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Perispírito, Corpos Espirituais e o que diz a Doutrina Espírita

No dia 13/04/02 uma internauta, psicóloga, dirigiu-nos três perguntas básicas,
uma delas já foi respondida neste site. Vamos a agora a uma outra questão, disse
ela:

“(…) Por fim, a questão dos corpos espirituais. Estudando Yoga, Rudolf
Stainer, ‘Mãos de Luz’, vejo tantas referências aos corpos ou camadas que temos
e que a meu entender seriam o próprio perispírito mais detalhado. André Luiz também
fala sobre corpos etéricos, astrais, etc. Como fica isso?

O Dr. falou em seu artigo que é só perispírito, mas e as outras fontes de
informação? Não as vejo em desacordo com a Doutrina, mas complementares. O que o
Sr. acha?

(…) Quando o Sr. tiver um tempinho, escreva-me sobres estas questões, e
se já escreveu me diga onde encontrar seus textos.

Abraço e admiração.”

ROSELENE PEREIRA DOS SANTOS
Cuiabá – MT

Respondemos preliminarmente à internauta. Pois bem, no dia 25/04/02 recebemos
o seguinte mail de outra internauta, jornalista:

“Dr. Iso, socorrrrrrrrrrro, preciso de sua ajuda novamente.

Quantos corpos temos afinal? Estou fazendo a maior confusão e não chegando
a conclusão alguma para dar uma aula sobre Cremação e desligamento. Quando puder,
por favor, responda-me se puder (e se quiser, é claro).

1. Que é aura?
2. O que é duplo etéreo?
3. O que é corpo astral?
4. o que é corpo mental?
5. Onde ficam os plexos?
6. E os chakras?
7. E os centros de força?
Acho que não há definição clara na doutrina Espírita sobre isso tudo… Estou confusa.
8. Nas aparições, quem aparece: o “corpo” do perispírito ou o tal do “duplo etéreo”,
que é do corpo físico?
9. E nas materializações?
10. E nas bilocações?

Obrigada, abraço (estou adorando seus artigos…., pela clareza, principalmente).

ELIANA FERRER HADDAD
São Paulo – SP

Respondemos preliminarmente à Sra. ELIANA e desenvolveremos melhor o assunto,
agora…

“Corpo” e corpos espirituais.

A Sra. ROSELENE citou um
livro de Ioga em que há referência a “corpos espirituais”. Certamente
toda a literatura da Ioga faz referências a tais “corpos”. Mas, perguntamos:
Ioga é Espiritismo? Quando surgiu a prática da Ioga? Tal método para atingir-se
o completo domínio do corpo e do psiquismo é utilizado desde a mais remota Antigüidade
pelos ioguis. A Ioga faz parte dos rituais daqueles
que professam o hinduísmo, portanto, não há nenhuma semelhança com a filosofia
espírita !

A internauta diz que ANDRÉ LUIZ também se refere aos “corpos espirituais”, o
que é verdadeiro, mas não só ele, EDGARD ARMOND também fazia um sincretismo
religioso
das doutrinas orientalistas com o Espiritismo. A internauta assevera
que não vê um desacordo com a Doutrina Espírita e que seriam informações “complementares”
da Doutrina… Seriam então um avanço da Doutrina ? Acreditamos que não,
para nós é um retrocesso. Senão, vejamos:

Se os tais “corpos espirituais” já eram “conhecidos” desde a mais remota Antigüidade,
pelos indianos e se fossem algo importante, por que os Espíritos Superiores não
teriam feito a menor menção na Codificação, que se iniciou em 1857, através de
O Livro dos Espíritos (OLE) de ALLAN KARDEC e em qualquer outra obra de
KARDEC, inclusive nos 12 volumes da Revue Spirite?! Portanto, não consideramos um
avanço doutrinário e, além disso, KARDEC fez perquirições neste sentido, vejamos
o que disse a Espiritualidade Superior:

Na questão 95 de OLE, KARDEC pergunta se o perispírito teria
“formas determinadas”, eis a resposta: “– Sim, uma forma ao arbítrio
do espírito
(…)”
(o grifo é nosso). Portanto, o “corpo” espiritual
depende do livre-arbítrio, da vontade do Espírito, isto é, a sua forma é plástica.

