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Psicodigitação – A Psicografia na era do Computador

Carlos Alberto Iglesia Bernardo

Recentemente o amigo Elzio Ferreira de Souza nos presenteou com um exemplar de uma nova obra mediúnica sua, de autoria do espírito Yogashririshnam, que nos surpreendeu pela apresentação na capa. Junto ao nome do Elzio, como médium, está a palavra “psicodigitação“. Lendo o prefácio e trocando idéias com ele entendemos o motivo da designação que é mais do que exata. O prefácio explica:

“As mensagens constantes deste livro foram recepcionadas durante o período de 27.11.2001 a 19.07.2002. Tínhamos concluído e publicado o livro Espiritismo em Movimento cujos capítulos tinham sido inteiramente digitados pela confreira Diana Santiago da Fonseca, quando, em novembro de 1999, o Espírito de Deolindo Amorin convidou-nos à continuação do trabalho psicográfico. Sem tempo para a recepção e posterior digitação, objetei-lhe que as inúmeras tarefas e a saúde seriam obstáculos para a continuação da parceria, tendo ele sugerido a recepção direta no computador, libertando-me do trabalho posterior à psicografia. Aventurei-me porque no trabalho anterior tinha ele datilografado dois capítulos. E foi assim que a psicodigitação se iniciou” (…) ” Depois que Deolindo terminou os trabalhos que desejava realizar, Yogashririshnam, utilizou-se do mesmo método para continuar o intercâmbio”.

O trabalho anterior mencionado, “O Espiritismo em Movimento”, já foi comentado no Boletim, mas é importante recordar que é uma obra séria e de grande valia para o estudioso da doutrina, discutindo diversos problemas e situações que lidam diretamente com a forma como seus adeptos se organizam e a praticam.. Também chegamos a comentar outra obra do Espírito Yogashririshnam, que traz – dentro da forma de parábolas e pequenos estudos – reflexões profundas sobre o ser e sua vivência da Doutrina Espírita. As origens hindus do autor espiritual de maneira alguma significam sincretismo ou a propaganda de idéias filosóficas estranhas a Doutrina, mas lhe dão uma visão bastante peculiar de seus postulados que lhe permitem ir direto a pontos que normalmente nos passam despercebidos.

A obra que me chamou a atenção para a psicodigitação traz o título “Espaço, Tempo e Causalidade” (Bahia: Circulus, 2003), que a primeira vista parece ser um tratado de física, mas que na realidade se trata de um enfoque sociológico, com explica o Elzio:

” Ao leitor poderá parecer estranho o título Espaço, Tempo e Causalidade por não se tratar de um livro que aborde as questões relativas à ciência física. Determinados termos, porém, são empregados em diversos ramos do saber com diversidade de conceituação conforme o campo do conhecimento em que se estruturam. Espaço, tempo e causalidade são alguns deles. (…) O espaço social é o universo em que se processam as relações humanas ou o campo em que se desenvolvem os processos sociais“.

Desnecessário dizer – pois Elzio é companheiro de longa data no GEAE e também tem um histórico longo de atuação no movimento espírita – que seu trabalho é de grande confiabilidade, demonstrada inclusive na forma como ele descreve o “aprendizado” do processo de psicodigitação:

“Ao recepcionar as mensagens, tomei a precaução de cobrir a tela do monitor, digitando de olhos cerrados, rapidamente. Com o passar do tempo, concluí pela desnecessidade da ocultação, continuando a digitar sem visualizá-lo”.

E bastante interessante é que o aprendizado teve que ocorrer da parte de Yogashririshnam também:

“Pudemos notar que o Deolindo deveria sentir-se mais à vontade em fazê-lo, acostumado que era, em vida, a escrever seus textos diretamente na máquina de escrever. Yogashririshnam teve que se adaptar ao processo, segundo me parece, porque inicialmente eu cometia erros de digitação quando se tratava deste Espírito, o que quase não acontecia com Deolindo”.

A surpresa que tive foi resultado de perceber que este era um desenvolvimento perfeitamente natural no processo mediúnico – considerando o uso cada vez mais intenso do computador – e ao mesmo tempo de não ter ainda visto este gênero novo ser destacado. Também me chamou a atenção o fato de que – da mesma maneira que na época de Kardec* – tenham sido os espíritos que tomaram a iniciativa de propor um novo aperfeiçoamento no processo de transmissão das mensagens mediúnicas.

Enfim, eis que temos uma palavra nova no vocabulário espírita, que com o desenvolvimento da tecnologia e da sociedade, continua a se ampliar.

Muita Paz,

Carlos Iglesia

* “O meio de correspondência era demorado e incômodo. O Espírito, e isto é ainda uma circunstância digna de nota, indicou um outro. É um desses seres invisíveis que dá o conselho de adaptar um lápis a um cesto ou a um outro objeto” Allan Kardec, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita – IV, O Livro dos Espíritos. Tradução Salvador Gentile, São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1975.

(Publicado no Boletim GEAE Número 471 de 24 de fevereiro de 2004)