muito mais riqueza por trás dessa parábola, que é um
verdadeiro exemplo de quantos ensinamentos podem estar velados na linguagem do
simbolismo.

O respeitado pesquisador e autor Geoffrey Hodson afirma que essa parábola
pode ser interpretada tanto do ponto de vista macro como do microcósmico, pois
todas as alegorias apresentadas na linguagem sagrada são passíveis de diferentes
níveis de interpretação. Isso se deve à natureza essencial da unidade de toda a
manifestação, desde o infinitamente grande até o infinitamente pequeno, tanto
nos planos mais elevados como nos mais grosseiros. Esse é o sentido de o homem
ter sido criado à imagem e semelhança da Inteligência Suprema. Visto de outro
ângulo, o homem é aquele ser em que o Espírito mais elevado e a matéria mais
densa estão unidos pela mente.

– Os Espíritos que agem sobre os fenômenos da Natureza agem com conhecimento
de causa em virtude de seu livre-arbítrio, ou por um impulso instintivo e
irrefletido?

– Uns, sim; outros, não. Faço uma comparação: figurai essas miríades de
animais que pouco a pouco fazem surgir do mar as ilhas e os arquipélagos;
acreditais que não há nisso um objetivo providencial e que essa transformação da
face do globo não seja necessária para a harmonia geral? São, entretanto,
animais do último grau os que realizam essas coisas, enquanto vão provendo às
necessidades e sem perceberem que são instrumentos da Inteligência Suprema. Pois
bem, da mesma maneira os Espíritos mais atrasados são úteis ao conjunto;
enquanto eles ensaiam para a vida, e antes de terem plena consciência de seus
atos e de seu livre-arbítrio, agem sobre certos fenômenos de que são agentes sem
o saberem. Primeiro, executam; mais tarde, quando sua inteligência estiver
desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do mundo material; mais tarde
ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. É assim que tudo serve, tudo se
encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo
começou pelo átomo. Admirável Lei de Harmonia, de que o vosso Espírito limitado
ainda não pode abranger o conjunto!” ALLAN KARDEC, em O Livro dos Espíritos,
questão 540.

Segundo o mesmo autor, a parábola do filho pródigo descreve, de forma
simplificada, o processo cíclico de descida consciente da vida do Logos à
matéria e seu eventual retorno à origem, à casa do Pai, devidamente enriquecida
pela experiência do processo, como simbolizado pelas boas-vindas concedidas pelo
pai a seu filho. (…).

Está implícito que a descida do “filho” de sua morada celestial de eterna
harmonia e bem-aventurança obedece a um desígnio da maior transcendência e não
representa uma atitude de rebeldia ou de desrespeito, mas, ao contrário, é um
ato de total obediência à vontade do Pai. RAUL BRANCO, em os Ensinamentos de
Jesus e a tradição esotérica cristã – As chaves que abrem o Reino dos Céus na
Terra, Parte III. O processo de retorno à Casa do Pai, Cap 7, Editora
Pensamento/1999

(Publicado no Boletim GEAE Número 389 de 18 de abril de 2000)