A pluralidade das existências – Reencarnação
Allan Kardec foi bastante racional nas considerações que teceu sobre a
pluralidade das existências. A certa altura ele diz:
“Se não há reencarnação, não há mais do que uma existência corporal, isso é
evidente. Se nossa existência corporal é a única, a alma de cada criatura foi
criada por ocasião do nascimento, a menos que admitamos a anterioridade da alma.
Mas nesse caso perguntaríamos o que era a alma ANTES do nascimento, e se o seu
estado não constituiria uma existência sob qualquer forma. Não há, pois,
meio-termo: ou a alma existia ou não existia antes do corpo.
Se ela existia, qual era a sua situação ? Tinha ou não tinha consciência de
si mesma ? Se não a tinha era mais ou menos como se não existisse; se tinha, sua
individualidade era progressiva ou estacionaria ? Num e noutro caso, qual a sua
situação ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma
nasce com o corpo, ou o que dá no mesmo, que antes da reencarnação só tinha
faculdades negativas, formulemos as seguintes questões:
- Por que a alma revela aptidões tão diversas e independentemente das idéias
adquiridas pela educação ? - De onde vem a aptidão extranormal de algumas crianças de pouca idade para
esta ou aquela ciência, enquanto outras permanecem inferiores ou medíocres por
toda a vida ? - De onde vêm, para uns as idéias inatas ou intuitivas, que não existem para
outros ? - De onde vêm, para certas crianças, os impulsos precoces de vícios ou
virtudes, esses sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, que contrastam
com o meio em que nasceram ? - Por que alguns homens, independentemente da educação, são mais adiantados
que outros ? - Por que há selvagens e homens civilizados ? Se tomarmos uma criança
hotentote, de peito, e a educarmos, enviando-a depois aos mais renomados
liceus, faremos dela um Laplace ou um Newton ? - Por que umas nascem na mais extrema miséria e outras na opulência. Umas
têm berço de ouro e outras não têm um mísero bercinho para acomodar seu
corpinho ? - Por que algumas pessoas nascem portando doenças incuráveis (sem ser caso
de hereditariedade) e sofrem a vida toda, e outras nascem cheias de sa£de e de
vigor ? Por que morrem crianças em tenra idade e outras vivem muitos anos ? - Por que algumas pessoas nascem sem alguns de seus membros, na cegueira,
portando numerosas deficiências físicas ? - Por que uns nascem no seio de povos primitivos e em países inóspitos, e
outros nascem no seio dos povos mais civilizados ? - Por que nascem crianças precoces, no campo da música, da matemática e de
outros conhecimentos, e outras, apesar de estudarem e se esforçarem a vida
toda, não conseguem alcançar um nível razoável de conhecimento ? - Por que criaturas más desfrutam de grande prosperidade na vida, e outras,
bondosas e moralizadas, vivem uma vida cheia de tropeços e de amargores ?
Qual a Filosofia ou a Religião que pode equacionar esses problemas sem
valer-se da lei das vidas sucessivas ou da Reencarnação ?
O Espiritismo tem explicação para todos esses problemas, demonstrando que
essas discrepâncias ocorrem devido, a maior parte das vezes, aos desvios que a
criatura comete, e que exige reajuste perante a justiça do Criador.
Deve-se, pois, reconhecer que a doutrina da pluralidade das existências é a
única a explicar aquilo que, sem ela, é inexplicável; que é altamente
consoladora em conformidade com a justiça mais rigorosa, sendo para o homem a
tábua de salvação que Deus lhe concedeu na sua misericórdia infinita.
Desacreditá-la é, no mínimo, afirmar que Deus é injusto.