Desde que começou a funcionar, em caráter experimental, até hoje, o CVV já
atendeu a quase duas mil pessoas que estavam realmente dispostas a se matar.
Destas infelizmente, quatro se suicidaram realmente, não tendo sido possível ao
CVV recuperá-las para a vida. Entretanto, o índice de recuperação é considerado
excelente pelos dirigentes da entidade, o que os anima a prosseguir na luta
apesar das enormes dificuldades
Em princípios de 1971, a entidade lançou uma ramificação em Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, entregando a responsabilidade do funcionamento da filial gaúcha a
duas abnegadas professoras, que tiveram a iniciativa de enfrentar, no Sul, o
trabalho de prevenção do suicídio. Aliás, uma das finalidades do CVV é a de
instalar postos de atendimento nas principais capitais do país e nas grandes
cidades do Estado de S. Paulo à medida em que forem surgindo, nessas cidades,
elementos de boa-vontade, o CVV irá orientando e fornecendo todo o programa de
preparação de plantonistas.
0 problema do suicídio em nossa sociedade, ainda é cercado de uma série de
tabus e frases feitas. Por exemplo: : “Quem quer se matar não avisa”. È uma
frase-feita, repetida indefinidamente, sem qualquer fundamento em fatos. A
experiência do CVV e dos demais centros de socorro telefônico instalado em
outros países demonstra que o suicida em potencial dá muitos avisos. Na maioria
das vezes, entretanto, tais aviso,- não são compreendidos por amigos e
familiares; e a pessoa acaba se matando. Quando o indivíduo dispõe de um
telefone, como o do CVV, ele se agarra realmente a esse telefone, que lhe
representa a tábua lançada no oceano revolto, onde ele, náufrago da vida, poderá
se agarrar. 0 plantonista do CVV oferece amizade ao suicida em potencial ; a
amizade tão difícil de ser encontrada hoje em dia. Não proporciona auxílio
financeiro nem o ajuda diretamente a solucionar seus problemas; proporciona-lhe
o desabafo e o apoio moral, encorajando-o a enfrentar os problemas com renovada
disposição. É a própria valorização da vida; superada a, crise suicida, o
indivíduo não se sentirá dependente de ninguém e terá condições de enfrentar
seus problemas.
“Suicídio se resolve com aumento de salário”, é outra frase-feita absurda. 0
problema financeiro é o que menos pesa na decisão de suicídio de uma pessoa. Os
motivos que levam realmente as pessoas a pensar em auto-destruição estão
ligados, em sua esmagadora maioria, ao campo afetivo. É a chamada deterioração
afetiva, que leva a pessoa, fatalmente, a sentir-se só. Um solitário no meio da
multidão. Um indivíduo carente de amizade, de alguém que o considere digno de
ser ouvido. E o CVV considera dignes de atenção todos que lhe batem às portas ou
discam o número de seu telefone. Mesmo que o indivíduo faça a ligação telefônica
para aplicar um “trote” no plantonista. Todos recebem amizade.
Atualmente o CVV conta com a colaboração de 45 plantonistas voluntários,
entre homens e mulheres, atendendo a uma média de 15 casos de suicidas em
potencial por mês. Seus plantonistas são indivíduos de boa-vontade que antes de
ingressarem no trabalho, são obrigados a freqüentar um curso especializado. 0
atendimento é feito seguindo as normas da chamada “psicoterapia de apoio”, e,
quando necessário, a entidade se vale da colaboração de médicos psiquiatras, que
também voluntariamente atendem às pessoas que lhes são encaminhadas. Não há
doutrinação religiosa em nenhum atendimento; o CVV mantém contate com todas as
religiões, e, desde que o indivíduo se mostre interessado, é encaminhado para a
religião desejada.
A norma básica do atendimento, que é seguida por todo plantonista, resume-se
numa frase: “Saber ouvir os problemas da pessoa”. Conhecidos os problemas, usar
as armas disponíveis pelo próprio indivíduo para que tais problemas sejam
superados. É evidente que em tal atendimento entra a Religião como impulsionador
maior: a Religião Cristã, que manda servir desinteressante
(Revista Internacional de Espiritismo – Março de 1972)