Reflexões Sobre o Suicídio
É impressionante a estatística oficiosa dando conta de que em Curitiba, a
cidade onde vivemos, são cometidos 14 suicídios em média por mês, ou seja, quase
um suicídio a cada dois dias.
Este número só não é maior porque os diretores dos meios de comunicação,
felizmente, concluíram que o melhor é não haver divulgação, a não ser em casos
excepcionais ou que, pelas circunstâncias, não possam ser omitidos, diante do
efeito multiplicador que a publicação certamente provocaria.
Conquanto sejam diversas as causas alegadas para o suicídio, em bilhetes e
cartas deixados pelos autores de tão tresloucado gesto, em sua maioria, porém,
aparece o desgosto pela vida como o motivo determinante.
A esse propósito, na pergunta 943 de O Livro dos Espíritos, a obra basilar da
Doutrina Espírita, questionou Allan Kardec, o eminente e proeminente
Codificador: “Donde nasce o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se
apodera de certos indivíduos?, recebendo dos Benfeitores da Humanidade a
seguinte resposta:
“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade. Para aquele que
usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o
trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta
as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da
felicidade mais sólida e mais durável que o espera” (texto encontrável na
página 439 da 75a
edição da FEB).
Com efeito, a ociosidade é perigosa sempre, o mesmo acontecendo com a
saciedade, que cria a ilusão de que, por estar aparentemente satisfeito em todos
os sentidos, o indivíduo não teria mais desafios pela frente, o que
significaria, em última análise, estar submetido à intolerável rotina.
De igual modo, a falta de fé pode conduzir a criatura ao despenhadeiro, já
que não tem confiança, e muito menos convicção, de que a vida prossegue para
sempre, a despeito da desencarnação, conclusão a que se pode chegar pelo uso da
razão, especialmente se combinada com a observação dos atos e fatos do
dia-a-dia.
Feliz, pois, é quem usa de suas faculdades com finalidade útil, tornando-se
útil onde quer que esteja, procurando servir antes de ser servido, revelando por
este modo ter plena consciência de que mais se beneficia quem melhor serve.
Todos nós renascemos com aptidões, com tendências oriundas de outras
existências, remotas ou não, razão pela qual quem a elas der vazão, com
naturalidade, verá que nenhum trabalho é árduo; bem ao contrário, qualquer
trabalho será fonte inesgotável de satisfação, sobretudo se realizado com
esmero, do melhor modo possível, com apreciável qualidade, o que se constituirá,
no mínimo, em importante contributo para o equilíbrio das relações sociais.
E, convém que não esqueçamos, “Toda ocupação útil é trabalho”, na
enxuta e precisa definição de O Livro dos Espíritos, que se pode encontrar na
resposta dada à questão número 675 (página 328 da 75a edição da FEB).
Assim, aquele que usa esses antídotos, ao alcance de todos nós, seguramente
sentirá permanente alegria de viver, renovando-se a cada dia, para melhor, e
seguindo em frente, sempre em frente, sem temor de qualquer espécie.
Por outro lado, não é difícil concluir que o suicida direto pretende eliminar
a aflição, a vergonha, o desgosto pela vida, o problema maior, enfim, que esteja
vivenciando, acreditando que por este modo estará pondo um ponto final em tudo.
Ledo engano! Que desapontamento terá depois!
Com efeito, o suicida pode pôr fim ao seu corpo material, ao seu corpo
físico, que irá se decompor e transformar. Todavia, não conseguirá dar cabo de
sua vida propriamente dita, à sua individualidade, uma vez que todos nós,
Espíritos, seres pensantes da Criação, encarnados ou desencarnados, somos
imortais. Depois de criados passamos a ser eternos, tendo uma única vida,
desdobrada em inúmeras existências, cujo destino final é a perfeição relativa e
a felicidade suprema.
Como as leis da Natureza são perfeitas, e por esta razão imutáveis, a brusca
interrupção da vida física praticada pelo suicida, que não teve coragem e
resignação suficientes para prosseguir, independentemente das dificuldades que
encontrou pelo caminho, comuns a todos nós, deverá ser reparada, por ele,
exclusiva e intransferivelmente, sofrendo expiação proporcional ao ato, à sua
gravidade e demais circunstâncias.
Nem poderia ser diferente, uma vez que ninguém, exceto Deus, tem o direito de
dispor sobre a vida.
Entretanto, não obstante o insano gesto, terá ele, com certeza, novas
oportunidades para corrigir os erros, males e equívocos cometidos, porquanto
sempre é possível recomeçar, eis que não há nas Leis Divinas ou Naturais
condenação irremissível. Por mais hediondo que seja o crime, por maior
insanidade de que se revista o ato, a reparação será sempre possível porque
tendemos todos para a perfeição, que se constrói gradualmente, devagarinho, a
pouco e pouco, a exemplo do que acontece com a própria Natureza, que não dá
saltos.
Neste passo, interessante reproduzir a questão 950 de O Livro dos Espíritos:
“Que pensar daquele que se mata, na esperança de chegar mais depressa a uma
vida melhor? , que obteve a seguinte e lúcida resposta dos Espíritos
Superiores:
“Outra loucura! Que faça o bem e mais certo estará de lá chegar, pois,
matando-se, retarda a sua entrada num mundo melhor e terá que pedir lhe seja
permitido voltar, para concluir a vida a que pôs termo sob o influxo de uma
idéia falsa. Uma falta, seja qual for, jamais abre a ninguém o santuário dos
eleitos” (página 441 da edição da FEB, antes citada).
Por derradeiro, nestas rápidas observações sobre tema tão complexo quão
penoso, vale relembrar que há também o suicídio indireto, que pode decorrer da
gula, da ingestão de bebidas alcoólicas, do uso do tabaco em suas variadas
formas, da exposição voluntária a riscos desnecessários (de que são exemplos as
corridas de automóveis e de motocicletas), etc., cumprindo dizer, ainda, que o
suicídio indireto também pode decorrer de viciações morais.
Pelo exposto, pode-se desde logo extrair inarredável conclusão: a prática do
Bem é um excelente remédio para todos os males!
(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 2001)