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Revendo a Bíblia

José Reis Chaves

A Igreja Católica, por determinação da CNBB, está fazendo, neste ano de 2001, um estudo especial do Livro de Atos da Bíblia, já que ele constitui um registro dos principais fatos e ações dos Apóstolos de Jesus, logo após a sua Ressurreição.

E, antes de entrarmos na abordagem desse assunto, julgamos importante lembrarmo-nos aqui de que a Humanidade, religiosamente falando, vem passando ao longo dos tempos por várias fases: mitológica, dogmática, racional e intuitiva, podendo esta ser denominada também de espiritual, em que abundam os fenômenos espirituais. E foram os Apóstolos, naquela época, ainda quase mitológica, os precursores dos possuidores de dons espirituais da atualidade, já que por um longo tempo o Cristianismo se afastou das práticas espirituais, as quais só voltaram à tona em larga escala, quando ressurgiu um momento propício para tal no Ocidente.

Talvez você, que está lendo estas linhas, diga que os fenômenos espirituais registrados em Atos ocorreram entre os Apóstolos e anjos. E você tem razão.

Só que anjos são espíritos antes de mais nada. Daí nós chamarmos os fenômenos que envolvem anjos na Bíblia de fenômenos espirituais, e não angélicos.

E, para aclaramos mais esse assunto, informamos a você, prezado leitor e prezada leitora, que há uma corrente de teólogos e biblistas europeus, entre os quais o padre francês François Brune, representante do Vaticano para Transcomunicação Instrumental (contato com os espíritos via eletrônica) e autor do livro “Os Mortos nos Falam”, que afirmam que, quando a Bíblia fala em anjos, ela está referindo-se a espíritos de luz de pessoas falecidas.

Aliás, Gabriel quer dizer “Homem de Luz”. E Santo Agostinho, no seu livro “De Cura Pro Mortuis (“Tratado dos Mortos”), diz que os espíritos de luz de pessoas falecidas podem trazer conhecimentos para nós.

E vamos a alguns fenômenos espirituais de Atos, e, também, de outros livros bíblicos, para que esse assunto em foco fique bem caracterizado.

Em Atos 16: 9, temos São Paulo numa visão de um homem macedônio. Como se vê, até a nacionalidade desse espírito materializado é mencionada.

Nesse mesmo livro, em 10:9 e 10, São Pedro entra em êxtase (transe), e tem visões.
Pela leitura, na íntegra , do texto, vemos Cornélio recebendo uma mensagem espiritual, para que mandasse buscar Pedro. E este, igualmente, recebendo outra mensagem, também espiritual, vai ao encontro de Cornélio.

Já no Capítulo 12: 7, São Pedro é libertado da prisão por um anjo (espírito de luz de uma pessoa falecida), num fenômeno espiritual (mediúnico) de efeito físico, isto é, o rompimento das algemas que o prendiam.

E, em 21: 8, 9 e 10, temos Ágabo, profeta e pai de quatro filhas que também profetizavam, vaticinando que São Paulo seria preso e entregue aos gentios.

Já o Apocalipse 22: 8 e 9, mostra-nos São João ajoelhando-se aos pés do anjo que lhe proporcionou a visão dos fatos proféticos, tendo ele recebido do anjo a advertência de que não fizesse aquilo, pois que ele era apenas um colega de João, e que somente a Deus se deve adorar.

E Paulo fala-nos muito sobre o dom (mediunidade) da profecia. E temos também no original hebraico do Velho Testamento a palavra “navi”, que designa aquele profeta que, quando profetiza, não é bem ele que fala, mas um espírito, por meio de sua boca.

Mas São Paulo ainda nos ensina que algumas pessoas possuem o dom de discernir espíritos e de fato, a Bíblia tanto nos fala de espíritos maus, impuros, como de bons, sendo este espírito bom designado por São Jerônimo na Vulgata por “spiritus bonus”, em Latim.

