A chegada no Planeta Azul é uma deliciosa aventura, mas também pode ser uma jornada de sobressalto e dores. É comum vermos as casas enfeitadas, os corações palpitantes, olhos faiscantes de alegria, com a vinda de um bebê. No entanto, em outras casas uma sombra paira, quando uma criança chega, segundo se diz, fora de hora ou não do jeito que se sonhava. As criaturas não tem ideia das conseqüências que suas atitudes tanto de rejeição como de carinho causam nas crianças. E há um aspecto que precisa sempre ser lembrado, o lado da mulher, muitas vezes submetida aos caprichos da família, do domínio do homem ou surpreendida por um “cochilo”, numa relação.
Mas o que nos move nesse artigo, é a vontade de comentar com vocês sobre amamentação, por sugestão e interesse de dois internautas, o Gilberto e a Alessandra, faz tempo que me escreveram, só agora veio a oportunidade.
A perda do paraíso
Observemos a situação da criança que chega. Estava no útero, com alimentação, calor, carinho e tudo o mais. De repente, vem um fluxo que a impele a sair para o mundo e o primeiro contato com o ar, é uma experiência dolorosa, o cordão umbilical, seu natural balão de oxigênio, é cortado e a criança recebe uma lufada de vento, que entra por suas narinas, poros, etc. e ela não tem como fugir da situação, precisa sobreviver e se defender sozinha. Esse fluxo de ar pode acarretar traumas respiratórios severos na criança, as vezes, permanecendo como bloqueios, no adulto, em sua maneira de respirar. Hoje em dia, parece-me, há um consenso médico de se dar mais tempo para o corte do cordão umbilical, o que, de certa forma ameniza esse processo.
Respirar com o filho, um ato de amor
Nesse período o carinho por parte da mãe com o bebê é muito importante, devidamente orientada, ela pode, por um efeito de osmose, respirar com a criança, dividir com ela aquele momento difícil.
Em algumas experiências que estamos realizando com crianças em pós operatório cardíaco, os Amparadores do mundo paralelo tem realizado por apometria esse processo. Integrantes de nosso grupo se dispõe a auxiliar e se deslocam, em Espírito, até o hospital, realizando com a criança o procedimento respiratório, dividindo com ela essa função. Pode parecer estranho, mas na atualidade estamos realizando esse processo interativo, de grande valia. Essa atitude, significa você sentir a dor do outro, curá-la em você, para que o outro seja contemplado com a saúde. É possível isso? Sim, as mães tem esse dom, naturalmente, quando sofrem as dores dos filhos e por eles dão suas vidas. É importante, então, que as mães modernas se preparem para mais esta missão: respirar com seus bebês. Posto que esta atitude, a de respirar, simbolicamente representa um processo de muita qualidade para a vida futura do nenê. Na inspiração dizemos: aceito o mundo e as pessoas; na expiração decidimos: eu me mostro para as pessoas, estou indo para o mundo. Portanto, qualquer comprometimento com o ato de respirar pode criar no comportamento da criança atitudes de inibição ou isolamento.
O Seio Materno – alimento divino
Numa etapa seguinte, a criança, que se alimentava pelo cordão umbilical, se vê as voltas com uma outra e inusitada situação: é preciso se alimentar, por si própria. Surge a sua frente, a mãe, oferecendo-lhe o seio com o alimento pronto, que ele suga com alegria e prazer. Sugar o seio é uma fase importante, porque é o primeiro movimento agressivo (atitude positiva) que o bebê faz na vida, se alimentando por conta própria. Qualquer distúrbio nesse processo ou se for interrompido, terá repercussão imediata sobre o comportamento psicológico da criança (e do adulto), tornando o ato de se alimentar uma atitude de prazer ou de dor.
