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Reciclagem Mediúnica

Reciclagem Mediúnica

De uma ou outra forma, reportagens, filmes ou outros enfoques publicitários,
abordam amiúde questões pertinentes à comunicação com os Espíritos. Dificilmente
atendem à serenidade, importância e pureza doutrinária, permanecendo na
superficialidade ou nos enfoques do fantástico, sobrenatural, maravilhoso.

Tal fato, desperta em muitos o desejo de explicações, de achar remédio para
crises, dores, respostas enfim. Entre ir aqui e ali acabam chegando ao Centro
Espírita.

Cresce a responsabilidade da casa espírita uma vez que esta não poderá, sob
pena de diluir a grandeza doutrinária, improvisar a respeito de passado e
futuro; explicar raízes e porquês das conjunturas pessoais em respostas
imediatistas e simplórias.

O Espiritismo não tem compromisso em fazer proselitismo, converter, convencer
alguém a que mude de crença tornando-se espírita. Requererá muita leitura,
estudo, análise, reflexão, requisitos imprescindíveis, insubstituíveis para sua
compreensão e talvez um dia, incorporar-se ou não, porém voluntariamente, a
família espírita.

Daí a tarefa do Centro, daqueles que também por adesão consciente, racional e
voluntária, militando nas várias áreas do trabalho, auxiliam os recém chegados,
num verdadeiro processo de alfabetização.

Espiritismo exige dedicação ao estudo disciplinado, permanente, atualizador,
aberto ao outros campos do conhecimento em inter-relacionamento com a Doutrina
Espírita. Não dá para ficar só no que se ouve. Deter-se aí, leva a elaborar,
emitir, explicações pessoais, transformadoras estas dos conceitos espíritas em
preconceitos, onde as descrições controvertidas, vulgarizadas nas conversas sem
base, expandem, disseminam um “entender” bitolado, dogmático que nada tem a ver
com o doutrinário.

Comunicação de Espíritos; mediunidade é um dos assuntos que se enquadram
nesses raciocínios. Além de ser percebida, divulgada, como já vimos, no campo do
mistério, também entendida como problema, doença, fraqueza mental. Um parente,
um amigo, o vizinho, diz que a dor de cabeça, a insônia, a irritabilidade, a
impaciência que alguém sente, pode ser proveniente de um desencarnado que em
desequilíbrio, necessitado de algo ou vingando, se “encosta”, provocando as
mazelas e dores. Aceita essa ação, após várias outras providências busca-se o
Centro Espírita.

O espírita, isto é, aquele que estuda, que trabalha em si o conhecimento,
sabe que ninguém “encosta” em ninguém, sem que haja conveniência, aquiescência,
conivência mútua, onde, sentimentos, pensamentos, vibrações estabelecem as
ligações psíquicas em sintonia “(…) na identidade ou harmonia vibratória, no
grau de semelhança de dois ou mais Espíritos encarnados ou desencarnados”.

Essa sintonia tem como fundamento, a afinidade moral, decorrendo desta, o
estabelecimento e manutenção das relações. Conforme os sentimentos/pensamentos
mantidos tal a companhia espiritual atraída.

Em “O Espírito e o Tempo”, o prof. Herculano Pires trabalha magnificamente
essa situação explicando a “fusão fluídica” que se dá entre o perispírito do
encarnado e desencarnado, ocorrendo daí alterações no psiquismo de ambos, que se
mantém juntos alimentando-se mutuamente.

Sem esse conhecimento básico, muitos centros e pessoas que se dizem
espíritas, agem, interpretando esse acontecimento no mal, corriqueiro, na
afirmação categórica de que, os acontecimentos são devidos ao problema
mediúnico, Necessário “desenvolver” essa mediunidade para que desapareçam os
sintomas.

Piora, quando se apresenta o diagnóstico de obsessão, encaminhando-se para
trabalhos específicos, a fim de que, se manifeste o Espírito que está
incomodando e seja daí “retirado”.

Entenda-se que a Doutrina Espírita, tem como real essa influenciação dos
desencarnados sobre os encarnados (e vice-versa), mas daí a diagnosticar, já num
primeiro contato, que os acontecimentos menos felizes, sejam de ordem física,
moral ou financeira, como decorrentes da mediunidade, convenhamos que no mínimo,
está implícita leviandade, onde sobremodo ressalta-se o encarnado como vítima
indefesa de desencarnados perversos.