Também o Apóstolo João, em sua Primeira Carta 4: l e 2, diz: “Irmãos, não dêem crédito a qualquer espírito. que profetiza, vejam primeiro se ele procede de Deus ou das trevas, para que não venham dar crédito a qualquer profecia”. Aqui nesse texto São João nos mostra que as profecias podem não só ser feitas também por meio de espíritos, mas que , como sabemos, podem ser, igualmente , verdadeiras ou falsas, segundo nos ensinou o próprio Jesus.

A esta altura, você que está lendo estas linhas deve estar se perguntando como fica o Espírito Santo nessa história? E isso é assunto para outra matéria, pois é exíguo o espaço para tratarmos dele aqui. Somente queremos lembrar os leitores de que, se fosse o Espírito Santo, tal como o conhecemos tradicionalmente, que se manifestasse aos Carismáticos Católicos e Evangélicos, não precisaríamos de ter cuidado com o tipo de espírito que se está manifestando, se é bom ou mau. E é oportuno lembrarmo-nos aqui ainda de que, se o Espírito Santo é mesmo Deus – e podemos até admitir que o seja -, Ele não nos poderia ser enviado por Jesus, pois quem envia tem que ser superior ao enviado, como Jesus nos foi enviado pelo Pai.
Ademais, ensina-nos Paulo que somos templos do Espírito Santo. E, realmente, somos centelhas divinas (Atma no Hinduísmo).Mas, neste caso, como o Espírito Santo ser enviado a nós, se Ele já está dentro de nós?Na verdade, Ele é o conjunto de todos os espíritos humanos, quer encarnados, quer desencarnados. E um espírito humano de luz pode ser enviado a nós, como sendo um espírito consolador, por determinação de Jesus, como, aliás, Ele no-lo prometeu.

Assim, essas coisas ficam claras. E mais claras, ainda, quando sabemos que no Velho Testamento Espírito Santo só aparece como sendo um espírito humano, enquanto que no Novo Testamento Ele é desconhecido das primeiras comunidades cristãs, ou seja, até à instituição da Santíssima Trindade, em 325, por ocasião do polêmico Concílio de Nicéia. Em outros termos, até esse Concílio, Ele só era conhecido como sendo um espírito humano.E não é, pois, sem motivo, que os dois pilares da Filosofia e Teologia Cristãs, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, divergiram entre si com relação ao Espírito Santo.

Eis aí uma visão racional dos fenômenos espirituais de Atos e de outros livros bíblicos, a qual assusta, sem dúvida, muitas pessoas acostumadas a aceitarem tudo, cegamente, como se fossem encabrestadas mentalmente. E o pior de tudo isso é o fato de algumas pessoas fazerem de conta que ignoram essas coisas, quando, na realidade, não as ignoram. São os praticantes de uma teologia interesseira. E a essas pessoas dizemos que Deus não quer que violentemos a nossa razão, mas que façamos bom uso dela. De fato, a mentalidade do homem do Terceiro Milênio não pode mais aceitar muitas coisas aceitas, naturalmente, pela mentalidade do homem medieval e mesmo de anterior à Idade Média.

Mas isso não significa que devamos desmoralizar os Dogmas Cristãos, pois o próprio Jesus disse: “Seja te dado conforme tu creste”. Ademais, em cima de uma longa crença de muitas pessoas há uma energia muito grande, energia assa chamada pela Teosófica de egrégora.

(Para melhores esclarecimentos sobre os assuntos aqui tratados, sugerimos o livro de nossa modesta autoria: “A Face Oculta das Religiões”, Editora Martin Claret).

*José Reis Chaves, escritor, professor de Português e Literatura, formado pela PUC-Minas, teósofo, parapsicólogo, biblista, radialista e palestrante de assuntos espirituais. É autor dos livros, entre outros, além do já citado, “A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência” e “Quando chega a Verdade”; Editora Martin Claret.

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