Por que voltamos?
Essa semana, enfim de férias, utilizei um exercício espiritual delicioso e eficiente para situações específicas. É excelente para momentos de relaxamento após períodos prolongados de tensão, ou agitação, ou ao nos recolhermos para o desprendimento noturno!
Em ocasiões de isolamento, fecho os olhos e conscientemente me desprendo! Saio viajando espiritualmente por aí, para onde quiser: para um lugar tranquilo que me atraia o espírito necessitado de sintonia com paz, com beleza e serenidade. Assim, quase instantaneamente, lá estava eu numa ilhota em meio ao mar azulíneo, em dia ensolarado! Ao longe, muito distante, entrevia o aglomerado, quase invisível pelas névoas da manhã, dos prédios da cidade movimentada, cujos ruídos não mais me atingiam os sentidos!
Ao redor, para meu profundo deleite, a vegetação exuberante bordando o quadro hipnótico; apenas o ir e vir das ondas encharcando as areias claras e frescas, de textura agradável, onde afundavam os meus pés sob as tépidas ondas rasas! O rumor das marolas se espraiando com espumas esbranquiçadas na extensão deserta do recanto paradisíaco agia sobre o meu estado de alma como bálsamo, de capacidade infalível para apaziguar a roda-viva dos pensamentos rodopiando em turbilhão na mente inquieta! Diante do cenário idílico, portanto, tudo em mim se diluía, esvaía-se como névoas dispersas pelas claridades matutinas, validando a necessidade sempre presente, sempre útil, de se deixar ir…
Deixar ir!…
Aos poucos, realçava às minhas percepções o sentimento apaziguador da liberdade plena e da solitude. Ali, naquela ilhota aconchegante, perfumada pelas brisas marinhas revoluteando por entre as folhagens da mata próxima, crescia a noção de que as preocupações cotidianas, os desafios, o barulho constante das grandes cidades com os seus movimentos caóticos não são necessariamente consistentes, reais – a não ser na duração do tempo em que lhe emprestamos nossa dedicação, atenção, e o concurso dos nossos sentidos! Avultava, assim, a certeza de uma realidade mais vívida, mais autêntica – a de que a serenidade é patrimônio individual a ser resgatado ao nosso gosto, e a qualquer momento, se bem soubermos recorrer ao estado de recolhimento que nos auxilie a recapturar a nossa essência existencial mais legítima! Despojados de todos os papéis periódicos que o contexto de nossos caminhos evolutivos nos impõe, para aprendizado e aperfeiçoamento individual!
Silêncio absoluto! Um ou outro piar de gaivotas. O rumor repousante dos fluxos marinhos nas areias… O soprar das aragens frescas. E, ao longe, o vulto citadino quase indistinto em meio às brumas, estranhamente despojado dos ruídos atordoadores que lhe são característicos com a nossa proximidade, com a extrema intimidade dos seus enredos!…
Devagar, com o passar do tempo em que estive sentada no tapete macio daquelas areias brancas, em pleno estado de sintonia com a extrema beleza espiritual do lugar, paralelamente emergiam aos meus sentidos internos, contudo, e com clareza surpreendente, as imagens representativas da maior causa pela qual, do mesmo modo, retornamos, alternada e voluntariamente, das estâncias dimensionais verdadeiras de nossa procedência para os palcos da materialidade terrena!
O amor!…
Sim! Porque naquela estância repleta de paz, à medida que o meu espírito se apaziguava e recapturava a sintonia com a luz divina inerente a tudo na Criação portentosa dos universos, emergiam suavemente à minha retina espiritual os rostos adorados! Lá, à distância, no emaranhado de prédios esmaecidos… Lá estavam todos eles! Meus dois filhinhos amados! Meus pais! Amigos queridos… familiares!…
Que poderoso ímã!…
Nas cidades distantes daquele remanso transitório da alma prosseguiam os amores valiosos das minhas vivências, mergulhados nos seus compromissos, responsabilidades e eventuais aflições; ou reunidos em instantes de lazer ou de descontração! Em constante interatividade! Uns em apoio ou complemento dos demais! Em processo contínuo de aprendizado mútuo, cada um deles contribuindo com sua participação única em toda a existência, sem duplicata! Com a sua tonalidade própria, todos os meus queridos lá permaneciam! E, agora em paz, visualizava com maior clareza a vontade e a necessidade de retornar para junto de todos; de auxiliar, de participar, a exemplo de cada um deles, com a minha colaboração pessoal!
O humor, o modo de ser, as diferenças de cada um constantemente me alimentam o espírito com ensinamentos novos para a grande Arte de expansão de consciência! Trata-se, portanto, de processo simbiótico, durante o qual não podemos prescindir de nenhuma das partes, importantes, a seu modo, como joias exclusivas de Deus! E então, lá eu me achava, já serena, senhora da paz residente em meu espírito – aos poucos atraída de volta para a sua convivência, como as borboletas naturalmente buscam a nutrição do calor da luz!
E revelou-se claro que não existe, entre uma e outra coisa, diferença digna!
Uma vez desencarnados, acolhidos por mestres e amigos inigualáveis que também nos buscam e amparam nos setores dimensionas genuínos que representam, a qualquer época, a nossa destinação final, nos veremos indissoluvelmente ligados pelo coração a estes que muito nos dizem! Mas, de uma forma ou de outra, nalgum instante desejaremos retornar para a troca construtiva de afetividade! Via reencarnação renovada a seu lado, com novos rostos, ou em situação de amparadores ou de mentores a partir da invisibilidade, os seres adorados certamente nos magnetizarão ao seu encontro para a simbiose de amor que nutre os nossos espíritos desta soberana substância evolutiva ao longo da eternidade – assim como os raios solares inundam da Vida abundante todas as manifestações do Criador na Terra; assim como também, sempre, as borboletas coloridas revolutearão festivamente ao redor das flores e do calor revigorante dos focos brilhantes da luz!