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Repensar o Movimento Espírita

Repensar o Movimento Espírita

É necessário repensar o Movimento Espírita para definir mais claramente o
balizamento de sua caminhada.

Qual é realmente sua composição?

Que espécie de compromisso seus integrantes têm com a sociedade?

Além do aspecto assistencial, de consolação, haverão outros compromissos?

A partir do caráter educativo do Espiritismo que contribuição ele poderia dar
à educação das massas?

O Movimento assume isto de forma consciente?

Há um projeto amplo neste sentido?

Quem seria responsável por ele?

Qual é a sua força em termos sociais?

Há necessidade de criar-se instituições de estudo e de pesquisa para
desenvolver a área científica?

É necessário repensar o conteúdo doutrinário que é repassado às pessoas que
freqüentam as casas, bem como a forma como se dá tal repasse?

Ele é coerente com os ensinos do Mestre Allan Kardec?

Até que ponto os responsáveis pela transferência desse conhecimento estão
sendo fieis ao pensamento kardequiano?

As pessoas que recebem tal conhecimento o estão incorporando de forma
correta?

Elas estão entendendo que o Espiritismo é uma religião de conseqüência, isto
é, que ela liberta o adepto dos atavismos religiosos, preparando-o para uma
religiosidade e uma fé alicerçadas na razão?

É necessário repensar as propostas de Allan Kardec? Sobretudo no que se
refere aos aspectos operacionais do Movimento Espírita?

Neste ponto “Obras Póstumas” e “Viagem Espírita de 1862” têm muito a
oferecer. Da leitura dessas obras verifica-se que questões básicas para o
desenvolvimento da Doutrina não estão ainda definidas. Exemplo disto é a
consecução do dinheiro para custeio das atividades e a forma de empregá-lo.

Neste campo as idéias são as mais contraditórias. Vejamos a seguir algumas
questões que podemos levantar neste breve ensaio:

  1. Quais são as formas lícitas e ilícitas de conseguir dinheiro?
  2. Em que ele pode e deve ser empregado?
  3. O que se deve pagar e o que se deve receber gratuitamente?
  4. Quais as vantagens e as desvantagens do hábito da gratuidade?
  5. Até que ponto a humildade do espírita deve levá-lo a uma postura próxima
    da mendicância?
  6. Até que ponto é compatível com a Doutrina o “peditório” tão comum no meio
    espírita?
  7. Que alternativas existem para superar a carência de rendas?

No campo da divulgação, que merecerá um capítulo neste ensaio, o problema da
falta de investimentos adequados é gritante.

Embora sejam feitos grandes gastos com a impressão de jornais, boletins e
mensagens, que circulam entre os espíritas dos diversos pontos do País, ainda
não se chegou ao entendimento de que se deveria gastar algum dinheiro com a
modernização da divulgação doutrinária, significando que é urgente conjugar
esforços para usar não só a mídia impressa mas, sobretudo, a mídia eletrônica,
de forma ampla e profunda.

Ainda não se chegou também ao entendimento de que se deve promover o
pagamento de jornalistas para produzir matérias destinadas a jornais de grande
circulação, conforme sugestão do Codificador, além de assessorar ou orientar os
que divulgam, para melhor aproveitamento dos recursos.

É necessário repensar a casa espírita.

Desde sua estrutura, objetivos, até a qualidade dos benefícios que presta,
passando pela forma como é administrada, as estratégias, as ações, os
resultados.

Repensar não só o Centro Espírita, mas as casas de qualquer natureza que
estejam a serviço da Doutrina Espírita.

É necessário repensar o sistema federativo.

Que contribuição ele está efetivamente oferecendo para a unificação do ideal
espírita, e em que dimensão?

Sua estrutura, suas estratégias, suas ações são as melhores ou poderiam ser
melhoradas e adequadas aos dias de hoje? Elas necessitam ser modernizadas? Quem
as está avaliando? E como?

Não será necessário definir melhor as funções do sistema? Definindo
conseqüentemente os espaços e as iniciativas reservadas a instituições de outra
natureza, cujas ações poderiam contribuir também para a unificação, provocando o
crescimento do Movimento como um todo?

Que espécie de apoio às instituições filiadas estão efetivamente recebendo do
sistema e o que lhe estão oferecendo? Qual é sua força social e de que natureza?
Qual é seu espaço na sociedade? Ele é coerente com a potencialidade ideológica
da Doutrina Espírita?

Em alguns lugares, por força de um entendimento incorreto do papel a
representar, e por falta de uma definição correta e evidente destas questões,
entidades federativas têm dificultado ou bloqueado iniciativas válidas e
sintônicas com as propostas do Codificador, atrasando a marcha do Movimento.

O pretexto expresso é quase sempre “pureza doutrinária”, porém, no fundo,
nota-se uma equivocada visão hegemônica, de conseqüências danosas aos objetivos
da própria Doutrina.

Em que consiste realmente a “pureza doutrinária”? E, como preservá-la, sem
criar os problemas que, ao longo do tempo, têm servido para afastar e dividir,
com feições mais políticas do que doutrinárias?

(Repensando o Movimento Espírita – Ildefonso do Espírito Santo)