O fim da amamentação e a sensação de não pertencimento
A sensação da criança desmamada fora do tempo ou que não recebeu amamentação por outros motivos (secou o leite da mãe, esta precisa trabalhar, a criança não consegue sugar o leite, etc) é que ela não é desejada, deixou de pertencer a alguém. Este processo pode provocar na criança inibições, carências afetivas, isolamento, além do que ela poderá registrar uma sensação de não pertencimento. Não posso ser de ninguém. Ora, uma criança que se sente não desejada pela mãe (não lhe deu seu seio, seu colo, seu carinho), dificilmente irá se sentir a vontade para se demonstrar para as outras pessoas. E daí para a somatização desse processo, um passo. Ou seja, todos esses bloqueios, quase sempre, se refletem no corpo, aparecendo como alergias, bronquites e em casos mais graves esquizofrenia.
O outro lado da moeda – dificuldades da mãe
A Alessandra, acrescenta uma informação importante. Diz ela: Sempre que se fala de amamentação é mostrado o lado negativo quando a amamentação não acontece, e quero deixar claro que concordo com tudo. Mas dificilmente encontro artigos que falem das adversidades que ocorrem na amamentação. Falo isso em causa própria pois vivi esta situação a de querer mas não conseguir amamentar, por fatores diversos: estresse, ausência de leite, bebê que não suga, enfim, existem diversos motivos. Creio que como eu, há outras mães frustradas com este momento da maternidade. Está certa, a amiga internauta. Afinal, a maternidade às vezes é um salto no escuro. E nem toda mulher está preparada para essa missão.
Ainda seguindo essa linha de reflexão, o Gilberto traz uma contribuição expressiva. Diz ele: sempre foi um hábito da minha família realizar uma prece antes das refeições e agradecer pelas sementes, pelas pessoas que cultivaram, enfim, por tudo que está ligado à origem do alimento, e isso sempre nos permitiu termos refeições agradáveis. Desde a minha infância, sempre tivemos muita fartura de alimentos. Minha mãe sempre se preocupou muito com a qualidade de nossa alimentação. Porém, tanto eu quanto meu irmão mais novo sempre demonstramos ansiedade diante da comida, tentando comer o máximo possível e antes dos outros… Já a minha irmã caçula, ao contrário, dava trabalho para comer e quando repartíamos guloseimas, ela pegava a parte dela e esquecia na geladeira ou no armário.
Isso sempre me intrigou, não fazia sentido
Após ler seu texto, eu me lembrei de algo que minha mãe sempre nos contou: quando ela estava me amamentando, ela tinha muito leite, ao ponto de eu mamar de um lado e ela precisar retirar com a bombinha o leito do outro seio pois vazava… Porém, em uma semana o leite secou totalmente sem explicação. Quando
meu irmão nasceu, ela teve pouco leite e secou também rapidamente (aí está o motivo da pressa em comer agora) . Para a gravidez da minha irmã, ela se preparou muito para amamentar, com medicamentes e dietas especiais e amamentou por 40 dias.
Todavia, a ansiedade e o medo da minha mãe, além dos efeitos nocivos da medicação contribuíram para a distúrbio.
Provavelmente por isso, a irmã do Gilberto tinha dificuldades em se alimentar durante a infância, tendo inclusive anemia.
Conheço pessoas que sofreram sérias conseqüências, nesse período, o da amamentação. Rubinéia, é magra e anêmica, sua amamentação feita por ama de leite, enquanto Ludimila cujo parto foi a fórceps e não foi amamentada por sua mãe, tem até hoje dificuldade nas atitudes de pertencimento (sentir-se aceita ou aceitar as pessoas).
Como se vê o assunto é complexo, mas fica o entendimento de que sempre e sempre o amor, o carinho podem ser o caminho através do qual a mãe encontrará uma solução e atitudes corajosas e delicadas, para que as crianças tenham em seu corpo e mente sinalizações favoráveis para desenvolver uma vida onde a determinação e generosidade pontuem suas atitudes desde o renascimento até a idade adulta.
WILSON FRANCISCO