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Superstição

Imagine um gato preto, uma coruja no telhado, uma escada na calçada em seu caminho.
Ou mesmo um galhinho de arruda atrás da orelha. Lembre-se ainda do levantar com
o pé esquerdo
, de entrar e sair de qualquer habitação pela mesma porta, ou do
bater três vezes na madeira. Se quisermos avançar um pouco mais, ainda nos lembraremos
da roupa branca na noite que altera o ano no calendário. Será possível ainda recordar
a consulta diária ao horóscopo, o evitar ingerir certos líquidos ou alimentos em
determinados dias do ano, e mesmo a vassoura atrás da porta ou a comigo
ninguém pode
. Meu Deus! Paremos por aqui!

Quanto absurdo junto! O próprio dicionário define a palavra superstição como
sentimento religioso excessivo ou errôneo, crença errônea, temor absurdo de coisas
imaginárias
, entre outras bem claras definições. E como ainda temos coragem
de manter essas idéias absurdas na cabeça numa época em que deve prevalecer o raciocínio
diante de todas as situações?

Como imaginar que um simples gato preto ou a presença de uma inocente coruja
no telhado possa significar males maiores? Como aceitar a idéia de que o pé que
primeiro pisa no chão, de manhã, possa determinar as ocorrências do dia? E mais,
como entender o absurdo de devemos sair pela mesma porta que entramos? E que tipo
de influência a roupa branca pode causar na passagem de ano? Ou será mesmo que acreditamos
que bater três vezes na madeira pode alterar o rumo das coisas? E tem algo a ver
com a grandeza da vida o fato de ingerirmos certos alimentos em determinados dias,
por imposição de medos imaginários?

Ora, convenhamos! Nossa felicidade ou nossa desdita estão determinadas pela postura
e comportamento que adotamos. São as opções de vida que determinam os acontecimentos.
Opções de caráter reto, digno, honesto, geram resultados de paz de consciência.
Atos imorais geram aflições, intranqüilidade. Algum absurdo nisto?

São os pensamentos, a intenção e a vontade que atraem situações provocadoras
de aflições ou sofrimentos. Pensando no mal, alimentando inveja e ciúme, rancor
ou sentimento de vingança, atraímos exatamente essas ondas mentais que conviverão
conosco e naturalmente facilitarão ocorrências desagradáveis. O inverso também é
real: pensando no bem, nutrindo pensamentos de amor ao próximo, de confiança em
Deus, estaremos sintonizados com o bem geral que governa o Universo, para desfrutar
de paz e harmonia interior.

Gestos, roupas especiais, objetos materiais, acessórios místicos, atitudes impostas
por padrões que escapam ao exame do raciocínio e da lógica, nenhuma influência possuem
para nos proteger ou mudar o rumo dos acontecimentos. Estes são sim alterados pela
nossa decisão e opção mental. Se achamos que o chamado “mal feito” vai nos atingir,
estaremos entregues à prisão mental que nós mesmos criamos.

Já é hora de nos libertarmos de tais bobagens. Aprendamos a viver livres de superstições,
tomando posse de nossa herança de filhos de Deus que devem buscar continuamente
o próprio aperfeiçoamento, ao invés de nos prendermos a idéias impostas para criar
medo e dependência. Esses condicionamentos só existem na mente de quem os aceita.
E cada um de nós tem o dever de construir a sua e a felicidade alheia.

Afinal, vivemos para que? Satisfação egoística, medos condicionados ou felicidade
construída dia-a-dia?