Há dois tipos de pessoas que não oram: as que não querem e as que não sabem
orar.
Esta pequena crônica vou dedicá-la às pessoas que não sabem orar, sem,
entretanto, esquecer as demais.
Os que não aprenderam a orar e até os indiferentes às preces, estão, muitas
vezes, incluídos entre as pessoas que rezam mecanicamente sem sequer pensar no
que estão dizendo, repetindo infindáveis vezes, as mesmas palavras como quem
recita uma poesia que aprendeu na infância.
Muitos não compreenderam que o valor e eficácia da prece está na qualidade de
sentimento ao proferirmos a prece. Não necessitamos, de forma alguma, de
palavras mirabolantes, do vernáculo irrepreensível, erudito, ou mesmo de
fórmulas feitas. Acontece muito com os que estão acostumados a recitar fórmulas
de prece, que ao sentirem necessidade de orar, encontram-se em dificuldades. Não
sabem o que dizer, nem como “falar com Deus”.
Sim, a prece é uma conversa com Deus. Um diálogo da criatura com o Criador. A
prece pode ser representada por um pedido, por um agradecimento, por um
reconhecimento da bondade divina. Entretanto na maior parte das vezes,
lembramo-nos de orar apenas para pedir, o que faz bastante justiça, inclusive
com a origem latina da palavra que significa súplica.
A Deus devemos nos dirigir com humildade e confiança. Isto é fundamental.
Precisamos, acima de tudo, nos fazer entender, porquanto a linguagem simples
isto facilita. A fala do coração, do sentimento, aquele entendimento perfeito
que só as coisas singelas encontram.
A única prece deixada por Jesus foi o “Pai Nosso” e disse mais: ” quando
orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que se comprazem em orar em pé nas
sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. Em verdade,
vos digo, eles receberam sua recompensa. Mas quando quiserdes orar, entrai no
vosso quarto e, estando fechada a porta, orai ao vosso Pai em segredo; e vosso
Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. E, orando, não useis as
vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo muito falar serão
ouvidos. ” Mateus cap. 6 v. 5 a 7)
O Espiritismo não aceita preces decoradas por não refletir sentimento, por
não conterem as necessidades reais do diálogo. Recomenda que não devemos
barganhar ou oferecer troca pecuniária ou de favores em nossas preces.
Uma outra coisa se nos parece necessário aludir nesta pequena crônica: Nem
sempre o que se nos parece necessário é o que realmente convém à nossa
felicidade. Nem sempre o que pedimos é o que mais nos convém. Deus não dará
pedra se pedirmos pão mas “recusa ao filho o que é contrário ao interesse dele”
, conforme ensina Kardec.
Nas instruções dos Espíritos contidas no Evangelho Segundo o Espiritismo,
Cap. XXVII, 22, encontramos um direcionamento de que nossas preces “devem
encerrar o pedido das graças de que tendes necessidade, mas uma necessidade
real. Inútil, pois, pedir ao Senhor abreviar as vossas provas, vos dar alegrias
e riqueza; pedi-lhes para vos conceder os bens mais preciosos da paciência, da
resignação e da fé.”(V. Monod. Bprdéus, 1862)