Manda a tradição que se venere a memória dos falecidos no dia 1 de
Novembro, com as respectivas idas aos cemitérios e lembranças que vêm à nossa
mente. Veja o que o Espiritismo tem a dizer sobre o assunto.
Esta é mais uma tradição que está bem enraizada na cultura do nosso povo. A
visita aos cemitérios, colocação de ramos de flores nas campas e lembrança dos
familiares e amigos já falecidos é pois uma rotina anual que muitos fazem
sentidamente, outros mais por respeitos humanos.
Mas pode-se colocar uma questão: qual o ponto de vista da doutrina espírita
(ou espiritismo) nesta prática? Está ela correcta? Não está? Esta é uma de
muitas questões básicas que muitas pessoas nos colocam.
O Espiritismo na sua tríplice estrutura de ciência, filosofia e moral, mostra
ao homem quem ele é, de onde vem e para onde vai, na sua caminhada evolutiva ao
longo dos milénios. Dentro da filosofia espírita podemos encontrar ensinamentos
muito úteis para a compreensão dos mecanismos da vida, na sua globalidade, e não
só na vertente física. Tem pois o Espiritismo como dado adquirido (e comprovado)
a imortalidade da alma, a comunicabilidade com os espíritos e a reencarnação.
Os familiares falecidos não se encontram nos cemitérios, mas sim em locais
específicos no mundo espiritual
Assim como um homem não muda de carácter, pelo facto de estar de fato de
banho ou de casaco, nas diferentes estações do ano, também assim o espírito,
eterno, que não se despersonaliza, utiliza vestimentas de acordo com o plano
onde se manifesta. Se está no mundo dos espíritos, ele tem um corpo energético,
vaporoso, etérico, constituído de matéria própria desse plano (matéria
espiritual ou astral); se está num planeta, o espírito ter-se-á de revestir de
um corpo de acordo com as condições de vida nesse mesmo planeta.
Nesse sentido o Espiritismo mostra-nos que os nossos familiares e amigos, já
falecidos, são apenas pessoas que largaram as suas vestes físicas. Pelo fenómeno
natural da morte do corpo físico, os seres amados retornam à pátria espiritual,
onde são amparados pelos amigos e familiares que os esperam, e onde são
canalizados para locais no mundo espiritual de acordo com as afinidades de cada
um, com o íntimo de cada um.
Houve apenas uma mudança de morada, tal como uma pessoa que muda de cidade a
quem temporariamente não podemos visitar. No entanto, são afectos que nunca se
perdem, que amiúde visitamos durante o sono, durante o desprendimento do
espírito. Muitas vezes eles também nos visitam nos nossos lares. Importante
seria realçar que existe um ponto de contacto com os falecidos, que é a nossa
mente.
Através do pensamento nós enviamos ondas mentais de ânimo, de alegria, de
saudade positiva, relembrando os bons momentos passados com os falecidos ou
enviamos ondas mentais de desespero, de saudade doentia, de maldade, de ódio,
conforme as situações, que vivenciamos.
É importante que relembremos positivamente os nosso afectos,
independentemente do lugar onde estejamos
Por isso o Espiritismo considera que não é fundamental a visita aos
cemitérios, não é fundamental o relembrar os falecidos nos cemitérios (não está
lá nada, eles estão noutros locais no mundo espiritual), nem tão pouco as
fortunas que se gastam em flores com esses rituais. O Espiritismo ensina-nos que
podemos e devemos relembrar (positivamente) os falecidos em qualquer local onde
estejamos, nada valendo para eles se gastamos muito ou pouco dinheiro em flores
ou em jazigos.
No entanto, esse ritual é uma questão de consciência, que somente cada um
deve decidir e que obviamente respeitamos, como em qualquer outra situação. A
visita aos cemitérios é pois antes de mais, uma questão de opção de cada
um. Mais importante que tudo é a atitude mental que temos, seja com ou sem
visitas aos cemitérios.
Para mais esclarecimentos sobre o assunto aconselhamos vivamente «O Livro
dos Espíritos» de Allan Kardec.