Na resposta à questão 146 de OLE a Espiritualidade Superior pronuncia-se dizendo
que a alma não tem uma sede determinada ou circunscrita, no entanto,
em vários livros ditos espíritas, dizem que a sede da alma estaria localizada na
glândula pineal e que os chamados centros de força
(dos chakras) carreariam a energia do plexo da região lombo-sacra
para o cérebro, onde está a pineal !!… E quando escrevíamos este texto, ouvimos
numa emissora espírita do Rio de Janeiro, confrades afirmarem que a glândula pineal
seria a responsável pela mediunidade das pessoas. Ou seja, afirmam
tolices, sem nenhuma base científica!…

KARDEC fez um comentário sobre a resposta à questão 88-A de OLE: “Representa-se
ordinariamente o gênios como uma flama ou uma estrela na fronte. É essa uma
alegoria, que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-se
no alto da cabeça, por ser ali que se encontra a sede da inteligência”.

Para não nos alongarmos muito, vejamos a pergunta 146-A de OLE, que é bem clara
para o que estamos argumentando:

“Que pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?

Eis parte da resposta: “– (…) os que a situam naquilo que consideram centro
da vitalidade, aconfundem com o fluido ou princípio vital”.

Enfim, a Espiritualidade Maior teve várias oportunidades para se manifestar sobre
os “corpos espirituais” e não o fizeram! Seria porque era prematura a informação,
como advoga o Espírito RAMATÍS? Acreditamos que não, pois os “corpos espirituais”,
repetimos, já eram citados na mais remota Antigüidade e, curiosamente, é o próprio
RAMATÍS quem o afirma:

“Aliás, as noções, os aspectos e os estudos que vos parecem inéditos sobre
a anatomia e fisiologia do perispírito, não constitui novidade, pois trata-se de
motivo e ensinamentos conhecidos há muitos séculos por todas as escolas
iniciáticas
do mundo (…). Os Vedas há 4000 anos já ensinavam as minúcias
do corpo mental, corpo astral e o duplo
etérico
com o sistema de ‘chacras’, enquanto Hermés Trimegisto,
o iniciado do Egito já o fazia à luz dos templos de Ra”. –
os grifos são nossos
– (HERCÍLIO MAES. Elucidações do Além. Pelo espírito RAMATÍS. Liv. Freitas
Bastos S. A ., 5 ed., Rio de Janeiro, p. 71).

Assim, tais conceitos místico-ocultistas serviram de base para a doutrina
Rosa-Cruz, Teosofia, Esoterismo, Ioga, etc. Portanto, são estranhos ao Espiritismo,
que é uma doutrina embasada na Ciência e não em concepções místico-religiosas orientalistas,
plenas de superstições como a da “vaca sagrada”, por exemplo; como já dissemos alhures.
Nada temos contra elas, mas não as confundamos com a Doutrina dos Espíritos.

Bem, passemos às respostas mais específicas das indagações da jornalista ELIANA
FERRER HADDAD:

Que é AURA, DUPLO ETÉREO e CORPO ASTRAL ?

Vejamos o
que afirmaram no livro “Experiências Psíquicas Além da Cortina-de-Ferro”
as jornalistas e pesquisadoras americanas SHEILA OSTRANDER e LYNN SCHOEDER:

“Existe um corpo astral, um corpo energético,
cópia do corpo físico do ser humano? Durante séculos, videntes, escritores, clarividentes,
assim como antigas filosofias e religiões se referiram a um corpo invisível que
todos possuímos. Ele tem sido chamado através dos séculos de corpo sutil,
corpo astral, corpo etérico, corpo fluídico, corpo Beta, corpo equivalente, corpo
pré-físico
, para citarmos alguns de seus nomes

os grifos são nossos – (op. cit., Edit. Cultrix, 1989, p. 232).

