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Rádio Mental

Rádio Mental

As sessões consistiam em fazer os cães realizarem determinadas tarefas,
comandados apenas telepaticamente pelo domesticador. Foram eliminadas todas as
possibilidades de fraude ou de sugestão normal, oriundas de qualquer sinal
imperceptível para o observador e, no entanto, captável pelo animal bem
treinado. Eliminaram-se também os assistentes, ficando na sala apenas um
auxiliar que ignorava totalmente a tarefa a ser cumprida pelo cão. O plano era
sorteado depois de introduzido o animal no local da experiência. O treinador
ficava separado em outro cómodo, de onde podia avistar o cachorro. Ao receber o
plano, deveria tentar influir telepaticamente sobre o cão, levando-o a cumprir
as tarefas indicadas no plano. Em algumas experiências o animal parece realmente
receber influência telepática de Durov, cumprindo praticamente o plano. Mas
Bekhterev considerou os resultados ainda incipientes. Com a morte de Durov,
foram suspensas as investigações neste sentido.

Outros factos, especialmente o relacionamento de diferentes animais entre si,
durante o período de acasalamento, fez suspeitar da possibilidade de comunicação
telepática. Várias experiências mostraram que alguns dos sinais de comunicação
eram químicos, odoríferos, e outros pareciam exercer-se por meio de radiações de
natureza electromagnética. Entretanto, certos casos mostraram ser possível a
comunicação por meio de uma função paranormal primitiva, com a qual os animais
seriam dotados pela própria natureza e destinada a garantir a sobrevivência dos
indivíduos ou da espécie. Seria, conforme alguns parapsicólogos, um tipo de
“sexto-sentido” uma forma de “percepção extra-sensorial”. Neste caso, a
telepatia tal como se manifesta na espécie humana poderia ser um aspecto
superior desta teleligação oriunda dos organismos primitivos e perpetuada até
aos animais superiores. Poderia ser, também, uma faculdade em evolução na
espécie humana. Ela teria surgido como uma função própria da vida e estaria
ascendendo a níveis superiores, de acordo com a evolução, manifestando-se como
telepatia nas espécies mais desenvolvidas, particularmente no homem.

Ondas electromagnéticas?

Como se transmitiria um telepatema? Seria através de ondas electromagnéticas?
Existiria uma outra forma de energia ainda desconhecida da Física, mas capaz de
se transferir fisicamente através do nosso espaço ou de outro espaço qualquer?
Poderíamos pensar, ainda, num factor de transmissão informacional não
energético, produzido durante a actividade nervosa e intercambiável de cérebro
para cérebro? Inicialmente a preferência pendeu para a primeira hipótese: “a
telepatia transita de cérebro para cérebro, por meio de ondas
electromagnéticas”. Esta hipótese agradou sobremaneira aos adeptos das escolas
fisiologistas e, particularmente, aos reflexologistas.

Embora simples, a hipótese electromagnética envolve considerável número de
problemas. Como se daria a modulação essas supostas ondas, de maneira a serem
enviadas, recebidas, demoduladas, e transformadas em ideias, emoções, imagens,
sentimentos, sintomas, etc.? Suponhamos que isso pudesse ser explicado pela
“palavra” como sinal omnímodo e capaz de operar como estímulo no segundo sistema
de sinalização. Veremos que os indícios de emissão de ondas electromagnéticas
pelo cérebro mostram-nos a debilidade e a precariedade dessas emissões, em
desacordo com os efeitos assinalados.

A adopção da hipótese electromagnética da sugestão mental à distância teve
seu reforço quando o cientista alemão Hans Berger descobriu as oscilações
rítmicas dos potenciais eléctricos do cérebro humano registráveis na superfície
do crânio. Daí surgiu a electroencefalografia. Há variações nos ritmos
electroencefalográficos, de acordo com os estados de sono e vigília. Das ondas
alfa e beta, em estado de vigília, passa-se ao ritmo delta, mais lento, quando
em estado de sono. Mas é praticamente impossível obter informações acerca do
psiquismo de um indivíduo, “decifrando” o seu electroencefalograma obtido
durante uma operação mental.

Já anteriormente o académico P. P. Lazarev acreditava ser possível uma
emissão electromagnética partida das células cerebrais e propagando-se com a
velocidade da luz. Do centro nervoso em actividade de um ser humano, a referida
radiação electromagnética atinge os centros de outra pessoa e suscita um impulso
que inicia uma reacção periódica em seus centros, criando uma excitação.

