A resistência que certas pessoas demonstram em relação ao progresso é algo
que nos parece inconcebível. Para justificar esta postura muitos apontam para a
possibilidade do mal uso que alguns podem fazer das instrumentas mais avançadas
que advém como resultado do progresso científico e tecnológico. A internet ou a
World Wide Web e a iminente e inevitável globalização estão, para algumas
pessoas, entre os temíveis avanços das últimas conquistas do progresso. Neste
caso mais especificamente, uma das alegações maiores é a possibilidade da perda
da privacidade uma vez que ao trafegarmos pela internet deixamos rastros e
estaremos vulneráveis a ataques em nossa privacidade por pessoas voltadas
somente para a prática do mal.
Não vemos razão a justificar esta postura reticente e reacionária. Se
passarmos com acuidade os olhos na história, veremos que o período mais sombrio
que a humanidade atravessou foi justamente o período em que as forças
organizadas da sociedade, em especial o sectarismo religioso, se opunha à
ciência e às novas descobertas do conhecimento científico.
O Espiritismo em sua mensagem racional e motivadora não dá azo a este tipo de
postura reacionária. Muito ao contrário ele veio para nos mostrar claramente que
não devemos temer o progresso. Somos todos espíritos imortais e fomos criados em
igualdade de condições, portanto com as mesmas oportunidades, mas só atingiremos
o ponto culminante da nossa jornada evolutiva – a perfeição e a felicidade
completa – através de muito trabalho o qual nos proporcionará o progresso
material e o conhecimento intelectual. Não devemos também esquecer que uma das
maiores dádivas a nós outorgada pelo Criador foi o livre-arbítrio, portanto cabe
a nós enfrentar com sabedoria as dificuldades que se nos apresenta no caminho.
Outro aspecto importante e relevante nesta questão é a consciência que devemos
ter da infalibilidade da Lei de Causa e Efeito que se encarregará de corrigir os
desvios que venhamos a cometer no uso do nosso livre-arbítrio. Nisto está
refletida a justiça de Deus de acordo com a máxima do “a cada um segundo as suas
obras”.
Em O Livro dos Espíritos, no capítulo
referente ao tema Da Lei do Progresso,
Allan Kardec perguntou aos espíritos na Questão 780, a) o seguinte:
Como pode o progresso intelectual engendrar o
progresso moral?
E a resposta dos espíritos foi a seguinte: “Fazendo
compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O
desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a
responsabilidade dos atos.”
Deste modo, podemos depreender que a marcha do progresso tem o seu curso
natural não obstante a resistência que alguns possam oferecer. Está patente
também que à medida que o progresso avança as nossas responsabilidades aumentam,
uma vez que temos maior capacidade de distinguir entre o bem e o mal. Deste
modo, chegamos a conclusão que temer o progresso seria o mesmo que temer a morte
já que ambos são inevitáveis. O que devemos ter em mente constantemente é saber
qual é a parcela de responsabilidade que cabe a cada um de nós individualmente,
a medida que a marcha do progresso coloca à nossa disposição as ferramentas que
são possíveis de serem usadas e este uso vir a afetar a vida dos nossos
semelhantes. Essas ferramentas em si não são um mal, mas o uso que faremos delas
é o que determinará os resultados.
A internet é sem sombra de dúvidas uma dessas descobertas que poderá ser
usada, o que já vem ocorrendo em grande escala, como uma potente ferramenta a
serviço do bem e do progresso moral da humanidade, tendo em vista a sua quase
ilimitada capacidade de penetração em todas as camadas sociais e a velocidade
com que nela trafegam as informações que nos dispusermos a passar adiante. Os
resultados serão cada vez maiores e promissores à medida que todos aqueles que
já entenderam que o progresso gera responsabilidade, se unam em torno de
projetos cujos resultados tragam verdadeiros benefícios aos seus semelhantes no
tocante ao aprimoramento moral de cada um.
A experiência do GEAE ao longo desses quase doze anos de existência unindo
pessoas de várias partes do mundo e estimulando-as ao estudo fraterno da
Doutrina Espírita, uma doutrina que tem como escopo ajudar o ser humano em sua
marcha evolutiva, nos dá a certeza de que não devemos termer o progresso, mas
sim nos dar as mãos e trabalharmos unidos na tarefa de promover o bem através do
uso das ferramentas que o progresso coloca ao nosso alcance.
Muita Paz, Antonio Leite
(Publicado no Boletim GEAE Número 474 de 27 de abril de 2004)