Portanto, Sra. ELIANA, para nós perispírito, “corpo astral”
e “duplo etéreo” são uma e mesma coisa…

Mais adiante, dizem as pesquisadoras americanas:

“Consoante alguns médiuns, esse duplo humano é maior do que o corpo físico
e a aura ou luz que se vê em forma de radiação à volta do corpo
é simplesmente a borda externa do duplo humano
– os grifos são nossos
– (op. cit., p. 233). Enfim, Srs. internautas, estamos
citando o pensamento de cientistas americanas, sérias; e isso é concordante com
a Doutrina dos Espíritos, que diz em resposta à questão 420 de OLE:

“O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa; ele irradia
em todo o seu redor
(…) “.

Ora, o termo aura, do latim aura, ae foi utilizado
por VIRGÍLIO no ano 29 antes de Cristo (29 a .C.), no sentido figurado, poético,
de brilho, cintilação. Portanto, o termo não tinha nada de científico,
por isso, talvez, KARDEC não o tenha utilizado, nem a Espiritualidade Superior.

Em resumo, o duplo etéreo, o corpo astral,
ou perispírito manifesta-se ao médium vidente completamente; ou,
incompletamente, ao redor do corpo físico, como aura.

Em 1949, o casal russo KIRLIAN fotografou o que seria a aura
de plantas e dedos humanos. Já em 1968, admitiu-se que a aura seria o corpo
bioplasmático
(um novo estado da matéria – o plasma), descoberto pelos
cientistas russos da Universidade de Kirov. Falou-se, também, que ocorreriam irradiações
em corpos materiais inorgânicos, como rochas, moedas, etc., isto é, não-vivos…
O que parece é que os achados do casal KIRLIAN foram aproveitados por pessoa inescrupulosas,
que ainda existem em barraquinhas de Shoppings do Brasil; ou foram mal interpretados,
pois a energia bioplasmática seria o oxigênio que respiramos que
converte alguns de seus elétrons excedentes em um certo quantum para o
corpo energético, essa foi a tese da Universidade de Casaquia. Portanto, é ponto
certo que uma rocha ou uma moeda não respiram, será que tal processo dar-se-ia na
borda externa dos objetos materiais? É possível, mas parece-nos inegável que o
corpo bioplasmático seria a prova científica oficial
da existência do perispírito, descrito pela Ciência Espírita 111
anos antes…

ce4.jpg (11354 bytes)ce3.jpg (9318 bytes)
Aura de um dedo humano“Aura” em moeda

Enfim, estamos no campo da Ciência, agora passemos à especulações orientalistas
e do sincretismo…

Duplo etéreo, corpo mental, corpo astral

As concepções orientalistas,
antigas,
baseavam-se no número, cabalístico, 7(sete). Assim, DEUS fez o mundo em seis dias
e descansou no 7.º ; há 7 cores no espectro solar; 7 selos, 7 céus
na visão do Apocalipse de JOÃO, etc., etc., e, enfim, 7 chakras
ou centros de forças etéricas, que seriam, segundo RAMATÍS, “Os
7(sete) invólucros do Universo ou de Brahma segundo dizem os orientais:
Prana
, a vitalidade; Manas, o princípio inteligente ou
a Mente; o Éter, o Fogo, o Ar,
a Água e a Terra“.

Porém, RAMATÍS, “para resumir, para melhor entendimento” dividiu o assunto assim:

– Espírito – a centelha ou a Luz imortal sem forma;

– Perispírito – que abrangeria o corpo mental, que serve para pensar;
o corpo astral, que manifesta as emoções, os desejos e os sentimentos;
o duplo etérico, com o sistema de chakras ou centros de
forças etéricas, isto é, o corpo transitório do éter-físico e situado entre
o perispírito e o corpo físico, o qual se dissolve depois
da morte do homem
;

– Corpo físico.

