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A propaganda do Espiritismo

A propaganda do Espiritismo

O Espiritismo é a doutrina do conhecimento. Nenhuma outra doutrina, voltada
para a espiritualidade do ser humano, dispõe dos arsenais teóricos que o
Espiritismo possui. Herculano Pires afirmou que o Espiritismo deve provocar uma
verdadeira revolução no ser e na sociedade. Essa revolução só pode ser
compreendida como a revolução do saber. Tal como a crença espírita se diferencia
da crença comum exatamente pelo saber, o espírita se diferencia do adepto de
qualquer outro credo religioso pelo conhecimento que deve possuir da doutrina
que professa.

Deter apenas esse conhecimento não é suficiente. Assim como não é suficiente
dominá-lo a nível de memorização. É preciso fazer uso dele e, para tanto,
torna-se necessário descer à sua real profundidade. Do contrário, poderemos ter
uma posição ilusória. Isso acontece quando o indivíduo pensa que conhece a
doutrina, movimenta-se como se de fato a conhecesse, escreve e fala aparentando
o domínio dela, mas não sai da superficialidade nem é capaz de saber o quanto a
sua cultura está distante da cultura espírita. Sequer descobre como e quando
esta pode ser usada.

A propaganda do Espiritismo, portanto, deve ser feita com a consciência de
que a doutrina não pode ser oferecida como um novo acessório cultural, que as
pessoas usarão em momentos próprios. A doutrina não é um simples adereço, que
será usado para aumentar o poder individual de atração.

Como tal, ela não tem função, não serve para nada. O seu valor está em poder
provocar a revolução no ser humano, completa, redirecionando-o em seu caminho.
Uma revolução que forçosamente desembocará no social.

Propaganda versus proselitismo

A convicção não se impõe, disse Kardec. O Espiritismo não é uma doutrina
interessada na quantidade, senão se a esta é possível oferecer qualidade. Não
basta ser espírita para conquistar uma situação estável na espiritualidade. Por
isso, diante da necessidade de divulgação doutrinária, muitas vezes surge o
obstáculo do proselitismo. E surgem também as confusões: alguns não fazem
distinção entre divulgação e proselitismo e acabam realizando aquilo que se pode
chamar “propaganda proselitista”. Por outro lado, outros, entendendo toda e
qualquer divulgação como ato proselitista, nada fazem a nível de divulgação.

Coibir a divulgação ou realizar uma propaganda proselitista acaba sendo dois
extremos de uma mesma situação. Ambos negativos. E são também o resultado de uma
compreensão superficial do assunto.

Vamos, pois, conhecer a definição exata dos termos, para poder compreender
corretamente a divulgação doutrinária.

Propaganda – Disseminação de idéias, informações, conhecimentos. Publicidade.

Propagar – espalhar, difundir, vulgarizar.

Divulgação – ato ou efeito de divulgar.

Divulgar – propalar, tornar público, apregoar, difundir.

Prosélito – Aquele que se converteu a uma religião diferente da que tinha.
Indivíduo que aderiu a uma doutrina, idéia ou sistema. Partidário, sectário.

Proselitismo – Atividade de criar prosélitos.

Pelas definições acima, compreende-se que fazer propaganda do Espiritismo é
disseminar suas idéias, informações e conhecimentos na sociedade, com o objetivo
de torná-los públicos. Fica claro, também, que não faz parte da divulgação a
intenção de converter as pessoas à Doutrina Espírita, pois toda propaganda feita
com esta intenção será propaganda proselitista.

Os mais afoitos poderão perguntar: mas, se não é objetivo conquistar adeptos,
para que serve a propaganda? A resposta é esta: sendo o Espiritismo um manancial
de informações, idéias e conhecimentos, é preciso tornar esse manancial
conhecido do maior número possível de pessoas, a fim de que elas possam
utilizá-los em sua vida, assim como se utilizam de outros conhecimentos,
informações e idéias.

