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A Propósito do Dia das Mães

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Enéas Canhadas

Na versão para o português do padre João Ferreira de Almeida, o Livro do Êxodo, no capítulo 20, o verso 12: “honrarás ao teu pai e a tua mãe”, enuncia o quinto mandamento que completa dizendo “… para que se prolonguem na terra os dias que o Senhor teu Deus te dá”. O que isto significa para nós, ainda nos dias de hoje, um mandamento ordenando honrar pai e mãe? No tempo em que Moisés liderava o povo de Israel na sua peregrinação pelo deserto, é fácil compreender pois, o líder Moisés deveria garantir a ordem e o respeito mútuo entre toda aquela gente. Respeitar os poderes patriarcal e matriarcal só ajudaria as coisas a continuarem em paz. Até por que honrar pai e mãe é, intuitivamente para não dizermos mais, aceitável e compreensível. Difícil o filho ou filha que não sinta um pai ou uma mãe como venerandos, por quem alimenta gratidão e zelosa consideração.Mas, o que mais podemos atualmente compreender desse mandamento? Poderíamos refletir sobre as atrocidades e desvirtuamento do comportamento humano, com relação aos pais, que nos deixa estarrecidos. Podemos, até mesmo nos identificar com o anúncio de que o fim do mundo está próximo, vendo as notícias que a imprensa nos traz a respeito das relações entre filhos e pais. No entanto, esse mandamento pode nos levar mais longe, para dentro de nós mesmos, a fim de compreendermos no que esse decreto nos toca, no mais íntimo do nosso ser e, principalmente, para o nosso bem pessoal.  Para prolongar os nossos dias na Terra que o Senhor Deus nos dá, é, antes de qualquer coisa, uma espécie de recompensa.

Manter a nossa origem atestada por mais tempo. É nos fazermos dignos da administração dos bens que os nossos antepassados nos legaram como talentos a serem cuidados e multiplicados. Quando respeitamos o nosso passado, temos um presente melhor, porque mais consciente. Ser capaz de honrar àqueles que nos legaram a herança dos seus gens, é acolher a nossa ancestralidade para nos compreendermos melhor. Para seguir a instrução do Livro dos Espíritos quando nos fala do conhecimento de nós mesmos, torna-se fundamental saber quem somos para compreender como fomos no passado. Essa conexão com os nossos ancestrais nos permite a ligação com os nossos fundamentos. Cada um de nós, é uma história única e viva. É preciso que saibamos valorizar e honrar a nossa história. É preciso nos orgulharmos da nossa história que é exclusiva dentre todas as histórias de todos os Espíritos que habitam a Terra. Mesmo assim podemos nos indagar sobre o por quê de valorizar a nossa história. Honrar as nossas origens nos permite o discernimento do nosso modo de ser e de agir no agora. Trata-se do verdadeiro quem somos, da nossa identidade. Somos seres identificados na medida em que possuímos clareza do que é ser uma identidade. Isto é ter ciência e consciência de ser o que somos. Quem não compreende a própria história não faz uma história própria. E não estamos com isso, fazendo apenas um jogo de palavras. É preciso conhecer a história para fazer uma história diferente, isto é, uma história exclusiva de seres únicos que somos.  Na árvore da existência somos um galho ou, quem sabe, uma folha na ponta desse galho mas que, para estar viva, precisa estar ligada às raízes mergulhadas na Terra. Estar pois, ligado às raízes, é pertencer à árvore da sua vida pela ramificação dos antepassados e das heranças das quais somos portadores. É a responsabilidade dos talentos que recebemos para viver neste mundo e construir a nossa trajetória na medida em que vivemos as nossas experiências de compreensão, conhecimento, informação e desenvolvimento.

Das nossas raízes, também nos vem o senso de orientação. Se temos um norte sabemos para onde caminhar. Se possuímos um oriente sabemos para onde fica a outra face do mundo. São as nossas raízes que nos apontam rumos como se encontrássemos dentro de nós os nossos próprios guias.

Somos seres identificados porque possuímos uma autenticidade que é formada de tudo que fomos no passado. Somos uma composição de experiências passadas que permanecem vivas para lapidar o nosso Espírito, moldando-o na caminhada da vida. Basta você caminhar à pé por alguns quilômetros por uma estrada, de preferência uma estrada de terra batida com poeira e pedras, tendo às margens árvores altas e baixas e quando em vez, o ruído de uma cascata onde os pássaros arreliam com a natureza, para perceber-se possuidor dessas experiências passadas de onde emanam suas marcas e símbolos, de onde procedem o que lhe é mais genuíno e próprio.  Não estamos tratando de olhar para trás simplesmente. Tratamos de seguir em frente com a consciência do que é passado. Assim sendo, tornamos o passado presente, porque o exercitamos de novo. A vida humana sustenta-se por uma lucidez e discernimento que cultivamos pelos caminhos das nossas vivências. A lucidez é um exercício porque a memória precisa dessa clareza e consciência. A lucidez do ser humano é que faz dele uma clareira. Um ser humano caminhando pela vida é uma clareira permanente em cada acampamento que faz na floresta do seu existir contínuo. Se perdemos a consciência de quem somos, a clareira se apaga, deixa de existir, permitindo que ali cresçam ervas e árvores cobrindo o chão e integrando-se a uma floresta de esquecimento e indiferenciação. O existir humano é uma experiência diferenciada porque próprio de uma só pessoa. Nenhuma outra poderá viver o seu espaço no mundo. Assim como as árvores jamais vão reivindicar enraizar-se no lugar de outra, supondo que na floresta existam lugares melhores ou privilegiados.  Honrar pai e mãe, é estar sintonizado e conectado com os elos aos quais estamos vinculados até as origens da vida. Esta cadeia nos leva até a dimensão divina que nos faz seres existentes. Que responsabilidade e que privilégio de consciência! Vale à pena estar vivo compreendendo o que se é. Honrar as nossas fontes e os nossos primórdios é possuir um senso de direção pois só podemos saber para onde ir se soubermos de onde viemos. É essa consciência que nos dá destino e faz a nossa vida ser mais precisa. Vivermos com a sensação de corpos soltos no espaço é desesperador porque é como estar em lugar nenhum.