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Quem é o Jovem? Quem Somos Nós?

Quem é o Jovem? Quem Somos Nós?

Minuto a minuto regressam à Vida espiritual, pelas portas da
desencarnação, milhões de criaturas, dentre as quais homens de bem, pessoas
dignas, virtuosas, dedicadas ao bem do próximo, mas também seres comprometidos
com vícios materiais e morais – alcoolismo, tabagismo e dependência de outras
drogas, maledicência, intriga, egoísmo -, suicidas, ladrões, assassinos, almas
que venderam a própria consciência ou que corromperam outras consciências,
pessoas omissas, etc…

 

Minuto a minuto, também, regressam à Vida física, pelas portas abençoadas
da reencarnação, milhões e milhões de seres, com vistas a atender aos
impositivos da lei de progresso. Uns, submetidos compulsoriamente ao processo
reencarnatório, outros, desejosos de libertarem-se de dívidas assumidas no
passado, conscientes de suas necessidades, outros mais, submetendo-se a provas
redentoras no ambiente familiar, Almas que assumiram compromissos definidos no
campo da ciência, da política, da religião, nas fileiras espíritas, na
mediunidade…

Mas quem são eles? Quem somos nós? Quem são essas Almas que animam novos
corpos? Quem são essas crianças que amamos como nossos filhos? Quem são esses
jovens que vemos com alegria e esperança de renovação autêntica?

Quem são? Quem somos?

Somos os mesmos que deixamos a Terra no passado e que contribuimos para que o
mundo esteja como está; os que ajudamos o mundo a crescer na direção de uma
civilização completa; os que atrasamos o progresso pelo culto do interesse
pessoal; os que perseveramos no bem; os que nos conformamos ao mundo; os que
temos vontade de seguir o Cristo; os que temos admiração pelo Cristo, mas
preferimos o mundo; os que servimos ao bem, mesmo com lágrimas; os que sorrimos,
enquanto outros choram; são os homens de bem, as pessoas dignas, virtuosas,
dedicadas ao bem do próximo, que retornam; são também os comprometidos com
vícios materiais e morais, os ex-suicidas, os que sucumbiram no crime, os que
foram tragados pelo ódio, os que desencaminhamos no passado, os que receberam
alívio pelas palavras esclarecedoras em nossas reuniões mediúnicas.

Somos, enfim, todos nós, filhos de Deus, filhos da luz, destinados à luz…

Almas que precisam de amor verdadeiro, mas também de amar; Almas que precisam
ser respeitadas, mas também aprender a respeitar; Almas que precisam ser
conhecidas, mas também se auto-conhecer; Almas que necessitam de educação moral,
não a educação moral pelos livros e sim a que consiste na arte de formar
caracteres, a que incute hábitos, porquanto “a educação é o conjunto dos hábitos
adquiridos”. (Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” – questão 685a, Nota.).

Somos, todos, seres que cumprimos a lei do “nascer, viver, morrer,
renascer ainda e progredir sempre”
e que precisamos de ajuda, de
compreensão, de amor, de orientação segura, da palavra iluminada pela fé, do
despertamento para os compromissos espirituais, do esclarecimento justo, da
disciplina que previne quedas, de exemplos vivos.

Dialética da vida

O Espírito que retorna à Vida corpórea, pela reencarnação, conforme nos
ensina o Espiritismo, não é uma folha em branco. O Espírito que anima o corpo de
uma criança pode ser até mais desenvolvido que o de um adulto, se mais
progrediu. “Apenas a imperfeição dos órgãos infantis o impede de se manifestar.
Obra de conformidade com o instrumento de que dispõe (2)”.

No intervalo entre as encarnações, o Espírito “pode melhorar-se muito, tais
sejam a vontade e o desejo que tenha de consegui-lo. Todavia, na existência
corporal é que põe em prática as idéias que adquiriu (3)”.

Portanto, a criança é um Espírito encarnado que traz uma bagagem acumulada em
encarnações passadas e nos períodos de vida espiritual, entre essas encarnações.

Podemos considerar essa bagagem como a tese que o Espírito traz de seu
passado. Ela constitui-se de valores, virtudes e vícios. Essa tese se apresenta
adormecida, latente, no período da infância, em virtude da falta de
desenvolvimento dos órgãos. Sem embargo, alguns lampejos, alguns sinais dessa
tese vão sendo percebidos por um observador atento.

Ao revelar e difundir o conhecimento da reencarnação, o Espiritismo contribui
sobremaneira para a compreensão do ser que se encontra na fase da infância. Esse
conhecimento é fundamental para a educação.

Aprendemos, também, com os Espíritos, que a utilidade da infância é que
“encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período,
é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o
adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo”. (4).

Portanto, para o Espírito que reencarna, é providencial esse amortecimento da
lembrança de sua bagagem espiritual, ou seja, de sua tese. É Deus criando
as condições propícias para que o Espírito se desvincule, pelo menos
provisoriamente, de seus “pré-conceitos”, assumindo uma posição de boa-vontade
para “ouvir” novos conceitos, “ver” sob novos ângulos.

Fase importante, também, da encarnação, é a adolescência. A esse respeito
Kardec perguntou aos Espíritos (4):

 

“Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa
idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica? É
que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria, e se mostra tal qual
era?…”

Por conseguinte, na adolescência o Espírito reassume a sua tese, que
já poderá estar modificada, principalmente se houve um processo educativo no
período da infância. (antítese).

Desde o seu nascimento, o Espírito já começa a se defrontar com os novos
valores, ou hierarquia de valores diferentes da sua, o meio social em que
renasce, a família, a educação, as experiências da dor, as frustrações, o amor.
É a antítese (ou anti-tese) que a Vida antepõe à sua tese.
Vai realizando, então, um processo de interação, durante toda a sua existência
corpórea, de tal forma que ao desencarnar o Espírito terá elaborado uma
síntese
, que será a sua nova tese, a qual, por sua vez, também será
enriquecida pelo processo dialético tese-antítese-síntese, na Vida
espiritual; e assim sucessivamente, obedecendo à Lei de Progresso.

O Espírito que retorna à Vida corpórea, pela
reencarnação, conforme nos ensina o Espiritismo, não é uma folha em branco

(1) Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” – questão 379

(2) Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” – questão 230

(3) Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” – questão 383

(4) Kardec, A. in “O Livro dos Espíritos” – questão 385, § 1º

(Jornal Mundo Espírita de Julho de 1998)