No dia 18.04.96 o jornal “Estado de Minas”, publicou na página 17 a coluna
“Um dia no Mundo”, o seguinte texto:
RESSURREIÇÃO
A britânica Maureen Jones, 59 anos foi oficialmente declarada morta por
um médico depois de sofrer um ataque de diabetes. Momentos depois, cumprindo
função de rotina, policiais examinaram o corpo e, mexendo em suas pernas, a
ressuscitaram. Este foi o segundo caso deste tipo neste ano na Grã-Bretanha. Em
janeiro, a mulher de um fazendeiro, Daphne Banks, 61 anos, foi encontrada viva
dentro de um necrotério, na região central do país, depois que um médico a
declarou morta. Mais tarde, Daphne disse que estava tentando se matar.
Este texto levou-me a pensar. Realmente acontece a ressurreição, onde a alma
da pessoa que morreu voltaria a reviver no mesmo corpo? Ou estas mortes
aparentes ainda não estavam no domínio da ciência? O que as religiões dizem a
respeito.
Ora, pela maioria das correntes religiosas tradicionais todos nós
ressuscitaremos um dia em nosso corpo físico e após isto seremos julgados, sendo
o céu ou o inferno o nosso destino, conforme tenhamos praticado o bem ou o mal.
Nelas a crença é da unicidade da existência humana, ou seja, nós só temos esta
uma única vida em contrapartida com a reencarnação, ou várias vidas sucessivas,
afirmada pela Doutrina Espírita.
Perguntaríamos seria possível o corpo físico ser recomposto para receber
novamente o espírito que o animava? A ciência vem nos dizer que o nosso corpo
físico é composto de entre outros, dos seguintes elementos: oxigênio,
hidrogênio, azoto e carbono, e que após a sua decomposição, estes elementos se
dispersam para servirem de formação a novas matérias, sendo cientificamente
impossível sua recomposição. Bem sabemos que a ciência é o conhecimento humano
que busca descobrir as leis que regulam tudo no universo, sendo, por
conseguinte, estas leis, leis naturais ou leis divinas.
O apóstolo Paulo não possuía nenhuma dúvida sobre o assunto, porque teve a
percepção clara de que não é o corpo físico que retorna à vida, vejamos em I
carta aos Coríntios (15, 35-45): “Mas, dirá alguém, como é que os mortos vão
ressuscitar? Com que corpo virão? Louco! O que semeias não reviverá, se não
morrer antes. E o que semeias não é o corpo a se formar, mas grão nu, de trigo,
por exemplo, ou de qualquer planta. E Deus lhe dá um corpo que bem entende, e a
cada semente, o seu corpo apropriado. Toda a carne não é a mesma carne, mas uma
é a carne dos homens, outra a carne das feras, outra, a carne das aves, outra, a
dos peixes. Há corpos celestes e corpos terrestres; mas um é o esplendor
dos corpos celestes e outro o dos terrestres. Um é o brilho do sol e outro o
brilho das estrelas. E uma estrela brilha diferente de outra estrela. Assim
também na ressurreição dos mortos: semeado na podridão, o corpo ressuscita
incorruptível. Semeado na humilhação ele ressuscita glorioso. Semeado frágil,
ressuscita forte. E semeando um corpo animal, ressuscita um corpo espiritual.
Como há um corpo animal, há também um corpo espiritual”.
Não faz ele a nítida distinção entre os dois corpos que possuímos, um o corpo
físico e outro o corpo espiritual, sendo que é com este último que iremos
ressuscitar no mundo espiritual ao qual retornaremos após a morte. Tão certo,
Paulo estava, disto que ele ainda afirma: “A carne e o sangue não podem
herdar o reino de Deus” (I Coríntios 15, 50).
Existe no Evangelho passagem narrando fatos em que presumivelmente houve
ressurreição, são em número de três: a da filha de Jairo (Mateus 9, 18-26;
Marcos 5, 21-43 e Lucas 8, 40-56), a do filho da viúva de Naim (Lucas 7, 11-17)
e a de Lázaro (João 11, 1-44).
No primeiro caso, as narrativas são unânimes em afirmar que Jesus tinha dito
que a menina não havia morrido, apenas dormia. No segundo, não se fala nada. E
no terceiro, afirma que a doença de Lázaro não era para a morte, que ele dormia
e iria despertá-lo para no final dizer que ele havia morrido, contradizendo o
que havia dito anteriormente.
Tudo indica que todos esses casos poderiam ser de pessoas que sofriam de
ataques catalépticos, que dão toda a aparência de morte, não seriam, portanto
uma verdadeira ressurreição. Parecem com os casos citados no jornal, não? E isto
hoje com todo o avanço da medicina, onde é bem mais fácil detectar estes casos
de morte aparente, imaginem ao tempo de Jesus.
Mas à época de Jesus havia a crença que uma pessoa poderia voltar, não era
definido como isto poderia ocorrer, senão vejamos: “Tendo chegado à região de
Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou aos discípulos:” Quem dizem por aí as
pessoas que é o filho do homem? “Responderam:” Umas dizem que é João Batista;
outras, que é Elias, outras enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas.”
(Mateus 16, 13-14) e nesta outra: “Os discípulos lhe perguntaram: “por que
dizem os escribas que Elias deve vir antes?” Respondeu-lhes: “Elias há de vir
para restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o
reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram. Do mesmo modo, também o Filho
do homem está para sofrer da parte deles”. Então, os discípulos compreenderam
que Jesus lhes tinha falado a respeito de João Batista”. (Mateus 17, 10-13).
Nessas passagens fica claro que de uma maneira geral todos acreditavam que
uma pessoa que havia morrido poderia voltar até mesmo num outro corpo, certo?
Interessante a conclusão a que chegamos ao analisarmos tudo o que Jesus
produziu de “milagre”, em que resumimos abaixo:
“Milagres” | Quantidade | Percentual |
---|---|---|
1 – Fenômenos com Ele e com a natureza | 11 casos | 28,9% |
2 – Curas diversas | 16 casos | 42,1% |
3 – Exorcismo | 08 casos | 21,1% |
4 – Ressurreição | 03 casos | 7,9% |
Total | 38 casos | 100% |
Isso foi colocado para que possamos raciocinar. Se real-mente a ressurreição
fosse algo possível porque Jesus a produziu em pequeno número em relação a tudo
o que fez? Por outro lado, algo de tão extraordinário, como fazer voltar à vida
os nossos mortos, não seria óbvio que Jesus sofreria um assédio descomunal das
mães pedindo-O que fizesse o mesmo com seus filhos que haviam morrido? Mas não
consta nos Evangelhos que ele tenha passado por semelhante situação.
Podemos concluir que Jesus curou estas pessoas talvez portadoras de
catalepsia, não ressuscitando ninguém que já havia de fato morrido, e o que se
acreditava, em sua época, era que uma pessoa que já havia morrido poderia voltar
a viver como outra pessoa, é o que hoje entendemos por REENCARNAÇÃO.
Bibliografia:
- Novo Testamento. São Paulo, SP, LEB – Edições Loyola, 1984.
- Revista O Reformador, Março 1994.
- Jornal o “Estado de Minas”, Belo Horizonte, 18.04.96.