Tamanho
do Texto

Proposição de Alguns Princípios Espíritas de Sustentação Existencial

Quando olhamos para o mundo a partir da perspectiva que o Espiritismo proporciona, temos a possibilidade de olhar além do presente e captar princípios. Kardec, em “A Gênese”, utiliza a imagem do homem que ao chegar no alto da montanha vê melhor o caminho percorrido e o que tem ainda a ser vencido.

Aqui, gostaríamos de apontar alguns princípios para nos nortear na condução das nossas vidas enquanto encarnados, sob a luz da Doutrina dos Espíritos, e que podem ser enxergados como alertas do “alto da montanha” em perspectiva existencial. São eles:

  • Somos imortais. Não estamos prontos, estamos em processo de desenvolvimento e autoconhecimento. Isso se dá através de mecanismos condutores na forma de leis naturais, incluídas aqui leis morais (leia-se: que regem a alma). Mas, somos imortais, ou seja, tudo continua e nada aqui na Terra é definitivo. Trata-se de uma imortalidade dinâmica e construtiva do ser. Um processo a perder de vista que é incrementado com paz e felicidade na medida em que o crescimento acontece.
  • Nossa existência tem um sentido. Há direção. Não estamos soltos ao acaso. A criação é teleológica. Na Doutrina Espirita isso é chamado de evolução. O sentido de evolução aqui é cósmico e inclui um conjunto de leis que atuam para que o ser espiritual se aperfeiçoe e se desenvolva gradualmente, o que significa o aparecimento de qualidades que ampliam a compreensão e a capacidade de ação do espírito na criação divina.
  • Deus não está longe. A inteligência suprema e causa primária de todas as coisas está presente dentro e fora de nós, em essência e em ato criativo. A criação é contínua e eterna. No mais profundo do ser há de estar Deus e no mais profundo do universo também está Deus. Na prática isso significa a consciência de uma presença continua e ativa, a ser descoberta em suas nuances mais secretas e intimas.
  • Nós não estamos sozinhos na caminhada. A evolução da alma é individual, mas ocorre em ambiente fraterno que inclui todo o cosmos, e nele, todos os seres. Isso é belíssimo, os que estão adiantados auxiliam o que estão atrás numa corrente de solidariedade, compreensão e amor. Na grande teia da vida que abarca o universo, cada ser, a partir do seu próprio processo evolutivo, contribui com o todo e com aqueles que estão mais próximos a eles nas relações, mais que interpessoais, são “interespirituais”.
  • Somos únicos e temos um papel a ser executado. Aqui se aplica bem a palavra “missão”. Essa missão é única e individual, mas está integrada no projeto evolutivo maior. Aprender e evoluir é parte do mecanismo de progressão universal. A inatividade não é prevista na concepção da Doutrina Espírita, mas sim atividade construtiva e cada vez mais consciente sempre.
    As lições da vida são individuais. Cada pessoa é uma biografia especial, sem repetição e não dispomos de receita pronta para o auto aperfeiçoamento. É muito simples, baseado no princípio do livre-arbítrio individual, sem ignorar as influências do meio ambiental e social, cada um com base na própria história faz suas escolhas subjetivamente. Em grandes linhas, devemos entender que o processo evolutivo é biográfico, único, o que nos remete a produção de sentido existencial como um caminho individual. Nossa integração ao cosmos está conectada a um processo de descoberta de si mesmo rumo ao status de espírito cocriador.
  • Não é punição, é consequência. Dispomos de um mecanismo muito especial para nos guiar dentro da nossa condição humana: a consciência. Diferente do superego freudiano, por exemplo, a consciência é voz interna que nos alerta sutilmente quanto ao melhor caminho. A capacidade de ouvi-la cada vez melhor é um processo em desenvolvimento, e, na medida em que somos bem-sucedidos neste exercício melhor nos guiamos na caminhada evolutiva. Ignorar os recados íntimos que recebemos e seguir com opções que rumem para a infelicidade é visto como consequência, e não como punição divina – transgredimos leis naturais e sofremos o efeito. Após a lição e a reparação, estamos mais aptos a caminhar melhor.

Allan Kardec teceu em vários folhetos, e nas obras da codificação, diversos princípios e resumos doutrinários. Os acima brotam do nosso coração e reflexão, e claro, coincidem com eles ainda que incomparáveis quanto aos do codificador. O valor que vemos em partilha-los é quanto a perspectiva existencial e norteadora que eles nos parecem apontar enquanto estudantes do espiritismo.

Dispor de pilares que nos sustentem a caminhada significa carregar, na base das nossas motivações, certezas que nos fortalecem e dão a cada acontecimento um sentido especial. É assim que reforçamos: mais que ler, estude Kardec.

 

Rodrigo Romão

rodrigoromao@usp.br

Bibliografia:

KARDEC, A. O livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2013.

KARDEC, A. A Gênese. Brasília: FEB, 2013.

logo_feal radio boa nova logo_mundo_maior_editora tv logo_mundo_maior_filmes logo_amigos logo mundo maior logo Mercalivros logo_maior