Por Que Dia dos Espíritas?
Muitas vezes somos pegos em situações tais que somos obrigados a nos
pronunciar, sob pena de sermos considerados omissos. Este assunto constitui uma
destas situações.
O Estado de São Paulo, pela Lei nº 9471 de 27/12/96, e o Estado de Minas
Gerais, pela Lei nº 12757 de 8/01/98, instituíram em suas jurisdições o dia 18
de abril como “Dia dos Espíritas”.
A origem está, infelizmente, em políticos ditos Espíritas que, por
ingenuidade, por desconhecimento da Doutrina ou com objetivo de se fazerem
notados politicamente pelos Espíritas, propõem tais medidas, que depois de
aprovadas constrangem as pessoas a aceitarem como um fato consumado.
Se a moda pega, outros Estados aprovarão norma semelhante e, talvez, até
surja uma Lei Federal. Além disso, os órgãos legislativos que as aprovaram,
realizam, na data especificada, sessões especiais para prestarem homenagem aos
Espíritas.
Alguns órgãos de divulgação espírita estão destacando tais fatos como se eles
fossem importantes para o movimento espírita. Logo os Espíritas que devem dar
exemplo de humildade e fraternidade, que a doutrina espírita evidencia como
fundamentais para o desenvolvimento moral da humanidade!
Alguns poderão dizer – “mas existe dia para um sem número de outros motivos;
há até um dia para a caridade, 18 de julho, instituído a nível federal” -, como
se a caridade só devesse ser praticada nesse dia. E os profitentes das demais
religiões, como estão interpretando essa homenagem? Qual seria a reação dos
Espíritas, se fosse instituído o dia 25 de dezembro como dia dos Católicos?
Será que Kardec aprovaria a instituição do dia dos Espíritas?
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, os princípios de humildade e
fraternidade pregados por Jesus são enfatizados e exemplificados em vários
capítulos.
Em “O Livro dos Espíritos”, na resposta à pergunta 917, Fénelon esclarece:”O
choque, que o homem experimenta, do egoísmo dos outros, é o que muitas vezes o
faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os
outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais
do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais
de povo a povo e de homem a homem, o princípio da caridade e da fraternidade, e
cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensaram. Todos
experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do
atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária
para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de
ordinário, absolutamente lhe não agradecem.”
E ainda, na Conclusão de “O Livro dos Espíritos”: “Mas, a fraternidade
pressupõe desinteresse, abnegação da personalidade. Onde há verdadeira
fraternidade o orgulho é uma anomalia”.
Falando em leis é bom lembrar a Lei de Igualdade, entre as demais Leis Morais
que constam da terceira parte da obra fundamental da Doutrina Espírita.
Além do mais, já está consagrado, não em Lei, mas na prática, que o dia 18 de
abril é o dia do Livro Espírita. Isso já é o suficiente.
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1998)