Lazarev chegou a estimar o ritmo do potencial eléctrico do cérebro, em 50
ciclos por segundo, o que corresponde ao ritmo de trabalho dos centros motores.
Admitida tal frequência, acha-se facilmente o comprimento de onda: 6.000 km.
Assim, Lazarev propunha-se a explicar a “sugestão mental à distância”. Muitas
particularidades, porém, não foram levadas em consideração. Por exemplo, grande
número de redes de distribuição eléctrica trabalha exactamente a 50 ciclos por
segundo. Imagine-se quanta confusão surgiria daí numa transmissão telepática.

Entre 1923 e 1925, o psiquiatra italiano Ferdinando Cazzamali, assistido por
colaboradores de Marconi, levou a cabo uma série de experiências visando captar
rádio-ondas do cérebro. Cazzamali anunciou ao mundo todo que ele e seus
colaboradores conseguiram captar ondas cerebrais bastante curtas: de 100 a 0,7
metros. Estes comprimentos de onda correspondem a frequências muito altas: 30 a
428 Khzt! Como era de se esperar, tais experiências suscitaram inúmeras
críticas. Os próprios resultados mostraram que algo devia estar errado.

Em 1939 foi tentada uma replicação, no Instituto do Cérebro Bekhterev, das
experiências de Cazzamali. O resultado foi nulo. Várias tentativas feitas por
alguns investigadores em outros países não as aprovaram também. Até agora os
electrofisiologistas não registaram oscilações eléctricas do cérebro cujo ritmo
fosse superior a 1(um) KHertz. Mas os reducionistas não desanimaram. B. B.
Kajinsky foi descobrir que as extremidades dos dendritos têm a forma de
pequeníssimas “placas”. São minúsculos “condensadores”! Os enrolamentos das
fibras nervosas nada mais são do que microscópios “solenóides”! Tudo isso
funcionaria como diminutos “osciladores” em circuitos fechados produzindo ondas
electromagnéticas de comprimento determinado. Kajinsky considerou que o tecido
nervoso não só emitiria, mas funcionaria também como receptor de ondas
electromagnéticas de alta frequência. Estava aí a explicação da “transmissão do
pensamento”, segundo Kajinsky, em um trabalho publicado em Moscovo, em 1923. A
ideia de Kajinski foi admitida pelo académico A. V. Leontovitch e desenvolvida
por G. Lakhovsky em 1931.

Se a questão da telepatia fosse ligada a ondas electromagnéticas, como
estaria a humanidade actualmente? Somos dia e noite bombardeados por ondas
electromagnéticas dos mais variados comprimentos de onda, partidas de
rádio-emissoras e de um sem-número de outras fontes…

O físico V. K. Arkadiev calculou qual seria a energia electromagnética
desenvolvida pelas correntes biológicas de um cérebro em actividade. O resultado
encontrado mostra que há poucas probabilidades a favor da hipótese
electromagnética: 6,5 x 10-24 erg/segundo. Esta energia é milhares de vezes
inferior àquela que corresponde ao limiar de excitação do olho humano: 2,1 x
10-10 erg/segundo.

Não obstante todas as aparentes evidências contra a tese da comunicação
telepática por intermédio de ondas electromagnéticas, B. B. Kajinsky, em
colaboração com o domesticador de cães, Durov, tentou experiências empregando a
técnica das cabinas blindadas — tipo gaiola de Faraday. Os resultados obtidos
não foram conclusivos, além de serem prejudicados devido a falhas técnicas e à
precariedade do sistema.

Em 1936, T. V. Gustein e L. A. Vodolazsky usaram método semelhante, sendo o
paciente receptor e o agente indutor colocados em cabinas blindadas. Os
resultados não permitiram conclusões seguras, devido ao pequeno número de
ensaios — dez apenas.

Em 1939 nova tentativa foi feita com cabinas blindadas, por B. V. Kraiukine e
S. J. Turlyguine. Os resultados ofereceram pouca consistência e mostraram-se
vulneráveis a uma análise elementar.

De 1933 a 1936, L. L. Vasiliev levou a cabo experiências do mesmo género, com
conclusões definitivas.

L. L. Vasiliev

LeonidLeonidovitch Vasiliev nasceu em Pskov, em 1891. Estudou na Universidade
de Leninegrado. Um dos seus orientadores foi o prof. N. E. Vvedensky,
considerado proeminente fisiologista. Desde sua juventude, Vasiliev mostrava
grande interesse pelos fenómenos paranormais, particularmente pela telepatia
(sugestão mental). Procurou, por este motivo, aprimorar-se e trabalhar junto a
outro eminente fisiologista, V. N. Bekhterev, um dos pioneiros da parapsicologia
na Rússia.

