Porque Não Sou Espírita Kardecista
É muito comum encontrarmos afirmações do tipo: Espírita Kardecista,
Kardecismo. Isto cada vez mais, vai se tornando natural no meio Espírita em
palestras, jornais e revistas. Porém o que me chamou a atenção foi o artigo da
jornalista Renata Saraiva no Jornal Valor de 15 de dezembro de 2000, no seu
artigo “Loucura e espiritismo no Brasil” a chamada é a seguinte: “Historiadora
estuda como a psiquiatria tratou o Kardecismo no início do século”. O artigo
trata da tese de doutorado da historiadora da Universidade Estadual de Campinas-
UNICAMP Angélica Silva de Almeida “A Loucura Espírita no Brasil”.
Percebam que o termo Kardecismo foi utilizado como sinônimo de Espiritismo,
demonstrando que a confusão iniciada no meio espírita começa a atingir também a
mídia. Isto é tudo que alguns inimigos da Doutrina Espírita querem, pois ela
deixaria de ser a revelação dada por uma plêiade de espíritos liderados pelo
Espírito da Verdade para ficar resumida em uma única pessoa. Antigamente
falava-se em espiritismo de mesa branca, espírita de mesa branca e a mesa branca
foi substituída por Kardecismo ou Kardecista, alguns centros chegam a incluir em
sua denominação Centro Espírita Kardecista.
Entre os espíritas ainda predomina o aprendizado verbal ouve-se alguém dizer
acha-se bonito e vai se repetindo, sem se parar para refletir se isto condiz com
o que aprendemos. Apenas como exemplo já perceberam como o termo karma foi
incorporado ao linguajar de alguns “espíritas”. O que mais ouvimos é que a
leitura do Livro dos Espíritos é muito difícil por isto esta verdadeira
enxurrada de romances, muitos deles com erros graves em relação a Doutrina e são
vendidos dentro da própria casa espírita, basta se dizer que o livro é
psicografado para se tornar uma obra espírita, mas esta é uma história que fica
para uma outra vez.
Para explicar porque não sou espírita Kardecista, chamo em minha defesa o Sr.
Allan Kardec, que sem dúvida era o bom senso encarnado e que já imaginando as
distorções que poderiam ocorrer fez questão de deixar bem claro logo no primeiro
parágrafo da introdução do Livro dos Espíritos o seguinte: “Para se
designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim exige a clareza da
linguagem para evitar confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas
palavras.” e mais a frente estabelece “Os adeptos do Espiritismo serão,
Espíritas ou se quiserem Espiritistas.” (grifo nosso).
Recorro agora a equipe de espíritos responsáveis pelo Livro dos Espíritos,
vamos aos prolegômenos deste livro, que nos dizem: “Este livro é o
repositório de seus ensinos, foi escrito por ordem e mediante ditado de
Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional.
Nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não tenha sido
por eles examinado. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim
como as nota e a forma de algumas partes da redação constituem obra d?aquele que
recebeu a missão de os publicar”.
Portanto a simples leitura da Introdução e dos Prolegômenos do Livro dos
Espíritos já bastaria para que não criássemos termos novos para definir o que já
está definido e muito bem definido. Seria interessante ainda aos que se dizem
espíritas Kardecista lerem o Capitulo I de A Gênese que trata do Caráter da
Revelação Espírita , em especial o item 45 que aqui reproduzimos:
“A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no
Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum (grifo nosso). As
duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter
essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido de não ser feita ou
dada como privilégio de pessoa alguma; ninguém, por conseqüência, pode
inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre
a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais
baixa até a mais alta da escala, conforme esta predição registrada pelo autor
dos Atos dos Apóstolos: “Nos últimos tempos, disse o Senhor, derramarei o meu
espírito sobre toda a carne; os vossos filhos e filhas profetizarão, os mancebos
terão visões, e os velhos, sonhos.” (Atos,cap.II,vv. 17,18.) “Ela não proveio de
nenhum culto especial, a fim de servir um dia, a todos, de ponto de ligação.”
Com base neste item Kardec faz uma nota explicando o seu papel
“neste grande movimento de idéias”. Neste mesmo livro no Cap. XVII,
Predições do Evangelho item 40, podemos ler : “Não é uma doutrina individual,
uma concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É o produto do ensino
coletivo dos espíritos, ao qual preside o Espírito de Verdade.” E no rodapé
da pagina joga uma pá de cal sobre este assunto, escrevendo o seguinte:
“Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da
individualidade fundadora: o mosaismo, o cristianismo, o maometismo, o budismo,
o cartesianismo, o furierismo, san-sinomismo, etc…A palavra Espiritismo ao
contrário, não lembra nenhuma personalidade, ela encerra uma idéia geral, que
indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina.”
Portanto baseado em tudo que aprendi até agora, sou Espirita e ponto final.
(Publicado no Boletim GEAE Número 429 de 5 de fevereiro de 2002)