Plexos, Chakras e centros de forças

Os plexos são constituídos
pelo nosso sistema nervoso autônomo ou vegetativo e neles haveria,
digamos assim, centrais irradiantes, os chamados centros de forças,
os chakras ou rodas. Citemos os 7 (sete)
centros de forças
ou chakras, que para EDGARD ARMOND seriam
8 (oito):

1- Centro coronário (no alto da cabeça);
2- Centro cerebral (na região frontal da cabeça);
3- Centro laríngeo (no pescoço);
4- Centro cardíaco (na região precordial);
5- Centro esplênico ( na região do baço);
6- Centro gástrico (na região do estômago);
7- Centro genésico (no baixo ventre).
E EDGARD ARMOND e outros acrescentam:
8- Centro básico (na base da coluna espinhal).

Admitem os que comungam a crença nos “centros de forças” que eles estariam localizados
no “duplo etérico”. A Sra. ELIANA pergunta se nas aparições quem
apareceria se o “corpo” do perispírito ou o tal “duplo
etéreo”
. Cremos que, pelo desenvolvimento que fizemos, parece claro que
duplo etéreo e perispírito são uma e mesma coisa.
E nas materializações e bilocações? Quem apareceria? A Doutrina
Espírita mostra que o perispírito pode tornar-se tangível, como nas
materializações, nos agêneres. Já os novidadeiros,
pseudocientistas, afirmam que o “duplo etérico” , aquele que ficaria entre o corpo
físico e o perispírito, seria o responsável pelas materializações. Nada científica
esta afirmação, simples elucubração, gratuita… Além disso, caberia então a pergunta:
se o duplo etéreo desapareceria com a morte física, os centros de forças aí localizados
também se destruiriam?!…

A propósito da referência da psicóloga ROSELENE sobre a Ioga,
gostaríamos de citar que segundo um indiano, grandes iogues conseguiriam até controlar
a respiração a tal ponto que se manteriam, como alguns faquires, embaixo da terra
por meses e haveria pelo menos um deles tendo a “idade de 400 anos”
(PAUL BRUNTON. A Índia Secreta. Edit. Pensamento, São Paulo, 1996, p. 88).
Acredite quem quiser!… Nunca fomos à Índia, mas não vejo nenhuma base científica
nisso! Aliás, não é a parada respiratória um indício de que a força vital, ou uma
“força sutil” abandonou o corpo – temos inúmeros exemplos de pessoas que sobreviveram
após tempo mais ou menos longo de parada respiratória.

Veja bem o Sr. internauta que não estamos nos propondo a questionar a religião
indiana, queremos citar alguns aspectos demonstrativos da sua falta de cientificidade
em oposição à Ciência Espírita.

Concluindo, gostaríamos de repetir palavras sábias de J. HERCULANO PIRES sobre
aquelas pessoas que se dizem médiuns videntes e que seriam capazes de ler a “aura”
humana:

“(…) Não há, até o momento, nenhum meio científico de se verificar objetivamente
os graus de percepção mediúnica ou o grau de espiritualidade de uma pessoa. Além
disso, o vidente que examina a aura de alguém, sofre as mesmas variações de instabilidade
psico-orgânica e emocionais”. (J. HERCULANO PIRES. Mediunidade (vida e comunicação).
Cap. XIII, EDICEL, São Paulo, p. 111).
Por tudo isso, permita-nos os internautas dois conselhos, que não são nossos; o
primeiro é de PAULO DE TARSO em sua 1.ª Epístola aos Tessalonicenses: “Discerni
tudo e ficai com o que é bom.”
(1 Ts 5,21) e o segundo conselho é de JOÃO,
o Evangelista em sua 1.ª Epístola: “Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito,
mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram
ao mundo”
(1 João 4,1).

Iso Jorge Teixeira
CREMERJ: 52-14472-7
Psiquiatra. Livre-Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).