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Responsabilidades da educação

Responsabilidades da educação

O que vêem nossas crianças quando se postam frente à televisão?

Os pais da atualidade, conscientes da influência da programação televisiva no
caráter de seus filhos, têm se mostrado reguladores de horários para os
pequenos. A TV é liberada em momentos propícios, de um modo geral, na hora dos
desenhos animados.

Como noticiou o jornal Mundo Espírita do mês de fevereiro último, há alguns
meses, um mapeamento estatístico da ONU, em seis emissoras abertas nacionais,
detectou 1.432 crimes apresentados aos amantes dos desenhos animados, em apenas
uma semana.

De um modo geral, os crimes, que incluem lesões corporais, danos materiais,
hematomas, perda de patrimônio e morte, ocorrem sem nenhum controle. Não há
interferência de autoridade nos conflitos, prevalecendo a lei do mais forte,
astuto ou vilão. Com a agravante de que, verdadeiramente, concretizado o crime
lesivo, tudo acaba bem. Ninguém é punido pelo que fez. Ao contrário, dá
adeusinho ou fica a rir da desgraça que ao outro proporcionou. O personagem que
aparece estropiado, em uma cena, na seguinte retorna disposto, ileso. A vítima
de um momento se torna algoz no seguinte, em clara demonstração de incitação à
vingança. A tônica, no todo, é de irresponsabilidade e de indiferença ao
sofrimento do próximo, sem se falar no desrespeito à natureza e ao patrimônio
alheio, pois que tudo é destroçado, quebrado, atingido.

A associação da violência televisiva à de crianças e jovens tem sido falada e
descrita, muitas vezes. Embora haja exageros na culpa que é impingida à TV, não
se pode negar que cérebros e mentes infantis tenderão, com naturalidade, a
reproduzir o que vêem com constância.

As crianças são imitadoras por excelência. Não é raro repetirem as atitudes e
trejeitos de quem observam. Tomam das roupas dos adultos e como tais agem.
Servem-se da maquiagem da mãe, das gravatas do pai, dos papéis e cadernos de
irmãos maiores. Nas brincadeiras, demonstram o que vivem.

Alteram a voz, utilizam frases de efeito, fazem ameaças a seus brinquedos ou
pequenos animais de estimação, exatamente como vêem. Algumas, enquanto assistem
ao desenrolar dos acontecimentos rápidos e sonoros dos desenhos, traduzem
angústia ante agressões de menores por maiores. Possivelmente por serem pequenos
e facilmente assimilarem os efeitos da empatia.

O contexto é grave, com certeza, desde que embora muitos afirmem que a opção
é fácil, decidida por um toque digital no controle remoto, difícil é se
conseguir controlar o que vêem e ouvem nossos filhos, nas suas tantas horas de
vigília.

Nesse particular, não há que se culpar promotores ou criadores do que é
apresentado. Eles são o resultado da educação que receberam. Afinal, todos eles,
dos donos aos responsáveis pela seleção e distribuição programática das
emissoras foram crianças um dia. Tiveram pai, mãe, e receberam orientação em
seus lares. A eleição dos seus valores baseou-se no que lhes foi repassado nos
anos infantis, o que demonstra da responsabilidade dos pais.

A tarefa que se delineia é de urgência, ante a gravidade dos efeitos.
Igualmente de profundidade, solicitando tempo, pois que a natureza não dá
saltos, e o homem necessita de reformular seus valores.

Por isso mesmo, a educação no lar se torna de caráter indispensável. Não se
pode descurar do que absorvem os filhos, através dos programas que escolhem ou
escolhemos. Sentar-se com eles e assistir seus programas favoritos é importante.
A televisão não deve ser tida como a babá, que distrai os pequenos,
concedendo-nos horas de tranqüilidade.

Da mesma forma que ao nos propormos a admitir alguém para cuidar dos nossos
filhos ou ao lhes providenciarmos a matrícula escolar, observamos hábitos e
currículos, apresentação e disposição, cabe-nos zelar pelo que lhes transmite a
televisão.

Formular perguntas, questioná-los a respeito das atitudes dos seus heróis da
telinha, indagar acerca do que seja o certo ou errado é ação que se faz
necessária e urgente.

Importarmo-nos em repassar para os nossos filhos os valores imperecíveis do
espírito, falar-lhes do Amigo que é Modelo e Guia, dizer-lhes dos valores reais
de nobreza de caráter, justiça e amor, da importância de SER honesto, correto,
leal, antes de se preocupar com a questão de TER coisas e objetos pessoais.

Estaremos, dessa forma, formando o caráter nobre dos cidadãos do amanhã e
influenciando, positivamente, os cidadãos do hoje, os jovens, que estão em
preparativos para assumirem profissões e interferirem na comunidade, através de
suas próprias decisões.

Oportuno recordar o que nos alertam os espíritos luminares : “Ó espíritas!
compreendei o grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um
corpo, a alma que nele encarna vem do espaço para progredir; inteirai-vos dos
vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar de Deus essa alma;(…)
Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe perguntará Deus: Que fizestes do
filho confiado à vossa guarda?” (1)

 

(1) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV, item 9.

(Jornal Mundo Espírita de Março de 1999)