Para aqueles que imaginam que isso é muito pouco, diremos que estão
enganados. Conseguir realizar esse intento é tarefa das mais difíceis e
complicadas. Imaginar que se pode dar mais do que isto na propaganda é pura
ilusão. É, aliás, um dos erros em que labora muitos dos espíritas que escrevem
para a imprensa ou falam no rádio ou TV.

A idéia de que a propaganda visa conquistar adeptos foi condenada por Kardec
exatamente porque ele sabia que não adianta ter milhões de seguidores se estes
milhões não alcançam a profundidade doutrinária. A quantidade pode até
desenvolver o orgulho de dizer – “somos milhões de adeptos” – e pode também dar
idéia de força – “por sermos milhões, somos um movimento forte” – mas, com isso,
não passaremos de um movimento semelhante a muitos outros. Teremos o rótulo
“espírita”, milhares de centros onde reunir, faremos inveja a doutrinas e
religiões, seremos assediados por políticos ávidos de votos, comunicadores,
jornalistas etc., mas não teremos o principal: a consciência espírita.

O interesse pela quantidade existe naquelas doutrinas onde o conhecimento não
faz parte da formação do adepto. Entendem elas que sua missão é difundir “a
palavra de Deus”, espalhar a “graça”, com sentido de “salvação” das almas. Já
para o Espiritismo estas coisas não possuem o mesmo significado. Assim, outro é
o objetivo da Doutrina.

O proselitismo na propaganda

Apesar de saber que o proselitismo não faz parte do objetivo do Espiritismo,
muitos o utilizam nos meios doutrinários e fora deles. Como e onde ele aparece é
o que vamos ver a partir de agora.

Na imprensa espírita

O proselitismo aparece geralmente nas crônicas e comentários escritos por
criaturas bem intencionadas, mas mal orientadas. Elas usam o tom da doutrinação,
tentando convencer o leitor de que aquilo que dizem é uma verdade que não pode
ser questionada. Falam como se tudo o que o ser humano precisa estivesse no
Espiritismo e aquilo que não faz parte da Doutrina não passa de coisa
secundária. Não dão margem para o leitor raciocinar, nem lhes permitem qualquer
opção. Às vezes, colocam-no “entre a cruz e a espada”, ou seja, ou aceitam o que
lêem ou vão para o… Umbral! Sua linguagem é cansativa, ultrapassada, fora dos
padrões atuais do jornalismo. São repetitivos e sem imaginação. Utilizam-se de
lugares comuns, sem fornecer elementos comprobatórios. Sem o saber, são mais
nocivos do que úteis à causa.

Na tribuna

O proselitismo está aí presente semelhante ao item anterior, só que aqui o
indivíduo fala, ao invés de escrever. O tom, porém, é o mesmo: de doutrinação. O
palestrante usa de inflexões estudadas, tem a voz melíflua, dá a idéia de
santificação, muitas vezes copia oradores famosos, finge humildade que não
possuem. Tudo isso para impressionar. No entanto, o seu conhecimento espírita é
apenas superficial. Pouco estudou, mas é bom de memória. Cita autores, mas não
lhes conhece o pensamento verdadeiro. Fala de pesquisas, por ouvir dizer. Enfim,
seu objetivo maior é conquistar o ouvinte para o seu ponto de vista, trazê-lo
para o centro, modificar ou impor-lhe a convicção espírita, sem um convencimento
verdadeiro proveniente da informação, do desenvolvimento de idéias claras e
encadeadas, da expressão de conhecimentos comprovados.

No rádio

O proselitismo se manifesta no rádio, em programas ditos espíritas, quando a
linguagem do redator ou apresentador não é adequada para o veículo e em seu
lugar é utilizada a leitura de mensagens espirituais e textos doutrinários. A
seguir, são feitos longos e maçantes comentários, geralmente na linha
evangélica, buscando alcançar o ouvinte pelo lado do sentimento e do medo. Ainda
uma vez, o tom é de doutrinação. A repetição de lugares comuns é aí uma
constante.