Durante a ditadura de Estaline, Vasiliev fez experiências de sugestão mental,
sob o máximo sigilo, temendo possíveis represálias do feroz ditador.

Exerceu grande actividade nos hospitais militares, durante a II Guerra
Mundial, recebendo várias condecorações, inclusive a medalha da Ordem de Lenine.

Em 1943, tornou-se titular da cátedra de Fisiologia na Universidade de
Leninegrado. Sete anos depois, foi aceite como membro correspondente da Academia
de Ciências Médicas da U.R.S.S. Em 1949, Vasiliev publicou um livro de
vulgarização científica, intitulado Os Fenómenos Misteriosos do Psiquismo
Humano, no qual incluiu um capítulo sobre “rádio mental”.

Em 1950, Vasiliev organizou um laboratório para o estudo da “sugestão
mental”, no próprio Instituto de Fisiologia da Universidade de Leninegrado. Logo
em seguida, lançou dois livros: Experiências de Sugestão Mental e A Sugestão à
Distância. Do primeiro há uma edição em inglês: Experiments in Mental
Suggestion, Hampshire England: Institute for the Study of Mental Images, 1963.
Do segundo foi publicada em França uma tradução intitulada: La Suggestion a
Distance, Paris: Vigot Frères, 1963. Estas obras produziram grande impacto na
Rússia e no mundo todo. Delas extraímos a maior parte do material informativo
para o presente artigo.

As experiências de Vasiliev

Em 1932 o Instituto do Cérebro, fundado por Bekhterev e dirigido pelo
psiquiatra prof. Ossipov, recebeu a incumbência de estudar a telepatia,
objectivando ao máximo determinar as bases físicas da transmissão dos
telepatemas. Procurava saber-se o comprimento de onda electromagnética
responsável pela “rádio-mental”, capaz de transmitir a informação de um cérebro
para outro. Tratava-se, também, de comprovar a existência da “sugestão mental à
distância”, uma vez que já se tinham fortes evidências a seu favor. Naquela
época (1923-1933) as experiências do italiano Ferdinando Cazzamalli haviam tido
grande repercussão. Os resultados alegados por Cazzamalli eram considerados como
apoio à teoria electromagnética da “sugestão telepática”, tão ao gosto dos
materialistas russos.

O director do Instituto do Cérebro, prof. Ossipov, pessoalmente não
acreditava na telepatia. Entretanto, assim mesmo, aceitou a incumbência, tendo
funcionado como rigoroso crítico das experiências feitas, contribuindo, dessa
maneira, para a segurança dos resultados obtidos. Outro consultor, céptico a
respeito de toda a questão e crítico muito severo, foi o prof. Shouleikin.

A equipa dirigida por L. L. Vasiliev era composta dos seguintes cientistas:
I. F. Tomashevsky (fisiologista); A. V. Doubrovsky (médico hipnotizador); R. I.
Skariantin (físico e engenheiro); G. U. Belitzky (fisiologista). Técnicos
eminentes em rádio-tecnologia tomaram parte como consultores para as
dificuldades técnicas nos equipamentos; entre aqueles figurava o académico V. F.
Mitkevich, o qual aceitava a possibilidade da comunicação telepática.

Prepararam-se duas cabinas feitas de madeira e revestidas com chapas de ferro
de um milímetro de espessura. A cabina onde ficava o percipiente dispunha de um
leito, uma mesinha para os aparelhos e uma cadeira para o observador. Todas as
juntas e frestas eram bloqueadas com folhas de estanho, inclusive as da porta. A
cabina do emissor era menor e tinha as juntas soldadas. Compunha-se de duas
peças que se sobrepunham. A que servia de tampa possuía bordas revestidas de
latão amalgamado para ajustar-se perfeitamente à parte inferior, cujas bordas
eram acanaladas e continham mercúrio. Desse modo, garantia-se o perfeito
isolamento, tornando-se impossível a penetração ou saída de ondas
electromagnéticas de ambas as cabinas. Além disso, elas eram colocadas à
distância de 13 metros uma da outra.

Como garantia, fizeram-se testes de isolamento electromagnético, usando-se
emissores e receptores de rádio, colocadas fora e dentro das cabinas. Foram
experimentados variados compri-mentos de onda, até ter-se a certeza de que nas
cabinas fechadas não entravam nem saíam ondas electromagnéticas de qualquer
espécie.

