Enéas Canhadas
Dizemos que temos medos. Mas, como os medos se aproximam e passam a nos possuir? Podemos utilizar um esquema simplificado. A consciência do medo passa por três momentos: percepção: é todo o nosso ser que percebe, não só os nossos órgãos dos sentidos; julgamento: é a capacidade de analisar e criticar as ameaças que sentimos expondo-nos a uma sensação de perigo iminente; ação: é a nossa reação propriamente dita, o momento em que decidimos se vamos lutar ou fugir frente ao perigo ou ameaça.
Como escreveu Swedenborg – 1688-1772, “a consciência é a presença de Deus no homem”. Primeiramente tomamos consciência do perigo ou da ameaça. Podemos dizer que as ameaças ou perigos que nos causam medo, possuem certas características que podemos resumir da seguinte maneira. O que é amedrontador, sempre é algo que pode nos fazer mal. No dizer de Aristóteles “o que é próximo e iminente”. Se algo não nos puder fazer mal, se não estiver muito próximo e não nos ameaçar, então não haverá temor.
O que eu temo pode me alcançar. Este é o resultado da precisão do nosso julgamento sobre a percepção que tivemos. O nosso julgamento “sabe” o quanto eu vou ser atingido e o quanto posso vir a sofrer. Quando nos sentimos ameaçados, é porque temos conhecimento do que vem e de onde vem. Neste caso contamos com as nossas experiências emocionais passadas às quais já nos proporcionaram dados suficientes para antever o desconforto, sofrimento e dor que a ameaça pode nos causar.
Tememos algo porque temos consciência de quanto falta para nos alcançar. O nosso julgamento passa por todos os nossos sentidos dando-nos a precisão da medida de tempo e espaço. Saber lidar com este tempo cronológico e também emocional, é parte do amadurecimento para enfrentar situações ameaçadoras.
O desconhecimento e a falta de informações, em geral, aparecem nas situações ameaçadoras. Na dúvida, precisamos de esclarecimento, pois pode nos faltar a precisão da medida, da extensão e da intensidade do que nos causa medo.
Como tendemos a nos afastar da dor ou do desconforto, as dúvidas surgem para fazer despertar a nossa necessidade de investigação das causas do medo. Pelo quê ou por quem nós tememos? Tememos, antes de mais nada, por nós mesmos. Se o meu filho pode cair e se machucar, primeiramente temo pelo mal estar que o seu ferimento irá me causar.
A dor dele será sempre dele e eu não posso sentir a dor do seu machucado. Podemos ainda citar como variações do medo, os sentimentos tais como timidez, vergonha, acanhamento, receio, sobressalto, apreensão e inibição.