Para preencher o tempo, desperdiçam-no com interpretações de acontecimentos,
às vezes desbaratadas, sem lógica. Assim como na tribuna e na imprensa, as
pessoas que ouvem tais programas até o fim não conseguem tirar deles a idéia
real da Doutrina Espírita.

No Centro Espírita

A linha proselitista (que normalmente é acompanhada do tom doutrinante) pode
se manifestar de diversas maneiras na casa espírita. Muitas vezes, de forma
inconsciente. Aliás. É sempre assim. A linha proselitista é acima de tudo a
comprovação da falta de profundidade doutrinária, antes de ser algo mal
intencionado. Além disso, todas as atitudes que têm por objetivo reter o
indivíduo, sem lhe dar razões profundas de ordem doutrinária, são atitudes
proselitistas.

O próprio passe, dado a esmo, pode se enquadrar nesta definição.

Propaganda versus propaganda

É preciso fixar, também, uma diferença fundamental entre a propaganda do
Espiritismo e a propaganda como é praticada profissionalmente, visando vender
produtos e serviços. Neste tipo de propaganda, as técnicas são usadas visando
persuadir o consumidor a adquirir o produto. Por isso, são ressaltados virtudes
e diferenciais dos produtos ou serviços e quando os diferenciais não existem,
são criados, porque dificilmente alguém compra alguma coisa se não for
convencido de que aquilo é melhor do que o similar. Na propaganda de “venda”,
embora eticamente reprovável, são às vezes utilizadas técnicas subliminares, as
quais consistem em convencer o consumidor por meio de mensagens que alcançam o
seu subconsciente. Há ainda o conceito de necessidade: o consumidor é convencido
de que precisa de tal produto e deve portanto adquiri-lo.

Aliás, no “Livro dos Espíritos”, encontramos a afirmação correta de que “a
civilização obriga o homem a trabalhar mais (do que precisa), porque aumenta as
suas necessidades e os seus prazeres”. A propaganda profissional tem este lado
crítico, que cria necessidades para atender o compromisso econômico.

Vista assim, a propaganda doutrinária será mais uma vez proselitista. Afinal,
ela tenderá “vender” o produto “conhecimento” através da persuasão, da criação
de uma suposta necessidade ou de mensagens subliminares. Todas amplamente
prejudiciais. A propaganda do Espiritismo deverá seguir um caminho próprio em
que, em todas as circunstâncias, a ética, o bom senso e o respeito à liberdade
de pensar sejam protegidos e, se possível, valorizados.

A propaganda em outros credos

Principalmente entre os evangélicos, vigoram técnicas e meios de persuasão
que não levam em consideração os aspectos apontados atrás. Os indivíduos são
cada vez mais persuadidos a seguirem determinados preceitos, a título de
salvação futura. A propaganda aí, não raro atinge as raias do absurdo, quando os
ditos “pastores”, movidos por interesses particulares e jamais revelados,
convencem os adeptos a fazerem polpudas doações, enchendo sacolas de dinheiro e
criando um domínio econômico através de instituições sociais poderosas.

Alguns adeptos do Espiritismo, principalmente diante das naturais
dificuldades financeiras e de mão-de-obra na tarefa doutrinária, apontam para os
exemplos daquelas doutrinas e perguntam porque os espíritas não procedem de
forma semelhante? São adeptos do autoritarismo e entendem que os fins justificam
os meios. Ledo engano. Age corretamente o movimento espírita ao pautar-se por
uma linha de conduta em que o indivíduo só se torna adepto por vontade própria.
E participa do movimento se deseja e sente necessidade.

