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As Quatro Nobres Verdades – Parte 1

As Quatro Nobres Verdades – Parte 1

5 – Os Sufis, procurando extrair dos ensinamentos de Maomé o
seu significado profundo – além de cumprir as observações exteriores exigidas de
todo muçulmano – incorporaram ao Islamismo conhecimentos sobre o espírito e o
Universo, de nítida influencia indiana. Veja-se, por exemplo, os versos de um
poeta persa do século XI:

“Como vela en la llama, en su fuego me derreti
y el resplandor oscilante,
sólo a Dios vi.

Com mis proprios ojos, a mí mismo me vi,
pero al mirar con los ojos de Dios,
sólo a Dios vi.

Desvanecido en la nada, me diluí.
Yo era la vida, el Universo … y,
sólo a Dios vi.”

Outro exemplo são as obras de Ibn Arabi, sufi nascido em Murcia em 1164 e
falecido em Damasco em 1240, considerado pelos árabes como o “maior dos mestres”
e “vivificador da Religião”:

“Lo que quiero decir es que tú no eres, o posees tal o tal cualidad, que
no existes y que no existirás jamás, ni por ti mismo, ni por El, en El o con
El. Tú no puedes cesar de ser, porque no eres. Tú eres El y El es tú, sin
ninguna dependencia o casualidad. Si alcanzas a reconocer en tu existencia
esta cualidad de la nada, entonces conoces a Alá. En otro caso, no.”.

Estes dois trechos são da tradução espanhola, por Roberto Pla
(Editorial Sirio S.A. – Málaga, España), do livro “Tratado de La Unidad”,
escrito por Ibn Arabi.

Jalal ud-Din Rumi, poeta persa do séc XIII, assim se expressou sobre o mundo:

Este mundo que é nada
e encobre a beleza de Deus
é também sinal e prova de sua presença.
Nossa existência – mero favor
de Shams de Tabriz, obséquio da alma –
encobre sua essência
e diante dela se envergonha.
Poemas Místicos, Divan de Shams de Tabriz
Jalal ud-Din Rumi
Trad. José Jorge de Carvalho, Attar Editorial

6 – Um dos capítulos mais tristes da história ocidental, que
compete com as cruzadas no tocante ao distanciamento a justiça e a verdade, foi
a guerra do Ópio (1839-1842). Por esta guerra, as potencias ocidentais
garantiram a abertura dos portos chineses ao comércio da nefanda droga:

O ópio era o único produto estrangeiro, controlado por fornecedores
estrangeiros, que os consumidores chineses desejavam, ou aprenderam a desejar,
em grandes quantidades. Como ocorria com a droga mais suave exportada em troca –
o chá, que se dizia ter sido descoberto por Buda para se livrar do sono -, sua
demanda parece ter sido determinada pela oferta. Quando, em 1729, a China
proibiu pela primeira vez este comércio, calculou-se que as importações eram de
cerca de duzentas caixas anuais; em 1767, registraram-se mil caixas; no final da
década de 1830, quando este comércio assumiu proporções que ameaçavam com a
guerra, mais de dez mil caixas entravam anualmente na China. Para o governo
chinês, sua exclusão era, ao mesmo tempo, uma questão de interesse econômico e
de retidão moral; para a Inglaterra, a possibilidade de acesso ao mercado chinês
era não só um imperativo material, mas também um símbolo da liberdade de
comércio. Quando a China procurou energicamente impedir as importações, a
Grã-Bretanha a invadiu.
” Milênio – Uma história de nossos últimos mil anos,
Felipe Fernández-Armesto, ed. Record.

7 – O leitor que duvide desta afirmação, que faça uma visita
a São Paulo e dê uma caminhada pela região central da cidade, pelo bairro da
Liberdade e suas imediações. Vai reparar que muito próximos encontrará igrejas
católicas, templos budistas, lojas maçônicas, grupos espíritas, tendas de
umbanda, igrejas protestantes, modernas faculdades e – símbolo máximo talvez da
cultura americana – lanchonetes de “fast food” como o Mac Donalds.

8 – Vide o trecho transcrito abaixo, do livro “La
Espiritualidad Hinduista”, de Swami Vivekananda (1863-1902), discipulo de Sri
Ramakrishna. Ambos foram grandes reformadores do Hinduísmo na India Moderna e
naturalmente depararam-se com a questão das relações entre ocidente e oriente:

Para um oriental, o mundo do Espírito é tão real quanto o mundo dos
sentidos para um ocidental. No mundo espiritual, o oriental encontra o que
deseja e espera, nele descobre tudo o que torna real sua vida. Do ponto de vista
de um ocidental, o oriental é um sonhador; enquanto que do ponto de vista de um
oriental, o sonhador é o ocidental, que lida com coisas efêmeras (que juega con
juguetes efemeros) … Cada um chama de sonhador ao outro.

Porem o ideal oriental é tão necessário ao progresso da humanidade como é
o ocidental. As maquinas não tem feito, nem farão jamais, feliz a humanidade …
Estas coisas não os farão felizes, a não ser que vocês levem dentro de sí a
força da felicidade (estas cosas no os harán felices, salvo que llevéis dentro
la fuerza de la felicidad); a não ser que vocês tenham conquistado a sí
próprios.

É verdade que o homem nasceu para conquistar a Natureza, porem, por
“Natureza”, o ocidental entende somente a natureza física e externa. A natureza
externa com suas montanhas, seus mares e seus rios, com suas forças e sua
infinita diversidade, é, sem duvida alguma, majestosa; contudo, existe também a
natureza interior do homem, que é mais majestosa ainda … e nos brinda com
outro campo de estudos. Neste sobressai o oriental, da mesma forma que o
ocidental sobressai no outro. Portanto, é justo que, quando seja necessário um
reajuste espiritual, este venha do Oriente. Também é justo que, quando o
oriental queira aprender a construir maquinas, se coloque aos pés do ocidental e
aprenda dele; porém, quando o ocidental queira saber coisas do espírito, de Deus
e da alma, e do significado e mistério deste universo, há de colocar-se aos pés
do oriental para aprender”.
(cap. El Neo-hinduismo, Espiritualidad
Hinduista, Daniel Acharuparambil)

9 – “Iglesia, eu vou colocar algumas sugestões, mas há uma
de ordem geral que lhe peço permissão para fazer. Acho que você deveria colocar
as posições budistas e espíritas de um modo bem estrito, e depois fazer um
comentário, demonstrando a identidade ou semelhança das doutrinas, embora a
aparente diferença do discurso, nos casos em que couber, ou demonstrando as
diferenças reais. Acho que deve haver uma advertência, esclarecendo que a
comparação está sendo feita com o budismo tibetano, porque as doutrinas têm
nuanças e é importante respeitá-las. Vivekananda, por exemplo, discorda da
interpretação que muitos discípulos de Buda deram a suas lições. Em realidade, o
que conhecemos, hoje, do Budismo passa pelos olhos dos discípulos, desde que
Buda como Jesus nada escreveu, e são passados 2500 anos de formulações
doutrinárias na busca de um melhor entendimento e prática.”
Elzio Ferreira
de Souza (sobre o primeiro esboço do artigo que lhe enviei para análise)

(Publicado no Boletim GEAE Número 428 de 22 de janeiro de 2002)