Foram empregadas como sensitivas duas mulheres, Ivanova e Fedorova. Estas
pacientes foram seleccionadas de entre um grupo maior de percipientes muito
sensíveis. Elas eram facilmente adormecidas ou despertadas à distância.
Tomaram-se todas as precauções para não ocorrer uma auto-hipnose espontânea ou
provocada por reflexo condicionado.

O progresso de registo era feito em polígrafo. A percipiente recebia uma pêra
de borracha oca e ligada a um tubo flexível que se comunicava com o polígrafo. A
paciente devia apertar e afrouxar ritmicamente a pêra durante todo o tempo em
que estivesse acordada na cabina blindada. Estes movimentos eram grafados no
papel do polígrafo enquanto ele deslizava. O agente colocado dentro da outra
cabina blindada, num dado momento, emitia uma ordem mental procurando adormecer
a paciente. Nesta ocasião, ele pressionava um contacto ligado por fios ao
polígrafo, o qual registava simultaneamente ambos os sinais, o do paciente e o
do emissor telepático. Ao adormecer, a percipiente automaticamente cessava de
accionar a pêra de borracha e, no polígrafo, ia aparecer uma linha contínua
coincidindo com o traço produzido pelo emissor. Depois de algum tempo, o emissor
concentrava-se na ordem de despertar, soltando ao mesmo tempo o contacto. Logo
que despertava a sensitiva voltava a apertar alternadamente a pêra de borracha,
aparecendo no polígrafo a linha sinuosa, a qual devia corresponder ao sinal de
despertar do emissor.

Os intervalos entre as sugestões eram propositadamente variados e
inesperados, de maneira a se eliminarem todas as possibilidades de erros devidos
a outros factores. As experiências duraram cerca de quatro anos, de 1933 a 1936
e os resultados mostraram decisivamente que as blindagens contra as ondas
electromagnéticas não exerciam nenhuma interferência nos telepatemas.

Posteriormente foram realizadas experiências semelhantes, com o emissor e o
paciente situados a distâncias variando de 25 metros a 1.700 km, esta última de
Sebastopol a Leninegrado, em 15 de Julho de 1934. Em nenhuma destas
circunstâncias foram observadas diferenças significativas entre a emissão e a
recepção dos telepatemas, seja para adormecer seja para despertar. Verificou-se
que os obstáculos naturais, como a curvatura da Terra, montanhas, edifícios,
etc. não exerceram nenhuma influência na transmissão das sugestões mentais.

Conclusão

O resultado dramático dessas investigações faz-nos lembrar as experiências de
Michelson e Morley, comunicadas em 1887, acerca do ether. Estes físicos chegaram
à conclusão de que o ether mecanicista não existe. Vasiliev e seus colegas
verificaram que “ondas electromagnéticas telepáticas” também não existem.

Entretanto o telepatema transmite-se. A sugestão mental ocorre mesmo a
grandes distâncias e através dos obstáculos que barrariam quaisquer tipos de
ondas físicas conhecidas até agora, excepto as gravitacionais. Fica, então, a
indagação: que tipo de energia — se for energia — é esta, empregada na sugestão
mental? Não parece ser de natureza gravitacional, pois não se observou a
atenuação com a distância, proporcional ao quadrado da mesma. Seria uma forma de
comunicação independente de energia, à semelhança do “efeito EPR”? Este efeito
ocorre quando se produz um par de fotões pela aniquilação de um electrão com um
positrão. Os dois fotões são simétricos no que tange aos seus spins. Logo que
são produzidos, eles afastam-se com a velocidade da luz. Desse modo, eles
poderão distanciar-se notavelmente, à medida que o tempo passa. Entretanto um
estranho elo de ligação parece manter-se entre os referidos fotões “gémeos”. Se
provocarmos qualquer alteração num deles, instantaneamente esta modificação
reflectir-se-á no outro fotão “gémeo”, esteja ele onde estiver!

A “sugestão mental” revela que entre o hipnotizador e o paciente existe
também um elo ao estilo da ligação entre os fotões “gémeos”, no efeito EPR.
Esteja onde estiver o percipiente, ele poderá ser influenciado telepaticamente
pelo emissor.

Estaríamos, todos nós, interligados telepaticamente, formando uma espécie de
“inconsciente colectivo” como pensou Jung? E Mesmer? Estaria ele certo quando
postulou a existência de um “magnetismo animal”?

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Feal

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