Pelo conhecimento da lei natural, física da afinidade/sintonia onde “(…)
semelhantes se atraem, contrários se repelem”, abre-se vasto campo de série de
procedimentos, a requerer ações conscientes que iniciar-se-ão na mudança,
sutilização do clima psíquico.

Em “O Livro dos Espíritos”, cap. IX, ensinam os Espíritos a Allan Kardec, que
os encarnados não são seres passivos na influenciação mediúnica. Explicando como
e porque os desencarnados são capazes de incitar o homem ao mal, colocam:

  • “Nossa missão é a de te por no bom caminho, e quando más influências agem
    sobre ti, és tu que as chamas, pelo desejo do mal porque os Espíritos
    inferiores vêm em teu auxílio no mal, quando tens a vontade de o cometer. Eles
    não podem ajudar-te no mal, senão quando tu desejas o mal”.

Sobre a indagação de como ou se é possível afastar essa ação, ensinam:

— “Sim (é possível), porque eles só se ligam aos que os solicitam por seus
desejos ou os atraem por seus pensamentos”.

Se somos inclinados ao mal, se nos comprazemos em aspectos menores
colocamo-nos em meio, atraímos nuvem de Espíritos que incrementarão esses
pensamentos. Rodear-nos-ão também outros que tentarão despertar-nos para o Bem
(…)” o que faz com que se reequilibre a balança e te deixe senhor de ti”

Por superficial que seja a leitura destas respostas, ressalta que, a vontade
do encarnado é que estabelece os vínculos espirituais; é ele o ser totalmente
ativo, é o agente. Se não fosse assim, como ficaria o livre-arbítrio?

Mediunidade em si mesma, é uma faculdade neutra, um instrumento de trabalho
do Espírito que tanto pode ligar-se e ser usada para o Bem ou para o Mal.

O indivíduo, o médium despreparado, desconhecedor pode deixar se envolver,
ficando sob a influência de mentes inferiores, vingativas, inimigas, que, do
outro lado da vida planejam, esperam o momento propício (quando a sintonia se
abre) para levar sim, pessoas ao desespero.

A Doutrina Espírita, estudando, sistematizando leis que norteiam o fenômeno,
dá condições para que se trabalhe esses acontecimentos, de modo que o envolvido
não venha a perder-se na complexidade de situações que ignora, tanto as causas,
como a maneira de interpretar e lidar.

Mediunidade é apenas uma das manifestações do psiquismo. Seu exercício
ordenado e tranqüilo é perfeitamente compatível com as atividades normais, no
dia-a-dia da existência.

Exige cuidados?

Como toda potencialidade em ação, seu uso exige atenção, critérios, firmeza,
bom comportamento humano, estudo metódico e bem orientado dos livros básicos e
dos subsidiários comprometidos com a Doutrina Espírita, exercício, hábito da
prece; designação de hora e local para exteriorização da faculdade em trabalho
no grupo harmonioso; nunca sozinho exposto às fantasias e influências de
encarnados ou desencarnados menos avisados. Esse processo de renovação moral que
decorre, desencadeia o processo educativo, na formação de hábitos sadios no Bem.

Não sendo portanto – problema, tragédia conflito destaca-se como tarefa
nobre, onde através da intermediação, fluirá socorro, ajuda, despertamento,
auxílio, esperança para tantos que também, desconhecedores ou invigilantes,
caminham em dores e enganos.

O Centro Espírita necessita conhecer, pensar, avaliar com sua Diretoria, em
que linha caminha com a Mediunidade, tendo claro que a casa espírita necessita
ser, cada vez mais, núcleo de libertação, que se alcança através do estudo
aprofundado que dialoga, pondera, esclarece; das avaliações que se mostrando
realidades indica as renovações, adequações ou mudanças que se façam
necessárias.

Nesse trabalho, sem impor, forçar, o Centro Espírita desperta o freqüentador
a conhecer-se e achar em si os pontos frágeis a serem fortalecidos, trabalhados.

Não mais o Centro Espírita que se detém nos atavismos, cultivando a
mentalidade do medo no desconhecido, no maravilhoso, no mistério, no medo, onde
só alguns “sabem”, detendo em círculo vicioso, processos que se arrastam sem
encenar com libertação.

Bibliografia a acrescentar:

  • Editorial SBEE – 1989
  • Evolução para o 3.° milênio – C. T. Rizzini, cap. IV
  • O Espírito e o Tempo – J. H. Pires – IV parte
  • O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – cap. IX
  • Crônicas de um e de outro – Luciano dos Anjos
  • H. C. de Miranda, estudo 74

(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)