A falta de dinheiro não justifica o uso de meios ilícitos para alcançá-lo e a
propaganda espírita não pode seguir o caminho dos outros credos, onde o
proselitismo é acentuado e justificado. É claro que o entendimento superficial
da caridade gerou e gera nos meios espíritas uma ojeriza por dinheiro, levando
grande parte dos adeptos a imaginar que tudo deve lhe ser oferecido de graça.
Esse exagero deve ser corrigido sem criar-se outras dependências.

A propaganda doutrinária consciente

O uso das modernas técnicas de comunicação, corrigidos os eventuais desvios,
é de grande importância para o centro espírita. Antes de mais nada, é preciso
esclarecer que a comunicação não significa sempre o gasto de grandes verbas. Um
dos pontos cardeais da propaganda é o bom senso aliado ao bom-gosto. Muitas
vezes, mal orientadas, as pessoas são levadas a dispender altas verbas em
campanhas deficientes, que não atingem os objetivos. É preciso, portanto,
entender que os meios espíritas têm plena condição de utilizar uma propaganda da
Doutrina bem feita, dentro dos limites de tempo, espaço e dinheiro disponíveis.

Com o avanço da tecnologia, mudam-se as técnicas de propaganda. Esta ganha
diariamente novos meios e conceitos. Hoje, fala-se muito em multimídia. Atentos
a isso, os espíritas vêem diante de si uma larga possibilidade de realizações.
Um tipo de propaganda, porém, continua invencível: o boca-a-boca. Sim, a
propaganda gerada de pessoa para pessoa continua e continuará sendo a de maior
credibilidade.

Os recursos e instrumentos utilizáveis para fazer a Doutrina mais conhecida
são quase infinitos.

Vamos enumerar, aqui, alguns, sem que seja preciso tecer longas considerações
sobre cada um.

Coluna em jornais não espíritas

Muito útil, desde que utilizada por pessoa preparada, que não só saiba
escrever na linguagem jornalística, mas também saiba explorar convenientemente
os assuntos. Torna-se deficiente quando escrito com sentido de doutrinação.

Programa de Rádio

Idem. Sabendo utilizar, produz excelentes resultados.

Programa em TV

Trata-se de uma das fronteiras ainda não bem devassadas pelo movimento
espírita. Por ser um veículo importante para a comunicação, carece de maior
preparo por parte daqueles que pretendam divulgar por ele a doutrina.

Jornal espírita

Importante e muito útil. É preciso, porém, ser feito por quem entende de
jornalismo e sua linguagem. Quando se torna doutrinante, perde sua capacidade de
interessar ao leitor.

Out-door

Pouco explorado. Muito caro. Precisa ser utilizado com técnica.

Cartazes

Feitos para divulgar eventos ou até fatos existentes dentro do centro
espírita. Devem ser produzidos, sempre que possível, por pessoas qualificadas.

Livro

Tarefa a ser desenvolvida por pessoas qualificadas. Quando bem escritos, são
de fundamental importância para a conscientização do espírita.

Editora espírita

Trabalho útil, pois permite difundir livros, sem os quais ninguém pode
tornar-se uma espírita verdadeiro.

Volantes

Pequenos cartazes, feitos para comunicar um acontecimento, palestra, curso
etc.

Palestra Pública

Útil, desde que leve as pessoas a raciocinarem.

Cursos doutrinários

Necessários. Bem elaborados, levam os interessados a apreenderem a Doutrina
em sua profundidade.

Simpósios, Encontros, Congressos

Úteis. Permitem aos participantes uma visão de como anda a Doutrina nas
diversas regiões, além de um contato que estreita o relacionamento.

Materiais Diversos

Todo tipo de material que possa difundir conceitos ou informações de caráter
doutrinário ou do movimento espírita.

Existem inúmeras outras formas de divulgar a Doutrina. O importante é que a
divulgação seja, na compreensão dos dirigentes espíritas, uma tarefa das mais
importantes e sua consecução obedeça ao objetivo de fazer espíritas conscientes,
antes de torná-los simples adeptos.