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Perdão das Ofensas

Perdão das Ofensas

O que significa, realmente, perdoar?

O Apóstolo Paulo, em mensagem inserida em “O Evangelho
Segundo o Espiritismo” afirma que: “Perdoar aos inimigos é pedir
perdão para vós mesmos; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as
ofensas é mostrar que se melhora, Perdoai pois, meus amigos, para que Deus vos
perdoe. Porque se fordes, duros, exigentes, inflexíveis, se guardardes até
mesmo uma ligeira ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias
tendes uma grande necessidade de indulgência?”

Compreendemos a verdade dessa afirmação, porém deparamos
com a dificuldade em aplicar o perdão, porque ao nos sentirmos vítimas,
baseamo-nos em razões “que a própria razão desconhece”.

Nosso conceito de perdão tem influência decisiva nessa
dificuldade; esse conceito tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade
de perdoar.

Por possuirmos crenças negativas de que perdoar é “ser
apático” com os erros alheiros, ou mesmo, aceitar de forma passiva tudo o
que os outros nos fazem, é que vivemos achando que perdoamos, aceitando
agressões, abusos, manipulações e desrespeito aos nossos direitos e limites
pessoais, ficando, pois, impassíveis como se nada estivesse acontecendo.

Perdoar não é apoiar comportamentos que nos tragam dores
físicas ou morais, não é fingir que tudo corre bem, quando percebemos o
contrário a nossa volta. Perdoar não é “ser conivente” com as
condutas inadequadas.

Perdoar é compreender amplamente o outro, seus limites, suas
razões, sem abdicarmos dos nossos direitos e porque não, dos nossos limites
também.

Perdoar é postura íntima, é modo de viver!

Normalmente confundimos o “ato de perdoar” com a
negação dos próprios sentimentos, emoções e anseios, reprimindo mágoas,
usando supostamente o perdão, como desculpa para fugir da realidade que se,
assumida, poderia alterar toda uma existência.

Para perdoar é preciso saber avaliar, ajuizar. Toda opinião
ou juízo emitido por nós, assim como nossas tendências ou pensamentos
julgadores, estão sedimentados em experiências passadas, são resultados de
uma série de conhecimentos que adquirimos desde a infância e também através
de vivências pregressas.

Censuras, observações, superstições, preconceitos,
opiniões, informações e influências do meio, ou mesmo de instituições
diversas, formaram em nós um tipo de reservatório moralcoleção
de regras e preceitos
– a ser rigorosamente cumprido, do qual nos servimos
para concluir e catalogar as atitudes em boas ou más.

Utilizamos este reservatório moral para julgar as pessoas,
desconsiderando um aspecto muito importante: julgar uma ação é diferente
de julgar a pessoa
.

Como estabelecer esta diferença?

Utilizando a regra de ouro ditada por Jesus: Fazer ao
outro o que queremos seja feito para nós
, ou seja, usar a empatia,
colocando-nos no lugar do outro, “sentindo e pensando como ele” em vez
de “pensar a respeito” e teremos o comportamento ideal frente aos atos
e atitudes alheios.

Uma das ferramentas básicas para alcançar o perdão real,
é conseguir manter uma certa “distância psíquica” do problema, ou
da discussão, bem como diálogos mentais, que giram constantemente no nosso
psiquismo, por estarmos engajados emocionalmente em envolvimentos
desequilibrantes.

Em muitas ocasiões, elaboramos interpretações exageradas
de suscetibilidade e caímos em impulsos estranhos e desconexos que dificultam o
perdão, somente desligando-nos da agressão ou do desrespeito ocorrido é que o
pensamento sintoniza com faixas superiores, no processo denominado
“renovação da atmosfera mental” ou “mudança de sintonia”.

É necessário portanto desligar “mentalmente” e
emocionalmente, de fatos ou pessoas em desequilíbrio e a prece, é sempre
método eficaz, a restaurar os sentimentos de paz e serenidade. Desligar-se não
é tornar-se frio, insensível, e sim, deixar de alimentar-se das emoções
alheias.

Ao soltar-se dessas situações problemáticas, complexas, o
ser humano desata-se de fluidos envolventes, liberta-se de conflitos, tendo
chance de enxergar o outro, ou a vida com visão mais ampla, conseguindo
compreender a si mesmo e aos outros.

Viver impondo “distância psicológica” às pessoas
e as coisas problemáticas, sejam entes queridos difíceis, ou companheiros
complicados, não significa que deixamos de nos importar com eles, de amá-los,
mas sim viver sem nos desequilibrar pelas emoções dos outros. Além disso,
esse desligamento, motiva ao perdão do coração, com maior facilidade, devido
ao grau de libertação mental que nos induz a viver sintonizados com a nossa
própria vida.

A ausência de mágoa e o esquecimento da ofensa é que
estabelecem a diferença entre o perdão dos lábios e o perdão do coração. E
não podemos nos esquecer que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos,
muito mais que pelas palavras.

Nossa meta é aprender a não nos sentirmos ofendidos, e
aprender a perdoar é uma das etapas deste processo.

Bibliografia:

  • Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. X, item 15
  • Hammed/Francisco do Espírito Santo Neto, Renovando Atitudes – Tua Medida e
    Aprendendo a Perdoar.

(Jornal Verdade e Luz Nº 185 de Junho de 2001)