Tamanho
do Texto

Superando obstáculos

A própria história de nossa espécie denota que a superação de obstáculos apresenta-se
como recurso para a evolução individual e coletiva e se constitui em excelente fonte
de aprendizado. Privar alguém de confrontar-se com dificuldades ou furtar-lhe condições
de vivenciar a dificuldade pode levar a uma estagnação pessoal com conseqüente prejuízo
de seu caminhar na busca da superação de si mesmo.

Já tivemos oportunidade de discutir nesta coluna o comportamento de muitos adultos,
notadamente alguns pais, que buscam sempre aplainar os caminhos daqueles que lhe
são mais jovens no corpo físico, com a desculpa de poupar-lhes sofrimento, entretanto
sofrer não é o objetivo, é mero acidente de trajeto até que a dificuldade seja superada
, e como diz o ditado popular a pessoa passa então a “tirar de letra” a dificuldade
que transforma-se em ato corriqueiro.

A propósito deste tema corre uma página na Internet, cuja autoria não logramos
obter, que muito bem ilustra a questão, denomina-se “A lição da borboleta” que transcrevemos
a seguir:

“Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo, um homem sentou e observou
a borboleta por várias horas conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo
passasse através daquele pequeno buraco. Então pareceu que ela parou de fazer qualquer
progresso.

Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia e não conseguia ir mais longe.

Então o homem decidiu ajudar a borboleta, ele pegou uma tesoura e cortou o restante
do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era
pequeno e tinha as asas amassadas 0 homem continuou a observar a borboleta porque
ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para
serem capazes de suportar o corpo, que iria se afirmar a tempo.

Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando
com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. 0 que o homem,
em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia era que o casulo apertado
e o esforço necessário da borboleta para passar através da pequena abertura era
o modo com que Deus fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas
asas de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo.

Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida. Se Deus
nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos
deixaria aleijados. Nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nós
nunca poderíamos voar.”

É ainda freqüente observarmos a atitude de pseudo ajuda no interior dos lares
e escolas, sobretudo quando percebemos que o filho e/ou o aluno apresenta uma dificuldade
muito grande para atender a execução de uma determinada tarefa.

Nas nossas lides acadêmicas temos algumas vezes deparado com alunos que vêm dos
dois primeiros graus de ensino portando deficiências; quase sempre nesta situação
nos perguntamos se não estamos sendo “duros demais” com este grau de exigência.

Dois são os caminhos que se abrem nesta circunstância: abaixamos o nível ou caminhamos
junto tendo que repetir a mesma orientação várias vezes a ponto de acharmos algumas
vezes que também não daremos conta. A primeira situação sem dúvida é mais cômoda
e mais rápida, poupa nossa ansiedade, mas nega à pessoa a possibilidade de crescimento
por menor que ele seja (menor para nós, para ele pode ser gigantesco).

Há de se considerar entretanto que ninguém esta fazendo apologia ao fato de que
se deve colocar dificuldade na vida das pessoas para “fortalecer-lhe o caráter”.
Este é outro engano, mas que infelizmente ainda ocorre. Estes implantes artificiais
de nada ajudam e podem muitas vezes gerar o desânimo para continuar.

O bom-senso ainda é o grande conselheiro da medida certa, nem tirar a dificuldade
quando ela é fonte de crescimento pessoal, nem favorecer a dificuldade quando ela
pode atuar como agente impeditivo.

Em tempo, lembremos que bom-senso significa “aplicação correta da razão para
julgar ou raciocinar em cada caso particular da vida, faculdade para discernir entre
o verdadeiro e o falso.” (Grande Dicionário Aurélio)

(Jornal Verdade e Luz Nº 165 Outubro de 1999)